Charles Tilly

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CharlesTilly
Nascimento 27 de maio de 1929
Lombard, Illinois, EUA
Morte 29 de abril de 2008 (78 anos)
Nova Iorque, Nova Iorque, EUA
Nacionalidade norte-americano
Ocupação Sociólogo, cientista político, historiador

Charles Tilly (Lombard, 27 de maio de 1929 – Nova Iorque, 29 de abril de 2008) foi um sociólogo, cientista político e historiador norte-americano.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Charles Tilly nasceu em Lombard, cidade próxima a Chicago, e cresceu durante a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, fatos que marcaram a sua personalidade. Fez seus estudos na Universidade Harvard, no Departamento de Relações Sociais, e na Univesidade de Oxford, Balliol College. Graduou-se em 1950, e obteve seu Doutorado/Ph.D, em 1958, em Harvard.[1]

Seu irmão Richard H. Tilly e sua esposa Louise A. Tilly também são historiadores. Tilly faleceu vítima de um linfoma, num hospital no Bronx, em Nova Iorque, no ano de 2008.[1]

Carreira[editar | editar código-fonte]

Atuou na Universidade de Delaware, na Universidade Harvard, na Universidade de Toronto, na Universidade de Michigan, de 1969 a 1984, e na Universidade Columbia, onde foi professor de ciências sociais, último posto acadêmico que ocupou. Tilly também teve um passagem pela Escola de Annales em França.[1]

Em Harvard, sua formação acadêmica foi influenciada por Barrington Moore, Pitirim Sorokin, Samuel Beer e George Caspar Homans. Com ênfase na sociologia histórica e na sociologia política. Tilly foi professor-assistente de Pitirim Sorokin. [2]

Escreveu inúmeros livros sobre as relações entre política, economia e sociedade. Sua produção intelectual foi impressionante, publicou mais de 50 livros e 600 artigos. Considerado o fundador da sociologia do século XXI, e um dos sociólogos e historiadores mais importantes da atualidade.

Pensamento[editar | editar código-fonte]

Tilly escreveu muito sobre uma grande variedade de temas, como por exemplo : confronto político, movimentos sociais, história do trabalho, macro processos históricos, formação dos Estados nacionais, desigualdade social, teoria do desenvolvimento, método comparativo, institucionalismo, a guerra, revolução, democratização, violência coletiva, desigualdade social, sociologia urbana, e é um precursor dos métodos quantitativos em análise histórica. Temas desenvolvidos em importantes obras como : From mobilization to revolution, 1978; The politics of collective violence, 2003, Contention and democracy in Europe, 1650-2000, 2004; Social movements, 1768-2004, 2004); The contentious French, 1986; European revolutions, 1992; Coercion, capital, and European States, A.D. 990-1990, de 1990; As sociology meets history, 1981; e Big structures, large processes, huge comparisons, 1985).[3]

Seus primeiros estudos foram sobre imigração e sociologia urbana dos Estados Unidos. O relacionamento e a complementação entre grupos sociais.

A obra de Charles Tilly, seus trabalhos sobre movimentos sociais, nos anos 1970, foi um marco, ela combateu teorias economicistas e psicologizantes, explicando, internamente, ao campo político, o processo de mobilização coletiva. Tilly apresenta a lógica dos confrontos políticos e modo como se relacionam com o contexto político, social e econômico. O relacionamento complexo dos elementos culturais com os processos políticos.

Seu estudo histórico comparativo sobre a ação coletiva, tem como referência os séculos XVIII e XIX, Tilly demonstra que cada época tem um repertório diferente e uma forma de organização que torna o movimento mais ou menos eficiente. Na perspectiva da sua sociologia do conflito, Tilly foi um crítico do individualismo metodológico, da microssociologia e da Teoria da Escolha Racional. [4] [5]

O "repertório" não é propriedade exclusiva de um dado grupo, mas uma estrutura compartilhada de conflito. Ele pode ser mais ou menos limitado, segundo cada estrutura histórica de conflito. O confronto é entendido como estruturante.

Não se pode recorrer a um esquema de atores lançando mão de meios para o alcance de fins específicos, ou seja, o emprego de um repertório dado de meios, como propõe a Teoria da Escolha Racional.

O conceito de "repertório" trata de interações, relações, entre grandes grupos de atores, e não ações isoladas. O conceito é relacional, uma interação entre várias partes. O "repertório" é estrutural e estruturante, engloba formas de pensar, desejos, valores e crenças e sua transformação. É, portanto, um conhecimento social sedimentado, composto por memórias e acordos compartilhados. Implica padrões e suas variações, o repertório delimita as possibilidades da rotina, como uma língua que varia nas falas e dialetos, ou na desempenho individual.

O conceito de "repertório" é utilizado para explicar a ação coletiva, o limitado leque de opções no confronto político, em determinados períodos históricos, dentro de processos culturais de longa duração e de suas correspondentes transformações sociais.

Tilly chegou ao conceito de "repertório", a partir da teoria interacionista de E. Goffman e do conceito de "mentalidade" da Escola de Annales, extraindo elementos das duas correntes, constituindo, assim, a sua metodologia de pesquisa e estudo da "política contenciosa".[6]

Formação do Estado nacional

Charles Tilly é muito conhecido por suas análises de grandes processos de transformação histórica como a formação dos estados nacionais europeus. Ele esforça-se por explicar como essa entidade política se tornou dominante em relação às organizações políticas anteriores. A formação dos Estados nacionais exigiu um elevado nível de coerção e de capital. A partir da Idade Média, o alto nível de coerção e capital fizeram o Estado nação preponderar sobre reinos menores e organizações do tipo cidade-estado, que passaram a ter duas opções : desaparecer ou seguir o modelo dos estados nacionais. A montagem de uma poderosa máquina de guerra foi fundamental nesse processo. A organizações pré-estatais diferenciavam-se pela quantidade de capital e pela capacidade de coerção sobre seus territórios. Veneza, por exemplo, usava o seu vasto capital para comprar os serviços de defesa militar, grupos mercenários, a Espanha, por sua vez, tinha como característica a extração intensa do capital escasso de sua população e a intensa coerção; portanto segurança e esforço de guerra explicam o rumo do processo histórico. Os governos sem máquina militar pujante padeceram diante de seus rivais. As diferenças de tamanho foram um fator determinante da supremacia da Espanha e França sobre os pequenos Estados italianos. O fator econômico isolado não necessariamente tem o poder explicativo de maior importância.

Não há modelo padrão, teleologia, esquemas simplificados de explicação, o autor mergulha na riqueza da história para entender a formação dos modernos estados nacionais. O autor desce a uma análise histórica detalhada e elenca outros fatores importantes na formação dos estados nacionais como as navegações, o comércio de longa distância, a necessidade de mercados integrados do capitalismo comercial, a luta da burguesia contra os poderes da nobreza feudal, despesas com veteranos de guerra, entendidos à luz da sua perspectiva teórica. (Cfr. Coerção, Capital e Estados europeus, AD 990- 1992) [3]

O esforço de guerra e a consequente necessidade de aumento da arrecadação para a formação de grandes exércitos seriam, também, os fatores responsáveis pelo surgimento do governo direto, ou da centralização administrativa, com a adoção de um sistema tributário único, sem interferência dos poderes locais. Tilly nega que os soberanos europeus tenham optado por um modelo de organização do Estado, e se esforçado para implementá-lo. A obtenção de recursos é missão difícil, implica concessões para as classes privilegiadas e poderes locais, como intervenções do Estado e serviços públicos, elementos fundamentais da barganha. As concessões para a extração de recursos, com o objetivo de dar conta do desafio imposto pelo imperativo dos padrões bélicos vigentes, explicaria o surgimento de várias instituições modernas.

Inglaterra e França, com sua combinação de coerção e capitais, não são padrões, formas ideais, ou modelos típicos de desenvolvimento, mas organizações que se tornaram dominantes, em decorrência das contingências históricas, ou do tipo de confronto bélico comum, e das respostas possíveis oferecidas pelas nações envolvidas, a partir de um dado momento. A República de Veneza possuía vasto capital e contratava serviços militares e assim viveu por muito tempo. Na Rússia, um acordo entre príncipes beligerantes permitiu uma coerção extensa e baixa capitalização do Estado, com base na exploração das atividades agrárias. (Cfr. Coerção, Capital e Estados europeus, AD 990- 1992) [3]

Charles Tilly, em Democracy, 2007, classifica os estados nacionais, num gráfico cartesiano, entre os de mais baixa capacidade e menos democráticos e os de maior capacidade e altamente democráticos, como também de alta capacidade e não democráticos e baixa capacidade e democráticos. A democracia é um conjunto de relações entre Estado e cidadãos que envolvem elementos como "extensão", ou seja, qual a quantidade dos grupos que podem apresentar demandas ao Estado, "igualdade", ou qual a disparidade de probabilidade dessas demandas se transformarem em ações do Estado, "proteção", quais a liberdades respeitadas pelo Estado nessa relação e, finalmente, os compromissos mútuos assumidos [7]

Premiações[editar | editar código-fonte]

  • Common Wealth Award in sociology, 1982
  • The Amalfi Prize for Sociology and Social Sciences, 1994 (por sua obra European Revolutions, 1942-1992, escrito em 1993)
  • The Eastern Sociological Society's Merit Award for Distinguished Scholarship, 1996
  • The American Sociological Association's Career of Distinguished Scholarship Award, 2005
  • The International Political Science Association's Karl Deutsch Award in Comparative Politics, 2006
  • The Phi Beta Kappa Sidney Hook Memorial Award, 2006
  • The Social Science Research Council's Albert O. Hirschman Award, 2008.

Homenagens[editar | editar código-fonte]

Charles Tilly recebeu o título de Doutor Honoris Causa das seguintes universidades :

  • Universidade Erasmo de Roterdã, 1983
  • Instituto de Estudos Políticos da Universidade de Paris, 1993
  • Universidade de Toronto, 1995
  • Universidade de Estrasburgo, 1996
  • Universidade de Genebra, 1999
  • Universidade de Creta, 2002
  • Universidade de Quebec, Montreal, 2004
  • Universidade de Michigan, 2007

Obras[editar | editar código-fonte]

  • The Vendée: A Sociological Analysis of the Counter- revolution of 1793. (1964)
  • "Clio and Minerva." pp. 433–66 in Theoretical Sociology, edited by John McKinney and Edward Tiryakian. (1970)
  • "Collective Violence in European Perspective." pp. 4–45 in Violence in America, edited by Hugh Graham and Tedd Gurr. (1969)
  • "Do Communities Act?" Sociological Inquiry 43: 209-40. (1973)
  • An Urban World. (ed.) (1974).
  • The Formation of National States in Western Europe (ed.) (1974)
  • From Mobilization to Revolution (1978)
  • As Sociology Meets History (1981)
  • Big Structures, Large Processes, Huge Comparisons (1984)
  • The Contentious French (1986)
  • Coerción, Capital, and European States, AD 990-1992 (1990)
  • European Revolutions, 1492–1992 (1993)
  • Cities and the Rise of States in Europe, A.D. 1000 to 1800 (1994)
  • Roads from Past to Future (1997)
  • Work Under Capitalism (with Chris Tilly, 1998)
  • Durable Inequality (1998)
  • Transforming Post-Communist Political Economies (1998)
  • Dynamics of Contention (with Doug McAdam and Sidney Tarrow) (2001)
  • Contention & Democracy in Europe, 1650-2000 (2004)
  • Social Movements, 1768-2004 (2004)
  • From Contentions to Democracy (2005)
  • Identities, Boundaries, and Social Ties (2005)
  • Trust and Rule (2005)
  • Why? (2006)
  • Oxford Handbook of Contextual Political Analysis (2006)
  • Contentious Politics (with Sidney Tarrow) (2006)
  • Regimes and Repertoires (2006)
  • Democracy (2007)

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligação externa[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c Entrevista com Charles Tilly, Angela Alonso; Nadya Araujo Guimarães
  2. Entrevista com Charles Tilly, por Angela Alonso; Nadya Araujo Guimarães
  3. a b c Revista de Estudos Políticos Resenha de Coerção, Capital e Estados europeus, AD 990- 1992, Charles Tilly por Bernardo Bianchi Barata Ribeiro
  4. USP Repertório, segundo Charles Tilly por Alonso e Angela
  5. História, UFG Diálogo : Edward Thompson e Charles Tilly, por P João Alfredo Costa de Campos Melo Júnior Revista de Teoria da História Ano 2, Número 4, dezembro
  6. USP Repertório, segundo Charles Tilly por Alonso e Angela, página 22 e página 25
  7. Periódicos UNB Resenha: Democracy, Charles Tilly Cambridge: Cambridge University Press, 2007. Antonio Lassance