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'''Alteridade''' do latim alteritas ('outro') é a [[concepção]] que parte do pressuposto básico de que todo o ser humano social interage e interdepende do outro. Assim, como muitos [[antropólogo]]s e [[Ciências sociais|cientistas sociais]] afirmam, a existência do "eu-individual" só é permitida mediante um contato com o [[outro]] (que em uma visão expandida se torna o Outro, ou seja, a própria sociedade diferente do indivíduo). Assim, pode também se dizer que a alteridade é a capacidade de se colocar no lugar do outro na relação interpessoal (relação com grupos, família, trabalho, lazer e a relação que temos com os outros, etc...), com consideração, identificação e dialogar com o outro. Por fim, alteridade não significa que tenha de haver uma concordância, mas sim uma aceitação de ambas as partes.
'''Alteridade''' do latim alteritas ('outro') é a [[concepção]] que parte do pressuposto básico de que todo o ser humano social interage e interdepende do outro <ref>{{Citar periódico|ultimo=Arteaga|primeiro=Juan Manuel Sánchez|ultimo2=El-Hani|primeiro2=Charbel N.|data=2011-08-24|titulo=Othering Processes and STS Curricula: From Nineteenth Century Scientific Discourse on Interracial Competition and Racial Extinction to Othering in Biomedical Technosciences|url=http://dx.doi.org/10.1007/s11191-011-9384-x|jornal=Science & Education|volume=21|numero=5|paginas=607–629|doi=10.1007/s11191-011-9384-x|issn=0926-7220}}</ref> <ref>{{Citar periódico|ultimo=SÁNCHEZ-ARTEAGA|primeiro=Juanma|ultimo2=RASELLA|primeiro2=Davide|ultimo3=GARCIA|primeiro3=Laia Ventura|ultimo4=EL-HANI|primeiro4=Charbel|data=2015-09|titulo=Alterização, biologia humana e biomedicina|url=http://dx.doi.org/10.1590/s1678-31662015000300007|jornal=Scientiae Studia|volume=13|numero=3|paginas=615–641|doi=10.1590/s1678-31662015000300007|issn=2316-8994}}</ref>. Assim, como muitos [[antropólogo]]s e [[Ciências sociais|cientistas sociais]] afirmam, a existência do "eu-individual" só é permitida mediante um contato com o [[outro]] (que em uma visão expandida se torna o Outro, ou seja, a própria sociedade diferente do indivíduo). Assim, pode também se dizer que a alteridade é a capacidade de se colocar no lugar do outro na relação interpessoal (relação com grupos, família, trabalho, lazer e a relação que temos com os outros, etc...), com consideração, identificação e dialogar com o outro. Por fim, alteridade não significa que tenha de haver uma concordância, mas sim uma aceitação de ambas as partes.


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Assim, a análise crítica dessas obras pode levar à indagação de que, por vezes, os estudos históricos possam ser em parte o reflexo do modo de agir e pensar dos europeus na época da conquista, que tomaram a sua sociedade, os seus valores como o "correto" e o "modelo" a ser seguido pelos "outros".
Assim, a análise crítica dessas obras pode levar à indagação de que, por vezes, os estudos históricos possam ser em parte o reflexo do modo de agir e pensar dos europeus na época da conquista, que tomaram a sua sociedade, os seus valores como o "correto" e o "modelo" a ser seguido pelos "outros".


Há outras ideias que podem ser relacionadas ao conceito de alteridade <ref>{{Citar periódico|ultimo=SÁNCHEZ-ARTEAGA|primeiro=Juanma|ultimo2=RASELLA|primeiro2=Davide|ultimo3=GARCIA|primeiro3=Laia Ventura|ultimo4=EL-HANI|primeiro4=Charbel|data=2015-09|titulo=Alterização, biologia humana e biomedicina|url=http://dx.doi.org/10.1590/s1678-31662015000300007|jornal=Scientiae Studia|volume=13|numero=3|paginas=615–641|doi=10.1590/s1678-31662015000300007|issn=2316-8994}}</ref> <ref>{{Citar periódico|ultimo=Sánchez Arteaga|primeiro=Juanma|ultimo2=Niño El-Hani|primeiro2=Charbel|data=2010-06|titulo=Physical anthropology and the description of the 'savage' in the Brazilian Anthropological Exhibition of 1882|url=http://dx.doi.org/10.1590/s0104-59702010000200008|jornal=História, Ciências, Saúde-Manguinhos|volume=17|numero=2|paginas=399–414|doi=10.1590/s0104-59702010000200008|issn=0104-5970}}</ref>. Quando ligado à literatura, por exemplo. O "eu" que fala na obra não é mais o eu que escreve.
Há outras ideias que podem ser relacionadas ao conceito de alteridade. Quando ligado à literatura, por exemplo. O "eu" que fala na obra não é mais o eu que escreve.


==Ver também==
==Ver também==

Revisão das 11h02min de 2 de abril de 2019

Alteridade do latim alteritas ('outro') é a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o ser humano social interage e interdepende do outro [1] [2]. Assim, como muitos antropólogos e cientistas sociais afirmam, a existência do "eu-individual" só é permitida mediante um contato com o outro (que em uma visão expandida se torna o Outro, ou seja, a própria sociedade diferente do indivíduo). Assim, pode também se dizer que a alteridade é a capacidade de se colocar no lugar do outro na relação interpessoal (relação com grupos, família, trabalho, lazer e a relação que temos com os outros, etc...), com consideração, identificação e dialogar com o outro. Por fim, alteridade não significa que tenha de haver uma concordância, mas sim uma aceitação de ambas as partes.

Definições

Relação de sociabilidade e diferença entre o indivíduo em conjunto e a unidade, onde os dois sentidos inter-dependem na lógica de que para constituir uma individualidade é necessário um coletivo. Dessa forma eu apenas existo a partir do outro, da visão do outro, o que me permite também compreender o mundo a partir de um olhar diferenciado, partindo tanto do diferente quanto de mim mesmo, sensibilizado que estou pela experiência do contato.

Segundo a enciclopédia Larousse (1998), alteridade é um “Estado, qualidades daquilo que é outro, distinto (antônimo de Identidade). Conceito da filosofia e psicologia: relação de oposição entre o sujeito pensante (o eu) e o objeto pensado (o não eu).” [3]

A “noção de outro ressalta que a diferença constitui a vida social, à medida que esta efetiva-se através das dinâmicas das relações sociais. sendo, a diferença é, simultaneamente, a base da vida social e fonte permanente de tensão e conflito” (G. Velho, 1996:10[vago])

“A experiência da alteridade (e a elaboração dessa experiência) leva-nos a ver aquilo que nem teríamos conseguido imaginar, dada a nossa dificuldade em fixar nossa atenção no que nos é habitual, familiar, cotidiano, e que consideramos ‘evidente’. Aos poucos, notamos que o menor dos nossos comportamentos (gestos, mímicas, posturas, reações afetivas) não tem realmente nada de ‘natural’. Começamos, então, a nos surpreender com aquilo que diz respeito a nós mesmos, a nos espiar. O conhecimento (antropológico) da nossa cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento das outras culturas; e devemos especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única.”[4]

Todorov

Tal tema foi estudado ainda por Tzvetan Todorov em seu livro A conquista da América - a questão do outro, onde é estudado no contexto do descobrimento e a conquista da América no primeiro centenário após a primeira viagem de Colombo, basicamente no século XVI. Há ainda, contudo, menções a essas relações de alteridade em obras anteriores a Todorov, como por exemplo, em Michel de Montaigne, um dos autores dos textos a serem cruzados:

"Mas, para retornar a meu assunto, acho que não há nessa nação nada de bárbaro e de selvagem, pelo que me contaram, a não ser porque cada qual chama de barbárie aquilo que não é de costume; como verdadeiramente parece que não temos outro ponto de vista sobre a verdade e a razão a não ser o exemplo e o modelo das opiniões e os usos do país em que estamos".[5]

Apontamentos podem ser feitos não só durante o processo de conquista e colonização da América, mas em toda a história do contato entre diferentes povos e culturas. Por exemplo, pode-se partir desde Cortés, que procurou conhecer o outro, buscando intérpretes e estabelecendo táticas de guerra. Surge aqui uma personagem curiosa: Malinche. Ela foi dada por Montezuma aos espanhóis e acaba sendo fundamental para o processo de conquista promovido por Cortés, pois sabia a língua dos maias e astecas e posteriormente também o espanhol. Para os indígenas é o símbolo da traição, para outros é o símbolo da mestiçagem, porque Malinche não é somente bilíngüe, mas também "bicultural", e adotou inclusive a ideologia do "outro". Deste modo, a humanidade do outro só foi concebida quando integrada à cultura do "eu", ocorrendo uma assimilação, uma integração da cultura do "outro" à europeia, no caso.

Avançando cronologicamente na História, é possível ainda encontrar relatos de relações de alteridade no texto "Descobrindo os brancos", de autoria de um índio ianomâmi chamado Davi Kopenawa Yanomaqui, já no século XX. Nele, as relações de alteridade mais uma vez são descritas, desta vez devido à invasão de suas terras, no estado brasileiro do Amazonas, por milhares de garimpeiros entre os anos de 1987 e 1990.

Assim, a análise crítica dessas obras pode levar à indagação de que, por vezes, os estudos históricos possam ser em parte o reflexo do modo de agir e pensar dos europeus na época da conquista, que tomaram a sua sociedade, os seus valores como o "correto" e o "modelo" a ser seguido pelos "outros".

Há outras ideias que podem ser relacionadas ao conceito de alteridade [6] [7]. Quando ligado à literatura, por exemplo. O "eu" que fala na obra não é mais o eu que escreve.

Ver também

Referências

  1. Arteaga, Juan Manuel Sánchez; El-Hani, Charbel N. (24 de agosto de 2011). «Othering Processes and STS Curricula: From Nineteenth Century Scientific Discourse on Interracial Competition and Racial Extinction to Othering in Biomedical Technosciences». Science & Education. 21 (5): 607–629. ISSN 0926-7220. doi:10.1007/s11191-011-9384-x 
  2. SÁNCHEZ-ARTEAGA, Juanma; RASELLA, Davide; GARCIA, Laia Ventura; EL-HANI, Charbel (setembro de 2015). «Alterização, biologia humana e biomedicina». Scientiae Studia. 13 (3): 615–641. ISSN 2316-8994. doi:10.1590/s1678-31662015000300007 
  3. Grande Enciclopédia Larousse Cultural (1998). São Paulo: Nova Cultural.
  4. Laplatine, François (2003). Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense. pp. 12–13 
  5. MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. São Paulo: Martins Fontes, 2000. Volume I. Capítulo XXXI; Dos canibais. p. 307
  6. SÁNCHEZ-ARTEAGA, Juanma; RASELLA, Davide; GARCIA, Laia Ventura; EL-HANI, Charbel (setembro de 2015). «Alterização, biologia humana e biomedicina». Scientiae Studia. 13 (3): 615–641. ISSN 2316-8994. doi:10.1590/s1678-31662015000300007 
  7. Sánchez Arteaga, Juanma; Niño El-Hani, Charbel (junho de 2010). «Physical anthropology and the description of the 'savage' in the Brazilian Anthropological Exhibition of 1882». História, Ciências, Saúde-Manguinhos. 17 (2): 399–414. ISSN 0104-5970. doi:10.1590/s0104-59702010000200008 
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