Bronzes do Pireu

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O Apolo do Pireu
A Atena do Pireu

Os Bronzes do Pireu constituem um conjunto de estátuas da Grécia Antiga e outros artefatos descobertos no antigo porto de Atenas, o Pireu, e que hoje estão conservadas no Museu Arqueológico do Pireu.

O conjunto compreende quatro estátuas em bronze em tamanho acima do natural, representando Apolo, Atena e duas Ártemis, dois escudos e uma máscara teatral de bronze, duas hermas de mármore e uma estatueta em mármore de Ártemis. Embora as peças tenham sido encontradas juntas, apresentam diferenças no estilo sugerindo épocas distintas de criação, não parecem constituir um grupo unificado, e em geral são estudadas separadamente. Foram descobertas em 1959 por operários durante obras na canalização de esgoto de uma rua de Pireu. O valor da descoberta foi percebido de imediato, e a escavação foi assumida pelo diretor dos serviços arqueológicos da Grécia, Ioannis Papadimitriou.[1] A escavação revelou que as peças se encontravam em um armazém que incendiou, provavelmente no ano 86, durante o saque que o general romano Sula infligiu a Atenas. Aparentemente estavam sendo embaladas para transporte quando o fogo destruiu o armazém.[2] A descoberta foi especialmente importante em vista do reduzido número de estátuas em bronze originais da antiga Grécia que sobrevivem, e se tornam ainda mais notáveis pelo seu excelente estado de conservação geral.[2][1] Contudo, Papadimitriou faleceu em 1963 sem publicar o achado, e suas notas foram perdidas, o que complica o estudo das obras. Embora todas as peças tenham valor, os grandes bronzes naturalmente monopolizaram a atenção dos estudiosos por sua importância superlativa, especialmente o Apolo e a Atena.[2]

O Apolo mede 1,91m de altura, está nu e tem a forma geral de um kouros do período arcaico. Quando foi descoberto portava uma pátera na mão esquerda, perdida mais tarde.[2] Várias de suas características se distanciam do modelo usual do kouros arcaico, como a cabeça inclinada, o cabelo curto e pouco detalhado, os braços erguidos, os olhos fundidos junto com a cabeça, o modelado das pernas, o refinado acabamento de superfície e a postura com a perna direita avançando.[1][2] Segundo Carol Mattusch seus traços incomuns podem indicar que pertence à fase de transição entre os períodos arcaico e severo,[1] mas, de acordo com Olga Palagia, não só o Apolo, mas todas as estátuas, apresentam detalhes incongruentes com o que se conhece sobre as convenções de cada período, o que pode indicar com mais segurança que sejam todas derivações ou cópias helenísticas de originais mais antigos. Complica a situação o fato de o bronze ser de datação difícil.[2]

A Atena é monumental, com 2,35 m de altura. Usa um peplo com uma égide ao peito, um elmo coríntio ornamentado com grifos e corujas, e tem a mão direita estendida para a frente, que devia segurar algum objeto, talvez uma pátera ou uma coruja, símbolo de sua sabedoria e comum em suas representações. Também devia, originalmente, segurar uma lança com a mão esquerda, tenho um escudo ao lado, pousado no chão. Sua face é benevolente, preservando os olhos originais de pedra e os dentes de marfim. Foi datada do século IV a.C. e atribuída, com base no estilo, a Eufranor,[1][3] mas a partir do estilo de sua sandália supõe-se que pode ser uma cópia helenística. A Atena Mattei, que ora está no Museu do Louvre, foi identificada como sendo uma variação desta Atena.[3]

A primeira estátua de Ártemis mede 1,94 m, usa um peplos e tem uma aljava de flechas pendente sobre suas costas. Provavelmente segurava um arco e uma flecha em sua mão esquerda e uma pátera na mão direita. Seus olhos, dentes e lábios, em materiais diferentes, foram preservados. Teve sua autoria atribuída a Eufranor,[1] datada entre c. 340-330 a.C.[4] De todas as obras é a que possui um estilo mais coerente, bastante típico do baixo classicismo, mas com os conhecimentos atuais é impossível decidir se se trata de um original ou uma cópia. No entanto, segundo Palagia, até onde se sabe, o ligeiro encurtamento de suas proporções, indicando que foi concebida para ser instalada em uma posição elevada e ser vista de baixo para cima, só é encontrado em originais, e nunca em cópias.[2]

A segunda Ártemis mede apenas 1,55 m e, ao contrário das outras, está em mau estado de conservação. Imita em linhas gerais a forma da maior, salvo na posição dos pés, que estão em um uma postura espelhada em relação à outra, e no pequeno manto que recobre o peplos. Os olhos são acréscimos em pedra e a faixa que ata a aljava é incrustada de prata. Mattusch sugeriu uma origem helenística, mas Palagia a datou no baixo classicismo.[1][2]

A estatueta de Ártemis em mármore provavelmente é helenística, e trai origem ou inspiração oriental, assemelhando-se às representações da deusa anatólica Kindyas, assimilada a Ártemis pelo sincretismo grego, ou às de Ártemis Eleutéria, adorada em Mira, na Lícia. A imagem usa um véu que lhe cai pelas costas e veste um peplos coberto por uma espécie de manto ou avental amarrado pela frente por tiras em X, e que lhe enfaixa os braços cruzados, que deve ser um traje ritual, sendo a única em seu tipo em todo o mundo.[2]

Os outros itens do conjunto são menos expressivos e mereceram escassa atenção crítica. A máscara teatral se destaca pela sua densa barba e cabeleira, e tem a característica e caricata expressividade das máscaras trágicas da época, com grandes olhos, boca escancarada e cenho franzido. Data do fim do século IV ou talvez seja produção helenística. As duas hermas em mármore têm cabeças de Hermes barbado em seu topo, medindo ambas 1,41 m, e mostram afinidade com o estilo austero de Alcâmenes, do alto classicismo, mas provavelmente sejam recriações historicistas do século I.[1] Os fragmentos de escudo encontrados no mesmo local, elaborados na técnica do bronze repuxado, foram reconstruídos como dois escudos distintos, um decorado com uma cena com carruagem, e o outro liso, mas embora relatos sobre a escavação afirmem que havia dois escudos, os fragmentos podem ter sido partes de uma mesma peça.[2]

Referências

  1. a b c d e f g h Mattusch, Carol C. Classical Bronzes: The Art and Craft of Greek and Roman Statuary. Cornell University Press, 1996, pp. 129-137
  2. a b c d e f g h i j Palagia, Olga. "Reflections on the Piraeus Bronzes". In: Palagia, Olga (ed.). Greek Offerings: Essays οη Greek Art in honour of Jοhn Boardman. Oxbow Monograph 80, 1997, pp. 177-195.
  3. a b Crane, Gregory R. "Piraeus Athena (Sculpture)". Perseus Digital Library, Tufts University.
  4. Crane, Gregory R. "Piraeus 4647 (Sculpture)". Perseus Digital Library, Tufts University.

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