Jararaca-da-mata

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Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Squamata
Subordem: Serpentes
Família: Viperidae
Género: Bothrops
Espécie: B. jararaca
Nome binomial
Bothrops jararaca
(Wied-Neuwied, 1824)
Distribuição geográfica
Área de ocorrência natural da jararaca-da-mata
Área de ocorrência natural da jararaca-da-mata

A jararaca-da-mata (nome científico: Bothrops jararaca) é uma serpente de até 1,6 m, encontrada no Brasil (da Bahia ao Rio Grande do Sul) e em regiões adjacentes no Paraguai e Argentina. Origina -se do tupi yara'raka.

Morfologia[editar | editar código-fonte]

Jararaca da mata
Jararaca da mata

Possui corpo marrom com manchas triangulares escuras e região ao redor da boca com escamas de cor ocre uniforme, peculiaridades que propicia uma excelente camuflagem. Também é conhecida por jararaca-do-campo, jararaca-do-cerrado, jararaca-dormideira, jararaca-preguiçosa e jararaca-verdadeira.[1] Sua cor é marrom com amarelo escuro com rajas pretas. Perigosa, prepara o bote ao ver se aproximar qualquer ser. A cabeça tem uma faixa marrom que segue por trás do olho, dos dois lados da cabeça, de volta ao ângulo da boca tocando os três últimos supralabiais. A cor da língua é preta, e sua íris é ouro a ouro esverdeado.[2]

Habitat[editar | editar código-fonte]

Vive em ambiente preferencialmente úmidos, como beira de rios e córregos, onde também se encontram rato e sapos, seus pratos mais caçados. Dorme durante o dia debaixo de folhagens secas e úmidas, e gosta de tomar sol pós chuva.

Jararaca e a ecologia[editar | editar código-fonte]

Ela costuma ficar bem camuflada sobre as folhas secas, quando ameaçada achata-se e bate a cauda sobre as folhas. As Bothrops jararaca desempenham um papel importante no controle da população de ratos, que transmitem doenças como a leptospirose, provocando muitas mortes.[3]

Peçonha[editar | editar código-fonte]

Agência FAPESP – A Organização Mundial da Saúde incluiu recentemente o ofidismo (acidentes provocados por serpentes venenosas) como uma doença tropical negligenciada. No Brasil, as mordidas de jararaca (Bothrops jararaca) respondem por cerca de 90% do total de acidentes com humanos envolvendo serpentes. O veneno da jararaca pode provocar lesões no local da mordida, tais como hemorragia e necrose que podem levar, em casos mais graves, a amputações dos membros afetados.[4] Entretanto, o cientista brasileiro Mauricio Oscar da Rocha e Silva isolou da peçonha dessa serpente o BPP (peptídeo potencializador da bradicinina). Esse composto serviu, nos anos 60, para o farmacologista Sérgio Henrique Ferreira, que desenvolveu o Captopril, medicamento usado para o tratamento de hipertensão e casos de insuficiência cardíaca. Atualmente, grupos da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal do Rio de Janeiro estudam outras propriedades do veneno da Bothrops jararaca com possíveis efeitos contra doenças neurodegenerativas e trombose. [5]

Um estudo realizado por Miguel Tanús Jorge, em tese de doutorado para Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), avaliou-se quarenta pacientes com abscessos no local da mordida por Bothrops foram avaliados. Dez trouxeram a cobra responsável pela mordida, Bothrops jararaca em todos os casos. Na admissão, uma amostra foi coletada de cada caso para cultura aeróbica e anaeróbica, e nenhum abscesso foi drenado espontaneamente. Nenhum dos pacientes havia recebido terapia antibacteriana ate então. As bactérias isoladas com maior frequência foram Morganella morganii (23 pacientes), Providencia rettgeri (7) Enterobacter sp. (4), Escherichia coli (3), estreptococos do grupo D (11) e Bacteroides sp. (6). Todas as enterobactérias testadas foram sensíveis ao cloranfenicol, aminoglicosídeos e cefotaxima. Os estreptococos do grupo D foram sensíveis ao cloranfenicol, à ampicilina e à penicilina G, enquanto as bactérias anaeróbias foram sensíveis ao cloranfenicol e à tetraciclina. Estes resultados sugerem que, em casos de formação de abcessos secundários à picada de Bothrops, o cloranfenicol isoladamente é uma boa escolha, sendo segura e barata.[6]

O que não fazer em caso de acidentes[editar | editar código-fonte]

  1. Não amarrar o membro ferido, pois pode complicar a circulação do sangue, causando necrose.
  2. Não cortar o local da picada, o corte pode aumentar o risco de infecção no local, além de poder causar hemorragia.
  3. Não chupar o local da picada, após a inoculação é impossível retirar o veneno.
  4. Não colocar pó de café, ervas ou querosene no ferimento, isso pode provocar infecção no local.
  5. Não dar álcool e outras bebidas do gênero ao acidentado, isso pode causar intoxicação. [7]

Alimentação[editar | editar código-fonte]

As Jararacas da mata raramente utilizam a vegetação e apresenta mudança ontogenética na dieta. Os juvenis de B. jararaca geralmente utilizam a vegetação e apresam principalmente anfíbios, enquanto que os adultos são predominantemente terrestres e basicamente alimentam-se de roedores. [8]

Reprodução[editar | editar código-fonte]

As B. jararaca são ovovivíparos, ou seja, o embrião se desenvolve dentro de um ovo alojado dentro da mãe. O embrião é desenvolvido a partir dos nutrientes existentes no ovo, sendo assim, não existe troca de material entre a progenitora e o embrião.[9] A média de ovos por fêmea em Bothrops jararaca é de 14,2, com uma média anual de ovos entre 9,4 a 16,3 para esta espécie. O tamanho da ninhada de B. jararaca está dentro da média (10,75) encontrada para a grande maioria das serpentes e se aproxima da média mais alta conhecida para viperídeos (2 a 16 filhotes por fêmea). [10]

As serpentes Bothrops jararaca apresentam um ciclo reprodutivo sazonal com um estágio de desenvolvimento folicular ativo (vitelogênese) no final do verão e início de outono. A cópula ocorre no outono (março até maio) e a gestação na primavera até o início do verão quando os nascimentos acontecem (Dezembro até Março). Depois do parto as serpentes permanecem em estado de "dormência" folicular, o que as impede de reproduzir na próxima estação do mesmo ano. Assim, cada fêmea madura da população reproduz-se a cada dois anos caracterizando um ciclo reprodutivo bienal. A morfologia do trato reprodutivo em ambas as espécies mostra ovários e ovidutos assimétricos. Cada oviduto é dividido em três regiões distintas, o infundíbulo, o útero (posterior e anterior) e a vagina. A assincronia entre a vitelogênese e a fertilização promove estocagem de esperma obrigatória. Esse processo ocorre na porção posterior do útero, por meio de uma contração muscular. Estudos morfofisiológicos do oviduto da jararaca, com o uso de microscopias de luz, transmissão e varredura nunca foram conduzidos antes. A anatomia macroscópica do útero depois da cópula é caracterizada por uma torção e uma contração da musculatura uterina lisa longitudinal, a qual forma uma espiral. O útero permanece visivelmente contraído até a ovulação em setembro (início de primavera). O desenvolvimento embrionário ocorre no útero. Cada ovo ou embrião é isolado por uma constrição que funciona como uma implantação. A íntima aposição epitélio corioalantóico com o epitélio uterino indica que a placenta é do tipo epiteliocorial (é a placenta que não permite comunicação do sangue da mãe com o sangue do feto. Ela mantem intactas as estruturas da placenta e da cavidade uterina). O oviduto parece ser um órgão capaz de exercer funções diferentes como a retenção e estocagem de esperma, manutenção e transporte dos ovos, fertilização e manutenção do embrião (gestação e placentação uterina).

Machos de Bothrops mostram dois testículos alongados que se comunicam bilateralmente na cloaca por meio dos ductos deferentes convolutos. O diâmetro mais largo do ducto deferente, na porção distal foi observado no verão e outono, devido a espermiogênese, que ocorre um pouco antes da cópula. Observam-se também um aumento dos testículos na primavera e verão provavelmente relacionada a espermatogênese, a qual também não é sincronizada com a cópula (outono) e a fertilização (setembro/outubro). Todas estas estratégias fisiológicas e morfológicas, tanto em machos quanto em fêmeas das duas espécies de serpentes promovem a liberação simultânea dos gametas no início da primavera (setembro), de modo a tornar harmônico o ciclo reprodutivo dos machos e das fêmeas.[11]

Curiosidades[editar | editar código-fonte]

Foram encontradas na Zona Sul de São Paulo jararacas gigantes, pelo menos 50% maiores que espécimes comuns, medindo aproximadamente 1,5 metros. Ao investigar a procedência delas, os pesquisadores da Unesp e do Instituto Butantan descobriram que elas haviam sido capturadas no Parque do Estado. O estudo foi iniciado partindo da hipótese de que as jararacas do parque do estado atingiam maiores tamanhos por causa da influencia do ser humano que alteram, positivamente, a oferta de recursos alimentares e reduzem a incidência de predadores. [12]

Referências

  1. «"Uma verdadeira jararaca"». www.oeco.org.br. Consultado em 20 de setembro de 2018 
  2. Pozzana, Marco (18 de maio de 2016). «Jararaca Gigante». Biólogo. Consultado em 11 de novembro de 2018 
  3. «Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade». www.ra-bugio.org.br. Consultado em 12 de novembro de 2018 
  4. «Estudo sobre picada da jararaca ajuda a entender mecanismos da hemorragia». AGÊNCIA FAPESP. Consultado em 20 de setembro de 2018 
  5. Baima, Cesar (3 de novembro de 2011). «Veneno de Jararaca pode combater doenças». O Globo. Consultado em 11 de novembro de 2018 
  6. Jorge, Miguel Tanús (1994). «Microbiological studies of abscesses complicating Bothrops snakebite in humans: A prospective study». Science direct. Consultado em 4 de dezembro de 2018 
  7. Chao, Maíra (1 de junho de 2008). «Veneno de cobra». Planeta. Consultado em 11 de novembro de 2018 
  8. Hartmann, Paulo Afonso; Hartmann, Marília Teresinha; Giasson, Luis Olímpio Menta (1 de junho de 2003). «Uso do hábitat e alimentação em juvenis de Bothrops jararaca (Serpentes, Viperidae) na Mata Atlântica do sudeste do Brasil». Phyllomedusa: Journal of Herpetology. 2 (1). 35 páginas. ISSN 2316-9079. doi:10.11606/issn.2316-9079.v2i1p35-41 
  9. «Jararaca, Cobra, Alimentação, Habitat, Reprodução, Bothrops, Réptil Jararaca». www.portalsaofrancisco.com.br. Consultado em 4 de novembro de 2018 
  10. Janeiro-Cinquini, Thélia (30 de dezembro de 2004). «Capacidade reprodutiva de Bothrops jararaca» (PDF). Capacidade reprodutiva de Bothrops jararaca (Serpentes, Viperidae). Consultado em 12 de novembro de 2018 
  11. Almeida-Santos, Selma Maria de. «Modelos reprodutivos em serpentes: estocagem de esperma e placentação em Crotalus durissus e Bothrops jararaca (Serpentes: Viperidae)» 
  12. da Silveira, Evanildo (14 de setembro de 2018). «Jararacas gigantes». BBC. Consultado em 11 de novembro de 2018 

Ver também[editar | editar código-fonte]