Anarquismo e questões relacionadas ao amor e sexo

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Desde as suas origens, o anarquismo tem desempenhado um papel importante na promoção do amor livre. No final do século XIX e início do século XX, desenvolve-se no movimento libertário manifestações em favor do anarquismo relacional, com o advento da educação sexual, a consolidação do anarcofeminismo e das lutas pelos direitos LGBT.

Os principais pensadores anarquistas (exceto Proudhon) geralmente apoiavam a igualdade das mulheres. Os defensores do amor livre às vezes traçaram suas raízes em Josiah Warren e em comunidades experimentais, vendo a liberdade sexual como uma expressão da autopropriedade de um indivíduo.[1]

Atualmente, os anarquistas também têm tomado posição acerca de temas relacionados ao sexo, como a pornografia, BSDM e a indústria do sexo.

Precedentes[editar | editar código-fonte]

A maior parte dos homens pensadores anarquistas apoiaram fortemente a igualdade entre os gêneros e direitos das mulheres. Mikhail Bakunin, por exemplo, opôs-se ao patriarcado e a maneira com que as leis "sujeitavam as mulheres à absoluta submissão aos homens". Ele argumentou que "a igualdade de direitos deve pertencer aos homens e as mulheres", de modo que as mulheres pudessem "tornar-se independentes e serem livres para viver planejar a vida do seu próprio jeito". Bakunin reforçou que as mulheres deveriam ter "total liberdade sexual" e o "fim da autoritária instituição familiar".[2] Pierre-Joseph Proudhon, por outro lado, foi uma exceção, e via a família como o pilar mais básico da sociedade e da moralidade e defendia que as mulheres cumprissem um papel tradicional na família.[3]

Em seu ensaio A Alma do Homem sob o Socialismo, Oscar Wilde defende apaixonadamente uma sociedade igualitária onde a riqueza seria compartilhada por todos, ao mesmo tempo que alerta os perigos de um socialismo autoritário que poderia vir a destruir a individualidade.[4] Mais tarde, Wilde viria a comentar: "Eu acredito que sou mais que um socialista. Sou algum tipo de anarquista, acredito". Os posicionamentos libertários de Wilde eram compartilhados por John Henry Mackay e Edward Carpenter, que no final do século XIX, lutaram ativamente pela emancipação homossexual.[5]

Louise Michel foi uma das primeiras anarquistas mulheres a se posicionar sobre temas relacionados ao amor e sexo. Suas opiniões sobre relacionamentos entre homens e mulheres são conhecidas: "Se a igualdade entre os sexos fosse devidamente reconhecida, tal fato seria uma notável exceção para a história da estupidez humana. Enquanto isso, a mulher sempre será, nas palavras do velho Molière, a sopa do homem". Voltairine de Cleyre, em seu ensaio Sex Slavery de 1890, condena os ideias de beleza que encorajam as mulheres a deformarem seus corpos.

Amor livre[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Amor livre
Lucifer the Lightbearer, um influente jornal anarquista estadunidense de amor livre

Uma importante corrente dentro do anarquismo individualista americano era o amor livre.[1] Os defensores do amor livre às vezes traçaram suas raízes em Josiah Warren e em comunidades experimentais, vistas a liberdade sexual como uma expressão clara e direta da autopropriedade de um indivíduo. O amor livre enfatizava particularmente os direitos das mulheres, uma vez que a maioria das leis sexuais discriminava as mulheres: por exemplo, leis de casamento e medidas anticoncepcionais.[1] O mais importante jornal americano do amor livre foi Lucifer the Lightbearer (1883–1907), editado por Moses Harman e Lois Waisbrooker,[6] mas também existiam The Word de Ezra Heywood e Angela Heywood (1872–1890, 1892–1893).[7] Também M. E. Lazarus foi um importante anarquista individualista americano que promoveu o amor livre.[7]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c «The Free Love Movement and Radical Individualism, By Wendy McElroy». ncc-1776.org. Consultado em 12 de fevereiro de 2021 
  2. An Anarchist FAQ. What is Anarcha-Feminism? Arquivado em 22 de setembro de 2008, no Wayback Machine.
  3. Broude, N. and M. Garrard (1992). The Expanding Discourse: Feminism And Art History. p. 303. Westview Press. ISBN 978-0-06-430207-4
  4. "Em agosto de 1894, Wilde escreveu a seu amante, Lord Alfred Douglas, para contar sobre 'uma aventura perigosa'. Ele tinha saído para velejar com dois meninos adoráveis, Stephen e Alphonso, e eles foram pegos por uma tempestade. “Levamos cinco horas em um vendaval terrível para voltar! [E] não chegamos ao cais antes das onze horas da noite , escuro como breu e um mar terrível... Todos os pescadores estavam esperando por nós. Cansados, com frio e 'molhados até a pele', os três homens imediatamente 'voaram para o hotel por causa do calor conhaque e água.' Mas havia um problema. A lei o impedia: 'Como já passava das dez horas de um domingo à noite, o proprietário não podia nos vender conhaque ou aguardente de qualquer tipo! Então ele teve que nos dar. o resultado não foi desagradável, mas que leis!'. Wilde termina a história: 'Tanto Alphonso como Stephen são agora anarquistas, nem preciso dizer.'" Kristian Williams. "The Soul of Man Under... Anarchism?"
  5. De acordo com o seu biógrafo Neil McKenna, Wilde fazia parte de uma organização secreta que pretendia legalizar a homossexualidade, e era conhecido entre o grupo como um líder da "causa". (McKenna, Neil. 2003. The Secret Life of Oscar Wilde.)
  6. Danky, James Philip; Wiegand, Wayne A. (2006). Power through Print: Lois Waisbrooker and Grassroots Feminism. [S.l.]: University of Wisconsin Press. pp. 229–50 
  7. a b «The Free Love Movement and Radical Individualism, By Wendy McElroy». ncc-1776.org. Consultado em 12 de fevereiro de 2021 


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