Baanes I Mamicônio

Este é um artigo bom. Clique aqui para mais informações.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Para outras pessoas de mesmo nome, veja Baanes.
Baanes I Mamicônio
Baanes I Mamicônio
Ilustração moderna de Baanes do volume II da História Ilustrada da Armênia
Marzobã da Armênia
Reinado 485-505/510
Antecessor(a) Sapor de Rei
Sucessor(a) Bardas
 
Nascimento ca. 440/5
Morte entre 503-510
Pai Maiactes[1]
Mãe Zoique

Baanes I Mamicônio[2] (em armênio/arménio: Վահան Ա Մամիկոնյան; romaniz.:Vahan Mamikonian; n. ca. 440/5 - m. entre 503-510) foi um armênio dos século V e VI, que ativamente combateu o Império Sassânida. Membro da nobre família Mamicônio, era filho de Maiactes, nobre que rebelou-se com seu irmão Vardanes II contra o julgo sassânida. Com o fim da rebelião, Baanes foi levado à corte iraniana com seus irmãos e por lá ficou durante alguns anos.

Então, quando retorna à Armênia, e na posse do título hereditário de asparapetes, rebela-se em 481 contra o Perozes I (r. 459–484) em apoio à revolta iniciada pelo rei ibero Vactangue I (r. 447/449–502/522). Com o sucesso da rebelião, foi nomeado marzobã pelo xá Balas (r. 484–488) em 485 e foi chefe de uma "verdadeira monarquia sem título"[3] até sua morte.

Contexto[editar | editar código-fonte]

Após 387, o Reino da Armênia foi dividido em duas zonas de influência, a bizantina e a persa. Além disso, em 428, o último rei arsácida, Artaxias IV (r. 423-428), foi deposto pelo xainxá Vararanes V (r. 420–438) a pedido dos nacarares, inaugurando o Marzobanato da Armênia.[4] Muito rapidamente, os armênios desiludiram: em 449, Isdigerdes II (r. 438–457) ordenou que eles apostatassem e se convertessem ao zoroastrismo.[5] Sob a liderança de Vardanes II, se revoltaram, mas foram derrotados em junho (ou 26 de maio) de 451 na Batalha de Avarair; a maioria dos nacarares que participaram da revolta foram então deportados à capital persa de Ctesifonte.[6]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Juventude[editar | editar código-fonte]

Baanes nasceu por volta de 440/5[7] e era filho de Maiactes e Zoique, a filha de Vararanes ou Bassaces, da família Arzerúnio. Também era sobrinho de Vardanes e irmão de Bassaces, Bardas e Artaxias.[8] Seu pai, depois de Avarair, uniu-se aos insurgentes restantes na guerrilha em suas terras em Taique, mas foi morto pelos persas.[9] Baanes, porém, foi levado pelo marzobã Bassaces I, entregue aos persas e deportado para Ctesifonte com Bassaces e Artaxias.[10] Condenado a apostasia, segundo seu amigo de infância[5] Lázaro de Parpi, "enfraqueceu em sua fé".[11]

Armênia (amarelo) na Antiguidade Tardia
Baanes e os armênios voltando para casa. Representação de Julian Zasso (1833-1889)

Os três irmãos, condenados à morte, foram libertados através de Achucha II, vitaxa de Gogarena e marido de Anuxuram, a irmã de Zoique.[11][12] Asparapetes da Armênia por direito consuetudinário, Baanes recuperou seus bens, mas logo foi acusado de desvio da renda das minas de ouro imperiais, acusação para a qual respondeu indo para Ctesifonte com grande soma.[13]

Rebelião[editar | editar código-fonte]

Após Avarair, os armênios foram constantemente chamados pelos persas para expedições militares distantes e foram obrigados a aceitar o crescente poder dos apóstatas. No contexto, receberam bem o apelo da revolta de Vactangue I (r. 447/449–502/522), que sublevou contra os persas.[13] Baanes hesitou, mas, em 481 decidiu juntar-se à rebelião,[14] exigindo que os outros rebeldes jurassem sobre a cruz do Evangelho que se manteriam fiéis à aliança; foi então nomeado asparapetes.[13] O juramento foi, contudo, reportado diretamente por Barsabores Amatúnio ao marzobã Adargusnas, que abandonou Dúbio, a capital armênia, e refugiou-se em Artaxata e finalmente Pérsia.[14]

Baanes substituiu Adargusnas por Isaque II Bagratúnio, naquela altura o aspetes (mestre da cavalaria).[14] Adargusnas retornou com uma força de 7 000 homens contra os insurgentes que foi derrotada por 400 cavaleiros liderados por Bassaces na Batalha de Acori (encosta norte do Ararate[15]); o marzobã foi morto.[13] No verão de 482, Sapor Mirranes ameaçou a Ibéria e Vactangue chamou os armênios ao resgate. Baanes e Isaque chegaram à frente de um exército ao rio Cura,[16] mas foram derrotados em Acesga,[17] que, dentre outras consequências, causou a morte de Bassaces e Isaque II.[18] Baanes levou o resto do exército armênio às montanhas em Taique, onde realizou ações de guerrilha, enquanto Sapor Mirranes assumiu o controle da Armênia. Foi depois chamado à corte de Ctesifonte e Baanes aproveita a oportunidade para recuperar o controle de Dúbio.[19]

Baanes permaneceu em Dúbio para defendê-la[20] até o início de 483, quando foi cercado por reforços de Zarmir, o Azarapates. Para evitar ser preso por exército muito maior numericamente, Baanes organizou uma saída que pegou os persas de surpresa, derrotando-os na Batalha de Nerseapate, em Artaz (região de Macu),[21] e então achou refúgio nas montanhas. Suas forças fogem aos distritos próximos da fronteira bizantina,[16] em Taique e Taraunitis.[22] Baanes esperava que a Pérsia não causaria um incidente na fronteira de modo a evitar guerra com o Império Bizantino, mas Zarmir o segue de perto e consegue, após uma marcha noturna, chegar ao alvorecer do acampamento armênio. Conseguiu capturar algumas princesas, mas Baanes e os principais nacarares tiveram tempo de chegar as montanhas.[23]

marzobã da Armênia[editar | editar código-fonte]

Dinar de ouro de Perozes I (r. 459–484)
Dracma de Balas (r. 484–488)

Porém, um acontecimento inesperado mudou o curso dos eventos: a morte em 484 do xá Perozes I (r. 459–484) na guerra contra o Império Heftalita causou a retirada dos persas da Armênia[16] e a recuperação de Dúbio e Valarsapate. Com dificuldades de suprimir a revolta de Zariadres, o sucessor de Perozes, Balas (r. 484–488), precisou da ajuda armênia: em troca de apoio militar, concordou em firmar tratado em Nevarsaque (atual Coi[24]); Baanes também foi reconhecido como asparapetes e a propriedade dos Mamicônio e seus aliados Camsaracano foram devolvidas.[16]

Na mesma ótica, foi nomeado marzobã em 485 "apagando definitivamente as consequências da tragédia de 451", e nomeou seu irmão Bardas como asparapetes. Presidiu uma verdadeira recuperação nacional e, de acordo com os católicos João I Mandacúnio e Papeceno,[3] reorganizou o país no plano religioso.[25] As igrejas foram restauradas: reconstruiu e ampliou a Igreja de São Gregório de Dúbio,[26] e reparou a Catedral de Valarsapate (484–485).[27]

O país gozou de relativa paz,[25] apesar da tentativa frustrada do sucessor de Balas, Cavades I (r. 488-496; 499-531), de se impor sobre as proposições de Nevarsaque.[28] Em 489, Baanes se aproximou de Vacagano III, rei da Albânia,[25] e repeliu uma incursão heftalita no início do século VI na Transcaucásia. Morreu entre 503 e 510 e foi sucedido por seu irmão Bardas Mamicônio.[29] De acordo com Cyril Toumanoff, Baanes I Mamicônio teria sido hipoteticamente o pai de Astabasdo (IV), o pai de Samuel I, asparapetes em 555.[30]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Precedido por
Sapor Mirranes
Governo provisório
482-483
Sucedido por
Zarmir, o Azarapates
Precedido por
Sapor de Rei
Marzobã da Armênia
485-505/510
Sucedido por
Bardas Mamicônio

Referências

  1. Jacobus 1993, p. 116.
  2. Yarshater 1983, p. 524.
  3. a b Grousset 1947, p. 230.
  4. Mutafian 2005, p. 38.
  5. a b Dédéyan 2007, p. 187.
  6. Dédéyan 2007, p. 190.
  7. Settipani 2006, p. 306-310.
  8. Toumanoff 1990, p. 330.
  9. Grousset 1947, p. 207.
  10. Grousset 1947, p. 214.
  11. a b Grousset 1947, p. 215.
  12. Toumanoff 1990, p. 99.
  13. a b c d Dédéyan 2007, p. 192.
  14. a b c Grousset 1947, p. 217.
  15. Grousset 1947, p. 218.
  16. a b c d Dédéyan 2007, p. 193.
  17. Grousset 1947, p. 221.
  18. Grousset 1947, p. 222.
  19. Grousset 1947, p. 221-223.
  20. Grousset 1947, p. 219.
  21. Grousset 1947, p. 220.
  22. Grousset 1947, p. 223.
  23. Grousset 1947, p. 223-224.
  24. Grousset 1947, p. 227.
  25. a b c Dédéyan 2007, p. 194.
  26. Donabédian 1987, p. 514.
  27. Donabédian 1987, p. 516.
  28. Grousset 1947, p. 231.
  29. Dédéyan 2007, p. 195.
  30. Toumanoff 1990, p. 333.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Donabédian, Patrick; Jean-Michel Thierry (1987). Les arts arméniens. Paris: Éditions Mazenod. ISBN 2-85088-017-5 
  • Grousset, René (1947). Histoire de l'Arménie: des origines à 1071. Paris: Payot 
  • Jacobus, Donald Lines (1993). The American Genealogist, Volumes 68-69. Universidade de Wisconsin - Madison: D.L. Jacobus 
  • Mutafian, Claude; Éric Van Lauwe (2005). Atlas historique et culturel de l'Arménie : Proche-Orient et Sud-Caucase du 8e au 20e siècle. Paris: Autrement. ISBN 978-2746701007 
  • Settipani, Christian (2006). Continuidade das elites em Bizâncio durante a idade das trevas. Os príncipes caucasianos do império dos séculos VI ao IX. Paris: de Boccard. ISBN 978-2-7018-0226-8 
  • Toumanoff, Cyril (1990). Les dynasties de la Caucasie chrétienne de l'Antiquité jusqu'au xixe siècle : Tables généalogiques et chronologiques. Roma: Edizioni Aquila 
  • Yarshater, Ehsan (1983). The Cambridge History of Iran: The Seleucid, Parthian, and Sasanian periods. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia. ISBN 052120092X