Étienne Bonnot de Condillac

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Étienne Bonnot de Condillac
Étienne Bonnot de Condillac
Nascimento 30 de setembro de 1714
Grenoble (Reino da França)
Morte 3 de agosto de 1780 (65 anos)
Beaugency (Reino da França)
Cidadania França
Ocupação filósofo, economista, psicólogo, Enciclopedistas, padre, escritor, teólogo
Religião Igreja Católica

Étienne Bonnot de Condillac (Grenoble, 30 de setembro de 1714Beaugency, 3 de agosto de 1780) foi um filósofo francês, e o maior expoente de uma teoria radicalmente empirista do funcionamento da mente a que se costuma referir desde então como sensualismo.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Recebeu as ordens e tornou-se abade de Mureaux, mas sem exercer as funções eclesiásticas, preferindo a vida literária. Em 1757 foi preceptor do Infante Fernando de Parma (neto de Luís XV) e compôs para ele Curso de estudos, em treze volumes.

Elegeu-se, em 1768, para a Academia Francesa e também foi membro da Academia de Berlim. Foi encarregado em 1777 pelo governo polonês de redigir uma Lógica clássica para a escolas daquele país. Amigo de Diderot, Rousseau e Duclos, Condillac foi inicialmente discípulo de Bacon e de Locke, elaborando depois sua própria doutrina, o sensualismo. No seu Traité des Sensations, de 1754, defende o princípio de que todas as ideias provêm dos sentidos. Ele é amplamente citado por Lavoisier no seu "Discurso preliminar" ao famoso "Tratado elementar de química" (obra fundamental da química moderna).

Filosofia[editar | editar código-fonte]

Enquanto o empirismo de John Locke seguia a rejeição dos princípios inatos e das ideias inatas, Condillac foi além e rejeitou também as habilidades inatas. Em sua versão do empirismo, a experiência não apenas nos dá "ideias" ou os dados brutos para o conhecimento, ela também nos ensina a prestar atenção, lembrar-se, imaginar, abstrair, julgar e raciocinar. Ela forma nossos desejos e nos ensina o que querer. Ademais, ela nos dá as melhores lições para a performance destas operações, de modo que um estudo de como aprendemos a realizá-las originalmente também nos diz como essas operações devem ser realizadas. A busca desta tese levou Condillac a articular uma psicologia do desenvolvimento, com implicações pedagógicas e metodológicas explícitas. Suas preocupações também levaram-no a se dedicar à teoria da percepção, e a propor teses importantes e originais sobre nossa percepção de forma espacial. Ele deu melhor que qualquer outro até então uma explicação precisa, cuidadosa e investigativa sobre o que cada um dos órgãos dos sentidos nos provê, e apresentou uma explicação muito nuançada de como estes dados brutos são trabalhados para compor nossas crenças a respeito do mundo em nosso entorno.[1]

Economia[editar | editar código-fonte]

O "Le Commerce et le Gouvernement" de Condillac (publicado em 1776, mesmo ano de Riqueza das Nações de Adam Smith) tentou colocar a economia em um quadro lógico coerente. Era amigo de François Quesnay – líder dos fisiocratas. Grande parte do trabalho de Condillac refletia os fisiocratas convencionais, particularmente sua análise da estrutura da tributação e das propostas para o renascimento da economia, mas ele também propôs outra linha de argumentação, alegando que os produtores trabalham para obter utilidade. A maioria dos fisiocratas rejeitou a utilidade e a ideia foi ignorada até sua "redescoberta" por Stanley Jevons e Carl Menger em 1871.[2]

Em sua teoria do "vrai prix" [preço verdadeiro], Condillac propôs uma teoria da história humana dividida em duas fases: progresso e declínio. O progresso é marcado por um desenvolvimento racional e uso de recursos; O declínio é precipitado pelo mau comportamento das classes altas que depois escorre para os trabalhadores, incentivando o excesso, o luxo e os preços falsos que prejudicam as massas. Condillac via o remédio para isso como "vrai prix", um verdadeiro preço criado pela interação desimpedida de oferta e demanda, a ser alcançado por uma completa desregulamentação. As pessoas seriam ensinadas a trabalhar em prol de seu melhor interesse em um mercado aberto por meio de uma reformulação de suas percepções. Ao defender uma economia de livre mercado em contraste com a política contemporânea predominante de controle do Estado na França, Condillac influenciou a economia liberal clássica.[2]

História[editar | editar código-fonte]

A Histoire ancienne e a Histoire moderne de Condillac (1758-1767) demonstraram como a experiência e a observação do passado ajudaram o homem. A história não era uma mera releitura do passado, mas também uma fonte de informação e inspiração. A razão e o pensamento crítico podem melhorar a sorte do homem e destruir a superstição e o fanatismo. A história serviu, assim, como um manual moral, político e filosófico que ensinou o homem a viver melhor. Assim, as duas histórias apresentam o programa básico do Iluminismo de forma cristalizada.[3]

Obras[editar | editar código-fonte]

Dentre suas principais obras, podemos citar em ordem cronológica:

Seus trabalhos completos foram publicados em:

  • Amsterdam, 1766, 20 volumes em-12 (Jombert Charles-Antoine Libraire du Roi para Artilharia e Engenheiros),
  • Paris, 1798, 23 em 8 volumes (Imprimerie de Ch. Houel),
  • Paris, 1803, 31 volumes em-12 (Dufart),
  • Paris, 1821-1822, 16 em 8 volumes (cortesia de Augustin Théry), com um aviso sobre sua vida e suas obras.

Reedições[editar | editar código-fonte]

  • Condillac (1947–1951). Le Roy, Georges, ed. Œuvres philosophiques de Condillac. Paris: Presses Universitaires de France ,
  • Etienne Bonnot, Abbé de Condillac (1987). Philosophical Writings of Etienne Bonnot, Abbé de Condillac. Hillsdale: Lawrence Erlbaum .

Referências

  1. Falkenstein, Lorne; Grandi, Giovanni (2017). Zalta, Edward N., ed. «étienne Bonnot de Condillac». Metaphysics Research Lab, Stanford University 
  2. a b Orain, Arnaud. "Directing or Reforming Behaviors? A Discussion of Condillac's Theory of 'Vrai Prix'." History of Political Economy 2006 38(3): 497–530.
  3. Histoire ancienne e a Histoire moderne de Condillac (1758-1767)

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