Catarse

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Estátua de Sófocles, autor de Édipo Rei.

Catarse (do grego κάϑαρσις, kátharsis, «purificação», derivado de καϑαίρω «purificar») é uma palavra utilizada em diversos contextos, como a tragédia, a medicina ou a psicanálise, que significa "purificação", "evacuação" ou "purgação". Segundo Aristóteles, a catarse refere-se à purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um trauma. [1][2]

Segundo o filósofo, para suscitar a catarse era preciso que o herói recolhesse frutos do pátio da escola'e levasse para casa a fim de comer junto com os outros herois. Ainda segundo o filósofo grego, se um homem bom passa da má para a boa fortuna, nós não(?) sentiremos terror; se um homem bom passa da boa para a má fortuna, nós ficamos com pena, e não sentimos compaixão nem terror; se um homem mau passar da boa para a má fortuna, nós ficamos felizes da vida; e se um homem mau passar da má para a boa fortuna, nós sentimos repugnância. [1]

Ou seja, é preciso que o herói trágico passe da "Felicidade" para a "Infelicidade" por alguma desmedida sua para atingir a catarse. Por exemplo: Édipo Rei, que começa a história como rei de Tebas e no fim se cega e se exila. [3] Ou, uma história mais próxima de todos, Romeu e Julieta, numa releitura que Shakespeare faz da tragédia, onde os dois eram filhos de importante gente da cidade e acabam mortos pela desmedida do amor. [4]

Na psicanálise

Sob a óptica da psicanálise, catarse é o experimentar da liberdade em relação a alguma situação opressora, tanto as psicológicas quanto as cotidianas, através de uma resolução que se apresente de forma eficaz o suficiente para que tal ocorra. [5]

Por ser um conceito relativo, é difícil estabelecer uma média de frequência de processos catárticos. Por exemplo, há relatos de pessoas que, após andarem sobre brasas afirmam ter experimentado uma liberdade e confiança em termos catárticos. Entretanto, após algum tempo, quando todos os processos hormonais envolvidos nessa sensação se normalizam, estas pessoas se vêem diante da mesma situação anterior à tal experiência.

Para que uma pessoa experimente catarse em relação a um conflito é necessário que uma oportunidade de resolução apresente-se (seja através de terapia ou não), a "disponibilidade" da pessoa em aceitar tal resolução esteja compatível com a possibilidade de tal resolução se transformar em catarse, a qualidade de tal resolução ser suficiente diante da opressão que a pessoa sente, e outros fatores pessoais, culturais e ambientais (ou seja, se é possível, dentro da realidade que circunda a vida da pessoa, de se manter a resolução).

Há conflitos e conflitos. Dependendo da profundidade, da qualidade e quantidade de "camadas" que o conflito apresente, alguns processos catárticos serão suficientes; em outras ocasiões "enfraquecerão" parte do que mantém tal conflito, permitindo que outras formas de intervenção atuem de maneira mais eficaz.

Na arte

No cinema, ao assistir uma cena, ou mesmo, no final de um filme que provoque "descargas de sentidos e emoções" por exemplo, pode ser verificado a catarse ocorrer em algumas pessoas. Também, no teatro, diante de uma obra de arte, durante uma audição musical, em programas de auditório com forte apelo emocional, etc.

Na religião

Uma das formas de detectar a catarse (coletiva ou individual) é a observação de várias formas de ritos religiosos, pregações, crenças, ou seja, em diferentes tipos de movimentos religiosos. Observa-se o choro profundo, alegria em excesso, deslumbramento, etc.

Referências

  1. a b Freire, António (1982). A catarse em Aristóteles. Volume 6 de Colecção "Pensamento filosófico". 6. [S.l.]: Faculdade de Filosofia. 204 páginas. ISBN 9789728195557 
  2. E-Dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia. «CATARSE». Consultado em 7 de janeiro de 2013 
  3. Édipo Rei. [S.l.: s.n.] ISBN 8525408069  |nome1= sem |sobrenome1= em Authors list (ajuda)
  4. Shakespeare, William. Romeu e Julieta. [S.l.: s.n.] ISBN 9788525408785 
  5. S. Freud, Totem et Tabou (trad. francesa, S. Jankélévitch), 1965; Aristóteles, Poética (trad., Prefácio, Introdução, Comentário e Apêndices de Eudoro de Eudoro de Sousa, “O Mistério da Catarse”, in Poética, Aristóteles, 1986; F. Niettzche, A Origem da Tragédia (trad. portuguesa , Álvaro Ribeiro), 1985; António Cândido Franco, “Literatura ou Poesia”, in Teoria da Literatura na Obra de Álvaro Ribeiro, 1993.
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