Castro de São Lourenço

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Castro de São Lourenço: vista do caminho de acesso à capela com grupos de casas reconstruídas
Castro de São Lourenço: setor T com núcleo de 3 casas reconstruídas
Castro de São Lourenço: vista de cima do setor CV
Castro de São Lourenço: casa do tipo "caranguejo", no setor C
Castro de São Lourenço: setor C, com casa recuperadas em ruínas, tal como há 2000 anos
Castro de São Lourenço: setor T, com caminho lajeado entre as casas
Castro de São Lourenço: setor T
Castro de São Lourenço: setor T

O Castro de São Lourenço localiza-se no monte do mesmo nome, na freguesia de Vila Chã, município de Esposende, distrito de Braga, em Portugal.[1]

Situa-se a uma altura de 200 metros acima do nível do mar, num dos esporões graníticos da arriba fóssil que se estende desde o Monte Faro (Palmeira de Faro) até São Paio de Antas (Esposende).

Encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto 1/86, publicado no DR nº 2, de 3 de janeiro de 1986.[1]

As escavações[editar | editar código-fonte]

Neste castro existem zonas que foram ocupadas em épocas diferentes e de formas diferentes. Por esse motivo os arqueólogos dividiram-no em sectores, unicamente por uma questão de melhor se compreender as suas diferenças.

As intervenções arqueológicas, ocorrem até à actualidade, tendo sido iniciadas em 1985. São orientadas pelo Professor Doutor Carlos Alberto Brochado de Almeida, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com a colaboração de jovens voluntários oriundos de escolas do concelho de Esposende e de diversas universidades portuguesas e europeias. A Câmara, intervém com o apoio logístico, através do seu Pelouro da Cultura[2].

Os setores[editar | editar código-fonte]

As intervenções ocorrem um pouco por todo o monte de São Lourenço e dividem-se por setores: A, C, CV, D, E, N, M1, M2 e T[2].

Setor C[editar | editar código-fonte]

O setor C (caminho de acesso à capela), terá sido habitado entre o século III-II a. C. Ou até ao quarto século da nossa Era. As casas são circulares ou sub-rectangulares, tendo sido algumas paredes, no seu interior, rebocadas e pintadas a branco ou amarelo e apresentavam um rodapé a cinzento. O chão era coberto com saibro bem amassado e bem calcado. As casas circulares tinham o tecto em forma cónica, cobertas por elementos vegetais, enquanto que as outras mais alongadas tinham o tecto formado por uma ou duas águas. No centro de cada casa acendia-se o lume ou fogueira assim como estava a poste que sustentava o telhado, que sendo de palha era preso por placas de xisto [3].

Na época da romanização, começou a ser utilizado no telhado a tégula e o ímbrice (telha), que vieram substituir a cobertura vegetal até aí utilizada.

Com a necessidade de aumentar o espaço de cada casa, os seus habitantes começaram a acrescentar-lhe uma espécie de vestíbulo, que os arqueólogos chamam de "caranguejo", pela forma como é aparente. Com a necessidade de separação de famílias que viviam em casas contíguas, foram construídos muros que os separavam as casa em núcleos habitacionais. Entre as diversas casas da mesma família, o chão entre as casas poderia ser coberto por lajes e era utilizado para secagem de cereais ou frutos, além de proporcionarem uma melhor comodidade, formando ruas estreitas.

Setor CV[editar | editar código-fonte]

O Setor CV (caminho velho), já mais perto da actual capela de São Lourenço mas ainda na encosta Norte, apresenta as casas em patamares de cotas diferentes, sendo esses patamares suportados por muros de sustentação. Neste sector foram restauradas algumas casas para que mais facilmente seja possível idealizar a forma original, como se formava um núcleo familiar naqueles tempos idos. As casas restauradas correspondem a casas da época da mudança de era. (do século I a. C. para o I d. C.)

Setor D[editar | editar código-fonte]

Quanto ao setor D, este situa-se à entrada do castro, no início do caminho de acesso à capela. Ali se encontra a muralha castreja e romana, que posteriormente foi reformulada, em época medieval para a protecção das gentes que habitavam o castro.

Setores E e A[editar | editar código-fonte]

O setor E (escadório) e o Setor A (acrópole), um no lado Norte e o outro no lado Sul da escadaria que dá acesso à capela, apresentam vestígios de ocupação por casas circulares. Estes locais terão sido ocupados já não na época castreja por habitantes que utilizariam o cume deste monte, para observarem a costa litoral e a foz do rio Cávado, assim como para se defenderem, em épocas posteriores, de ataques dos Viquingues e mouros que por diversas vezes assolaram a região.

É de notar que deste local é possível observar quilómetros e quilómetros da costa marítima. (foi por esta razão que nos séculos XII e XIII se construiu uma muralha em pedra neste monte que serviu como uma espécie de "castelo").

Setor T[editar | editar código-fonte]

O Setor T (tesouro) foi um dos mais escavados. Este, encontra-se no pequeno vale que dá acesso à antiga pedreira, que se encontra a meio da encosta, cujo caminho de acesso a este acabou por destruir uma parte deste sector. Aqui, foram encontradas cerâmicas de diversas épocas e contextos culturais, sendo que as peças de maior destaque são as cerâmicas gregas, do século IV a.C.encontrada no sector T. Ainda aqui, foi encontrado um conjunto importante de moedas romanas em prata (denários), pertencentes à época de Augusto e de Tibério.

Setores M1 e M2[editar | editar código-fonte]

Os setores M1 e M2 (mar), encontram-se a meio da encosta e são formados por dois núcleos habitacionais formados por casas circulares e sub-rectangulares, com lajeado a cobrir o caminho entre as habitações. Aqui foi encontrado outro tesouro de moedas, pertencentes à época da República Romana.

O material encontrado[editar | editar código-fonte]

Os materiais mais antigos encontrados até ao presente, que se tenha conhecimento datam do Calcolítico, a atestar a presença de alguns fragmentos de vasos (recipientes abertos) com decoração incisa metopada, do tipo "Penha"[4].

O material arqueológico exumado nas diversas intervenções arqueológicas ocorridas encontra-se sob a guarda dos Serviços de Arqueologia da Câmara Municipal de Esposende, estando o mais significativo exposto no Museu Municipal de Esposende, na cidade de Esposende.

Dentre esse material, pode-se encontrar milhares de fragmentos de cerâmicas indígenas, sendo muitos deles ricamente decorados, cerâmicas romanas, de produção local e importadas, nomeadamente as terra sigillatas e as famosas ânforas, dentre as mais importantes as famosas ânforas Haltern 70 vindas dos mais longínquos locais do Império Romano.

Vidros, moedas e utensílios (pontas de lança, foices, facas, badalos, etc) usados nas diversas actividades, em ferro e bronze, assim como fíbulas (fivelas) e alfinetes (Actuss) de cabelo, estão patentes nas diversas vitrines do Museu Municipal de Esposende, onde este material está exposto[2].

Ver também[editar | editar código-fonte]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • ALMEIDA, Carlos A. Brochado de, O castro de São Lourenço Vila Chã (Esposende), Actas da Conferência Internacional do Seminário Cultura castreja: accións e estratexias para o seu aproveitamento socio-cultural, Ed. Xunta de Galicia, 2006. p. 67-93 PDF;
  • ALMEIDA, Carlos A. Brochado de, A exploração do sal na costa portuguesa a Norte do Rio Ave, in Da Antiguidade Clássica à Baixa Idade Média, Actas do I Seminário Internacional sobre o sal português, Instituto de História Moderna da Universidade do Porto, Porto, 2005, p. 137-170 PDF;
  • ALMEIDA, Carlos A. Brochado, Povoamento Romano do Litoral Minhoto entre o Cávado e o Minho - Esposende, Inventário Arqueológico correspondente ao volume IV da tese de Doutoramento defendida pelo autor na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em 22 de Outubro de 1997, Boletim cultural de Esposende, vol. 20, Câmara Municipal de Esposende, Esposende, 1998;
  • ALMEIDA, Carlos A. Brochado e CUNHA, Rui M. Cavalheiro da, O Castro de S. Lourenço. Vila Chã–Esposende, Ed. Câmara Municipal de Esposende, Esposende, 1997. PDF;
  • ALMEIDA, Carlos Alberto Brochado de e NEIVA, Manuel Albino Penteado, O Castro de S.Lourenço Vila Chä-Esposende, Boletim Cultural de Esposende, Vol. 2, Câmara Municipal de Esposende, Esposende, 1982.
  • BETTENCOURT, Ana, et alii, O povoamento do Calcolítico do alvéolo de Vila Chã, Esposende (Norte de Portugal) Notas a propósito das escavações arqueológicas de Bitarandos, rev. Portugália, ed. Departamento de Ciências e Técnicas do Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (DCTP-FLUP), Porto, Nova Série, vol. XXIV, 2003. pp. 25–44 PDF.
  • COIMBRA, Fernando Augusto, Arte rupestre do Concelho de Barcelos (Portugal), Subsídios para o seu estudo , Anuario Brigantino 2004, nº 27, p. 58.

Referências

  1. a b Ficha na base de dados SIPA/DGPC
  2. a b c ALMEIDA, Carlos A. Brochado e CUNHA, Rui M. Cavalheiro da, O Castro de S. Lourenço. Vila Chã–Esposende, Ed. Câmara Municipal de Esposende, Esposende, 1997
  3. ALMEIDA, Carlos A. Brochado de,O castro de São Lourenço Vila Chã (Esposende), Actas da Conferência Internacional do Seminário Cultura castrexa: accións e estratexias para o seu aproveitamento socio-cultural, Ed. Xunta de Galicia, 2006. p. 67-93
  4. BETTENCOURT, Ana, et alii, O povoamento do Calcolítico do alvéolo de Vila Chã, Esposende (Norte de Portugal) Notas a propósito das escavações arqueológicas de Bitarandos, rev. Portugália, ed. Departamento de Ciências e Técnicas do Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (DCTP-FLUP), Porto, Nova Série, vol. XXIV, 2003. p 35

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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