Discussão:Três de Maio de 1808 em Madrid

O conteúdo da página não é suportado noutras línguas.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Análise da obra Três de Maio de 1808 em madrid - (ênfase na relação de Goya com os ideais iluministas)


Nessa obra Goya representa um fato contemporâneo à ele e que também tem grande importância subjetiva para o pintor, um exemplo de como o fator ‘escolha de um tema’ já estava mudando significativamente a concepção da arte.

Os soldados sem rostos apontam os fuzis, o pintor revela um instante antes do fuzilamento, estão uniformizados, dispostos numa mesma posição, constituem uma massa escura de corpos voltados com firmeza para a execução de suas funções. A cidade ao longe dorme alheia à cena. É a morte de um mártir, contra os fuzis, ajoelhado e de braços abertos o único de vestes claras e iluminado por uma lamparina no chão.

A luz era um símbolo político para a época. Os revolucionários, os iluministas, acreditavam que a razão poderia guiar a humanidade num caminho em direção ao conhecimento de si mesma, à descoberta da humanidade. A luz é o símbolo máximo no séc. XVIII, somente a partir dela é que se pode ver e eles sabiam existir muito mais para se ver do que já se tinha visto. O mundo, o universo, o homem e suas criações agora eram dimensões em expansão, e para isso ser de fato, teriam que libertar a razão e acabariam por libertar muito mais.

Goya também vivia isso, mas talvez a vida num país atrasado politicamente como a Espanha, trouxesse muitas decepções, isso se refletia em seu trabalho, tendendo sempre para o sarcasmo e a ironia.

A ironia dessa obra existe justamente na luz. A luz na composição serve para iluminar o alvo à ser atingido pelos disparos. Por ironia a lamparina não parece ter sido colocada pelo mártir e sim pelos próprios soldados sem rosto. Luz que também é refletida, (e percebe-se uma luz mais original vinda do homem do que da lamparina, é até mesmo difícil perceber a lamparina numa olhada rápida) não somente na cor como também no gesto desprendido do condenado.

Apesar da ironia, Goya deixa transparecer no gesto e na luz àquilo que há de mais caro para os visionários do séc. XVIII, a liberdade, esta é tão intensa que até no momento em que se parece ter perdido tudo, o gesto é de quem na verdade está prestes à conquistar tudo. No cenário os observadores apenas escondem o rosto. O mais incrivel é que o homem contra os fuzis nesse momento, pela sua atitude, parece por um instante estar tão armado quanto os soldados. Certamente ele os enfrenta de igual para igual.

A obra nos diz muito como Francisco Goya entende a política e a história. Para ele isso tudo é apenas um teatro de atrocidades e o que é pior; é um teatro sem platéia. É enquanto a cidade dorme e mesmo por causa disso que acontecem as atrocidades que tanto faziam mal ao artista. Uma de suas frases mais conhecida fala exatamente sobre isso: “O sono da razão produz monstros.”