Dialeto baiano

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Dialeto Baiano

Baianês

Falado(a) em:
Região: Estado da Bahia e do Sergipe e regiões próximas
Total de falantes: aprox. 12 milhões de falantes
Posição: Não se encontra entre os 100 primeiros
Família: Indo-europeia
 Língua portuguesa
  Português brasileiro
   Dialeto Baiano
Estatuto oficial
Língua oficial de: sem reconhecimento oficial
Regulado por: sem regulamentação oficial
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: ---

O dialeto baiano ou baianês[1] é um dialeto do português brasileiro, de origem na região Nordeste do país (na cidade de Salvador), e falado no estado da Bahia, além do sul de Sergipe e do extremo norte e nordeste de Minas Gerais, além de regiões limítrofes.[2][3] Por vezes, pela semelhança, é confundido com o dialeto nordestino central que é falado no norte da Bahia e em parte dos outros estados do Nordeste.

O dialeto baiano é classificado como um dialeto brasileiro meridional (juntamente com o fluminense, o mineiro e o sertanejo) com características intermediárias entre os dois grupos,[4] enquanto o Dialeto Nordestino, Recifense, Costa Norte e Nortista são classificados como setentrionais.[5][6]

Foi um dos primeiros dialetos eminentemente brasileiros. Sua formação deu-se graças a influência de Salvador,[2] a primeira sede do Brasil Colônia, que abrigava a maioria das instituições administrativas do Brasil no período colonial, e por isto sempre sofreu influências de diversas ondas migratórias e contatos com diversos povos, desde europeus, até indígenas e africanos. Com o passar dos anos ganhou identidade própria e acabou influenciando na formação de alguns outros do país.[2][7]

Atualmente é considerado um dialeto muito rico socioculturalmente,[8] mas estigmatizado,[8] principalmente pela mídia brasileira, que chega a ridicularizá-lo; em certas ocasiões.[8] Todavia, tal como ocorre em outros lugares, o dialeto baiano é um dos elementos centrais da identidade baiana e motivo de orgulho para muitos baianos.[9]

Tem como costume abreviar palavras e acabar criando outras com significado que pode ser até diferente do inicial. Oxe, que é uma abreviação de oxente, que também é uma abreviação de ô gente, perdeu significado original e hoje é utilizado para situações de não entendimento. Já opaió é uma abreviação de olhe para aí, olhe, a palavra olhe é comumente abreviada para ó ou oi (pronunciada em ditongo aberto) e para é comumente abreviado para , juntando ó, , e ó, a palavra opaió surgiu.

Segue algumas palavras e expressões e o significado delas:[10]

Dialeto baiano Significado
Buzu Ônibus
Mainha Mãe
Painho Pai
Aonde Advérbio de negação, também pode ser utilizado no lugar de onde
Pão de Sal Pão francês
Comer água Ingerir bebida alcoólica
Grafite Lapiseira
Azeite doce Azeite de oliva
Ponta de grafite Grafite
Lapiseira Apontador de lápis
Colé E ai? Como vai?
Aipim Mandioca, macaxeira
Passeio Calçada
Porreta Bom, excelente
Beiju Tapioca
Retado Depende do contexto, pode ser bravo ou muito bom

O alfabeto baiano também tem uma forma diferente de se pronunciar, letras como E, F, G, J, L, M, N, R, S se pronunciam respectivamente (de maneira informal): é, fê, guê, ji, lê, mê, nê, rê, si.[carece de fontes?]

Fonologia[editar | editar código-fonte]

Consoantes[editar | editar código-fonte]

Ponto de articulação Labial Coronal Dorsal Glotal
Bi­la­bial Al­veo­lar Palato-­al­veo­lar Pa­la­tal Ve­lar
Modo de articulação
Nasal   m (m) n (n) ɲ (n)
Oclusiva p (p) b (b) t (t) d (d) c (t) ɟ (d) k (c,q) ɡ (g) ʔ

(início de palavras iniciadas em vogal)

Fricativa s (c, ç, s, x) z (s, z) ʃ (ch, s, x, z) ʒ (g, j, s, x) h (r) ɦ (r)
Aproximante   j (i semivocálico)

(nh)

  ɰ (u semivocálico)
Africada t͡s (tes) d͡z (des) t͡ʃ (t, tch) d͡ʒ (d)
Vibrante simples   ɾ (r)
Aproximante lateral l (l)   ʎ (l, lh)

Alofones consonantais[editar | editar código-fonte]

os alofones são fonemas que variam dentro de um mesmo dialeto e são percebidos de maneira equivalente pelos seus falantes. Entre os alofones presentes no dialeto baiano estão:

  • /t͡ʃ / e /c/ antes de /i/, como em "antigamente";
  • /d͡ʒ/ e /ɟ/ antes de /i/, como em "dígito";
  • /s/, /z/, /ʃ/ e /ʒ/ em final de palavras, como em "dias";
  • /s/ e /ʃ/ antes de consoantes surdas (c, f, k, p, q, s, t), como em "sexta";
  • /l/ e /ʎ/ antes de /i/, como em "limão";
  • /n e /ɲ/ antes de /i/, como em "animal";
  • em algumas formas do dialeto, como no catingueiro,[11] o t antes de qualquer vogal possui alofonia com o /tʃ/ e o /c/, como na palavra muito, pronunciada muntcho.

Vogais [12][editar | editar código-fonte]

  • /a/ (a);
  • /e/ (e);
  • /ɛ/ (e);
  • /i/ (e, i);
  • /o/ (o);
  • /ɔ/ (o);
  • /ʊ/ (o);
  • /u/ (o, u).

Gramática[editar | editar código-fonte]

Algumas peculiaridades gramaticais do português falado na Bahia são: a omissão do artigo definido antes de nome próprio com a função implícita e instintiva de diferenciar objetos, animais e coisas de pessoas e afins, poupando assim artigos que seriam desnecessários e em demasiado "artificialescos" (forçados, algo não natural, nem espontâneo), e acordo com os falantes dessa variação (p. ex.: "Maria foi à/na/pra feira" em vez de "A Maria foi à/na/pra feira") e a inversão da colocação da partícula negativa (p. ex.: "Sei não" em vez de "Não sei"). Essa peculiaridade influenciou alguns dialetos do Nordeste.[carece de fontes?]

Variantes subdialetais[editar | editar código-fonte]

Para além da macro-zonalidade do baianês, há duas variantes principais deste dialeto que são:

  • Soteropolitano ou do litoral-recôncavo: de dominância em todo o litoral e norte e oeste baiano, além de Sergipe.
  • Zona do catingueiro ("sotaque baiano do interior"), falado basicamente na zona sul da caatinga e no sertão baiano. As principais características que compõem o catingueiro, são algumas letras que acabam sendo modificadas, como o "t" antes de qualquer vogal que possui alofonia com o /tʃ/ e o /c/ em algumas palavras, como por exemplo as palavras "muito", "respeito" e "oito", acabam sendo pronunciadas como "muntcho", "respetcho" e "otcho", e a letra "d" que em palavras como "NecessidaDe" e "IdaDe" com o "d" firme no dialeto nordestino, acabam virando "necessidadi" e "idadi" com um "d" mais fraco e mais suave no dialeto catingueiro, ao invés de "necessidadji" e "idadji" com um "d" palatal como é pronunciado no dialeto baiano e dialeto da costa norte.[13]

Referências

  1. [1][ligação inativa]
  2. a b c «Diferentes "dialetos": as expressões regionais brasileiras». Portal Educar Brasil. Consultado em 2 de outubro de 2012. Arquivado do original em 29 de outubro de 2013 
  3. «Zonas Dialectais Brasileiras». www.cin.ufpe.br 
  4. Romano, Valter Pereira; Romano, Valter Pereira (junho de 2018). «Brazilian lexical areas: a new approach regarding the proposal of Antenor Nascentes in data of the Linguistic Atlas Project of Brasil». Lingüística. 34 (1): 113–143. ISSN 2079-312X. doi:10.5935/2079-312x.20180007 
  5. Meireles, Alexsandro Rodrigues; Gambarini, Viviany de Paula; Scherre, Maria Marta Pereira; Meireles, Alexsandro Rodrigues; Gambarini, Viviany de Paula; Scherre, Maria Marta Pereira (março de 2017). «Análise acústica e sociolinguística das vogais médias pretônicas faladas em Montanha – ES». Letras de Hoje. 52 (1): 58–67. ISSN 1984-7726. doi:10.15448/1984-7726.2017.1.25360 
  6. «Divisão dialetal | Projeto Atlas Linguí­stico do Brasil». alib.ufba.br. Consultado em 24 de agosto de 2020  soft hyphen character character in |titulo= at position 40 (ajuda)
  7. LEE, Seung Hwa. «Sobre as vogais pré-tônicas no Português Brasileiro» (PDF). Universidade Federal de Minas Gerais 
  8. a b c «O Dialeto Baiano» (PDF). UNIMEP 
  9. CASTRO, Jânio. "As questões identitárias e as especificidades culturais da Bahia expressas na literatura e na musicalidade: um olhar geográfico". In: GeoTextos, vol. 10, n. 1, jul. 2014, pp 107-109.
  10. «A Bahia e Seus Encantos». Consultado em 9 de fevereiro de 2013. Arquivado do original em 20 de dezembro de 2012 
  11. «Origens do Dialeto Catingueiro – Ocupação Elomar (2015)». Itaú Cultural. Consultado em 21 de agosto de 2020 
  12. Pacheco, Vera; Oliveira, Marian; de Jesus Ribeiro, Priscila (junho de 2013). «EM BUSCA DA MELODIA NORDESTINA: AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS DE UM DIALETO BAIANO». Lingüística. 29 (1): 165–187. ISSN 2079-312X 
  13. «A linguagem: dialeto sertanezo» 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]