Alfredo Cardoso de Soveral Martins

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Alfredo Cardoso de Soveral Martins
Alfredo Cardoso de Soveral Martins
Alfredo de Soveral Martins - foto do início de 1903, com 33 anos, ainda Segundo-Tenente da Armada Real, depois de ter sido governador da província de Inhambane (Moçambique) e antes de tomar posse como governador da Guiné.
Nascimento 7 de junho de 1869
Almacave
Morte 8 de julho de 1938
Cidadania Portugal, Reino de Portugal
Alma mater
Ocupação oficial
Prêmios
  • Cavaleiro da Ordem de Avis
  • Official da Ordem da Torre e Espada

Alfredo Cardoso de Soveral Martins OTECvAMPCE (Almacave, Lamego, 7 de Junho de 1869Figueira da Foz, 8 de Julho de 1938), foi um oficial da Marinha e administrador colonial português.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Exerceu o cargo de 67.º Governador de Timor, território subordinado a Macau, em 1910 até 30 de Novembro, demitindo-se com a Implantação da República Portuguesa, por ser monárquico, tendo sido antecedido por Gonçalo Pereira Pimenta de Castro e sucedido por Filomeno da Câmara de Melo Cabral.[1][2][3][4]

Antes foi governador da Guiné (1903-1904) e da província de Inhambane, em Moçambique (1898-1902).[5]

Para perceber a política de ocupação militar que então ocorreu nas colónias, é interessante transcrever o que Alfredo de Soveral Martins escreveu num relatório que em 1903, sendo governador da Guiné, enviou ao ministro e secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar: “Sei muito bem que o paiz reage contra o estado de guerra quasi permanente que tem há anos mantido nas colonias; sei que os recursos não abundam e que é um patriótico dever evitar tudo quanto possa perturbar a diffícil marcha dos nossos negócios; também sei que a fadiga produzida pelas guerras africanas faz sempre, embora injustamente, prever pruridos de glória adquirida em façanhas que quando não fundamentadas são uma mentira ao paiz e portanto uma torpeza. Embora os partidários destas ideias possam justifica-las; não me parece que seja fácil admitti-las em absoluto, de boa fé. E, sendo assim, a pacificação da Guiné, pela força, é das ideias necessárias que não sofrem discussão. O paiz reage contra as guerras em África, mas compreende-as e applaude-as quando só visam impedir a marcha das difficuldades que põem em risco o seu domínio e quando d’ellas sensatamente aproveitadas resultam prestígio para o seu nome, influxo civilizador e riqueza económica. São escassos os seus recursos mas poucos são os que se lhes pedem em troca de resultados decisivos e com immediata remuneração muito superior à despesa feita. Emquanto aos pruridos de gloria que possam ser-me atribuídos creio ter sobejas provas durante a minha carreira administrativa de que não sou sujeito a esse mal. Ambicioso de gloria sou-o, sem duvida, quando d’essa gloria possa resultar para o meu paiz algum prestígio ou vantagem, mas quando d’ella só pudesse resultar importancia pessoal não seria gloria e sim mentir à minha Patria, mentir ao meu Rei, mentir a quem, depositando confiança em mim, me colocou à testa do Governo d’esta província; dessas torpêzas a ninguem ainda dei o direito de me supor capaz. (…) Pois, Ex.mo Sñr, as mesmas considerações que então me levaram a proceder por aquella forma, são as mesmas que agora me levam a apresentar a V. Ex.cia a solução que julgo unica e que se impõe como inadiavel ao problema do futuro da Guiné Portuguesa. Dizer o contrário do que affirmo na presente exposição, seria mentir ao meu paiz, mentir ao meu Rei e mentir à confiança que V. Ex.cia se digna depositar em mim. Deus guarde a V. Ex.ª. Bolama 8 de Setembro de 1903. O Governador Alfredo Cardoso de Soveral Martins”.[6]

Primeiro-Tenente da Armada Real em 1903, Alfredo de Soveral Martins esteve com Mouzinho de Albuquerque nas campanhas de Lourenço Marques (1894-1895), que conduziram à captura de Gungunhana.

Era governador de Timor quando se deu a proclamação da República em Lisboa, tendo sido ele a proclamá-la em Timor. Logo no dia 6 de Outubro recebeu de Lisboa o seguinte telegrama: «Governador Geral de Timor. Foi ontem proclamada Republica com concurso Exército, Marinha e Povo. Entusiasmo, ordem absoluta. Governo provisório presídio por Teófilo Braga. Ministros: Guerra, Coronel Artilharia Xavier Barreto, Interior: António José de Almeida, Fazenda: Basílio Teles, Obras públicas: António Luís Gomes, Marinha e Colónias: capitão-de-mar-e-guerra Azevedo Gomes, Justiça: Afonso Costa; Estrangeiros: Bernardino Machado. Queira comunicar autoridades civis e militares sob a jurisdição estes acontecimentos (ass.) Ministro da Marinha, Azevedo Gama». Mas só no dia 30 de Outubro, no Palácio do Governo, em Díli, reuniu as personalidades mais relevantes da cidade: o presidente da Comissão Municipal, vereadores, chefes das repartições, funcionários civis, militares, representantes do comércio, indústria e agricultura, e o vigário-geral da diocese, lendo a seguinte declaração: «Meus Senhores. Trouxe-nos o telégrafo a notícia da revolta que deu a Portugal o novo regime, satisfazendo os ideais da sua população e abrindo ao seu futuro uma nova era que a todos se impõe como de felicidade e progresso. Leal filha, não podia a colónia de Timor, deixar de, com carinhoso entusiasmo, seguir a mãe Pátria, abraçando a Ideia Nova com fé no provir e arreigada crença num Portugal maior. Traga o novo regime a felicidade que merece a heróica Nação, cujas tradições enchem de gloriosas páginas a História do passado e possa a História do futuro registar ainda a grandeza deste povo civilizador e honrado. Com intensa fé, proclamamos nesta colónia a República Portuguesa e enternecidamente vamos assistir ao içar da nova Bandeira da Nação, do augusto símbolo que nos cumpre defender e amar e a cuja sombra, alentados pela esperança, trabalharemos pelo futuro e engrandecimento da nossa querida Pátria». Seguiu-se a cerimónia do arraiar da bandeira real azul e branca e o içar da nova bandeira, ao som de uma salva de 21 tiros, tendo o presidente da Comissão Municipal dado três vivas à República. Monárquico, Alfredo de Soveral Martins demitiu-se de seguida e abandonou Timor nesse mesmo mês de Novembro, sendo substituído interinamente pelo seu secretário, o capitão Anselmo Augusto Coelho de Carvalho, que a 22 de Dezembro desse ano foi substituído, também interinamente, pelo capitão José Carrazeda de Sousa Caldas Viana e Andrade, até à chegada do novo governador Filomeno da Câmara de Melo Cabral.

Em 1932 integrou a Comissão Administrativa da Câmara Municipal da Figueira da Foz.[7]

Foi Cavaleiro da Ordem Militar de Avis e Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito[8], tendo sido condecorado com a Medalha de Prata de Comportamento Exemplar e a Medalha Rainha Dona Amélia (1895).

Em 1885 estava matriculado na Universidade de Coimbra.[9]

Família[editar | editar código-fonte]

Casou em Viseu com D. Maria Emília de Figueiredo de Sousa e Melo e foi pai, nomeadamente, do Dr. José de Figueiredo de Soveral Martins (1906-1968), desembargador da Relação de Coimbra.

Era irmão mais novo do Dr. José Cardoso de Soveral Martins, advogado em Oliveira do Conde e Viseu, ambos filhos do Dr. José Tavares de Soveral Martins, advogado e juiz, senhor da casa da Torre, em Oliveira do Conde, e de sua mulher D. Adelaide Albertina Cardoso Ferraz de Miranda Rebelo de Sousa.

Referências

  1. Geoffrey C. Gunn: Historical Dictionary of East Timor, 2011.
  2. Monika Schlicher: Portugal in Osttimor. Eine kritische Untersuchung zur portugiesischen Kolonialgeschichte in Osttimor 1850 bis 1912. Aberag, Hamburg 1996. ISBN 3-934376-08-8
  3. A. H. de Oliveira Marques: Geschichte Portugals und des portugiesischen Weltreichs. Kröner August 2001, ISBN 978-3520385017.
  4. «History of Timor – Technische Universität Lissabon» (PDF). Pascal.iseg.utl.pt. Arquivado do original (PDF (805 kB)) em 24 de março de 2009 
  5. Campanha contra o Maguiguana nos territorios de Gaza em 1897: Relatorios enviados ao Ministro e Secretario d’Estado doa Negocios da Marinha e Ultramar pelo Commissario Regio da Provincia de Moçambique, Lisboa, Imprensa Nacional, 1898.
  6. Arquivo Histórico Ultramarino, Guiné, documento 261, de 1903.
  7. TT, Ministério do Interior, Gabinete do Ministro, maço 463, pasta 28/1
  8. A Ordem Militar Portuguesa da Torre e Espada. Subsídios para a sua História, Lisboa, 1966, de Maria Alice Pereira de Lima Serrano.
  9. "Annuario da Universidade de Coimbra", 1885, pág. 114.

Fontes[editar | editar código-fonte]

  • SOVERAL, Manuel Abranches de; e VARELLA, Luís de Soveral – “Os Soveral Tavares. Subsídios para a sua Genealogia”, Porto 1985.
  • LUCAS, Maria Manuela, “Do Brasil à África. A expansão oitocentista portuguesa na corrente das ideias modernas”, Coimbra 1991.
  • ALMEIDA, António Júlio Belo de - «Meio século de lutas no ultramar», 1937
  • ROCHA, Carlos Vieira da - «Timor: ocupação japonesa durante a Segunda Guerra Mundial», 1994

Ver também[editar | editar código-fonte]

Precedido por
Gonçalo Pereira Pimenta de Castro
Governador do Timor Português
1910
Sucedido por
Filomeno da Câmara de Melo Cabral
Precedido por
Joaquim Pedro Vieira Júdice Biker
Governador da Guiné Portuguesa
19031904
Sucedido por
João Mateus Lapa Valente