Córtex pré-frontal

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Córtex pré-frontal

Áreas de Brodmann em vista lateral. De acordo com BrainInfo, as áreas #8, #9, #10, #11, #44, #45, #46, e #47 estão todas na região pré-frontal.
Detalhes
Vascularização artéria cerebral média; artéria cerebral anterior
Drenagem venosa seio sagital superior
Identificadores
Latim Cortex praefrontalis
MeSH Prefrontal+Cortex

O córtex pré-frontal (PFC) é a parte anterior do lobo frontal do cérebro, localizado anteriormente ao córtex motor primário e ao córtex pré-motor.

Esta região cerebral está relacionada ao planejamento de comportamentos e pensamentos complexos, expressão da personalidade, tomadas de decisões e modulação de comportamento social.[1] A atividade básica dessa região é resultado de pensamentos e ações em acordo com metas internas.[2]

Muitos autores indicam uma ligação entre a personalidade de uma pessoa e funcionamento do córtex pré-frontal.[3]

Funções[editar | editar código-fonte]

Função Executiva[editar | editar código-fonte]

O processo neuropsicológico mais importante relacionado com o córtex pré-frontal é a função executiva. Esta função se relaciona a habilidades para diferenciar pensamentos conflitantes, consequências futuras de atividades correntes, trabalho em relação a uma meta definida, previsão de fatos, expectativas baseadas em ações, e controle social. Planejamento, tomada de decisão, controle inibitório, atenção e memória de trabalho são consideradas funções que podem ser classificadas como funções executivas, com uma ativação predominante do córtex pré-frontal. O córtex pré-frontal tem uma grande implicação no comportamento social. Prejuízos nas funções relacionadas ao cortex pré-frontal conduzem a uma maior impulsividade, agressividade e inadequação social.[4]

Galeria[editar | editar código-fonte]

Essas imagens da área de Brodmann 10 dão uma ideia clara de uma particular região do córtex pré-frontal.

Evolução do córtex pré-frontal em primatas[editar | editar código-fonte]

O córtex pré-frontal é uma região do cérebro que desempenha um papel importante no controle do raciocínio, comportamento emocional, controle da atenção, escolha das opções comportamentais mais adequadas à situação social, funções Cognitivas, pensamento, raciocínio, Percepção sensorial e compreensão da linguagem. Além disso, o córtex pré-frontal é responsável pela formação de metas e objetivos, atuando na realização de planejamento, estratégias de ação e avaliação do sucesso ou fracasso em relação aos objetivos estabelecidos.[5]

Ao longo do tempo, o córtex pré-frontal evoluiu em tamanho e complexidade em primatas, especialmente em humanos. Durante o desenvolvimento dos primatas, houve um crescimento pronunciado das chamadas áreas pré-frontais, o que demonstra a direta relação destas regiões com um aumento de atividades que necessitasse de funções cognitivas complexas. Além disso, as porções anteriores dos Lobos temporais e os pólos occipitais (Occipital) também são bem mais desenvolvidos no homem, estes últimos devido ao aumento de áreas associativas visuais.[6] O grande desenvolvimento do Sistema nervoso central (SNC) que ocorreu durante a evolução dos vertebrados e dos mamíferos em particular, com o advento do Neocórtex, do qual o córtex pré-frontal faz parte, se faz a partir de dois componentes ou metades (Hipocampo e área piriforme),[7] de maneira marcadamente desproporcional em relação ao desenvolvimento do restante do corpo destes animais, caracterizando um fenômeno evolutivo denominado “Encefalização”. Segundo a teoria evolucionista, tanto o aumento do volume encefálico quanto a especialização progressiva das suas estruturas ocorreram em função das forças evolutivas ambientais e como consequência do próprio desenvolvimento de novas capacidades. Portanto, é possível inferir que o córtex pré-frontal evoluiu ao longo do tempo em resposta às pressões evolutivas e às necessidades de adaptação dos primatas, permitindo o desenvolvimento de funções cognitivas mais complexas.[6]

Ancestral comum[editar | editar código-fonte]

O ancestral comum dos primatas é um animal que viveu há cerca de 65 milhões de anos e é considerado o ponto de partida para a evolução dos primatas. Esse ancestral tinha um cérebro relativamente pequeno e primitivo em comparação com os primatas modernos, com uma estrutura cerebral básica que incluía o Tronco cerebral, o Cerebelo e o Sistema límbico.[7]

As características do cérebro desse ancestral que antecederam o desenvolvimento do córtex pré-frontal ainda não eram tão especializadas para funções cognitivas superiores, como planejamento, tomada de decisão e controle emocional. Entretanto, o cérebro desse ancestral apresentava algumas características que foram importantes para a evolução posterior dos primatas, como por exemplo, o sistema límbico, que é responsável pelas emoções e comportamentos sociais. Além disso, o cerebelo, que é responsável pelo controle motor e pela coordenação dos movimentos, também já estava presente.[6] Dessa forma, esse ancestral possuía áreas responsáveis por funções sensoriais, como a visão e a audição, e áreas responsáveis pelo processamento de informações mais complexas. Essas áreas mais complexas podem ser consideradas precursoras do córtex pré-frontal.[7] O córtex pré-frontal evoluiu posteriormente em primatas, especialmente em humanos, e é responsável por funções executivas, como planejamento, tomada de decisão, controle inibitório e flexibilidade cognitiva, além de estar envolvido em processos emocionais e sociais.[8]

Ao estudar o ancestral comum dos primatas, os pesquisadores podem examinar fósseis, evidências genéticas e comparar características cerebrais de primatas modernos para traçar a evolução do córtex pré-frontal. Essa investigação ajuda a entender como as mudanças anatômicas e funcionais ocorreram ao longo do tempo, levando ao desenvolvimento e especialização do córtex pré-frontal em primatas superiores. Portanto, esses estudos são essenciais para fornecer informações sobre o estágio inicial da evolução do cérebro dos primatas e estabelecer uma base para explorar o desenvolvimento posterior do córtex pré-frontal, o que ajuda a contextualizar as mudanças evolutivas e as características fundamentais que antecederam o surgimento dessa importante região cerebral em primatas modernos.[6]

Desenvolvimento e mudanças anatômicas[editar | editar código-fonte]

O córtex pré-frontal em primatas evoluiu posteriormente e de forma mais distante do que em outras regiões pré-frontais, o que está relacionado ao desenvolvimento tardio de funções cognitivas superiores, como a linguagem, em espécies avançadas, especialmente em humanos, e todas essas funções são amplamente dependentes do córtex pré-frontal.[5]

O córtex pré-frontal em primatas não humanos, como macacos e chimpanzés, é semelhante ao córtex pré-frontal humano em sua face interna e orbitária, mas se distingue pelo volume e desenvolvimento da porção dorsolateral. Além disso, o córtex pré-frontal em primatas não humanos possui diferentes domínios que exercem papéis distintos na cognição, memória e emoção. No entanto, ele é significativamente maior e mais complexo do que o córtex pré-frontal em primatas não humanos, de modo que, por exemplo, o cérebro humano é 3,1 vezes maior do que o esperado para um Antropoide não humano com o mesmo peso corporal, determinando uma dessas características distintivas do córtex pré-frontal humano que podem estar relacionadas com o desenvolvimento de habilidades cognitivas avançadas.[8]

É importante ressaltar que o estudo de uma única espécie não permite desvendar todas as regras básicas que governam a anatomia, fisiologia e desenvolvimento do cérebro de primatas em geral ou do cérebro humano em particular.

Funções do córtex pré-frontal em primatas[editar | editar código-fonte]

O córtex pré-frontal em primatas desempenha um papel importante em várias funções cognitivas e comportamentais, incluindo planejamento, tomada de decisões, planejamento de ações, memória de trabalho, controle emocional, entre outros, e possuem diferentes domínios que exercem papéis distintos em tais funções. O aumento do controle cognitivo e a habilidade de raciocínio analógico são necessários para o confronto com a vida em sociedade, sugerindo que o córtex pré-frontal também está envolvido na interação social. A expansão evolutiva do córtex de associação está intimamente relacionada à evolução de funções cognitivas, e os primatas possuem uma considerável expansão em tais áreas de associação, notavelmente na região frontal, relacionada ao desenvolvimento de funções cognitivas superiores. Além disso, o córtex pré-frontal está envolvido no controle emocional e na regulação do comportamento, de modo que, em primatas, possui conexões com diversas regiões do cérebro que sugerem que ele exerce papéis diferentes na cognição, memória e emoção.[8]

Estudos e descobertas recentes[editar | editar código-fonte]

Diversas pesquisas recentes sobre o córtex pré-frontal em primatas trouxeram importantes descobertas e avanços científicos. Um estudo publicado em 2019 na revista Nature Neuroscience[9] descobriu que o córtex pré-frontal em macacos contém neurônios que codificam informações sobre a tomada de decisões e ações futuras. Os pesquisadores descobriram que esses neurônios são ativados quando os macacos planejam uma ação futura, sugerindo que o córtex pré-frontal desempenha um papel importante na tomada de decisões e no planejamento de ações. Outro estudo publicado em 2020 na revista Science Advances[10] analisou a evolução do córtex pré-frontal em primatas. Os pesquisadores descobriram que a expansão do córtex pré-frontal em primatas está relacionada à evolução de funções cognitivas superiores, como a tomada de decisões e o planejamento de ações. Além disso, eles descobriram que a expansão do córtex pré-frontal em primatas está associada a mudanças na expressão de genes envolvidos no desenvolvimento cerebral. Um estudo publicado em 2021 na revista Nature Communications[11] analisou a evolução do córtex pré-frontal em primatas e descobriu que a expansão do córtex pré-frontal em primatas está associada a mudanças na organização celular do cérebro. Os pesquisadores descobriram que a expansão do córtex pré-frontal em primatas está associada a um aumento no número de Células gliais, que desempenham um papel importante no desenvolvimento e manutenção do cérebro. Além disso, outros estudos recentes têm explorado a relação entre o córtex pré-frontal e a interação social em primatas. Um estudo publicado em 2020 na revista Current Biology[12] descobriu que o córtex pré-frontal em macacos está envolvido na percepção de expressões faciais e na tomada de decisões sociais. Os pesquisadores descobriram que a estimulação elétrica do córtex pré-frontal em macacos afetou sua capacidade de tomar decisões sociais, sugerindo que o córtex pré-frontal desempenha um papel importante na interação social em primatas.

Em resumo, estudos recentes sobre o córtex pré-frontal em primatas têm trazido importantes descobertas e avanços científicos em várias áreas, incluindo a identificação de neurônios que codificam informações sobre a tomada de decisões e ações futuras, a análise da evolução do córtex pré-frontal em primatas e a descoberta de mudanças na organização celular do cérebro associadas à expansão do córtex pré-frontal em primatas, além de avanços relacionados com a evolução do cérebro em primatas, com as funções cognitivas e comportamentais associadas ao córtex pré-frontal e com a interação social em primatas. Esses estudos têm contribuído para uma melhor compreensão do cérebro e do comportamento em primatas, bem como para o desenvolvimento de novas terapias e tratamentos para doenças neurológicas.

Referências

  1. Yang Y, Raine A (2009). «Prefrontal structural and functional brain imaging findings in antisocial, violent, and psychopathic individuals: a meta-analysis». Psychiatry Res. 174 (2): 81–88. PMC 2784035Acessível livremente. PMID 19833485. doi:10.1016/j.pscychresns.2009.03.012 
  2. Miller EK, Freedman DJ, Wallis JD (2002). «The prefrontal cortex: categories, concepts and cognition». Philos. Trans. R. Soc. Lond., B, Biol. Sci. 357 (1424): 1123–36. PMC 1693009Acessível livremente. PMID 12217179. doi:10.1098/rstb.2002.1099 
  3. DeYoung C. G., Hirsh J. B., Shane M. S., Papademetris X., Rajeevan N., Gray J. R. (2010). «Testing predictions from personality neuroscience». Psychological Science. 21 (6): 820–828. PMC 3049165Acessível livremente. PMID 20435951. doi:10.1177/0956797610370159 
  4. de Almeida, RM; Cabral, JC; Narvaes, R. «Behavioural, hormonal and neurobiological mechanisms of aggressive behaviour in human and nonhuman primates». Physiology & Behavior. doi:10.1016/j.physbeh.2015.02.053 
  5. a b Rodrigues, Fabiano De Abreu (19 de julho de 2021). «Diferença do cérebro humano e animal / Difference of human and animal brain». Brazilian Journal of Development (7): 72116–72123. ISSN 2525-8761. doi:10.34117/bjdv7n7-405. Consultado em 5 de julho de 2023 
  6. a b c d Ribas, Guilherme Carvalhal (dezembro de 2006). «Considerações sobre a evolução filogenética do sistema nervoso, o comportamento e a emergência da consciência». Revista Brasileira de Psiquiatria (4): 326–338. ISSN 1516-4446. doi:10.1590/s1516-44462006000400015. Consultado em 5 de julho de 2023 
  7. a b c Joseph, J.P. (janeiro de 1990). «The prefrontal cortex. Anatomy, physiology and neuropsychology of the frontal lobe». Neuropsychologia (1). 105 páginas. ISSN 0028-3932. doi:10.1016/0028-3932(90)90091-2. Consultado em 5 de julho de 2023 
  8. a b c «Evolução do encéfalo nos seres vivos» (PDF). Consultado em 3 de julho de 2023 
  9. Maunsell, John H.R. (junho de 2004). «Neuronal representations of cognitive state: reward or attention?». Trends in Cognitive Sciences (6): 261–265. ISSN 1364-6613. doi:10.1016/j.tics.2004.04.003. Consultado em 5 de julho de 2023 
  10. Smaers, J. B.; Soligo, C. (22 de maio de 2013). «Brain reorganization, not relative brain size, primarily characterizes anthropoid brain evolution». Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences (1759). 20130269 páginas. ISSN 0962-8452. doi:10.1098/rspb.2013.0269. Consultado em 5 de julho de 2023 
  11. Herculano-Houzel, Suzana; Kaas, Jon H. (2011). «Gorilla and Orangutan Brains Conform to the Primate Cellular Scaling Rules: Implications for Human Evolution». Brain, Behavior and Evolution (1): 33–44. ISSN 0006-8977. doi:10.1159/000322729. Consultado em 5 de julho de 2023 
  12. Sliwa, J.; Freiwald, W. A. (19 de maio de 2017). «A dedicated network for social interaction processing in the primate brain». Science (6339): 745–749. ISSN 0036-8075. doi:10.1126/science.aam6383. Consultado em 5 de julho de 2023 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]


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