Brandon Teena

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Brandon Teena
Brandon Teena
Nome completo Brandon Renae Teena
Outros nomes Billy Brinson
Conhecido(a) por Vítima de assassinato de crime de ódio e vítima de transfobia
Nascimento 12 de dezembro de 1972
Lincoln, Nebraska, Estados Unidos
Morte 31 de dezembro de 1993 (21 anos)
Humboldt, Nebraska, Estados Unidos
Causa da morte Assassinato (ferimento à bala)
Nacionalidade norte-americano

Brandon Teena[a] (Lincoln, 12 de dezembro de 1972Falls City, 31 de dezembro de 1993) foi um homem transgênero americano que, após ter sido espancado e violado, foi assassinado em Humboldt, perto da cidade de Falls City, Nebraska, nos Estados Unidos.[2][3]

O sexo atribuído a Brandon no nascimento foi o feminino, mas ele identificava-se, apresentava-se e vivia como um homem. Seu assassinato foi um dos mais notórios crimes de ódio do país na década de 1990. Sua história inspirou dois filmes: o documentário The Brandon Teena Story e o filme Boys Don't Cry (1999), protagonizado por Hilary Swank, que ganhou o Oscar de Melhor Atriz em 2000.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascido em Lincoln, numa família conservadora e patriarcal, ele chegou a frequentar uma escola católica, segundo o Voice. Seu pai morreu num acidente de carro quando sua mãe, JoAnn, estava grávida dele.[4]

A família residia no Pine Acre Mobile Home Park, no nordeste de Lincoln, onde JoAnn trabalhava como balconista em uma loja de varejo feminina para sustentar a família. Quando crianças pequenas, Brandon e sua irmã Tammy foram sexualmente abusadas por um tio por vários anos. Brandon procurou aconselhamento para isso em 1991.

Brandon começou a se identificar do sexo masculino na escola. Sua mãe não aceitava sua identidade masculina e continuou se referindo a ele como "filha". Em dezembro de 1990, Brandon foi para o Holiday Skate Park com seus amigos, amarrando seus seios para se passar por menino. O adolescente de 18 anos saiu em um encontro com uma garota de 13 anos. Ele também conheceu a amiga de 14 anos da menina, Heather, e começou a se vestir regularmente como um homem. No verão de 1991, Brandon começou seu primeiro grande relacionamento, com Heather. Pouco depois, Brandon conseguiu emprego como atendente num posto de gasolina, tendo por objetivo comprar um trailer para si e para sua namorada.

Em 1993, depois de alguns problemas legais, Brandon mudou-se para Falls City, no Condado de Richardson, onde se identificou apenas como homem.

Antecedentes do crime[editar | editar código-fonte]

Em Falls City Brandon conheceu Lisa Lambert, uma mãe solteira que lhe deu abrigo e com quem ele, segundo algumas fontes, manteve um relacionamento. Ele também fez amizade com várias pessoas, incluindo os dois ex-presidiários John Lotter e Marvin Thomas "Tom" Nissen. Nissen era casado e tinha dois filhos. Mais tarde, Brandon começou a se relacionar com Lana Tisdel, que tinha sido amiga de infância e namorada de Lotter. Outro homem, Phillip Devine também se tornou amigo de Brandon. Em 15 de dezembro de 1993, uma semana depois de conhecer Lana, Brandon foi preso novamente por fraudar cheques. Muitos acreditam na versão de que Lana Tisdel teria pago sua fiança, mas teria se sentido desorientada ao saber que Brandon estava na ala feminina da prisão e teria chamado Lotter para acompanha-la. Foi durante a apresentação para o juiz que o nome e sexo de Brandon foram descobertos, o que teria enfurecido Lotter e Nissen e feito Lana questionar sobre seus genitais femininos, ao que Brandon teria respondido que pretendia fazer uma operação para mudança de sexo.[4][5]

Lana alega que após a descoberta teria terminado o relacionamento com Brandon.

O crime[editar | editar código-fonte]

No dia 24 de dezembro, durante uma festa de Natal na casa de Nissen, este e Lotter agarraram Brandon e o obrigaram a tirar as calças para mostrar a Lana que ele tinha genitais femininos. Nas primeiras horas da manhã seguinte, Lotter e Nissen sequestraram Brandon, obrigando-o a entrar em um carro. Eles dirigiram para uma área dentro de uma fábrica de embalagens de carne, onde o espancaram e o estupraram. Em seguida, o levaram de volta para a casa de Nissen, de onde ele escapou escalando a janela e fugindo até a casa de Tisdel. Brandon denunciou os dois à polícia, apesar de Nissen e Lotter o terem ameaçado de morte. A polícia, além de fazer um interrogatório degradante, segundo a enciclopédia Britannica, não acusou ninguém devido a uma alegada falta de provas. Em 31 de dezembro, Tom Nissen e John Lotter partiram para a casa de Lisa Lambert à procura de Brandon. Eles atiraram e esfaquearam Brandon e também mataram Lambert e Phillip Devine. Apenas o filho de oito meses de Lambert foi deixado vivo.[5][6]

Os corpos e a criança foram encontrados pela mãe de Lisa Lambert no Ano Novo.[7]

Prisão e pena[editar | editar código-fonte]

Nissen testemunhou contra Lotter e foi condenado à prisão perpétua em 1995. John Lotter foi condenado a pena de morte em 1996.

Em abril de 2018, a defesa de Lotter tentou uma apelação, alegando que, por ter um baixo QI, ele era intelectualmente incapaz de ser executado. Em agosto do mesmo ano, a apelação foi rejeitada pela corte.[8][9]

Atualizações e legado[editar | editar código-fonte]

Alguns anos mais tarde, Lana Tisdel teve uma filha e retornou a Falls City para criá-la.

Em 2013, 20 anos após o crime, o jornal The Atlantic ainda se referiu ao crime como "um dos mais hediondos crimes de ódio da história dos Estados Unidos" (original em inglês: one of the most heinous hate crimes in American history).[10]

Também em 2013, a mãe de Brandon concedeu uma entrevista ao Journal Star onde disse: "eu fico imaginando como seria tê-la aqui. Ela era uma criança alegre, então imagino que seria um adulto alegre também." Durante a entrevista ela também disse que ainda esperava Lotter ser executado e que Nissem recebesse a mesma pena.[7]

Segundo a Britannica, como legado, a história de Brandon tem sido contada através da imprensa, incluindo documentários, biografias, filmes (Boys Don’t Cry - 1999) e numerosos artigos acadêmicos.

Notas e referências

Notas

  1. Como "Brandon Teena" nunca foi seu nome legal, é incerto até que ponto esse nome foi usado antes de sua morte. Stacey D'Erasmo do Out afirmou que Teena não se autodenominava "Brandon Teena".[1] É o nome mais utilizado pela imprensa e outros meios de comunicação. Outros nomes podem incluir seu nome legal, bem como “Billy Brenson” e “Teena Ray”.

Referências

  1. D'Erasmo, Stacey (October 1999). «Boy Interrupted». Here Publishing. Out. 8 (4): 66. ISSN 1062-7928. Brandon became famous as "Brandon Teena," though it wasn't a name he ever used in life,[...]  Verifique data em: |data= (ajuda)
  2. «U.S. 8th Circuit Court of Appeals — JaAnn Brandon v Charles B. Laux». FindLaw. Consultado em 7 de dezembro de 2006 
  3. Howey, Noelle (22 de março de 2000). «Boys Do Cry». Mother Jones. Consultado em 7 de dezembro de 2006 
  4. a b «How I Broke, and Botched, the Brandon Teena Story». www.villagevoice.com. Consultado em 24 de setembro de 2019 
  5. a b «Brandon Teena». Encyclopedia Britannica (em inglês). Consultado em 24 de setembro de 2019 
  6. «Folha de S.Paulo - Cinema: Documentário vê homofobia dos EUA - 26/10/98». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 24 de setembro de 2019 
  7. a b Star, NICHOLAS BERGIN / Lincoln Journal. «Brandon Teena's mom: 'We've come a long way'». JournalStar.com (em inglês). Consultado em 24 de setembro de 2019 
  8. «"Boys Don't Cry" inmate's IQ is too low to execute, his attorneys say». NBC News (em inglês). Consultado em 24 de setembro de 2019 
  9. Press, Associated (28 de setembro de 2018). «Nebraska high court rejects latest appeals by John Lotter». KHGI. Consultado em 24 de setembro de 2019 
  10. Fairyington, Stephanie (31 de dezembro de 2013). «Two Decades After Brandon Teena's Murder, a Look Back at Falls City». The Atlantic (em inglês). Consultado em 24 de setembro de 2019 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]