De rerum natura

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De rerum natura, 1570

De rerum natura (Sobre a natureza das coisas) é um poema didático, dentro do género dos periphyseos cultivado por alguns pré-socráticos gregos, escrito no século I a.C. por Tito Lucrécio Caro; dividido em seis livros, proclama a realidade do homem num universo sem deuses e tenta libertá-lo do seu temor à morte. Expõe a física atomista de Demócrito e a filosofia moral de Epicuro.

Conteúdo do livro[editar | editar código-fonte]

O título traduz-se do latim como Sobre a Natureza das Coisas, ainda que por vezes chega-se a traduzir como Sobre a Natureza do Universo, quem sabe para refletir a escala real que se trata no livro.

A visão de Lucrécio é bastante austera, mas no entanto incita a alguns pontos importantes que permitem aos indivíduos um escape periódico de seus próprios desejos e paixões para observar com compaixão a pobre humanidade em seu conjunto, incluindo-se a si mesmo, podendo observar a ignorância, a infelicidade reinante, e incita a um melhoramento. A responsabilidade pessoal consiste em falar sobre a verdade pessoal que se vive. De acordo com a obra, a proposição de verdade de Lucrécio é dirigida a uma audiência ignorante. Esperando que alguém o escute, o compreenda e desta forma passe a semente da verdade capaz de melhorar o mundo. Lucrécio rompe, em definitivo, com a ideia central e metafísica de 'natureza', o que lhe confere a virtude de extraordinário avanço na história do pensamento ocidental. 'Natureza' não é uma substância, um estado primordial, ou, ainda, uma causa final de toda realidade. A natureza se confunde com os próprios átomos.[1] Para Lucrécio, nada procede do nada, por milagre divino [2] e nada retorna ao nada [3]. As coisas são constituídas por sementes eternas, ou seja, os átomos. Eles constituem o mundo, nada os precede [4].

Composição do poema[editar | editar código-fonte]

Neste poema épico, o filósofo e poeta romano Lucrécio argumenta, entre outras coisas relacionadas com a natureza, que todo o universo é composto de pequenos átomos movendo-se num infinito vazio.

O poema é composto pelos seguintes argumentos.

  • A substância é eterna.
    • Os átomos movem-se num infinito vazio.
    • O universo é composto de átomos e vazio, nada mais. (Por esta razão, Lucrécio é visto como um atomista.)
  • A alma do homem consiste em átomos diminutos que se dissolvem com o húmus quando este morre.
    • Deus existe, mas não iniciou o universo, e não lhe interessa as acções do homem.
  • Existem outros mundos como o universo e são similares a este.
    • Devido a sermos compostos de uma sopa de átomos em constante movimento, este mundo e os outros não são eternos.
    • Os outros mundos não são controlados por deuses, tal como este.
  • As formas de vida neste mundo e nos outros estão em constante movimento, incrementando a potência de umas formas e diminuindo a de outras.
    • O homem deve pensar que desde o seu início selvagem tem vivido uma grande melhoria em habilidades e conhecimentos, mas isto passará e virá uma decadência.
  • O que chega a saber o homem provém só dos sentidos e da razão.
    • Os sentidos têm dependências.
    • A razão deixa-nos a possibilidade de alcançar motivos ocultos, mas esta não está livre de falhas e de falsas inferências. Por este motivo, as inferências devem ser continuamente verificadas pelos sentimentos.
    • (Diferente de Platão, que acreditava que os sentidos poderiam ser confundidos enquanto que a razão não.)
  • Os sentimentos percebem as colisões macroscópicas e interacções dos corpos.
    • Mas a razão infere os átomos e o vazio que os sentidos percebem.
  • O homem evita a dor e procura tudo aquilo que lhe dá prazer.
    • Uma pessoa normal (média) está impelida sempre para evitar as dores e buscar os prazeres.
  • As pessoas nascem com dois medos inatos: o medo dos deuses e o medo da morte.
    • No entanto, os deuses não querem provocar-nos dano, a morte é fácil quando a vida se vai.
    • Quando alguém morre, os átomos da alma e os átomos do corpo continuam a sua essência dando forma às rochas, lagos ou flores.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. De Rerum Natura, parte III, versos 186 e 187
  2. ob. cit., parte I, verso 150
  3. ob. cit. parte I, verso 237
  4. ob. cit., parte I, versos 221 a 237

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Alioto, Anthony M. A History of Western Science. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1987. ISBN 0-13-392390-8
  • Lloyd, B. E. R. Greek Science after Aristotle. New York: W. W. Norton, 1973. ISBN 0-393-04371-1
  • Lucretius The Way Things Are: The De Rerum Natura, translation by Rolfe Humphries, Indiana University Press 1968, ISBN 0-253-20125-X
  • Stahl, William. Roman Science. Madison: University of Wisconsin Press, 1962.
  • E-text of On the Nature of Things [1]
  • Summary of On the Nature of Things, by section [2]
  • Analysis of Lucretius's "conversion" challenge in terms of designing a "meme" that would compete with the surrounding memes of creationism; "as doctors sweeten bitter medicine with honey", so Lucretius sweetened the conversion pill as poetry [3]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]