Cacheu (cidade)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Cacheu
Nome local
Cacheu
Geografia
País
Província
Província Norte (en)
Região
Sector
Capital de
Altitude
44 m
Coordenadas
Demografia
População
5 674 hab. ()
Gentílico
cacheuense
Funcionamento
Membro de
Geminações
Lisboa (a partir de )
Viana do Castelo (a partir de )
Mapa

Cacheu é uma cidade da Guiné-Bissau pertencente ao sector de mesmo nome, capital da região de Cacheu. Está localizada às margens do rio Cacheu, já numa região estuarina deste com o oceano Atlântico.

A história desta localidade confunde-se com a própria história da Guiné, sendo sua primeira feitoria de comércio (1588), fortificação e capital da ainda colónia portuguesa entre 1641 e 1834 e, numa segunda vez, entre 1842 e 1853.

Segundo o censo demográfico de 2009 o sector possuía uma população de 18 563 habitantes,[1] sendo que 5 674 habitantes somente na zona urbana da cidade de Cacheu, distribuídos numa área territorial de 1 004,4 km².[2][3]

Dista cerca de 100 quilómetros de Bissau.

História[editar | editar código-fonte]

Feitoria e fortaleza[editar | editar código-fonte]

O comércio português com a Guiné tornou-se regular por volta de 1490, geralmente em expedições montadas pela Casa da Guiné, ganhando força justamente no rio Cacheu, onde inicia-se o primeiro embarque de escravos para a América em 1511. Um pequeno posto de comércio estabelece-se a partir daí, no que se tornaria a futura cidade de Cacheu. O posto de comércio fica junto a aldeia de manjacos de Cacheu.[4]

Em 1567 uma armada britânica sob comando de John Hawkins bombardeia o posto de Cacheu, fazendo com que os portugueses constatassem a fragilidade daquela valiosa localidade. Assim, em 1588, ordena-se a criação de uma feitoria e a construção de uma fortaleza na vila de Cacheu, deixando tais questões aos cuidados de Manuel Lopes Cardoso.[5]

Em 1590 os manjacos revoltam-se pela primeira vez contra os portugueses, mas sem muita efetividade contra a guarnição local. Para prevenir tais conflitos, o reino português envia o padre jesuíta Manuel Álvares, em 1607, para promover a catequese dos nativos, e reforça militarmente o posto comercial em 1615 e 1624.[4]

Capital da Guiné[editar | editar código-fonte]

População de Cacheu buscando água em uma fonte nos arredores da localidade, em 1900.

Em 16 de julho de 1641 é criada a capitania de Cacheu (entidade predecessora da atual região de Cacheu), com sede na vila e feitoria de mesmo nome. Cacheu teve como primeiro capitão-mor Gonçalo Gamboa de Ayala.[5] No mesmo ano é empreendida a reforma da fortaleza de Cacheu (obras conhecidas como a 2ª fortaleza). Para todos os efeitos, neste ano Cacheu torna-se a sede da capitania e da colónia da Guiné, porém como zona dependente do Cabo Verde Português.[4]

Em 1646 ocorre a segunda revolta dos nativos de Cacheu contra o domínio português, questão que conseguiu ser dominada pelo capitão-mor.[4]

Com o intuito de mercantilizar ainda mais o comércio de escravos, em 19 de maio de 1676 é criada a Companhia de Cacheu, Rios e Comércio da Guiné, uma companhia majestática que acabou por ser extinta em 1682. Além disso, na região de Cacheu foram criados vários estabelecimentos portugueses ao longo do século XVII.[5] Neste ínterim, Cacheu sofre com seguidas revoltas ou ataques, como o de 1679 (ataque dos povos tabancas da Mata e Mompataz) e a de 1686 (revolta de Bibiana Vaz).[4]

Em 1690 é fundada uma nova companhia majestática, a Companhia de Cacheu e Cabo Verde, também voltada para o tráfico de escravos, extinta em 1706.[4]

Em 1707, com a extinção da capitania de Bissau (criada em 1692), Cacheu volta a ser o único posto administrativo colonial para toda a Guiné.[4]

Em outubro de 1825 o povo de Cacanda ataca e cerca Cacheu, realizando um novo e poderoso ataque entre 13 a 15 de dezembro do mesmo ano, ato que é considerado o ponto de enfraquecimento de Cacheu como sede colonial.[4]

Em 30 de março de 1834 pela primeira vez Bissau passa a ser a sede do governo colonial guineense, com Cacheu perdendo pela primeira vez este título, permanecendo somente como sede da capitania. Porém, já em 1842, imensos conflitos em Bissau fazem com que a capital colonial volte para Cacheu. Porém, em 1852, a localidade perde definitivamente o título de capital colonial, ainda suportando o de sede da capitania.[4]

Diversas revoltas[editar | editar código-fonte]

Em 20 de setembro de 1856 o governador colonial da Guiné Honório Barreto empreende uma expedição militar contra o povo de Cacanda, nas imediações de Cacheu, que constantemente ameaçava a povoação.[4]

Em agosto de 1861 as tabancas de Churo, Cacanda, Pecau e Mata declaram guerra à Cacheu, porém sem conseguir tomar a localidade, sendo repelidos pelas tropas portuguesas.[4]

Em 1 de dezembro de 1869 o sistema das capitanias é substituído por uma nova divisão administrativa para o que seria a partir de então a Guiné Portuguesa, ocorrendo a criação de dois distritos e quatro concelhos: Cacheu, Buba, Bissau e Bolama.[4] Os dois primeiros concelhos seriam parte do distrito de Cacheu (actual região de Cacheu; substituto da Capitania de Cacheu) e os dois últimos do distrito de Bissau (substituto da Capitania de Bissau).[6]

Em janeiro de 1871, em uma enorme revolta popular, os grumetes de Cacheu fazem uma emboscada e matam o governador colonial que estava em visita, contando com apoio de tabancas da região. As complicações foram tamanhas, que tropas da Praia (Cabo Verde) embarcaram em fevereiro daquele ano em canhoneiras e vieram para combater a tabanca de Cacanda, aliada dos grumetes. As tropas atacaram, em março, a Cacanda, além de Bassarel, Bianga e Churo. O conflito encerra-se em agosto.[4]

Residência, vila e cidade[editar | editar código-fonte]

Por intermédio de um diploma real de 1906, o território guineense foi dividido num concelho (Bolama) e seis residências: Bissau, Cacheu, Farim, Geba, Cacine e Buba.[4] A localidade continuava como capital do distrito de Cacheu, a entidade legal predecessora da actual região homónima, porém perdeu mais da metade de suas terras para a formação dos distritos de Farim (actual Oio) e Geba (actual Bafatá).[7]

Em 4 de agosto de 1913 Cacheu recebe o título de vila, recuperando assim o estatuto de conselho que havia sido perdido por diploma real seis anos antes.[4] O estatuto de vila ainda não era o mais próprio para capitais de subdivisões de primeiro nível, mas era mais adequado do que o de vilarejo.

Na década de 1960 ascende finalmente a categoria de cidade.

Geografia[editar | editar código-fonte]

A cidade de Cacheu está localizada às margens do rio Cacheu, já numa região estuarina deste com o oceano Atlântico, construída pouco acima da foz do rio Grande de São Domingos. A cidade está localizada na margem oposta ao arquipélago fluvial de São Domingos, embora que este pertença ao território do sector de São Domingos.[8]

Áreas protegidas[editar | editar código-fonte]

Defronte a cidade fica o Parque Natural dos Tarrafes do Rio Cacheu.[9]

Política[editar | editar código-fonte]

Dado sua posição como capital histórica bissau-guineense, Cacheu foi admitida como membro efetivo da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), no ano de 1989.[10]

Economia[editar | editar código-fonte]

Pontos de interesse turístico: o Forte de Cacheu e a estátua de Diogo Gomes, em 2010.

A economia local baseia-se na pesca organizada em torno do pequeno porto de Cacheu. Como a principal urbe portuária do rio Cacheu, torna-se mercado central para as produções ribeirinhas de cocos, óleo de palma e arroz. É o maior centro nacional das culturas de painço, milho (maize) e sorgo. Além disso, as terras circundantes também são usadas para criação de bovinos, ovelhas e cabras.[8][11]

Outra actividade económica importantíssima registrada na localidade é o turismo relacionado a riquíssima história e cultura cacheuense e aos atrativos naturais locais.[9]

Infraestrutura[editar | editar código-fonte]

Transportes[editar | editar código-fonte]

Cacheu é conectada ao território nacional pela Estrada Regional nº 1 (R1), que a liga à Canchungo, ao sul, continuando até Bula, ao sudeste. Além da R1, Cacheu também liga-se pela Estrada Local nº 5 (L5) à vila-secção de Biongo, ao oeste.[12]

Cacheu também possui um pequeno porto fluvial especializado em embarque e desembarque de mariscos e pescados.

Comunicações[editar | editar código-fonte]

Entre as operadoras de rádio, há transmissões da Rádio Voz do Rio Cacheu e da Radiodifusão Nacional da Guiné-Bissau. Os serviços postais, de encomendas e de cargas da cidade e do sector são geridos pelos Correios da Guiné-Bissau.[13]

Educação[editar | editar código-fonte]

A cidade possui um campus-polo da Escola Normal Superior Tchico Té (ENSTT). A ENSTT oferta basicamente licenciaturas.[14]

Cultura e lazer[editar | editar código-fonte]

Padrão da Rotunda do Porto, em 2019.

Com uma riquíssima e importante história, o centro da cidade é marcado por edifícios de origem colonial portuguesa que retrata os vários estágios por qual Cacheu passou.

Dentre as construções de maior importância da cidade está o Memorial da Escravatura e do Tráfico Negreiro em Cacheu, que tem como objetivo resgatar a memória histórica da escravatura naquela região, bem como as suas relações com os circuitos e os destinos do tráfico negreiro.[15]

Além desde museu/memorial, existe:

Referências

  1. «Guinea Bissau Census Data, 2009 - Série Temporal de População Total Residente - Sector de Cacheu». Instituto Nacional de Estatística. 15 de janeiro de 2016. Consultado em 19 de outubro de 2020 
  2. Estudo: Guiné-Bissau. Lisboa: ANEME, 2018.
  3. «Boletim Estatístico da Guiné-Bissau: Guiné-Bissau em Números 2015» (PDF). Instituto Nacional de Estatística. 2015 
  4. a b c d e f g h i j k l m n o Gomes, Américo. (2012). «História da Guiné-Bissau em datas.» (PDF). Lisboa 
  5. a b c Pedro Dias (2008). Arte de Portugal no Mundo / África Ocidental. 4. [S.l.]: Público - Comunicação Social, SA. p. 30. ISBN 978-989-619-142-9 
  6. «Colonização da Guiné: 1837-1844». Blog História da Guiné - Descoberta Colonização e Guerras. 27 de abril de 2016 
  7. Mendy, Peter Karibe.; Lobban Jr., Richard A.. (1 de outubro de 2013). Historical Dictionary of the Republic of Guinea-Bissau 4 ed. Plymouth: Scarecrow Press 
  8. a b The Editors of Encyclopaedia Britannica (31 de outubro de 2008). «Cacheu». Encyclopædia Britannica. Consultado em 17 de outubro de 2020 
  9. a b Parque Natural do Rio Cacheu: Uma Guiné-Bissau desconhecida. Deutsche Welle. 24 de setembro de 2018.
  10. Cacheu. UCCLA. [s/d].
  11. Benzinho, Joana; Rosa, Marta (2018). Guia Turístico - À Descoberta da Guiné-Bissau. Coimbra: Afectos com Letras, UE. 16 páginas
  12. Mapa Rodoviário da Guiné-Bissau. Direcção Nacional de Estradas e Pontes. Outubro de 2018.
  13. Lopes, António Soares. (Agosto de 2015). Os media na Guiné-Bissau (PDF). Bissau: Europress / Edições Corubal 
  14. Onde Estamos: Guiné-Bissau. Instituto Camões. 2020.
  15. Barreto, A.; Santos, F.. Memoriais culturais e históricos como promotores do desenvolvimento: os memoriais de Guiledje e Cacheu na Guiné-Bissau, in: African Dynamics in a Multipolar World. 5th European Conference on African Studies / Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL). 2014.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]