Crack

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Pedras de crack

Crack [crac],[1] também chamado de Pedra, Brita, Kripta, Kriptonita ou Rocha,[2] é cocaína solidificada em cristais. O nome inglês crack deriva do seu barulho peculiar ao ser fumado. [3]

Princípio Ativo

O crack é a conversão do cloridrato de cocaína para base livre através de sua mistura com bicarbonato de sódio e água.[4] É a forma de cocaína mais viciante e também a mais viciante de todas as drogas.[5] As pedras de crack oferecem uma curta, mas intensa euforia aos fumantes.[6][7]

Crack - História

Cracolândia, ponto de consumo de crack em São Paulo

O crack apareceu nos Estados Unidos primeiramente em bairros pobres do centro das cidades de New York, Los Angeles e Miami no final de 1984 e em 1985.[8][9] No Brasil, o crack passou a ser conhecido nos anos de 1990.[10]

Brasil

As informações sobre a chegada do crack ao Brasil vêm da imprensa leiga ou de órgãos policiais. A primeira apreensão da substância no município de São Paulo registrada nos arquivos da Divisão de Investigação sobre Entorpecentes (DISE) aconteceu em 1990.[11][12] Algumas evidências apontam para o surgimento da substância em bairros da Zona Leste da cidade, para, depois, alcançar a região da Estação da Luz (que ficou conhecida como Cracolândia), no Centro da cidade.[13]

Características

Nas formas mais puras, as pedras de crack aparecem como cristais brancos, com bordas irregulares,[6] com uma densidade ligeiramente maior do que cera de vela, ou ainda, se assemelham a um plástico duro e quebradiço[6]. Formas mais puras de crack afundam na água ou derretem nas bordas quando perto de uma chama (o crack vaporiza a 90 °C, 194 °F).[14] O surgimento do crack foi a solução encontrada para o problema do preparo da pasta básica para consumo. Os traficantes, então, passaram a vender doses bem pequenas de crack por um preço tão baixo quanto 3 dólares estadunidenses.[15]

Uso

[16] Para o consumo inalatório da droga, são utilizados cachimbos elaborados pelos próprios usuários, geralmente de alumínio e compartilhados entre o grupo de uso. Também tem sido comum o consumo de cigarros comuns ou de maconha com fragmentos de pedras de crack.[17] A forma injetável do crack não teve sucesso e foi quase extinta no Brasil, substituído pelo crack que provoca efeito semelhante e tão potente quanto a cocaína injetada.[18]

Efeitos psicológicos e fisiológicos

Mulher consumindo crack
Objetos usados por fumantes de crack como cachimbos de vidro e improvisados de latas e garrafas

Os efeitos iniciais do crack são mais rápidos e intensos que injeções de outras drogas. [16] [19] A duração dos efeitos do crack é muito curta, em média cinco minutos, enquanto a cocaína, depois de injetada ou usada por via intranasal, provoca efeitos com duração em torno de 20 a 45 minutos.[17] Os efeitos causados pelo crack são: [20][21][22]

  • euforia
  • agitação
  • sensação de prazer
  • irritabilidade
  • alterações da percepção e do pensamento
  • taquicardia e tremores
  • perda de apetite
  • extrema autoconfiança
  • insônia
  • estado de alerta
  • aumento de energia/disposição física

Grandes quantidades podem induzir tremores, vertigens, espasmos musculares, paranóia, ou com doses repetidas, uma reação tóxica muito parecida com intoxicação por anfetamina.[20][23] O uso regular do crack pode provocar alucinações e causar comportamentos violentos, episódios paranoicos e, inclusive, impulsos suicidas.[24]

O uso de drogas estimulantes (principalmente anfetaminas e cocaína) podem levar a "parasitose delirante" (síndrome Ekbom: a crença equivocada de que se está infestado de parasitas).[25] Essas ilusões também estão associados a febre alta ou abstinência do álcool, muitas vezes, juntamente com alucinações visuais sobre insetos. Pessoas que vivem essas alucinações podem arranhar-se e causar danos cutâneos graves e sangramento, especialmente quando estão delirando.[25]

Grandes quantidades (várias centenas de miligramas ou mais) intensificam o efeito do crack para o usuário, mas também pode levar a um comportamento bizarro, errático e violento. Alguns usuários de crack relataram sentimentos de agitação, irritabilidade e ansiedade. Em casos raros, morte súbita pode ocorrer no primeiro uso do crack ou de forma inesperada depois. As mortes relacionadas ao crack são, muitas vezes, resultado de parada cardíaca ou convulsões seguida de parada respiratória.

Pode-se desenvolver uma tolerância considerável ao uso do crack, é quando os viciados procuram atingir o mesmo prazer de sua primeira experiência. Alguns usuários aumentam a frequência das doses para intensificar e prolongar os efeitos eufóricos. Embora a tolerância a altas doses possa ocorrer, os usuários poderão também tornar-se mais sensíveis (sensibilização) para efeitos anestésicos e convulsionante do crack, sem aumentar a dose tomada. Aumento de sensibilidade pode explicar algumas mortes que ocorrem após doses aparentemente baixas de crack.[20]

O primeiro relato de acidente vascular cerebral induzido por cocaína data de 1977. Com o desenvolvimento e disseminação do crack na década de 1980, houve um aumento significativo no número de relatos de casos descrevendo os acidentes vasculares cerebrais isquêmicos e hemorrágicos associados ao uso de cocaína,[17] porém não há fatores de risco para que ocorra um AVC associado ao uso de cocaína.[26] O consumo de crack fumado através de latas de alumínio como cachimbo, uma vez que a ingestão de alumínio está associada a dano neurológico, tem levado a estudos em busca de evidências do aumento do alumínio sérico em usuários de crack.[27]

Abstinência

A abstinência dura cerca de dez semanas. Segundo o coordenador do ambulatório do HC, nos quatro primeiros dias o paciente se sente cansado e desestimulado, come muito e sofre alterações de humor. “Existe grande tendência de o dependente voltar a usar a droga caso a abstinência não seja tratada corretamente. Sem a medicação os sintomas continuam e, comumente, levam a um quadro de depressão, alterações no padrão de sono e desestímulo.” Na décima semana, aponta o médico, esses sintomas começam a desaparecer e o organismo começa a se recuperar.[16]

Tratamento

Atualmente várias abordagens de tratamento para dependência de cocaína e crack no Brasil vêm sendo discutidas, porém existem muitas controvérsias sobre qual abordagem demonstra maior efetividade na literatura científica. Há um consenso de que a dependência de crack exige um tratamento difícil e complexo, por ser uma doença crônica e grave que deverá ser acompanhada por longo tempo.[28] Não existe um único tratamento para eliminar o vício de crack:[29] o dependente precisa ser atendido nas diversas áreas afetadas, tais como social, familiar, física, mental, questões legais, qualidade de vida e trabalho de estratégias de prevenção de recaída.

Devido aos baixos índices de motivação do dependente e, consequentemente, pouca aderência do paciente ao tratamento, a família e a rede social de apoio exercem um papel de fundamental importância durante o processo de intervenção terapêutica. Contudo, a maioria dos estudos de revisão sobre famílias de dependentes químicos confirma que o universo familiar dessa população é frequentemente disfuncional.[30] Outra dificuldade no tratamento do vício de crack é a ausência de uma medicação específica que reduza o desejo pelos efeitos dessa substância.[31] Inúmeros ensaios clínicos já foram realizados com antidepressivos tricíclicos (imipramina), inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) (fluoxetina, sertralina e paroxetina), anticonvulsivantes e estabilizadores de humor (carbamazepina, gabapentina, lamotrigina, lítio), antipsicóticos e agentes aversivos (dissulfiram). Contudo, os resultados não mostraram qualquer sucesso.[32]

Epidemiologia

Canadá

Pesquisas recentes têm mostrado aumento no uso do crack, e um estudo com moradores de rua mostrou que 52,2% deles tinham consumido crack nos últimos seis meses. Em Toronto, 78,8% dos entrevistados relataram ter fumado crack nos últimos seis meses (15).[33]

Brasil

Um estudo brasileiro de 2011, examinou a taxa de mortalidade, os indicadores de mortalidade e as causas de mortes entre 131 pacientes brasileiros dependentes de crack/cocaína que procuraram tratamento durante meados dos anos 1990 no Brasil, o perfil predominante do usuário foi: homem, jovem com menos de 30 anos, solteiro, de baixa classe socioeconômica, baixo nível de escolaridade, sem vínculos empregatícios formais e em geral isolado socialmente.[34]

Em 19 de setembro de 2013, o governo federal do Brasil apresentou os resultados das pesquisas "Estimativa do número de usuários de crack e/ou similares nas capitais do país" e "Perfil dos usuários de crack e/ou similares no Brasil", que fazem parte do programa nacional de prevenção e pesquisa "Crack, é possível vencer", lançado em 2011.[35]

Em janeiro de 2014, viciados em crack de São Paulo começaram a trabalhar como garis com uma renda de quinze reais por dia, através de um programa social da prefeitura. O programa não obrigava ninguém a largar as drogas e a adesão era voluntária. Os dependentes ficaram em hotéis.[36]

O alucinógeno ibogaína [37] vem sendo usado com sucesso no Brasil. E, tem demonstrado ser eficiente para tratar a dependência de usuários de drogas como o crack. [38] [39]


Referências

  1.  Dicionário escolar da língua portuguesa/Academia Brasileira de Letras. 2ª edição. São Paulo. Companhia Editora Nacional. p. 375.
  2. Macfarlane, Aidan e Macfarlane, Magnus. Que droga é essa?. Editora 34; 2003. ISBN 978-85-7326-269-8. p. 155.
  3. Rosa Maria Silvestre Bastos. Prevenção de Droga Na Escola. Papirus Editora; 1997 [cited 19 Sep]. ISBN 978-85-308-0468-8. p. 46.
  4. "O crack, que envolve a conversão do cloridrato de cocaína em uma base livre ao se usar fermento em pó e água, tem revolucionado o preparo, a propaganda e o comércio de cocaína." Mim J. Landry. Understanding Drugs of Abuse: The Processes of Addiction, Treatment, and Recovery. American Psychiatric Pub; ISBN 978-1-58562-193-4. p. 32.
  5. Todd Wilk Estroff. Manual of Adolescent Substance Abuse Treatment. American Psychiatric Pub; 13 August 2008. ISBN 978-1-58562-792-9. p. 44–45.
  6. a b c A.M. Costa Rica, July 2008, Crack rocks offer a short but intense high to smokers (em inglês)
  7. Stacy O'Brien, Red Deer Advocate, December 2008, Officials warn of life-threatening cocaine in area.
  8. Craig Reinarman; Harry Gene Levine. Crack in America: Demon Drugs and Social Justice. University of California Press; 1997. ISBN 978-0-520-20242-9.
  9. Moisés Naím. Ilícito: o ataque da pirataria, da lavagem de dinheiro e do tráfico à economia global. Jorge Zahar Editor; 2006 [cited 19 September 2013]. ISBN 978-85-7110-910-0. p. 23.
  10. Silvia da Silva Tejadas. Juventude e ato infracional: as múltiplas determinações da reincidência. EDIPUCRS; 2008. ISBN 978-85-7430-682-7. p. 256.
  11. Marcelo Ribeiro, O crack em São Paulo: histórico e perspectivas, 08/10/2010, edição nº3 da Revista Debates, produzida bimestralmente pela Associação Brasileira de Psiquiatria.
  12. Marco Antonio Uchôa. Crack: o caminho das pedras. Editora Atica; 1996. ISBN 978-85-08-06033-7.
  13. Alessandra DIEHL. Dependência Química: Prevenção, Tratamento e Políticas Públicas. Artmed; ISBN 978-85-363-2503-3. p. 171.
  14. Todd Wilk Estroff. Manual of Adolescent Substance Abuse Treatment. American Psychiatric Pub; ISBN 978-1-58562-792-9.
  15. José Sterza Justo e Roberto Yutaka Sagawa (orgs). Rumos Do Saber Psicologico. Arte & Ciência; ISBN 978-85-86127-67-0. p. 103.
  16. a b c Abraão de Oliveira Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome "Abraão" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
  17. a b c Marcelo Ribeiro. O Tratamento do Usuário de Crack. Artmed; ISBN 978-85-363-2719-8. p. 139.
  18. Paulo Cesar Fulgencio. Glossario - Vade Mecum. Mauad Editora Ltda; ISBN 978-85-7478-218-8. p. 255.
  19. José Sterza Justo e Roberto Yutaka Sagawa (orgs). Rumos Do Saber Psicologico. Arte & Ciência; ISBN 978-85-86127-67-0. p. 103.
  20. a b c "DEA, Drug Information, Cocaine", United States DOJ Drug Enforcement Agency, 2008, webpage: DEA-cocaine.
  21. Tim Madge. White Mischief: A Cultural History of Cocaine. Mainstream Publishing Company, Limited; ISBN 978-1-84018-405-1.
  22. Antonio Carlos Lopes. Diagnostico e tratamento. Manole; 2006. ISBN 978-85-204-2473-5. p. 2010.
  23. [Life or Meth - CRACK OF THE 90'S], Salt Lake City Police Department, Utah, 2008
  24. Conselho PontifÍcio Para A Pastoral Da SaÚde. Droga e toxicodependência - O desafio de uma intervenção global. LOYOLA; ISBN 978-85-15-02812-2. p. 66.
  25. a b [UCDavis-delusional Delusional Parasitosis, The Bohart Museum of Entomology,2005
  26. Daras M. Tuchman, A. J. Marks, Central nervous system infaction related to cocaine abuse, Stroke, 1991; 22(10):1320-5
  27. Flavio Pechansky et al; Usuárias brasileiras de crack apresentam níveis séricos elevados de alumínio; Rev. Bras. Psiquiatr. vol.29 no.1 São Paulo Mar. 2007 Epub Feb 28, 2007; doi: 10.1590/S1516-44462006005000034
  28. Felix Kessler, Flavio Pechansky,Uma visão psiquiátrica sobre o fenômeno do crack na atualidade]. Rev Psiquiatria Rio Gd Sul. 2008; 30(2):96-98
  29. Knapp WP, Soares B, Farrell M, de Lima SM. Psychosocial interventions for cocaine and psychostimulant amphetamines related disorders, Cochrane Database of Systematic Reviews, Issue 1, 2009
  30. Guimarães A, Hochgraf P, Brasiliano S, Ingberman Y. Family aspects of alcohol and drug-dependent in adolescent girls, Rev Psiquiatr Clín. 2009; 36(2):69-74
  31. Karila L, Gorelick D, Weinstein A, Noble F, Benyamina A, CoscasS et al. New treatments for cocaine dependence: a focused review, Int J Neuropsychopharmacol. 2008; 11(3):425-38.
  32. Preti A. New developments in the pharmacotherapy of cocaine abuse, Addict Biol. 2007; 12(2):133-51.61
  33. Fischer B, Rehm J, Patra J, Kalousek K, Haydon E, Tyndall M, ElGuebaly N., Crack across Canada: comparing crack users and crack non-users in a Canadian multi-city cohort of illicit opioid users.Addiction 2006; 101:1760-1770
  34. Andréa C. Dias et al, Mortality rate among crack/cocaine-dependent patients: A 12-year prospective cohort study conducted in Brazil, 5/5/2011
  35. Site do programa "Crack, é Possível Vencer", Pesquisa revela perfil dos usuários de crack no Brasil
  36. G1,Dependentes de crack têm 1º dia de trabalho em projeto de São Paulo
  37. Notícias Uol - Alucinógeno pode ser alternativa contra dependência de crack, aponta estudo. Carlos Minuano. 29/12/2014. Visitado em 24 de Junho de 2015.
  38. Folha de S. Paulo - 'Virei outra pessoa', diz cantora que saiu do crack com ibogaína. Fernanda Mena. 25/10/2014. Visitado em 24 de Junho de 2015.
  39. Gazeta do Povo - Ibogaína: droga usada para curar a dependência. Gabriel Azevedo. 04/06/2011. Visitado em 24 de Junho de 2015.

Ver também

Ligações externas