Anatidae

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Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Anseriformes
Família: Anatidae
Vigors, 1825
Géneros
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Ganso

Anatidae (os membros sendo chamados de anatídeos)[1] é uma família biológica de aves anseriformes que inclui os patos, gansos e cisnes. É uma família de distribuição cosmopolita, ocorrendo em todos os continentes com exceção da Antartica. Essas aves são adaptadas a nadar e flutuar na superfície da água, em alguns casos ao mergulho em águas rasas. Essa família contem cerca de 174 espécies distribuídas em 53 gêneros[2] (O Ganso-alvinegro foi considerado parte da Anatidae mas agora é alocado em sua propria família, a Anseranatidade). São aves geralmente herbívoras com comportamento monogâmico. Um número de espécies realiza migrações anuais. Algumas espécies foram também domesticadas.

Descrição e ecologia[editar | editar código-fonte]

Os patos, gansos e cisnes vão de aves pequenas a grandes com corpo amplo e alongado.[3] As espécies com capacidade de mergulho tendem a ser mais arredondadas. O tamanho das espécies varia, indo desde o gansinho-oriental(Nettapus coromandelianus), que chega a 26,5cm e 164g, até o grande cisne-trombeteiro(Cygnus buccinator) que chega a imponentes 183cm e 17,2kg. Possuem asas curtas e apontadas que são mantidas por musculos fortes que geram batidas rápidas durante o voo. Eles geralmente tem o pescoço alongado, com o comprimento variando entre as espécies. As pernas são curtas e fortes, sendo situadas na parte mais traseira do corpo, principalmente nas espécies mais adaptadas ao meio aquático. Por conta dessas características, podem apresentar um caminhar desajeitado. Suas patas possuem membrana interdigital adaptada para o nado. O bico contém lamelas serrilhadas que lembram pequenos dentes, que servem para filtrar alimento.[3]

Suas penas tem alguma impermeabilidade, devido ao óleo que utilizam. Alguns patos apresentam dimorfismos sexual, com os machos tendo penas mais brilhantes que as fêmeas (no entanto a situação é reversa em espécies como a Tadorna-do-paraíso). Os cisnes, gansos e marrecos assobiadores não apresentam essa diferença. São aves vocalizadoras, emitindo uma variedade de sons como grasnados, buzinas, guinchos e trombetas a depender da espécie; com as fêmeas tendo maior profundidade que os machos.[4]

Os anatídeos são geralmente herbívoros quando adultos, comendo uma variedade de plantas aquáticas, porem algumas espécies podem comer peixes, moluscos ou artrópodes aquáticos. O gênero Mergus são primáriamente ictiófagos, possuindo bico serrilhado que ajuda a capturar os peixes. Em um número de espécies, as aves jovens se alimentam de uma grande proporção de invertebrados, mas se tornam puramente herbívoros quando adultos.[4]

Reprodução[editar | editar código-fonte]

Os anatídeos são geralmente reprodutores por temporada e monogâmicos. O nível de monogamia varia com as famílias; muitos dos patos menores mantem o casal por uma única temporada e encontram outro parceiro para o ano seguinte, enquanto os grandes cisnes, gansos e alguns dos patos mais territoriais mantém esse vinculo por vários anos, chegando em alguns casos a ser por toda a vida. No entanto, a cópula forçada com outras fêmeas ocorre comumente, ocorrendo em 55 espécies de 17 gêneros.[5]

Anatidae corresponde por grande proporção dos 3% das aves que possuem um pênis,[6][7] com variados tamanhos, formas e estruturações.[8] Muitas espécies se adaptaram para copular apenas na água. Eles constroem ninhos simples com os materiais que tem ao seu alcance, muitas vezes os revestindo com penugem que as fêmeas arrancam do peitoral. Na maioria das espécies, apenas a mãe choca os ovos. Os filhotes são precociais e são capazes de se alimentar desde o nascimento.[4] Há uma espécie de comportamento diferente das demais, a Marreca-de-cabeça-preta, que é um "parasita de ninhos" que posta seus ovos nos ninhos de outras aves.

Sistemática[editar | editar código-fonte]

O nome da família Anatidae foi introduzido em 1820 pelo zoologista inglês William Elford Leach num guia de conteúdo do Museu Britânico.[9][10] A estrutura da família Anatidae é simples, e as espécies que pertencem a ela foram pouco debatidas e como tal, as relações entre as subfamílias e tribos dentro dela são ainda pouco compreendidas.

A sistemática da Anatidae está em estado de fluxo. Inicialmente foi dividida em 6 subfamílias, posteriormente um estudo das características anatômicas feitos por Livezey[11] sugeriu que a família era melhor dividida em 9 subfamílias. Essa classificação foi popular entre os anos 80 e 90.[12] Mas, analises de sequenciamento de DNA Mitocondrial indicam que, por exemplo, que os gêneros formadores da tribo Aythyini e os formadores da subfamília Anatinae não podem pertencer à mesma subfamília.[13][14]

Por conta da capacidade de produzir híbridos férteis, as análises de mtDNA tendem a não ser fontes confiáveis para informações filogenéticas em aves anseriformes, principalmente nos patos. Em casos raros, é possível a hibridização até mesmo além do gênero. Como o tamanho das amostras de muitos estudos moleculares que estão disponíveis é pequeno, deve se ter cautela em considerar resultados obtidos de mtDNA.[3]

Embora ainda esteja faltando uma revisão abrangente do Anatidae que une todas as evidências em uma filogenia robusta, as razões para os dados confusos são pelo menos claras: foi demonstrado pelo fóssil de um Vegavis iaai - ave aquática moderna do Cretáceo Superior - os Anatidae são um grupo de aves antigo entre as modernas. Seus primeiros ancestrais diretos embora não documentados por fósseis, podem ser considerados contemporâneos de dinossauros não-aviários. O longo período evolutivo e as mudanças de um estilo de vida aquático para outro tornaram obscuras muitas plesiomorfias, enquanto apomorfias aparentemente são resultado de uma evolução paralela, como exemplo podemos usar os gêneros Dendrocygna, Amazonetta e Cairina que apresentam a característica de não serem mergulhadores.

Em outra opção, os anatídeos podem ser divididos em três subfamílias diretas consistindo em patos, gansos e cisnes, contendo os grupos aqui apresentados como tribos onde os cisnes são separados na subfamília Cygninae, os gansos na Anserinae(que contaria também com os patos assobiadores) e finalmente os Anatinae com todos os outros clados.[15]

Gêneros[editar | editar código-fonte]

A International Ornithologists' Union(União Internacional de Ornitologia) diz que a família Anatidae é classificada em 174 espécies reconhecidas distribuidas em 53 gêneros, sendo 32 deles monotípicos, com 8 destas espécies sendo consideradas extintas. As subfamílias podem ser classificadas assim:[16] [17][2]

Dendrocygninae[editar | editar código-fonte]

Marreca-cabocla (Dendrocygna autumnalis), ave comum nas américas.

Contém dois gêneros pan-tropicais, assemelhados a pequenos patos de pernas longas.

Anserinae[editar | editar código-fonte]

Cisne-branco(Cygnus olor), uma das maiores aves da família.

Compreende aos cisnes e gansos verdadeiros. Conta com 3 a 7 gêneros existentes e 25 a 30 espécies vivas que habitam o temperado Hemisfério Norte, com algumas espécies no Hemisfério Sul. Os cisnes constam em apenas um gênero (podendo ser dois em alguns estudos) e os gansos em até três gêneros (ou dois dependendo do estudo). Algumas outras espécies podem ser alocadas nesta subfamília, mas são mais distintas do padrão.

  • Cygnus - os cisnes verdadeiros, separados em 6 espécies, com quatro delas sendo por vezes separadas num gênero alternativo chamado Olor.
  • Anser - um dos dois gêneros de gansos verdadeiros que consiste em 11 espécies, chamados de gansos-cinzentos e também os gansos-brancos(estes podendo ser alocados num gênero a parte chamado Chen).
  • Branta - o outro gênero de gansos verdadeiros, consta de 6 espécies vivas de gansos chamados de "gansos-pretos".

Stictonettinae[editar | editar código-fonte]

Um único gênero monotípico encontrado na Austrália, antes incluído em Oxyurinae, mas sua anatomia sugere um ancestral de linhagem distinta, podendo ser mais próxima da Anserinae ou do Ganso-cinzento(Cereopsis novaehollandiae).

  • Stictonetta - Pato-sardento;

Plectropterinae[editar | editar código-fonte]

Um único gênero monotípico africano, antes pertencendo ao grupo de "patos empoleirados", mas mais próximo a Tadorninae.

Tadorninae[editar | editar código-fonte]

Tadorna-comum(Tadorna tadorna) em voo.

Compreende as chamadas Tadornas que podem também ser chamados por vezes, dependendo da espécie, de gansos, marrecas e patos. É um grupo de aves aquáticas semi-terrestes de tamanho maior, que se situa entre Anserinae e Anatinae, com pernas mais longas. Uma revisão de 1986[11] resultou na inclusão de 10 gêneros existentes com cerca de 12 espécies vivas e 1 provavelmente extinta nessa subfamília; principalmente habitantes do Hemisfério Sul, mas algumas no norte. Algumas afiliações de gêneros foram posteriormente questionadas e a formação tradicional do grupo é provavelmente parafilético.[14]

  • Alopochen - gênero composto por uma única espécie viva, o Ganso-do-egito; contém duas ou três espécies extintas.
  • Chloephaga - chamados de gansos, gênero composto de cinco espécies vivas, todas sul-americanas.
  • Hymenolaimus - gênero monotípico composto apenas pelo Pato-azul.
  • Merganetta - gênero monotípico composto unicamente pelo Pato-das-torrentes.
  • Neochen - gênero composto de uma espécie viva, o Pato-corredor, e mais três espécies extintas.
  • Radjah - gênero monotípico composto pelo Pato-rajá.
  • Salvadorina - gênero monotípico composto pela Marreca-papua.
  • Tadorna - as tadornas, constitui-se de 6 espécies sendo 1 possivelmente extinta. É um gênero possivelmente parafilético.
  • Centrornis - monotípico com sua única espécie extinta.
  • Pachyanas - monotípico, com sua única espécie extinta.

Aythyinae[editar | editar código-fonte]

Composta pelos chamados "patos mergulhadores", conta com 15 espécies de distribuição mundial, divididas em dois a quatro gêneros. Nos estudos de analise morfológica realizados em 1986,[11] foi sugerido que o extinto pato-de-cabeça-rosada da Índia, antes separado em Rhodonessa, poderia ser alocado em Netta, mas isso foi questionado.[18] Além disso, embora de forma morfológica seja próximo dos Anatinae, os dados obtidos com mtDNA indicam que a separação em uma subfamília distinta é o mais correto, sendo que os Tadorninae são mais próximos dos Anatinae que os Aythyinae.[14]

  • Aythya - composto por doze espécies vivas.
  • Netta - possui três espécies reconhecidas, e uma quarta como alvo de questionamentos que encontra-se extinta.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. ISSN 1830-7809. Consultado em 13 de janeiro de 2022 
  2. a b «Screamers, ducks, geese, swans». World Bird Names. Consultado em 2 de setembro de 2022 (em inglês)
  3. a b c CARBONERAS, Carles (1992): Family Anatidae (Ducks, Geese and Swans). In: del Hoyo, Josep; Elliott, Andrew & Sargatal, Jordi (eds.): Handbook of Birds of the World (Vôlume 1: Ostrich to Ducks): 536–629. Lynx Edicions, Barcelona. ISBN 84-87334-10-5(em inglês)
  4. a b c TODD, Frank S.; Forshaw, Joseph (1991). Encyclopaedia of Animals: Birds. Londres: Merehurst Press. pp. 81–87. ISBN 1-85391-186-0 (em inglês)
  5. MCKINNEY, Frank; EVARTS, Susan (1998). «Sexual coercion in waterfowl and other birds». Ornithological Monographs. 49 (49). p. 165-193 (em inglês)
  6. MCCRACKEN, Kevin G. (2000). «The 20-cm Spiny Penis of the Argentine Lake Duck (Oxyura vittata (PDF). The Auk. 117 (3). p. 820–825. JSTOR 4089612. doi:10.2307/4089612. Cópia arquivada (PDF) em 5 de julho de 2008 (em inglês)
  7. BRENNAN, Patricia; BIRKHEAD, Tim; ZYSKOWSKI, Kristof; VAN DER WAAG, Jessica; PRUM, Richard (2008). «Independent evolutionary reductions of the phallus in basal birds» (PDF). Journal of Avian Biology. 39 (5). p. 487–492. doi:10.1111/j.0908-8857.2008.04610.x (em inglês)
  8. BRISKIE, James; MONTGOMERIE, Robert (1997). «Sexual selection and the intromittent organ of birds». Journal of Avian Biology. 28 (1). p. 73–86. JSTOR 3677097. doi:10.2307/3677097 (em inglês)
  9. LEACH, William Elford (1820). Synopsis of the Contents of the British Museum. Londres: British Museum. p. 68 (em inglês)
  10. BOCK, Walter J. (1994). History and Nomenclature of Avian Family-Group Names. Col: Bulletin of the American Museum of Natural History. Number 222. New York: American Museum of Natural History. p. 133 
  11. a b c LIVEZEY, Bradley C. (1986). «A phylogenetic analysis of recent anseriform genera using morphological characters» (PDF). Auk journal. 103 (4). p. 737–754. JSTOR 4087184. doi:10.1093/auk/103.4.737 (em inglês)
  12. MADGE, Steve & BURN, Hilary (1987): Wildfowl : an identification guide to the ducks, geese and swans of the world. Helm Identification Guides, Londres. ISBN 0-7470-2201-1(em inglês)
  13. SRAML, M.; CHRISTIDIS, L.; EASTEAL, S.; HORN, P.; COLLET, C. (1996). «Molecular Relationships Within Australasian Waterfowl (Anseriformes)». Australian Journal of Zoology. 44 (1). p. 47–58. doi:10.1071/ZO9960047 (em inglês)
  14. a b c JOHNSON, Kevin P.; SORENSON, Michael D. (1999). «Phylogeny and biogeography of dabbling ducks (genus Anas): a comparison of molecular and morphological evidence» (PDF). Auk journal. 116 (3). p. 792–805. JSTOR 4089339. doi:10.2307/4089339 (em inglês)
  15. Terres, John K. & National Audubon Society (NAS) (1991): The Audubon Society Encyclopedia of North American Birds. Wings Books, New York. Reprint of 1980 edition. ISBN 0517032880(em inglês)
  16. Gill, F.; Donsker, D.; Rasmussen, P., eds. (agosto de 2022). «Screamers, ducks, geese, swans». IOC World Bird List. v 12.2. Consultado em 3 de setembro de 2022 
  17. «Anatidae». Fauna Europaea (em inglês). Consultado em 3 de outubro de 2020 
  18. Collar, N. J.; Andreev, A. V.; Chan, S.; Crosby, M. J.; Subramanya, S. & Tobias, J. A. (eds.) (2001): Pink-headed Duck Arquivado em 2007-03-11 no Wayback Machine. In:Threatened Birds of Asia: The BirdLife International Red Data Book: 489–501. BirdLife International. ISBN 0-946888-44-2(em inglês)
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