Aurora Miranda

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Aurora Miranda
Aurora Miranda
Informação geral
Nome completo Aurora Miranda da Cunha
Nascimento 20 de abril de 1915
Local de nascimento Rio de Janeiro, RJ
Morte 22 de dezembro de 2005 (90 anos)
Local de morte Rio de Janeiro, RJ
Cônjuge Gabriel Richaid (1940—1990)
Período em atividade 1930—1989
Gravadora(s) Odeon
RCA Victor
Continental
Sinter
Afiliação(ões) Gabriel Alexandre Richaid Júnior (filho)
Maria Paula Miranda da Cunha Richaid (filha)
Carmen Miranda (irmã)
Cecilia Miranda (irmã)

Aurora Miranda da Cunha Richaid (Rio de Janeiro, 20 de abril de 1915 — Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 2005) foi uma atriz e cantora brasileira.

Estreou na Rádio Mayrink Veiga em 1932, transferindo-se logo para a Philips. Em 1933, em seu primeiro disco, gravou Cai, Cai, Balão, cantada em dupla com Francisco Alves. Além de fazer dupla com a irmã mais famosa Carmen Miranda, Aurora também teve sucesso como cantora na década de 1930, as duas irmãs imortalizaram a canção Cantores de Rádio (João de Barro, Lamartine Babo e Alberto Ribeiro), no filme Alô, Alô Carnaval. Aurora e Carmen trabalharam no Cassino da Urca e moraram juntas nos Estados Unidos durante 12 anos.

Gravou Cidade Maravilhosa, hino oficial da extinta Guanabara, em dupla com o compositor André Filho, em 1934. Aurora também trabalhou nos filmes Estudantes (1935), Alô, Alô, Brasil (1935) e Alô, Alô, Carnaval (1936). No desenho animado Você Já Foi à Bahia?, de 1944, Aurora "atuou" com os personagens Pato Donald e Zé Carioca, graças a uma montagem que misturou filme e desenho animado.[1]

Voltou para o Brasil em 1952 e, quatro anos depois, regravou um LP com oito antigos sucessos, encerrando sua carreira de mais de 80 discos de 78 rotações. Aurora Miranda ainda voltou ao cinema em 1989, no filme Dias Melhores Virão convidada pela atriz Marília Pera.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Carreira na música[editar | editar código-fonte]

No estúdio da Rádio Mayrink Veiga, 1932, o jovem Manuel de Nóbrega, aos 19 anos (2º em pé da esquerda para direita) Carmen Miranda e Aurora (sentadas) segurando a flauta Pixinguinha.

Nascida no Rio de Janeiro, sendo irmã mais famosa de Carmen Miranda. Assim como as outras irmãs (além de Carmen, havia também Cecília, que não seguiu carreira como cantora), gostava, desde pequena, de cantar em casa, alegrando os frequentadores da pensão que a mãe, a imigrante portuguesa[2] Maria Emília, dirigia no Rio de Janeiro.

A pedido do compositor e violonista Josué de Barros (lançador de Carmen Miranda), cantou, antes de completar 18 anos, um número na Rádio Mayrink Veiga; com o sucesso, passou a apresentar- se no Programa Casé, na Rádio Philips. Em 1933, gravou seu primeiro disco, pela Odeon, cantando em dupla com Francisco Alves a marcha Cai, cai, balão (Assis Valente) e o samba Toque de amor (Floriano Ribeiro de Pinho). O disco fez muito sucesso; assim, no mês seguinte, novamente com Francisco Alves, lançou pela mesma etiqueta o fox-trot Você só... mente (Noel Rosa e Hélio Rosa), que se transformou também em grande êxito.

Sempre pela Odeon, gravou a seguir os sambas Fala R.S.C. (José Evangelista) e Alguém me ama (Benedito Lacerda), e a marcha Se a lua contasse (Custódio Mesquita). Começou, então, a cantar em dupla com Carmen Miranda, apresentando-se em 1934 com ela, João Petra de Barros, Jorge Murad e Custóquio Mesquita na Rádio Record e no Teatro Santana, em São Paulo/SP. Ainda em 1934, fez sucesso com o samba Sem você (Sílvio Caldas e Orestes Barbosa) e o samba- canção Moreno cor de bronze (Custódio Mesquita), e lançou seu maior êxito, a marcha de André Filho Cidade maravilhosa, em dueto com o autor, que obteve o segundo lugar no concurso oficial de Carnaval de 1935 e em 1960 se tornou o hino oficial do antigo Estado da Guanabara.[3]

Carmen Miranda (ao centro) com sua irmã Aurora, em São Paulo em 1934.

Em 1937, excursionou com Carmen à Argentina e ao Uruguai, apresentando-se com o Bando da Lua. Em 1940, em seu último disco na Victor, lançou o samba Paulo, Paulo (Gadé), em dupla com Grande Otelo (cujo nome não figura na etiqueta), e o maxixe Petisco do baile (Ciro de Sousa e Garcez).

Em 1956, apresentou- se no show de Carlos Machado Mr. Samba, em homenagem a Ary Barroso. No mesmo ano, regravou em LP pela Sinter oito antigos sucessos seus, e lançou dois discos pela Odeon, encerrando sua marcante carreira, em que deixou gravados 81 discos e 161 músicas em 78 rotações.

Em 1990, cantou o fox Você só... mente, no filme Dias melhores virão, de Carlos Diegues. Em 1994, regravou com Sílvio Caldas o samba Quando eu penso na Bahia (Ary Barroso e Luís Peixoto), dueto lançado no CD Songbook Ary Barroso (Lumiar).

Em 1995, apresentou-se em espetáculo em homenagem a Carmen promovido pelo Lincoln Center, em Nova Iorque. Na opinião de muitos, teria sido a melhor voz entre as irmãs Miranda. O destino a fez, no entanto, iniciar no rádio à sombra do sucesso da irmã mais velha. Esse fato foi, de certa maneira, um entrave para sua carreira, já que a então jovem cantora se tornou alvo de inevitáveis comparações. Foi das cantoras que mais discos gravaram na década de 1930, depois de sua irmã Carmen Miranda.[4]

Carreira no cinema[editar | editar código-fonte]

Aurora Miranda, Belisário de Sousa e Walt Disney.

Estreou no cinema, em 1935, trabalhando no filme Alô, Alô, Brasil, dirigido por Wallace Downey, João de Barro e Alberto Ribeiro, no qual cantou Cidade maravilhosa, além de Ladrãozinho (Custódio Mesquita). No filme Alô, Alô, Carnaval, de 1936, dirigido por Ademar Gonzaga, cantou em dupla com Carmen Miranda, acompanhada pela Orquestra de Simon Bountman, a marcha Cantores de rádio (João de Barro, Lamartine Babo e Alberto Ribeiro) e sozinha, com acompanhamento do regional de Benedito Lacerda, o samba Molha o pano (Getúlio Marinho e A. Vasconcelos).

No desenho animado "Você Já Foi à Bahia?" ("The Three Caballeros"), de 1944, Aurora interpretou a folclórica baiana "Iaiá", atuando com Pato Donald e seus amigos, Zé Carioca e Panchito. Juntos, eles conhecem a América em um tapete voador. O desenho é considerado um dos ícones da evolução dos efeitos especiais no cinema. O desenho que marca a primeira aparição de Zé Carioca traz Aurora cantando "Os Quindins de Iaiá", de Ary Barroso. Para alguns estudiosos, havia na época um pacto entre o governo americano e Hollywood para a produção de filmes da "Política da Boa Vizinhança", estratégia visando o avanço da influência dos EUA na América Latina durante a presidência (1933-1945) de Franklin Roosevelt.[5][6][7]

Vida pessoal[editar | editar código-fonte]

Em 1940, aos 25 anos, Aurora Miranda da Cunha casou-se com seu noivo, o comerciante Gabriel Richaid, passando a assinar Aurora Miranda da Cunha Richaid. Ganhou de presente de casamento, de sua irmã Carmen, um vestido de noiva bordado a ouro feito nos EUA, um gesto que iria lembrar para o resto de sua vida. Aurora e Gabriel tiveram dois filhos: Maria Paula Miranda da Cunha Richaid e Gabriel Alexandre Richaid Júnior. Após alguns anos, com os filhos já crescidos, o casal decidiu morar nos Estados Unidos, próximo a residência de Carmen Miranda. Aurora e o marido voltaram a viver no Brasil em 1952. Ficou viúva em 1990, e não quis casar-se novamente.[8][9]

Morte[editar | editar código-fonte]

Aurora Miranda morreu às 15 horas do dia 22 de dezembro de 2005 no bairro carioca do Leblon. Maria Paula Richaid, filha da cantora, disse que a morte foi tranquila, provocada pelos problemas de saúde naturais da sua idade (90 anos). Segundo Maria Paula, nos últimos três anos, Aurora foi perdendo progressivamente a vitalidade e a memória e, após uma pneumonia contraída há um ano e meio, "foi se apagando".

Foi sepultada no Cemitério São João Batista, próximo ao túmulo de sua irmã Carmen Miranda.[10]

Aurora Miranda em Você já foi à Bahia? (1944).

Legado[editar | editar código-fonte]

"Aurora Miranda criou seu próprio nicho", escreveu o The Guardian, primeiro como uma cantora pioneira e, mais tarde, como o primeiro ser humano a interagir com desenhos animados em uma produção da Walt Disney. Apareceu no filme Você já foi à Bahia?, uma mistura de cinema e animação em que Aurora estrelou ao lado do Pato Donald.

Mas talvez o seu maior legado tenha sido a primeira gravação do hino não oficial do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa em 1934. Tom Philips escreveu em seu obituário para o jornal inglês The Guardian que Aurora Miranda "personificou o espírito do Rio".[11]

Trabalhos[editar | editar código-fonte]

Filmografia[editar | editar código-fonte]

Ano Filme Personagem Notas
1935 Alô, Alô, Brasil Ela mesma Performance: Cidade Maravilhosa e Ladrãozinho
Estudantes Ela mesma Performance: Onde Está o Seu Carneirinho? e Linda Ninon
1936 Alô Alô Carnaval Ela mesma Performance: Cantores de Rádio e Molha o Pano
1939 Banana da Terra Ela mesma Performance: Menina do Regimento
1944 Phantom Lady Estela Monteiro
The Conspirators Ela mesma Participação especial (como cantora de fado)
1945 Brazil Ela mesma Participação especial (como bailarina)
Você já foi à Bahia? Iaiá
Tell It to a Star Ela mesma Participação especial
1954 Disneyland Ela mesma Episódio: A Present for Donald (arquivo de filme e voz)
1978 Mulheres de Cinema Ela mesma (arquivo de filme)
1981 Once Upon a Mouse Ela mesma
1990 Dias Melhores Virão Aurora
1995 Carmen Miranda: Bananas is my Business Ela mesma (Documentário)
2009 Cantoras do Rádio - O Filme Ela mesma (arquivo de filme)

Canções mais famosas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Pedro Leandro (9 de junho de 2014). «Pato Donald completa 80 anos, relembre alguns dos melhores momentos do personagem». Diário de Pernambuco 
  2. Clarissa Pains (12 de abril de 2016). «Aurora Miranda, a irmã discreta da 'bombshell' Carmen». Jornal O Globo. Consultado em 29 de junho de 2016 
  3. PUC - Rio. «Aurora Miranda grava Cidade Maravilhosa, de André Filho.». No Tempo. Consultado em 2 de outubro de 2013 
  4. Dicionario da MPB. «Aurora Miranda - Biografia». Consultado em 2 de outubro de 2013 
  5. Folha Online (23 de dezembro de 2005). «Irmã de Carmem Miranda morre aos 90 anos». Folha de S. Paulo. Consultado em 2 de outubro de 2013 
  6. Folha Online (5 de agosto de 2005). «Mostra lembra 50 anos da morte de Carmen Miranda». Folha de S. Paulo. Consultado em 2 de outubro de 2013 
  7. «Home». Cinema Clássico. Consultado em 20 de abril de 2021 
  8. Tom Philips (6 de março de 2006). «Aurora Miranda - Brazilian singer and actor, she personified the spirit of Rio». The Guardian. Consultado em 2 de outubro de 2013 
  9. «Biografia de Aurora Miranda». LETRAS. Consultado em 2 de outubro de 2013 
  10. O Estado de S. Paulo (23 de dezembro de 2005). «Aurora Miranda morre aos 90 anos». O Tempo. Consultado em 19 de fevereiro de 2015 
  11. Tom Philips (5 de março de 2006). «Obituary: Aurora Miranda». The Guardian. Consultado em 28 de outubro de 2017 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • ALBIN, Ricardo Cravo. MPB: A História de um século. Editora: Funarte. Rio de Janeiro, 1997.
  • AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
  • CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.
  • EFEGÊ, Jota. Figuras e coisas da Música Popular Brasileira. Editora: MEC/FUNARTE. Rio de Janeiro, 1978.
  • EPAMINONDAS, Antônio. Brasil brasileirinho.Editora: Instituto Nacional do Livro. Rio de Janeiro, 1982.
  • MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
  • MARIZ, Vasco. A canção brasileira. Editora: Francisco Alves. Rio de Janeiro, 2000.
  • SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume 1. Editora 34. São Paulo, 1997.
  • VASCONCELOS, Ary. Panorama da Música Popular Brasileira. Vol. 2. Editora: Martins. Rio de Janeiro, 1965.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]