Perda auditiva em profissionais da música: diferenças entre revisões

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A palavra [[música]] significa combinar a arte e a ciência dos [[Som|sons]] de forma agradável ao ouvinte. Música é a combinação harmoniosa e expressiva de sons, sendo dividida em [[melodia]], [[ritmo]] e [[harmonia]]. A música também possui propriedades importantes como [[Duração (música)|duração]], [[intensidade]], altura e [[timbre]] para defini-la. Ela é responsável por estimular diversas áreas do [[cérebro]], estando fortemente associada como parte do ser humano.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Nunes|primeiro=Emanuelle Caires Dias Araújo|ultimo2=Oliveira|primeiro2=Fabiana Aguiar de|ultimo3=Cunha|primeiro3=Juliana Xavier Pinheiro da|ultimo4=Reis|primeiro4=Sabrina Oliveira|ultimo5=Meira|primeiro5=Gizelia da Gama|ultimo6=Szylit|primeiro6=Regina|ultimo7=Nunes|primeiro7=Emanuelle Caires Dias Araújo|ultimo8=Oliveira|primeiro8=Fabiana Aguiar de|ultimo9=Cunha|primeiro9=Juliana Xavier Pinheiro da|data=2020|titulo=Music as a transpersonal care tool - perceptions of hospitalized people assisted in the university extension|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1414-81452020000200201&lng=en&nrm=iso&tlng=en|jornal=Escola Anna Nery|lingua=en|volume=24|numero=2|doi=10.1590/2177-9465-ean-2019-0165|issn=1414-8145|acessodata=}}</ref>

Ela está presente no dia a dia das pessoas; é importante no aspecto cultural e da preservação da herança, além do aspecto cognitivo que permite explorar a expressão e a imaginação. Por isso, recomenda-se a estimulação musical em todos os níveis de educação.<ref name=":0">{{Citar periódico|ultimo=Andrade|primeiro=Ana I. A.|ultimo2=Russo|primeiro2=Iêda C. P.|ultimo3=Lima|primeiro3=Maria L. L. T.|ultimo4=Oliveira|primeiro4=Luiz C. S.|data=2002|titulo=Avaliação auditiva em músicos de frevo e maracatu|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0034-72992002000500018&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt|jornal=Revista Brasileira de Otorrinolaringologia|lingua=pt|volume=68|numero=5|paginas=714–720|doi=10.1590/S0034-72992002000500018|issn=0034-7299|acessodata=}}</ref> <ref name=":1">{{Citar periódico|ultimo=Lüders|primeiro=Débora|ultimo2=Gonçalves|primeiro2=Cláudia Giglio de Oliveira|ultimo3=Lacerda|primeiro3=Adriana Bender Moreira de|ultimo4=Schettini|primeiro4=Sônia Regina Lazarotto|ultimo5=Silva|primeiro5=Luciana Santos Gerosino da|ultimo6=Albizu|primeiro6=Evelyn Joyce|ultimo7=Marques|primeiro7=Jair Mendes|ultimo8=Lüders|primeiro8=Débora|ultimo9=Gonçalves|primeiro9=Cláudia Giglio de Oliveira|data=2016|titulo=Audição e qualidade de vida de músicos de uma orquestra sinfônica brasileira|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S2317-64312016000100323&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt|jornal=Audiology - Communication Research|lingua=pt|volume=21|doi=10.1590/2317-6431-2016-1688|issn=2317-6431|acessodata=}}</ref>

Por ser reconhecida como um som agradável, que remete a fatos e/ou acontecimentos importantes e proporciona diversos benefícios à saúde e bem estar, geralmente não é reconhecida como uma ameaça à saúde [[Audição|auditiva]].<ref name=":2">ISLEB, Maria Helena Mendes et al. '''A perda auditiva induzida pela música e a busca da promoção da saúde auditiva'''. In: MORATA, Thais C.. Saúde auditiva: avaliação de riscos e prevenção. São Paulo: Plexus, 2010. p. 37-61. </ref>

A fisiologia da execução musical envolve os movimentos do corpo e a técnica de execução de um determinado instrumento. Ao mesmo tempo as informações são captadas sensorialmente por [[Sistema sensorial|receptores]] táteis, visuais, auditivos e proprioceptivos, que são analisados. A percepção auditiva é influenciada por fatores afetivos e culturais e é determinada para regular a afinação individual em relação ao envolvimento com o restante do grupo. Também auxilia estabelecendo trajetórias sonoras que são memorizadas e que informam a reentrada em um compasso.<ref name=":3">OTUBO, K. A.; LOPES, A. C.; LAURIS, J. R. P. '''Uma análise do perfil audiológico de estudantes de música'''. Per Musi, Belo Horizonte, n.27, 2013, p.141-151.</ref> No entanto, a exposição sistemática a elevados níveis de pressão sonora (mesmo sendo a música) podem ocasionar danos auditivos<ref name=":1" /> como a  [[Perda auditiva induzida por ruído|Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR)]].

== Fisiologia da audição ==
Um estímulo acústico é transmitido de uma fonte sonora e é localizado e captado pelo [[Orelha|pavilhão auricular]], conduzido pelo [[meato acústico externo]], chegando até a [[Membrana timpânica|membrana timpânica (tímpano)]] fazendo com que ela vibre. A partir dessa vibração toda a cadeia ossicular se movimenta. Os ossículos da [[Ouvido médio|orelha média]] (martelo, bigorna e estribo) transferem a [[energia mecânica]] para a [[cóclea]] por meio da movimentação do estribo contra a janela oval  (na cóclea). Esta movimentação desloca os fluidos [[perilinfa]] e [[endolinfa]] (presentes dentro da cóclea) causando o movimento das [[células ciliadas]] (sensoriais) e enviando um [[sinal elétrico]] do [[Nervo vestibulococlear|nervo auditivo]] (VIII par craniano - vestibulococlear) para o sistema auditivo central. É nessa parte que o som é analisado e interpretado.<ref name=":4">BONALDI, Laís Vieira. '''Estrutura e função do sistema auditivo periférico'''. In: BOÉCHAT, Edilene Marchini et al (org.). Tratado de Audiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 32-49.</ref>

A membrana timpânica é extremamente sensível, respondendo a qualquer variação de [[Pressão sonora|pressão nas ondas sonoras]]. Diferentes grupos de células ciliadas respondem a diferentes [[Frequência|frequências]]. As células na base da cóclea estão relacionadas aos sons de alta frequência, enquanto as células no ápice da cóclea, estão relacionadas aos sons de baixa frequência.<ref name=":4" /><gallery mode="packed-hover">
Ficheiro:Anatomy of the Human Ear pt.svg|Anatomia da orelha humana
Ficheiro:Anatomia do Ouvido Médio.png|Anatomia da orelha média
Ficheiro:Anatomia do ouvido interno.png|Anatomia da orelha interna
</gallery>

== Efeitos na audição: auditivos e não auditivos ==
O tempo de exposição e a intensidade são dois fatores relacionados com a perda auditiva e sintomas não auditivos. A exposição à música amplificada (elevados níveis de pressão sonora) geram diversos sintomas no indivíduo exposto à música.

=== Sintomas auditivos<ref>AMORIM, Raquel Beltrão et al. '''Alterações Auditivas da Exposição Ocupacional em Músicos'''. Arq. Int. Otorrinolaringol., São Paulo, v. 12, n. 3, p. 377-383, 2008. Disponível em: <nowiki>https://www.researchgate.net/publication/237318033_Alteracoes_Auditivas_da_Exposicao_Ocupacional_em_Musicos_Auditory_Alterations_for_Occupational_Exposition_in_Musicians</nowiki>. Acesso em: 22 jun. 2020. </ref> ===

* Fadiga auditiva;
* Mudança temporária do limiar;
* Alterações na percepção do som;
* Redução da seletividade de frequência;
* [[Acufeno|Zumbido]];
* [[Hiperacusia]];
* [[Diplacusia|Distorção ou diplacusia]];
* Sensação de ouvido tapado;
* [[Perda auditiva induzida por ruído]].

=== Sintomas não auditivos<ref name=":0" /> ===

* [[Estresse]];
* [[Cefaleia]];
* Irritação;
* [[Tontura]];
* [[Perturbação do sono]];
* Redução da capacidade de concentração;
* Distúrbios gástricos;
* Distúrbios musculares;
* Alterações no aparelho cardiológico;
* Mudança de humor.

Conforme ocorre a evolução da perda auditiva, o indivíduo começa a presenciar dificuldades no seu dia a dia. Para exemplificar, segue abaixo uma correlação entre o grau da perda auditiva e dificuldades apresentadas:<ref>Basic ear and hearing care resource. Geneva: World Health Organization; 2020. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO.</ref>
{| class="wikitable"
|'''Perda auditiva'''
|'''Dificuldades'''
|-
|Leve
|As dificuldades aparecem em situações onde há presença de [[ruído]]. O volume da televisão é um pouco mais elevado e apresenta problemas para falar ao telefone.
|-
|Moderada
|A dificuldade aparece em mais situações do dia a dia. O volume da televisão é mais elevado, apresenta bastante dificuldade para entender o que é falado ao telefone e em conversas, mesmo em locais silenciosos.
|-
|Severa
|A dificuldade é evidente. O volume da televisão é muito elevado e ainda assim não se entende o que é falado. Precisa que a outra pessoa grite para que entenda o que é falado no telefone e em conversas.
|-
|Profunda
|A dificuldade é evidente. Em geral, não é possível escutar a televisão, ouvir sons ambientais, falar ao telefone e conversar sem o apoio visual.
|}
A [[perda auditiva induzida por ruído]] ou por música ocorre devido a exposição prolongada a elevados níveis de pressão sonora que lesionam as células ciliadas ou causam danos à mielinização ou regiões sinápticas do [[Nervo vestibulococlear|nervo auditivo]]. Esses são dois mecanismos biológicos conhecidos de PAIR.<ref name=":4" /> Contudo, curtas exposições, como por exemplo, em concertos de rock, também podem causar alterações auditivas e não auditivas.<ref>Maia JRF, Russo ICP. '''Estudo da audição de músicos de rock and roll'''. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2008 jan-mar;20(1):49-54.</ref> <ref>NAMUUR, Flávia A. B. M. et al. '''Avaliação Auditiva em Músicos da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo'''. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, São Paulo, p. 390-395, 1999.</ref> A principal queixa referida entre os músicos após apresentações é o [[Acufeno|zumbido]], podendo estar relacionado a um quadro de alteração temporária do limiar auditivo, mesmo que por curtos períodos de exposição à música amplificada.<ref name=":5">{{Citar periódico|ultimo=Santoni|primeiro=Cristiane Bolzachini|ultimo2=Fiorini|primeiro2=Ana Claudia|data=2010|titulo=Músicos de pop-rock: avaliação da satisfação com protetores auditivos|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1808-86942010000400009&lng=en&nrm=iso&tlng=pt|jornal=Brazilian Journal of Otorhinolaryngology|lingua=pt|volume=76|numero=4|paginas=454–461|doi=10.1590/S1808-86942010000400009|issn=1808-8694|acessodata=}}</ref>

=== Perda auditiva induzida por ruído (PAIR) ===
A PAIR é tida como uma lesão irreversível e de progressão gradual (conforme as condições de exposição e não prevenção).<ref name=":2" /> Possui como característica principal um entalhe, com início de comprometimento nas frequências agudas (3.000 HZ a 6.000 HZ). Dependendo do tipo, grau e configuração dessa perda auditiva os sintomas/dificuldades irão afetar a vida profissional e pessoal do [[músico]]. Indiferente do grau da perda auditiva, mesmo em casos leves (onde ocorre pouco comprometimento na comunicação), podem dificultar o reconhecimento de timbres e atrapalhar a afinação dos instrumentos.<ref name=":1" /> <ref>{{Citar periódico|ultimo=Gonçalves|primeiro=Cláudia Giglio de Oliveira|ultimo2=Lacerda|primeiro2=Adriana Bender Moreira|ultimo3=Zocoli|primeiro3=Angela Maria Fontana|ultimo4=Oliva|primeiro4=Flávia Cardoso|ultimo5=Almeida|primeiro5=Suzanne Bettega|ultimo6=Iantas|primeiro6=Milena Raquel|data=2009|titulo=Percepção e o impacto da música na audição de integrantes de banda militar|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1516-80342009000400015&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt|jornal=Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia|lingua=pt|volume=14|numero=4|paginas=515–520|doi=10.1590/S1516-80342009000400015|issn=1516-8034|acessodata=}}</ref>

Os músicos precisam especialmente de boas condições auditivas para não dificultar e/ou impedir o uso íntegro das habilidades auditivas. As alterações auditivas e não auditivas prejudicam não só o exercício profissional, mas também a qualidade de vida.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Gonçalves|primeiro=Maiara Santos|ultimo2=Tochetto|primeiro2=Tania Maria|ultimo3=Gambini|primeiro3=Caroline|data=2007|titulo=Hiperacusia em músicos de banda militar|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1516-80342007000400008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt|jornal=Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia|lingua=pt|volume=12|numero=4|paginas=298–303|doi=10.1590/S1516-80342007000400008|issn=1516-8034|acessodata=}}</ref>

== Legislação ==
No Brasil ainda não existe uma legislação específica voltada para os músicos, que  determine o controle do [[ruído]] tanto em atividades de lazer quanto voltadas para as apresentações musicais.<ref name=":1" /> É essencial a classificação em [[Normas de segurança no local de trabalho|normas de segurança]], o número de dias, horas de trabalho e níveis de pressão sonora permitidos, para protegê-los dos prejuízos gerados pela exposição a música em forte intensidade.<ref name=":2" />

Para o meio industrial, o Ministério do Trabalho do Brasil, por meio da Norma Reguladora (NR 15) de 1978, estabelece os valores correspondentes ao limite diário de exposição ocupacional máximo que um indivíduo pode permanecer exposto. Segue abaixo alguns dos valores <ref>BRASIL. Ministério do Trabalho. Portaria n.3.214 de 08 de Junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas a Segurança e Medicina do Trabalho. Diário Oficial da República Federativa do Brasil: Brasília, 1978. Disponível em: <<nowiki>http://trabalho.gov.br/participacao-social-mtps/participacao-social-do-trabalho/legislacao-seguranca-e-saude-no-trabalho/item/3679-portaria-3-214-1978</nowiki>>. Acesso em: 18 jun. 2020.</ref>:

* 85 dB - 8 horas;
* 90 dB - 4 horas;
* 95 dB - 2 horas;
* 100 dB - 1 horas;
* 105 dB - 30 minutos;
* 110 dB - 15 minutos.

Essa legislação, porém, não se aplica para categorias profissionais como músicos, militares, dentistas, profissionais de educação física, entre outros, que apresentam em suas atividades, riscos para o desenvolvimento de alterações auditivas.<ref name=":3" /> <ref>{{Citar periódico|ultimo=Maia|primeiro=Juliana Rollo Fernandes|ultimo2=Russo|primeiro2=Ieda Chaves Pacheco|data=2008|titulo=Estudo da audição de músicos de rock and roll|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-56872008000100009&lng=pt&tlng=pt|jornal=Pró-Fono Revista de Atualização Científica|volume=20|numero=1|paginas=49–54|doi=10.1590/S0104-56872008000100009|issn=0104-5687|acessodata=}}</ref>

Para garantir uma execução instrumental adequada os músicos precisam fazer várias horas de estudo/ensaio individual e/ou coletivo.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Azevedo|primeiro=Marisa Frasson de|ultimo2=Oliveira|primeiro2=Cristiano de|data=2012|titulo=Audição de violinistas profissionais: estudo da função coclear e da simetria auditiva|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1516-80342012000100014&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt|jornal=Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia|lingua=pt|volume=17|numero=1|paginas=73–77|doi=10.1590/S1516-80342012000100014|issn=1516-8034|acessodata=}}</ref> As alterações auditivas acontecem devido a exposição a intensidade sonora elevada por longos períodos. Diversos fatores tornam a prática profissional dos músicos um risco à saúde auditiva, como a duração da exposição, a intensidade da música, a acústica do espaço onde ocorrem os ensaios, a localização do músico em relação às fontes sonoras, o instrumento musical que utiliza, a escolha do repertório e a repetição de passagens musicais.<ref name=":3" /> <ref name=":1" /> Outros fatores são considerados prejudiciais à saúde auditiva e, consequentemente, a qualidade de vida, como o ambiente de ensaio, o ambiente de apresentações e a frequência em que são realizadas.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Azevedo|primeiro=Marisa Frasson de|ultimo2=Oliveira|primeiro2=Cristiano de|data=2012|titulo=Audição de violinistas profissionais: estudo da função coclear e da simetria auditiva|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1516-80342012000100014&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt|jornal=Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia|lingua=pt|volume=17|numero=1|paginas=73–77|doi=10.1590/S1516-80342012000100014|issn=1516-8034|acessodata=}}</ref>

== Níveis de pressão sonora em diferentes estilos musicais ==
A [[pressão sonora]] é definida como o [[valor quadrático médio]] da pressão produzida em um determinado ponto por intervalo de tempo, ocasionado por uma [[Som|onda sonora]]. O nível de pressão sonora é uma medida utilizada para determinar o grau de potência de uma onda sonora. A unidade do sistema internacional de unidades de pressão sonora é o pascal (PA) e do nível de pressão sonora é decibel (dB).<ref>Noise Terms Glossary. Memtech Acoustical, LLC, noise control solutions. Stable URL: <nowiki>http://www.memtechacoustical.com/noise-terms-glossary/</nowiki> </ref>

A avaliação da exposição do nível de pressão sonora a música pode ser medida por meio do [[Dosímetro de ruído|dosímetro]] e os resultados variam conforme o local da apresentação/ensaio, a música sendo tocada, a localização do microfone e o tempo da duração da medida.<ref name=":2" />

Os [[Instrumento musical|instrumentos musicais]] executam fortes níveis de pressão sonora, intensidade e frequência, tornando-se um fator de risco à [[audição]]. Não é somente a categoria profissional de músicos que está sujeito a exposição ocupacional. Garçons, seguranças de shows, bartenders, educadores físicos em academias, entre outros profissionais também ocupam espaços onde há elevado nível de pressão sonora.<ref name=":2" />

Existem várias fontes de exposição à música em que os indivíduos se encontram inseridos. Estudos foram feitos para obter o nível de pressão sonora que cada estilo musical apresenta. Segue no   quadro abaixo alguns desses valores e seus impactos na audição <ref name=":2" />:
{| class="wikitable"
|'''Fonte de exposição'''
|'''Nível de pressão sonora'''
|'''Efeitos na audição'''
|-
|Orquestras sinfônicas
|79 db (A) a 110 db (A)
|Perda auditiva, zumbido, diplacusia e hiperacusia
|-
|Banda de rock
|98,5 db
|Hipoacusia, hiperacusia, zumbido, diplacusia, hipersensibilidade, mudança temporária do limiar
|-
|Frevo
|117 db (A)
|Perda auditiva, zumbido e tontura
|-
|Trios elétricos
|109,4 db (A)
|Mudança temporária do limiar, plenitude auricular, zumbido, dor de cabeça e tontura
|-
|Maracatu
|119 db (A)
|Perda auditiva, zumbido e tontura
|-
|Bandas instrumentais
|90,1 db (A) a 105 db (A)
|Zumbido, desconforto a sons, perda auditiva, intolerância a sons, hiperacusia e tontura
|-
|Steelpan/Tambores de aço
|Acima de 100 db (A)
|Perda auditiva
|-
|Profissionais expostos à música amplificada
|73,9 db (A) a 100 db (A)
|Perda auditiva, zumbido, sensação de perda auditiva, sensação de ouvido tapado e mudança temporária do limiar
|}

== Prevenção ==
A implementação de medidas de prevenção para a saúde auditiva de músicos, é recomendada pelo Ministério da Saúde ações preventivas como uso de [[Protetor auricular|protetores auditivos]] especiais de atenuação uniforme, tratamento de salas de ensaio e realização de acompanhamento audiológico por meio da [[Audiometria|audiometria tonal liminar]] e das [[Emissão otoacústica|emissões otoacústicas]].<ref>MINISTÉRIO DA SAÚDE. Perda auditiva induzida por ruído (Pair). Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006.</ref> Vale ressaltar que a educação e programas de conservação direcionados aos músicos também são essenciais para complementar as ações preventivas. O uso abusivo em duração, intensidade e frequência da exposição à música pode levar a distúrbios da função auditiva e provocar severas consequências na qualidade de vida.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Hanazumi|primeiro=Aline|ultimo2=Gil|primeiro2=Daniela|ultimo3=Iório|primeiro3=Maria Cecília Martinelli|data=2013|titulo=Estéreos pessoais: hábitos auditivos e avaliação audiológica|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2317-64312013000300007&lng=pt&tlng=pt|jornal=Audiology - Communication Research|volume=18|numero=3|paginas=179–185|doi=10.1590/S2317-64312013000300007|issn=2317-6431}}</ref>

=== Educação em saúde ===
Um processo educativo dá a oportunidade aos indivíduos de se tornarem intermediários na promoção e proteção de sua saúde, sendo capazes de identificar os riscos que a afetam e, com isso, terem mais conhecimento para a tomada de decisões de suas vidas. Então, por meio da educação em saúde é possível estimular transformações na relação saúde e trabalho. Para isto, deve ser uma prática pedagógica bem estruturada aos determinados grupos. Assim, desenvolve-se nas pessoas suas capacidades de analisar, questionar, relacionar, criar e participar em seu ambiente de trabalho, introduzindo a importância das ações de prevenção, na busca de soluções e métodos para ações coletivas.<ref name=":6">{{Citar periódico|ultimo=Fausti|primeiro=Stephen A.|ultimo2=Wilmington|primeiro2=Debra J.|ultimo3=Helt|primeiro3=Patrick V.|ultimo4=Helt|primeiro4=Wendy J.|ultimo5=Konrad-Martin|primeiro5=Dawn|data=2005|titulo=Hearing health and care: the need for improved hearing loss prevention and hearing conservation practices|url=https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16470464|jornal=Journal of Rehabilitation Research and Development|volume=42|numero=4 Suppl 2|paginas=45–62|doi=10.1682/jrrd.2005.02.0039|issn=1938-1352|pmid=16470464|acessodata=}}</ref> <ref name=":7">{{Citar periódico|ultimo=Gonçalves|primeiro=Cláudia Giglio de Oliveira|ultimo2=Fontoura|primeiro2=Francisca Pinheiro|ultimo3=Gonçalves|primeiro3=Cláudia Giglio de Oliveira|ultimo4=Fontoura|primeiro4=Francisca Pinheiro|data=2018|titulo=Intervenções educativas voltadas à prevenção de perda auditiva no trabalho: uma revisão integrativa|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0303-76572018001000401&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt|jornal=Revista Brasileira de Saúde Ocupacional|lingua=pt|volume=43|doi=10.1590/2317-6369000032417|issn=0303-7657|acessodata=}}</ref>

A prevenção e promoção da saúde são direcionadas para o comportamento e mudanças de estilo de vida, incluindo ações em saúde, englobando o ambiente familiar e o contexto cultural. Buscam também associar o tema da saúde com o das condições e qualidade de vida.<ref name=":7" />

Recomendações como ajustes de risers ou o nível dos alto-falantes e o ajuste do esquema de uma banda ou orquestra são, por exemplo, medidas preventivas benéficas para a saúde auditiva. Mudanças no ambiente são importantes, mas nem sempre é possível realizá-las. Nos casos em que essas alterações não podem ser feitas, é essencial a proteção auditiva por meio do [[Equipamento de proteção individual|equipamento de proteção individual.]]

=== EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI) ===
O principal EPI voltado para os músicos são os [[Protetor auricular|protetores auditivos]]. Eles reduzem os riscos existentes no ambiente e previnem possíveis [[Doença ocupacional|doenças ocupacionais]], como a [[Perda auditiva induzida por ruído|PAIR]]. Os protetores auriculares são eficazes quando são utilizados de forma correta. Existem diversos modelos, de diferentes materiais e funções específicas.

Para  a profissão de músicos há também vários tipos de protetores auditivos. Os músicos podem optar por usar os protetores pré-formados, personalizados, monitores intra-auriculares personalizados, de espuma ou dependentes de nível. Para escolher o correto é preciso analisar o tipo de música, quais são os instrumentos utilizados e o número de artistas.<ref name=":8">{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/731127519|título=Hearing conservation : in occupational, recreational, educational, and home settings|ultimo=Rawool, Vishakha Waman.|data=2012|editora=Thieme|local=New York|oclc=731127519}}</ref>

A PAIR e seus efeitos no organismo podem ser evitados por meio de medidas preventivas e é de extrema importância o uso de EPIs como também a educação e programas de conservação auditiva para a população de músicos. Através deles é possível aprender e incorporar no dia a dia de cada indivíduo meios de reduzir a exposição (ocupacional e recreativa) a sons fortes e expandir a conscientização sobre os riscos e os impactos na qualidade de vida que são gerados com a perda auditiva.<ref>{{citar web|url=https://www.who.int/mediacentre/news/releases/2015/ear-care/en/|titulo=1.1 billion people at risk of hearing loss|data=2020|acessodata=22/07/2020|publicado=world health organization}}</ref>

==== Tipos de protetores auditivos ====

* '''Protetores auditivos específicos para os músicos conhecidos também por Hi-Fi''' (highest-fidelity) alta fidelidade, conseguem manter a qualidade original da música, mas com menor nível sonoro. Os Hi-Fi possuem a característica de atenuação uniforme em todas as frequências (tons), ou seja, não atenua mais as frequências altas em relação às médias e baixas (como acontece com os protetores comuns). Geralmente conseguem fazer isso colocando um pequeno diafragma para reduzir baixas frequências, juntamente com material absorvente ou de amortecimento para altas frequências. Esses protetores auriculares garantem a proteção para ruídos de até aproximadamente 105 dB.<ref name=":5" />
* '''Protetores auditivos personalizados''' é uma opção com custo mais alto, porque são feitos sob medida para o indivíduo. Proporcionam proteção muito melhor contra níveis muito fortes de ruídos, garantem a atenuação mais plana e com maior eficácia de isolamento (se encaixam firmemente nas orelhas). São feitos de silicone ou materiais de vinil e possuem uma abertura e uma variedade de filtros que alteram a quantidade de atenuação fornecida. A vantagem desse protetor é o ajuste que o músico pode fazer, de acordo com a música que está tocando, para melhorar a proteção auditiva. Nos casos de filtros comuns a atenuação varia de 9 dB, 15 dB e 25 dB.<ref name=":8" />
* '''Monitores intra-auriculares''' são fones de ouvido que também servem como protetores auditivos, atenuando o som ao redor. Para que sua utilização proteja a audição é necessário usar junto o protetor auricular personalizado. Nos intra-auriculares a quantidade de proteção fornecida pelo monitor depende do nível de audição que o músico escolhe. Por causa disso, se o músico coloca o monitor em um nível alto, o monitor pode atenuar o som circundante enquanto ainda fornece um ní­vel de som potencialmente prejudicial diretamente ao ouvido do músico e, portanto, não se encaixa a função de proteção.<ref name=":8" />
* '''Espuma e dependentes do nível''' não são por definição protetores auditivos para músico. Esses tipos de plugue não fornecem a atenuação plana que é caracterÍstica do plugue de um músico, mas pode ser útil para alguns músicos, como percussão.<ref name=":8" />

Os músicos têm a possibilidade de escolher entre vários tipos diferentes de proteção auditiva, desde plugues auditivos comuns até proteção auditiva personalizada ou de alta fidelidade. Apesar disso, o uso de proteção auditiva entre músicos é baixo por vários motivos.

É comum os músicos não aderirem a proteção auditiva pois relatam que os dispositivos são desconfortáveis, incluindo o desejo de conversar, a falta de preocupação sobre a importância e até mesmo a pressão social contra o uso de proteção <ref name=":6" /> também apontam que os EPIs podem distorcer a forma como a música soa ou a deixa muito baixa para que ouçam sinais importantes.

Pesquisas sugerem que a implementação de programas de educação e de prevenção podem ser benéficos para os músicos, bem como trabalhar com profissionais de saúde auditiva para ajudar a resolver os problemas específicos que enfrentam. Como no Brasil ainda não existe uma legislação e nem programas de conservação auditiva específicos para a categoria profissional de músicos é fundamental a criação de ambos pois a perda da audição é irreversível e pode influenciar no desempenho do músico e no seu bem estar.<ref name=":2" />

== Tratamento ==
Ainda não existe um tratamento específico para PAIR. Quando as células ciliadas são lesionadas, por conta da exposição prolongada a elevados níveis de pressão sonora, elas não são regeneradas, tornando essa perda auditiva irreversível. É recomendado realizar frequentemente o acompanhamento da progressão da perda auditiva por avaliações audiológicas. Em casos da ocorrência de uma perda auditiva importante, é possível usar aparelhos auditivos para diminuir os danos e amplificar os estímulos sonoros. Também há a possibilidade de realizar tratamentos terapêuticos.<ref name=":7" />

Revisão das 00h16min de 23 de julho de 2020

A palavra música significa combinar a arte e a ciência dos sons de forma agradável ao ouvinte. Música é a combinação harmoniosa e expressiva de sons, sendo dividida em melodia, ritmo e harmonia. A música também possui propriedades importantes como duração, intensidade, altura e timbre para defini-la. Ela é responsável por estimular diversas áreas do cérebro, estando fortemente associada como parte do ser humano.[1]

Ela está presente no dia a dia das pessoas; é importante no aspecto cultural e da preservação da herança, além do aspecto cognitivo que permite explorar a expressão e a imaginação. Por isso, recomenda-se a estimulação musical em todos os níveis de educação.[2] [3]

Por ser reconhecida como um som agradável, que remete a fatos e/ou acontecimentos importantes e proporciona diversos benefícios à saúde e bem estar, geralmente não é reconhecida como uma ameaça à saúde auditiva.[4]

A fisiologia da execução musical envolve os movimentos do corpo e a técnica de execução de um determinado instrumento. Ao mesmo tempo as informações são captadas sensorialmente por receptores táteis, visuais, auditivos e proprioceptivos, que são analisados. A percepção auditiva é influenciada por fatores afetivos e culturais e é determinada para regular a afinação individual em relação ao envolvimento com o restante do grupo. Também auxilia estabelecendo trajetórias sonoras que são memorizadas e que informam a reentrada em um compasso.[5] No entanto, a exposição sistemática a elevados níveis de pressão sonora (mesmo sendo a música) podem ocasionar danos auditivos[3] como a  Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR).

Fisiologia da audição

Um estímulo acústico é transmitido de uma fonte sonora e é localizado e captado pelo pavilhão auricular, conduzido pelo meato acústico externo, chegando até a membrana timpânica (tímpano) fazendo com que ela vibre. A partir dessa vibração toda a cadeia ossicular se movimenta. Os ossículos da orelha média (martelo, bigorna e estribo) transferem a energia mecânica para a cóclea por meio da movimentação do estribo contra a janela oval  (na cóclea). Esta movimentação desloca os fluidos perilinfa e endolinfa (presentes dentro da cóclea) causando o movimento das células ciliadas (sensoriais) e enviando um sinal elétrico do nervo auditivo (VIII par craniano - vestibulococlear) para o sistema auditivo central. É nessa parte que o som é analisado e interpretado.[6]

A membrana timpânica é extremamente sensível, respondendo a qualquer variação de pressão nas ondas sonoras. Diferentes grupos de células ciliadas respondem a diferentes frequências. As células na base da cóclea estão relacionadas aos sons de alta frequência, enquanto as células no ápice da cóclea, estão relacionadas aos sons de baixa frequência.[6]

Efeitos na audição: auditivos e não auditivos

O tempo de exposição e a intensidade são dois fatores relacionados com a perda auditiva e sintomas não auditivos. A exposição à música amplificada (elevados níveis de pressão sonora) geram diversos sintomas no indivíduo exposto à música.

Sintomas auditivos[7]

Sintomas não auditivos[2]

Conforme ocorre a evolução da perda auditiva, o indivíduo começa a presenciar dificuldades no seu dia a dia. Para exemplificar, segue abaixo uma correlação entre o grau da perda auditiva e dificuldades apresentadas:[8]

Perda auditiva Dificuldades
Leve As dificuldades aparecem em situações onde há presença de ruído. O volume da televisão é um pouco mais elevado e apresenta problemas para falar ao telefone.
Moderada A dificuldade aparece em mais situações do dia a dia. O volume da televisão é mais elevado, apresenta bastante dificuldade para entender o que é falado ao telefone e em conversas, mesmo em locais silenciosos.
Severa A dificuldade é evidente. O volume da televisão é muito elevado e ainda assim não se entende o que é falado. Precisa que a outra pessoa grite para que entenda o que é falado no telefone e em conversas.
Profunda A dificuldade é evidente. Em geral, não é possível escutar a televisão, ouvir sons ambientais, falar ao telefone e conversar sem o apoio visual.

A perda auditiva induzida por ruído ou por música ocorre devido a exposição prolongada a elevados níveis de pressão sonora que lesionam as células ciliadas ou causam danos à mielinização ou regiões sinápticas do nervo auditivo. Esses são dois mecanismos biológicos conhecidos de PAIR.[6] Contudo, curtas exposições, como por exemplo, em concertos de rock, também podem causar alterações auditivas e não auditivas.[9] [10] A principal queixa referida entre os músicos após apresentações é o zumbido, podendo estar relacionado a um quadro de alteração temporária do limiar auditivo, mesmo que por curtos períodos de exposição à música amplificada.[11]

Perda auditiva induzida por ruído (PAIR)

A PAIR é tida como uma lesão irreversível e de progressão gradual (conforme as condições de exposição e não prevenção).[4] Possui como característica principal um entalhe, com início de comprometimento nas frequências agudas (3.000 HZ a 6.000 HZ). Dependendo do tipo, grau e configuração dessa perda auditiva os sintomas/dificuldades irão afetar a vida profissional e pessoal do músico. Indiferente do grau da perda auditiva, mesmo em casos leves (onde ocorre pouco comprometimento na comunicação), podem dificultar o reconhecimento de timbres e atrapalhar a afinação dos instrumentos.[3] [12]

Os músicos precisam especialmente de boas condições auditivas para não dificultar e/ou impedir o uso íntegro das habilidades auditivas. As alterações auditivas e não auditivas prejudicam não só o exercício profissional, mas também a qualidade de vida.[13]

Legislação

No Brasil ainda não existe uma legislação específica voltada para os músicos, que  determine o controle do ruído tanto em atividades de lazer quanto voltadas para as apresentações musicais.[3] É essencial a classificação em normas de segurança, o número de dias, horas de trabalho e níveis de pressão sonora permitidos, para protegê-los dos prejuízos gerados pela exposição a música em forte intensidade.[4]

Para o meio industrial, o Ministério do Trabalho do Brasil, por meio da Norma Reguladora (NR 15) de 1978, estabelece os valores correspondentes ao limite diário de exposição ocupacional máximo que um indivíduo pode permanecer exposto. Segue abaixo alguns dos valores [14]:

  • 85 dB - 8 horas;
  • 90 dB - 4 horas;
  • 95 dB - 2 horas;
  • 100 dB - 1 horas;
  • 105 dB - 30 minutos;
  • 110 dB - 15 minutos.

Essa legislação, porém, não se aplica para categorias profissionais como músicos, militares, dentistas, profissionais de educação física, entre outros, que apresentam em suas atividades, riscos para o desenvolvimento de alterações auditivas.[5] [15]

Para garantir uma execução instrumental adequada os músicos precisam fazer várias horas de estudo/ensaio individual e/ou coletivo.[16] As alterações auditivas acontecem devido a exposição a intensidade sonora elevada por longos períodos. Diversos fatores tornam a prática profissional dos músicos um risco à saúde auditiva, como a duração da exposição, a intensidade da música, a acústica do espaço onde ocorrem os ensaios, a localização do músico em relação às fontes sonoras, o instrumento musical que utiliza, a escolha do repertório e a repetição de passagens musicais.[5] [3] Outros fatores são considerados prejudiciais à saúde auditiva e, consequentemente, a qualidade de vida, como o ambiente de ensaio, o ambiente de apresentações e a frequência em que são realizadas.[17]

Níveis de pressão sonora em diferentes estilos musicais

A pressão sonora é definida como o valor quadrático médio da pressão produzida em um determinado ponto por intervalo de tempo, ocasionado por uma onda sonora. O nível de pressão sonora é uma medida utilizada para determinar o grau de potência de uma onda sonora. A unidade do sistema internacional de unidades de pressão sonora é o pascal (PA) e do nível de pressão sonora é decibel (dB).[18]

A avaliação da exposição do nível de pressão sonora a música pode ser medida por meio do dosímetro e os resultados variam conforme o local da apresentação/ensaio, a música sendo tocada, a localização do microfone e o tempo da duração da medida.[4]

Os instrumentos musicais executam fortes níveis de pressão sonora, intensidade e frequência, tornando-se um fator de risco à audição. Não é somente a categoria profissional de músicos que está sujeito a exposição ocupacional. Garçons, seguranças de shows, bartenders, educadores físicos em academias, entre outros profissionais também ocupam espaços onde há elevado nível de pressão sonora.[4]

Existem várias fontes de exposição à música em que os indivíduos se encontram inseridos. Estudos foram feitos para obter o nível de pressão sonora que cada estilo musical apresenta. Segue no   quadro abaixo alguns desses valores e seus impactos na audição [4]:

Fonte de exposição Nível de pressão sonora Efeitos na audição
Orquestras sinfônicas 79 db (A) a 110 db (A) Perda auditiva, zumbido, diplacusia e hiperacusia
Banda de rock 98,5 db Hipoacusia, hiperacusia, zumbido, diplacusia, hipersensibilidade, mudança temporária do limiar
Frevo 117 db (A) Perda auditiva, zumbido e tontura
Trios elétricos 109,4 db (A) Mudança temporária do limiar, plenitude auricular, zumbido, dor de cabeça e tontura
Maracatu 119 db (A) Perda auditiva, zumbido e tontura
Bandas instrumentais 90,1 db (A) a 105 db (A) Zumbido, desconforto a sons, perda auditiva, intolerância a sons, hiperacusia e tontura
Steelpan/Tambores de aço Acima de 100 db (A) Perda auditiva
Profissionais expostos à música amplificada 73,9 db (A) a 100 db (A) Perda auditiva, zumbido, sensação de perda auditiva, sensação de ouvido tapado e mudança temporária do limiar

Prevenção

A implementação de medidas de prevenção para a saúde auditiva de músicos, é recomendada pelo Ministério da Saúde ações preventivas como uso de protetores auditivos especiais de atenuação uniforme, tratamento de salas de ensaio e realização de acompanhamento audiológico por meio da audiometria tonal liminar e das emissões otoacústicas.[19] Vale ressaltar que a educação e programas de conservação direcionados aos músicos também são essenciais para complementar as ações preventivas. O uso abusivo em duração, intensidade e frequência da exposição à música pode levar a distúrbios da função auditiva e provocar severas consequências na qualidade de vida.[20]

Educação em saúde

Um processo educativo dá a oportunidade aos indivíduos de se tornarem intermediários na promoção e proteção de sua saúde, sendo capazes de identificar os riscos que a afetam e, com isso, terem mais conhecimento para a tomada de decisões de suas vidas. Então, por meio da educação em saúde é possível estimular transformações na relação saúde e trabalho. Para isto, deve ser uma prática pedagógica bem estruturada aos determinados grupos. Assim, desenvolve-se nas pessoas suas capacidades de analisar, questionar, relacionar, criar e participar em seu ambiente de trabalho, introduzindo a importância das ações de prevenção, na busca de soluções e métodos para ações coletivas.[21] [22]

A prevenção e promoção da saúde são direcionadas para o comportamento e mudanças de estilo de vida, incluindo ações em saúde, englobando o ambiente familiar e o contexto cultural. Buscam também associar o tema da saúde com o das condições e qualidade de vida.[22]

Recomendações como ajustes de risers ou o nível dos alto-falantes e o ajuste do esquema de uma banda ou orquestra são, por exemplo, medidas preventivas benéficas para a saúde auditiva. Mudanças no ambiente são importantes, mas nem sempre é possível realizá-las. Nos casos em que essas alterações não podem ser feitas, é essencial a proteção auditiva por meio do equipamento de proteção individual.

EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI)

O principal EPI voltado para os músicos são os protetores auditivos. Eles reduzem os riscos existentes no ambiente e previnem possíveis doenças ocupacionais, como a PAIR. Os protetores auriculares são eficazes quando são utilizados de forma correta. Existem diversos modelos, de diferentes materiais e funções específicas.

Para  a profissão de músicos há também vários tipos de protetores auditivos. Os músicos podem optar por usar os protetores pré-formados, personalizados, monitores intra-auriculares personalizados, de espuma ou dependentes de nível. Para escolher o correto é preciso analisar o tipo de música, quais são os instrumentos utilizados e o número de artistas.[23]

A PAIR e seus efeitos no organismo podem ser evitados por meio de medidas preventivas e é de extrema importância o uso de EPIs como também a educação e programas de conservação auditiva para a população de músicos. Através deles é possível aprender e incorporar no dia a dia de cada indivíduo meios de reduzir a exposição (ocupacional e recreativa) a sons fortes e expandir a conscientização sobre os riscos e os impactos na qualidade de vida que são gerados com a perda auditiva.[24]

Tipos de protetores auditivos

  • Protetores auditivos específicos para os músicos conhecidos também por Hi-Fi (highest-fidelity) alta fidelidade, conseguem manter a qualidade original da música, mas com menor nível sonoro. Os Hi-Fi possuem a característica de atenuação uniforme em todas as frequências (tons), ou seja, não atenua mais as frequências altas em relação às médias e baixas (como acontece com os protetores comuns). Geralmente conseguem fazer isso colocando um pequeno diafragma para reduzir baixas frequências, juntamente com material absorvente ou de amortecimento para altas frequências. Esses protetores auriculares garantem a proteção para ruídos de até aproximadamente 105 dB.[11]
  • Protetores auditivos personalizados é uma opção com custo mais alto, porque são feitos sob medida para o indivíduo. Proporcionam proteção muito melhor contra níveis muito fortes de ruídos, garantem a atenuação mais plana e com maior eficácia de isolamento (se encaixam firmemente nas orelhas). São feitos de silicone ou materiais de vinil e possuem uma abertura e uma variedade de filtros que alteram a quantidade de atenuação fornecida. A vantagem desse protetor é o ajuste que o músico pode fazer, de acordo com a música que está tocando, para melhorar a proteção auditiva. Nos casos de filtros comuns a atenuação varia de 9 dB, 15 dB e 25 dB.[23]
  • Monitores intra-auriculares são fones de ouvido que também servem como protetores auditivos, atenuando o som ao redor. Para que sua utilização proteja a audição é necessário usar junto o protetor auricular personalizado. Nos intra-auriculares a quantidade de proteção fornecida pelo monitor depende do nível de audição que o músico escolhe. Por causa disso, se o músico coloca o monitor em um nível alto, o monitor pode atenuar o som circundante enquanto ainda fornece um ní­vel de som potencialmente prejudicial diretamente ao ouvido do músico e, portanto, não se encaixa a função de proteção.[23]
  • Espuma e dependentes do nível não são por definição protetores auditivos para músico. Esses tipos de plugue não fornecem a atenuação plana que é caracterÍstica do plugue de um músico, mas pode ser útil para alguns músicos, como percussão.[23]

Os músicos têm a possibilidade de escolher entre vários tipos diferentes de proteção auditiva, desde plugues auditivos comuns até proteção auditiva personalizada ou de alta fidelidade. Apesar disso, o uso de proteção auditiva entre músicos é baixo por vários motivos.

É comum os músicos não aderirem a proteção auditiva pois relatam que os dispositivos são desconfortáveis, incluindo o desejo de conversar, a falta de preocupação sobre a importância e até mesmo a pressão social contra o uso de proteção [21] também apontam que os EPIs podem distorcer a forma como a música soa ou a deixa muito baixa para que ouçam sinais importantes.

Pesquisas sugerem que a implementação de programas de educação e de prevenção podem ser benéficos para os músicos, bem como trabalhar com profissionais de saúde auditiva para ajudar a resolver os problemas específicos que enfrentam. Como no Brasil ainda não existe uma legislação e nem programas de conservação auditiva específicos para a categoria profissional de músicos é fundamental a criação de ambos pois a perda da audição é irreversível e pode influenciar no desempenho do músico e no seu bem estar.[4]

Tratamento

Ainda não existe um tratamento específico para PAIR. Quando as células ciliadas são lesionadas, por conta da exposição prolongada a elevados níveis de pressão sonora, elas não são regeneradas, tornando essa perda auditiva irreversível. É recomendado realizar frequentemente o acompanhamento da progressão da perda auditiva por avaliações audiológicas. Em casos da ocorrência de uma perda auditiva importante, é possível usar aparelhos auditivos para diminuir os danos e amplificar os estímulos sonoros. Também há a possibilidade de realizar tratamentos terapêuticos.[22]

  1. Nunes, Emanuelle Caires Dias Araújo; Oliveira, Fabiana Aguiar de; Cunha, Juliana Xavier Pinheiro da; Reis, Sabrina Oliveira; Meira, Gizelia da Gama; Szylit, Regina; Nunes, Emanuelle Caires Dias Araújo; Oliveira, Fabiana Aguiar de; Cunha, Juliana Xavier Pinheiro da (2020). «Music as a transpersonal care tool - perceptions of hospitalized people assisted in the university extension». Escola Anna Nery (em inglês). 24 (2). ISSN 1414-8145. doi:10.1590/2177-9465-ean-2019-0165 
  2. a b Andrade, Ana I. A.; Russo, Iêda C. P.; Lima, Maria L. L. T.; Oliveira, Luiz C. S. (2002). «Avaliação auditiva em músicos de frevo e maracatu». Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. 68 (5): 714–720. ISSN 0034-7299. doi:10.1590/S0034-72992002000500018 
  3. a b c d e Lüders, Débora; Gonçalves, Cláudia Giglio de Oliveira; Lacerda, Adriana Bender Moreira de; Schettini, Sônia Regina Lazarotto; Silva, Luciana Santos Gerosino da; Albizu, Evelyn Joyce; Marques, Jair Mendes; Lüders, Débora; Gonçalves, Cláudia Giglio de Oliveira (2016). «Audição e qualidade de vida de músicos de uma orquestra sinfônica brasileira». Audiology - Communication Research. 21. ISSN 2317-6431. doi:10.1590/2317-6431-2016-1688 
  4. a b c d e f g ISLEB, Maria Helena Mendes et al. A perda auditiva induzida pela música e a busca da promoção da saúde auditiva. In: MORATA, Thais C.. Saúde auditiva: avaliação de riscos e prevenção. São Paulo: Plexus, 2010. p. 37-61.
  5. a b c OTUBO, K. A.; LOPES, A. C.; LAURIS, J. R. P. Uma análise do perfil audiológico de estudantes de música. Per Musi, Belo Horizonte, n.27, 2013, p.141-151.
  6. a b c BONALDI, Laís Vieira. Estrutura e função do sistema auditivo periférico. In: BOÉCHAT, Edilene Marchini et al (org.). Tratado de Audiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 32-49.
  7. AMORIM, Raquel Beltrão et al. Alterações Auditivas da Exposição Ocupacional em Músicos. Arq. Int. Otorrinolaringol., São Paulo, v. 12, n. 3, p. 377-383, 2008. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/237318033_Alteracoes_Auditivas_da_Exposicao_Ocupacional_em_Musicos_Auditory_Alterations_for_Occupational_Exposition_in_Musicians. Acesso em: 22 jun. 2020.
  8. Basic ear and hearing care resource. Geneva: World Health Organization; 2020. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO.
  9. Maia JRF, Russo ICP. Estudo da audição de músicos de rock and roll. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2008 jan-mar;20(1):49-54.
  10. NAMUUR, Flávia A. B. M. et al. Avaliação Auditiva em Músicos da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, São Paulo, p. 390-395, 1999.
  11. a b Santoni, Cristiane Bolzachini; Fiorini, Ana Claudia (2010). «Músicos de pop-rock: avaliação da satisfação com protetores auditivos». Brazilian Journal of Otorhinolaryngology. 76 (4): 454–461. ISSN 1808-8694. doi:10.1590/S1808-86942010000400009 
  12. Gonçalves, Cláudia Giglio de Oliveira; Lacerda, Adriana Bender Moreira; Zocoli, Angela Maria Fontana; Oliva, Flávia Cardoso; Almeida, Suzanne Bettega; Iantas, Milena Raquel (2009). «Percepção e o impacto da música na audição de integrantes de banda militar». Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. 14 (4): 515–520. ISSN 1516-8034. doi:10.1590/S1516-80342009000400015 
  13. Gonçalves, Maiara Santos; Tochetto, Tania Maria; Gambini, Caroline (2007). «Hiperacusia em músicos de banda militar». Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. 12 (4): 298–303. ISSN 1516-8034. doi:10.1590/S1516-80342007000400008 
  14. BRASIL. Ministério do Trabalho. Portaria n.3.214 de 08 de Junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas a Segurança e Medicina do Trabalho. Diário Oficial da República Federativa do Brasil: Brasília, 1978. Disponível em: <http://trabalho.gov.br/participacao-social-mtps/participacao-social-do-trabalho/legislacao-seguranca-e-saude-no-trabalho/item/3679-portaria-3-214-1978>. Acesso em: 18 jun. 2020.
  15. Maia, Juliana Rollo Fernandes; Russo, Ieda Chaves Pacheco (2008). «Estudo da audição de músicos de rock and roll». Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 20 (1): 49–54. ISSN 0104-5687. doi:10.1590/S0104-56872008000100009 
  16. Azevedo, Marisa Frasson de; Oliveira, Cristiano de (2012). «Audição de violinistas profissionais: estudo da função coclear e da simetria auditiva». Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. 17 (1): 73–77. ISSN 1516-8034. doi:10.1590/S1516-80342012000100014 
  17. Azevedo, Marisa Frasson de; Oliveira, Cristiano de (2012). «Audição de violinistas profissionais: estudo da função coclear e da simetria auditiva». Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. 17 (1): 73–77. ISSN 1516-8034. doi:10.1590/S1516-80342012000100014 
  18. Noise Terms Glossary. Memtech Acoustical, LLC, noise control solutions. Stable URL: http://www.memtechacoustical.com/noise-terms-glossary/
  19. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Perda auditiva induzida por ruído (Pair). Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006.
  20. Hanazumi, Aline; Gil, Daniela; Iório, Maria Cecília Martinelli (2013). «Estéreos pessoais: hábitos auditivos e avaliação audiológica». Audiology - Communication Research. 18 (3): 179–185. ISSN 2317-6431. doi:10.1590/S2317-64312013000300007 
  21. a b Fausti, Stephen A.; Wilmington, Debra J.; Helt, Patrick V.; Helt, Wendy J.; Konrad-Martin, Dawn (2005). «Hearing health and care: the need for improved hearing loss prevention and hearing conservation practices». Journal of Rehabilitation Research and Development. 42 (4 Suppl 2): 45–62. ISSN 1938-1352. PMID 16470464. doi:10.1682/jrrd.2005.02.0039 
  22. a b c Gonçalves, Cláudia Giglio de Oliveira; Fontoura, Francisca Pinheiro; Gonçalves, Cláudia Giglio de Oliveira; Fontoura, Francisca Pinheiro (2018). «Intervenções educativas voltadas à prevenção de perda auditiva no trabalho: uma revisão integrativa». Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. 43. ISSN 0303-7657. doi:10.1590/2317-6369000032417 
  23. a b c d Rawool, Vishakha Waman. (2012). Hearing conservation : in occupational, recreational, educational, and home settings. New York: Thieme. OCLC 731127519 
  24. «1.1 billion people at risk of hearing loss». world health organization. 2020. Consultado em 22 de julho de 2020