Mumadona Dias

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Mumadona Dias
Condessa
Mumadona Dias
Estátua de Mumadona em Guimarães
Condessa de Portugal
Reinado c.943-950
Antecessor(a) Mendo Gonçalves I
Sucessor(a) Gonçalo Mendes I
 
Nascimento Antes de 926
Morte Depois de dezembro de 968
Cônjuge Mendo Gonçalves I
Descendência Gonçalo Mendes, conde de Portucale
Diogo Mendes
Ramiro Mendes
Onega Mendes
Nuno Mendes
Arias Mendes
Pai Diogo Fernandes
Mãe Onega
Religião Catolicismo romano

Mumadona Dias (em castelhano: Muniadona Díaz; m. depois de dezembro 968[a]) foi condessa do Condado Portucalense e a mulher mais poderosa do seu tempo no noroeste da Península Ibérica.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Filha do conde Diogo Fernandes e da condessa Onega ou Onecca,[1][2][b] possivelmente tia do rei Ramiro II de Leão, foi uma célebre e rica mulher, a mais poderosa no Noroeste da Península Ibérica, é reconhecida por várias cidades portuguesas devido ao seu registo e acção.

Mumadona casou entre 915 e 920 e antes de 23 de fevereiro de 926 — alturam em que aparecem juntos pela primeira vez[3][4][5][c] — com o conde Hermenegildo Gonçalves, passando, porém, a governar o condado sozinha após o falecimento do seu esposo entre 943 (quando o conde aparece pela última vez) e 950, o ano quando Mumadona, já viúva, fez a partilha com seus filhos dos bens herdados.[6][7] O conde Hermenegildo deixou-a na posse de inúmeros domínios, numa área que coincidia sensivelmente com zonas que integrariam os posteriores condados de Portucale e de Coimbra.

Entre a segunda metade de 950 e começo de 951, por inspiração piedosa, fundou, na sua herdade de Vimaranes, um mosteiro sob a invocação de São Mamede (Mosteiro de São Mamede ou Mosteiro de Guimarães),[8] onde, mais tarde, professou. Pouco depois de 959, para a proteção desse mosteiro e das suas gentes contra as incursões dos normandos, determinou a construção do Castelo de Guimarães, também chamado Castelo de São Mamede,[9][10] à sombra do qual se desenvolveu o burgo de Guimarães, vindo a ser sede da corte dos condes de Portucale.

O documento testamentário no qual faz a doação de seus domínios, gado, rendas, objetos de culto e livros religiosos ao mosteiro de Guimarães, datado de 26 de janeiro de 959,[8] é importante por testemunhar a existência de diversos castelos e povoações na região.[11] Devido às "incursões dos infiéis, que haviam assolado as proximidades do cenóbio",[10] no codicílio com data de 4 de dezembro de 968, entregou o castelo ao mosteiro.[9][12]

Apesar de não ser a fundadora da Póvoa de Varzim (Villa Euracini) e de Vila do Conde (Villa de Comite), o seu registo é pioneiro ao incluir pela primeira vez essas villas. Os topónimos de Aveiro (Suis terras in Alauario et Salinas) e de Felgueiras (In Felgaria Rubeans villa de Mauri) também aparecem no documento testamentário de Mumadona Dias como o primeiro a fazer referência escrita a essas terras.

Descendência[editar | editar código-fonte]

  • Gonçalo Mendes,[1] conde e dux magnus de Portucale, casado com Ilduara Pais, filha de Paio Gonçalves, conde em Deza, e de Ermesinda Guterres.
  • Diogo Mendes (morto depois de 968), casou-se com Aldonça e foi o pai de Mumadona Dias, freira no mosteiro fundado por sua mãe.[13]
  • Ramiro Mendes (ca. 925[3] — ca. 961[14]), casou com Adosinda Guterres, filha do conde Guterre Mendes e da condessa Ilduara Ériz.[14] Provavelmente foram os pais da rainha Velasquita Ramires, a primeira esposa do rei Vermudo II.[15][16]
  • Onecca Mendes, casou antes de 26 de Janeiro de 959 com Guterre Rodrigues.[3]
  • Nuno Mendes, morreu entre 951 e 959, pois ainda estava vivo em 950, aquando da repartição feita dos bens de seu pai. Já havia morrido por 959, quando sua mãe fez a dotação do Mosteiro de São Mamede e refere-se a seu dulcissimus mihi pignus Nunnus.[17]
  • Arias Mendes (morto depois de 964).[18]

Notas[editar | editar código-fonte]

Castelo de Guimarães construído por Mumadona
[a] ^ O historiador Mario Cardozo comenta que Mumadona ainda vivia em setembro de 992 quando Mummadomna prolix didaci (Mumadona filha de Diogo) recebeu uma doação de bens em Barreiros e Soutelo.[5][19] No entanto, a destinatária da doação foi sua neta homónima, filha de Diogo Mendes, que foi freira no Mosteiro de Guimarães.[13]
[b] ^ Possivelmente Onega foi membro da família real de Pamplona devido à origem de seu nome e o nome de seu filho Jimeno e outros descendentes.[20] Poderia ser a filha de Leodegúndia, provável filha do rei Ordonho I que casou com um infante ou nobre do Reino de Pamplona.[21][22] Onecca aparece em Dezembro de 928 no Mosteiro de Lorvão com seus quatro filhos, Munia, Ledegundia, Ximeno e Mummadomna fazendo uma doação por Veremudo dive memorie, referindo-se ao infante Vermudo Ordonhes, filho do rei Ordonho I e provavelmente irmão de Leodegúndia, portanto, tio de Onecca.[23] Este documento é também confirmado pelo conde Hermenegildo Gonçalves, o esposo de sua filha Mumadona, e Rodrigo Tedoniz, provavelmente o esposo de sua filha Leodegúndia.
[c] ^ Em 926, o rei Ramiro II doou aos condes Hermenegildo e Mumadona a vila de Creximir perto de Guimarães.[24]

Referências

  1. a b Mattoso 1970, p. 36.
  2. Sáez 1947, p. 66.
  3. a b c García Álvarez 1960, p. 218, n. 74.
  4. Mattoso 1981, p. 139.
  5. a b Cardozo 1967, p. 284.
  6. Cardozo 1967, p. 285.
  7. Herculano 1868, p. 35, doc. LXI.
  8. a b Cardozo 1967, p. 281.
  9. a b Cardozo 1967, p. 281, 296.
  10. a b Amaral 2009, p. 121.
  11. Herculano 1868, p. 44–48 doc. LXXVI.
  12. Herculano 1868, p. 61 doc. XCVII.
  13. a b Mattoso 1981, p. 140–141.
  14. a b Mattoso 1981, p. 141–142.
  15. García Álvarez 1960, p. 211.
  16. Sánchez Candeira 1950, p. 461.
  17. Cardozo 1967, p. 287.
  18. Mattoso 1981, p. 143.
  19. Herculano 1868, p. 102 doc. CLXVI.
  20. Torres Sevilla-Quiñones de León 1999, p. 310.
  21. Cardozo 1963, p. 383.
  22. Sáez 1947, p. 62.
  23. Sáez 1947, p. 108.
  24. Herculano 1868, p. 20, doc. XXXI.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]


Precedido por
Lucídio Vimaranes
Condessa de Portucale
c. 943/950 - c. 968
(depois da morte de Hermenegildo Gonçalves)
Sucedido por
Gonçalo Mendes