Conferências do Casino

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Francisco Adolfo Coelho
Teófilo Braga
Eça de Queiroz

As Conferências do Casino ou Conferências Democráticas do Casino Lisbonense realizaram-se na primavera de 1871 (de 22 de março a 26 de junho de 1871) numa sala alugada do casino situado no Largo da Abegoaria, em Lisboa. Foram impulsionadas pelo poeta Antero de Quental, que, sob a influência das ideias revolucionárias de Proudhon, insuflou no chamado grupo do Cenáculo (também conhecido como Geração de 70) o entusiasmo para realizá-las. O Cenáculo reunia jovens escritores e intelectuais de vanguarda.

As Conferências do Casino são uma réplica à anterior Questão Coimbrã.

Manifesto[editar | editar código-fonte]

A 18 de maio aparecem no jornal "A Revolução de Culhina" , as assinaturas de Adolfo Coelho, Antero de Quental, Augusto Soromenho, Augusto Fuschini, Eça de Queirós, Germano Vieira Meireles, Guilherme de Azevedo, Jaime Batalha Reis, Oliveira Martins, Manuel Arriaga, Salomão Sáragga e Teófilo Braga. Estas personalidades assinam um manifesto que aponta as intenções de refletir sobre as mudanças políticas e sociais que o mundo sofria, de investigar a sociedade como ela é e como deverá vir a ser, de estudar todas as ideias novas do século e todas as correntes do século.

Têm assim em mente uma visão internacionalista e de participação na polis. Recusam que Portugal continue mouco às novas ideias que circulam na Europa. Visavam assim «Abrir uma tribuna onde tenham voz as ideias e os trabalhos que caracterizam este movimento do século, preocupando-nos sobretudo com a transformação social, moral e política dos povos; ligar Portugal com o movimento moderno, fazendo-o assim nutrir-se dos elementos vitais de que vive a sociedade civilizada, procurar adquirir a consciência dos factos que nos rodeiam na Europa; agitar na opinião pública as grandes questões da Filosofia e da Ciência modernas; estudar as condições da transformação política, económica e religiosa da sociedade portuguesa.»

Conferências realizadas[editar | editar código-fonte]

  1. "O Espírito das Conferências", 22 de maio, por Antero de Quental;
  2. "Causas da Decadência dos Povos Peninsulares", 27 de maio, por Antero de Quental;[1]
  3. "Literatura Portuguesa", por Augusto Soromenho;
  4. "A Literatura Nova" ou "O Realismo como nova expressão da arte", por Eça de Queiroz;
  5. "A Questão do Ensino", por Adolfo Coelho, a 19 de junho.

Intervenção das autoridades e polémica[editar | editar código-fonte]

Quando se preparavam para a sexta conferência os participantes foram surpreendidos por um aviso das autoridades que ilegalizavam a realização das mesmas. As autoridades do Estado alegavam que «as prelecções expõem e procuram sustentar doutrinas e proposições que atacam a religião e as instituições do Estado.»,[2] o que não era de todo infundado. Afinal, vivia-se numa Monarquia, ainda que liberal, e o Catolicismo era muito forte em Portugal. As Conferências veiculavam ideias que eram tidas por perigosas como a República, a Democracia e o Socialismo.

À volta da proibição, um acto de censura, levantaram-se variados protestos, choveram cartas aos jornais e foram publicados opúsculos de polémica entre os quais a famosa carta aberta de Antero ao Marquês de Ávila e Bolama (o ministro responsável pela proibição), intitulada «Eu sou socialista», na qual protestava contra o conservadorismo e a hipocrisia do poder político.

Conferências não realizadas[editar | editar código-fonte]

  1. Os historiadores críticos de Jesus, por Salomão Saragga
  2. O socialismo, por Jaime Batalha Reis
  3. A república, por Antero de Quental
  4. A instrução primária, por Adolfo Coelho
  5. A dedução positiva da ideia democrática, por Augusto Fuschini[3][4]

Balanço[editar | editar código-fonte]

No rescaldo deste importantíssimo episódio da cultura de expressão portuguesa podemos afirmar que as Conferências do Casino, representaram em Portugal uma afirmação dum movimento de ideias que vingava na Europa. Era o historicismo, o interesse pelas ciências sociais e políticas, a crítica positivista à maneira de Taine, o evolucionismo de Darwin, um tímido interesse pelas ideias de Karl Marx e, especialmente, de Proudhon, o realismo na arte como locução de um novo ideal de vida, a crença no progresso das sociedades conseguido através da ciência.

Eça de Queiroz, posteriormente e sobre as Conferências, afirma nas Farpas: «era a primeira vez que a revolução sob a sua forma científica tinha em Portugal a sua tribuna». Alguns dos interventores nestas conferências, cerca de duas décadas mais tarde, juntaram-se no grupo dos auto-intitulados Vencidos da Vida.

Referências

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • REIS, Carlos. As Conferências do Casino. Lisboa: Publicações Alfa, 1990.