Abadia das Três Fontes

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Abadia de Tre Fontane)
Abadia das Três Fontes
Abadia das Três Fontes
Complexo 3 da Abadia
Tipo
  • mosteiro trapista
  • mosteiro cisterciense
  • mosteiro
Início da construção 299 (1 725 anos)
Religião Catolicismo
Website abbaziatrefontane.it
Geografia
País  Itália
Coordenadas 41° 50' 04" N 12° 29' E
Arco de Carlos Magno, na abadia

A Abadia das Três Fontes (em latim: Abbatia trium fontium ad Aquas Salvias), também chamada de Abadia de São Vicente e Santo Anastácio, é uma abadia católica em Roma apontada como o local onde São Paulo foi decapitado por ordem do imperador Nero no ano 67 d.C., no quartiere Ardeatino de Roma. Segundo a tradição, a cabeça do santo, ao ser cortada, saltou e atingiu a Terra em três lugares, dos quais surgiram fontes.[1]

Atualmente é mantida pelos monges trapistas da ordem cisterciense. Ela é conhecida por criar as ovelhas cuja lã é utilizada para tecer os pálios utilizados pelos arcebispos metropolitanos e abençoadas pelo Papa durante a festa de Santa Inês, em 21 de janeiro. Os pálios são depois entregues aos novos arcebispos na Festa de São Pedro e São Paulo, em 29 de junho.

Além da lã, os monges da Abadia das Três Fontes produzem diferentes tipos de mel (de flores, acácia e eucalipto), além de azeite, chocolates, marmelada, licor e cerveja.

As igrejas[editar | editar código-fonte]

Coluna de Paulo, em San Paolo alle Tre Fontane.

Três igrejas pertencem ao mosteiro. A primeira, San Paolo alle Tre Fontane, foi erguida no local onde tradicionalmente acredita-se que o apóstolo Paulo foi decapitado por ordem do imperador romano Nero. A lenda diz que, uma vez separada do corpo, a cabeça bateu no chão em três diferentes lugares, de onde nasceram as fontes que deram nome à abadia. Elas ainda estão lá. A igreja também guarda a coluna que teria sido aquela a que Paulo estava amarrado quando foi martizado.

A segunda, Santa Maria Scala Coeli, dedicada à Virgem Maria sob o título de "Nossa Senhora dos Mártires", foi construída sobre as relíquias de São Zenão e seus 10.203 legionários, que foram martirizados durante a perseguição de Diocleciano, em 299 d.C. Nesta igreja está localizado o altar chamado Scala Coeli ("Escada para o céu"), que empresta seu nome à igreja em si.

A terceira foi, assim como o próprio mosteiro, dedicada à São Vicente e Santo Anastácio da Pérsia, construída pelo Papa Honório I em 626 d.C. e entregue à ordem dos beneditinos, que tomam conta também das outras duas igrejas.

História[editar | editar código-fonte]

Igreja de São Vicente e Santo Anastácio

No final do século VII, as perseguições contra os monges no oriente realizadas pelos monotelitas obrigaram muitos deles a procurar abrigo em Roma. O Papa então dedicou esta abadia para servir-lhes de refúgio. Ela foi ricamente decorada através de doações, principalmente por Carlos Magno, que entregou Orbetello e outras onze cidades (e um considerável território) ao comando do abade, que passou então a exercer uma jurisdição ordinária (abbatia nullius) sobre a região.

No século XI, ela foi entregue à ordem de Cluny, o que foi revertido em 1140 pelo Papa Inocêncio II, que a entregou então a São Bernardo. Ele entregou-a para uma colônia cisterciense originalmente da Abadia de Claraval, com Bernardo Pignatelli como abade. Ele se tornaria o Papa Eugênio III cinco anos depois.

Quando Inocêncio entregou o mosteiro aos cistercienses, ele ordenou que a igreja fosse reformada e que os dormitórios fosse reconstruídos de acordo com as necessidades da ordem. Dos quatorze abades que governaram a abadia, diversos, além de Eugênio, se tornaram cardeais, legados ou bispos. O Papa Honório III reformou a igreja de São Vicente e Santo Anastácio e a reconsagrou pessoalmente em 1221, em conjunto com sete cardeais que consagraram os outros sete altares.

O cardeal Branda da Castiglione se tornou o primeiro abade comendador em 1419. Nos anos seguintes, este cargo tem sido preenchido por um cardeal, como foi o caso dos futuros Papas Clemente VII e Clemente VIII. Em 1519, o Papa Leão X autorizou os religiosos a elegerem seu próprio superior regular, um prior do claustro, independente do abade comendador, que também costuma ser um cardeal.

Cerveja Tre Fontane, fabricada pelos monges da Abadia

A ordem foi suprimida na invasão napoleônica em 1812 e, a partir, os santuários foram abandonados até que, em 1826, o Papa Leão XII os transferiu para os cuidados da Ordem dos frades menores (franciscanos). Porém, o objetivo do sumo pontífice acabou não se concretizando, pois a região era tão insalubre que nenhuma comunidade conseguiu se estabelecer ali, principalmente pela alta incidência de malária.

Em 1867, Papa Pio IX determinou como abade comendador das Três Fontes o seu primo, cardeal Milesi-Ferretti, que lutou para melhorar as condições físicas da região. Para garantir que os santuários estivessem bem cuidados, ele entregou novamente a ordem aos cistercienses. Uma comunidade foi então enviada para lá em 1868 vinda de La Grande Trappe para instituir uma morada regular no local e melhorar as condições de saúda das redondezas.

Quando os Estados papais foram incorporados durante a unificação da Itália, em 1870, os frades permaneceram em Tre Fontane. Eles primeiro a alugaram e depois a compraram do governo italiano em 1886, incluindo uma área de 4,99 km². Eles então iniciaram a utilização de métodos modernos para eliminar as condições que permitiam a proliferação da malária, plantando numerosos eucaliptos e outras árvores na região, algo que fizera parte das condições de venda pelo governo. A experiência foi um sucesso e a região se tornou tão saudável quanto Roma.

Cervejaria Tre Fontane[editar | editar código-fonte]

Os monges da abadia são responsáveis pela frabricação da Cerveja trapista Tre Fontane Tripel, feita com eucaliptos plantados pelos próprios monges para combater um surto de malária no ano de 1870 e cultivados na abadia desde então. A cerveja é vendida apenas na abadia e em alguns restaurantes da região de Roma. Encorpada, tem alta carbonatação, final seco e possui teor alcoólico de 8,5%.

Recentemente os monges receberam o selo da Associação Internacional Trapista pela fabricação da cerveja. A certificação foi concedida aos monges após degustação realizada em maio de 2015 pela referida associação.[2]

A Tre Fontane é 11ª cervejaria no rol dos autorizados a usar o selo de autenticidade trapista, juntamente com as belgas Westmalle, Orval, Westvleteren, Achel, Chimay e Rochefort, as holandesas La Trappe e Zundert, a austríaca Stift Engelszell e a americana Spencer.[3]

Modernidade[editar | editar código-fonte]

Com a finalidade de mostrar áreas de interesse religioso e de valores histórico e cultural, a Abadia, em parceria com a produtora italiana Sfera Productions, disponibiliza em seu museu equipamentos como poltronas, máscaras e fones de ouvido, possibilitando a visitação de seu complexo monástico através da realidade virtual. Por meio de projeções em 3D, o visitante virtual pode conhecer instalações da abadia, inclusive aquelas fechadas ao público como o claustro.[4][5]

Referências

  1. Wesselow, Thomas de. O sinal: O santo sudário e o segredo da ressurreição. São Paulo: Ed. Paralela, 2012.
  2. Cerveja italiana leva selo da Associação Internacional Trapista - Estadão
  3. Authentic Trappist Product - Associação Trapista (Inglês)
  4. Abadia de 'Tre Fontane' em Roma mergulha na realidade virtual - Gaudium Press
  5. La realtà virtuale apre un varco nelle aree di clausura dell’Abbazia delle Tre Fontane[ligação inativa] - Sfera Productions (italiano)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Commons
Commons
O Commons possui imagens e outros ficheiros sobre Abadia das Três Fontes