Djanira

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 Nota: Se procura pela escritora pernambucana, veja Djanira Silva.
Djanira
Nome completo Djanira da Motta e Silva
Nascimento 20 de junho de 1914
Avaré, São Paulo, Brasil
Morte 31 de maio de 1979 (64 anos)
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Nacionalidade brasileira
Ocupação pintora, desenhista, ilustradora, cenógrafa, gravador
Movimento estético modernismo

Djanira (Avaré, 20 de junho de 1914Rio de Janeiro, 31 de maio de 1979, também conhecida como Djanira da Motta e Silva) foi uma pintora, desenhista, ilustradora, cartazista, cenógrafa e gravadora brasileira.[1] Ela é conhecida por obras que retratam o cotidiano, costumes e rituais muito brasileiros.

Djanira gostava de mergulhar no tema das suas obras e comumente vivia a realidade das pessoas, dos ofícios e das crenças. Ela representou, por exemplo, mineiros de carvão de Santa Catarina, a extração de ferro em Minas Gerais, os indígenas Canela, do Maranhão, sempre se inserindo na realidade daquelas pessoas e locais.

Por conta de sua origem, da sua linguagem e do seu fazer artístico, Djanira é considerada como a própria terra[nota 1] que representa. Apesar de suas principais obras serem em tela, ela experimentou em vários suportes artísticos diferentes durante sua vida.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Primeiros anos e vida em São Paulo[editar | editar código-fonte]

Djanira nasceu em Avaré, interior do estado de São Paulo, filha de Oscar Paiva, um dentista itinerante, e Pia Job Paiva, em 20 de julho de 1914. Ela era neta de guaranis, por parte de pai, e de austríacos, por parte de mãe.[3][4] Foi registrada inicialmente como Dijanira e que mais tarde retificado pela artista em ação judicial. Seus familiares a tratavam como Dja.

Aos dois anos de idade, mudou-se com os pais para Porto União, em Santa Catarina, porém o casal se separou logo depois. A mãe de Djanira voltou para Avaré para morar com os pais e Oscar, por motivos de trabalho, deixava a filha com amigos. Ela ficou nessa situação até os 10 anos de idade, quando a avó materna foi buscá-la para a levar de volta para Avaré. Na cidade paulista, ela trabalhou em lavouras de café de um tio.[4]

No início da década de 1930, ela se muda para a Capital do estado em busca de uma melhora de vida. Nesse período, chegou ser vendedora ambulante. Em uma viagem para o litoral paulista, conheceu Bartolomeu Gomes Pereira, um maquinista da Marinha Mercante, com o qual se casa, em 1932,[4][5] e passa a se chamar Djanira Gomes Pereira.

Rio de Janeiro[editar | editar código-fonte]

Identidade de pensionista.(Acervo Museu Municipal de Avaré)

Após o casamento, Djanira muda-se para o Rio de Janeiro, mas contrai "tuberculose pulmonar" em 1937 e é internada no Sanatório "Rui Costa"[nota 2], em São José dos Campos. Já em 1939, com a melhora da doença, ela volta para o Rio de Janeiro e passa a residir no bairro de Santa Teresa por causa do ar puro, por recomendação médica.[4]

Lá, aluga uma pequena casa no bairro e instala uma pensão familiar.[2] Em 1940, conhece o pintor romeno Emeric Marcier, que era hóspede da pensão. Eles fecham um acordo de permuta e Djanira começa a ter aulas de pintura com ele, e depois passa a frequentar curso noturno de desenho de figuras de gesso no Liceu de Artes e Ofícios.[5]

Nessa época, o bairro, por coincidência, era conhecido por ter muitos frequentadores do meio artístico.[4] Nesse período, Djanira tem contato e fica amiga de muitas pessoas, que viram frequentadores da pensão. Destacam-se os artistas Carlos Scliar, Árpád Szenes, Maria Helena Vieira da Silva, Milton Dacosta e Jean-Pierre Chabloz, e o crítico de arte Rubem Navarra.[4] Os contatos com essas pessoas proporcionam um ambiente estimulador que a leva a expor no 48º Salão Nacional de Belas Artes, em 1942. No final do ano, Djanira fica viúva. O marido foi um dos cinco mortos no torpedeamento do navio Apaloide por um submarino alemão nas Antilhas.[5]

Apesar da perda do marido, Djanira não desiste da arte. No ano seguinte, realiza sua primeira mostra individual, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), após uma viagem para o interior de Minas Gerais.[5] Ainda em 1943, ela expõe no Salão Nacional de Belas Artes.

Em 1944, ela é escolhida por pares para expor suas obras na Mostra de Pintores Brasileiros, em Londres. A mostra era um esforço de guerra em favor da RAF.[5][3]

A carreira de Djanira começa a tomar mesmo um novo rumo a partir da sua estada nos Estados Unidos. Em 1945, viaja para Nova York, onde conhece a obra de Pieter Bruegel e entra em contato com Fernand Léger, Joan Miró e Marc Chagall. Ela retornar ao Brasil somente três anos depois, e realiza o mural Candomblé para a residência do escritor Jorge Amado, em Salvador, e painel para o Liceu Municipal de Petrópolis. Entre 1953 e 1954, viaja a estudo para a União Soviética.[5]

Abertura da exposição da pintora Djanira da Mota e Silva, no Museu Nacional de Belas Artes, patrocinada pela Funarte, em 1976

A sua pintura dos anos 40 é geralmente sombria, utiliza tons rebaixados, como cinza, marrom e negro, mas já apresenta o gosto pela disciplina geométrica das formas. Na década seguinte, sua palheta se diversifica, com uso de cores vibrantes, e em algumas obras trabalha com gradações tonais que vão do branco ao cinza claro. Apresenta em seus tipos humanos uma expressão de solene dignidade.

A artista sempre busca aproximar-se dos temas de suas obras: no fim da década de 1950, após convivência de seis meses, pinta os indígenas Canela, do Maranhão. Em 1950 em sua estada em Salvador ela conhece José Shaw da Motta e Silva, o Motinha, funcionário público, nascido em Salvador em 29 de janeiro de 1920 e com ele se casa no Rio de Janeiro em 15 de maio de 1952, e muda o nome para Djanira da Motta e Silva.

De volta ao Rio de Janeiro, torna-se uma das líderes do movimento pelo Salão Preto e Branco, um protesto de artistas contra os altos preços do material para pintura. Realiza em 1963, o painel de azulejos Santa Bárbara, para a capela do túnel Santa Bárbara, Laranjeiras, Rio de Janeiro. No ano de 1966, a editora Cultrix publica um álbum com poemas e serigrafias de sua autoria. Em 1977, o Museu Nacional de Belas Artes, realiza uma grande retrospectiva de sua obra.

Na década de 1970, desce às minas de carvão de Santa Catarina para sentir de perto a vida dos mineiros[2] e viaja para Itabira para conhecer o serviço de extração de ferro.

Djanira trabalha ainda com xilogravura, gravura em metal, e faz desenhos para tapeçaria e azulejaria. Em sua produção, destaca-se o painel monumental de azulejos para a capela do túnel Santa Bárbara (1958) no Rio de Janeiro. Inicialmente nomeada como “primitiva”, gradualmente sua obra alcança maior reconhecimento da crítica. Como aponta o crítico de arte Mário Pedrosa (1900-1981), Djanira é uma artista que não improvisa, não se deixa arrebatar, e, embora possuam uma aparência ingênua e instintiva, seus trabalhos são consequência de cuidadosa elaboração para chegar à solução final.

Luto em Avaré pela morte da artista[editar | editar código-fonte]

O prefeito Fernando Cruz Pimentel, decretou luto oficial por três dias em homenagem póstuma a Djanira da Motta e Silva, falecida em 31 de maio de 1979 (quinta-feira) às 11h25 min., no Hospital Silvestre, no Rio de Janeiro, vítima de enfarte. Contava com 65 anos. Seu médico particular era Dr. Nataliel Rodrigues.

A pintora manifestou em vida o desejo de ser enterrada descalça e com o hábito de irmã da Ordem Terceira do Carmo, instituição religiosa a que estava ligada nos últimos anos. Ela se tornou freira da Ordem das Carmelitas em 1972.

Em sua memória, é criado em 31 de maio de 2000 o Centro Cultural Djanira da Motta, pelo prefeito em exercício Joselyr Benedito Silvestre, instalado em meio a um bosque na área urbana, onde funcionou no passado a estatal agrícola CAIC. O local recebeu o nome da pintora Djanira, significando o tributo do município de Avaré à “maior artista avareense de todos os tempos”, cujas telas ficaram mundialmente conhecidas por retratarem de forma genuína as cores do Brasil. O espaço abriga a Biblioteca Municipal “Prof. Francisco Rodrigues dos Santos”.

No mesmo local foi criado em 2 de abril de 2008 o Memorial Djanira da Motta e Silva mostra de objetos pessoais, obras e material de referência.

Principais obras[editar | editar código-fonte]

Painel com foto de Djanira.
Nome[7] Data[7]
Retrato 1942
Auto-retrato 1944
O Circo 1944
Costureira 1951
Caboclinhos 1952
Cartaz da peça "Orfeu da Conceição" 1956
Candomblé 1957
Fazenda de Chá no Itacolomi 1958
Três Orixás 1966
Trabalhador de Cal 1974
Mineiros de Carvão 1974
Futebol Fla-flu 1975
Mina de Ferro (série) 1976

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. "Sendo um dos grandes pintores de nossa terra, ela é mais do que isso, é a própria terra, o chão onde crescem as plantações, o terreiro da macumba, as máquinas de fiação, o homem resistindo à miséria. Cada uma de suas telas é um pouco do Brasil." Jorge Amado [2]
  2. A cronologia apresentada no livro referenciado apresenta este nome para o sanatório[5], porém, provavelmente, a menção era sobre o Sanatório Ruy Dória[6].

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Djanira da Motta e Silva». VIAF (em inglês). Consultado em 22 de novembro de 2019 
  2. a b c Gomes, Daniela Matera Lins (2016). «Djanira: Cronista de ritos, pintora de costumes». In: Assis, Maria Elisabete Arruda de; Santos, Taís Valente dos. Memória feminina: Mulheres na historia, história de mulheres (pdf). Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana. p. 26-33. 246 páginas. ISBN 978-85-7019-668-2. Consultado em 4 de janeiro de 2023 
  3. a b Frazão, Dilva (15 de junho de 2020). «Djanira da Motta e Silva - Pintora brasileira». Ebiografia. Consultado em 2 de abril de 2022 
  4. a b c d e f Naclério Forte, Graziela (30 de junho de 2017). «Djanira da Motta e Silva: modernista de cenas e costumes brasileiros». Revista Novos Rumos (1). ISSN 0102-5864. doi:10.36311/0102-5864.2017.v54n1.09.p124. Consultado em 5 de janeiro de 2023 
  5. a b c d e f g XEXÉO, Pedro Martins Caldas; BARATA, Mário; ABREU, Laura Maria Neves de (2005). A arte sob o olhar de Djanira. coleção Museu Nacional de Belas Artes. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul Design e Editora. 176 páginas. ISBN 85-7081-037-7. OCLC 136920015 
  6. «Sanatório Rui Dória» 
  7. a b Cultural, Instituto Itaú. «Enciclopédia Itaú Cultural». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 10 de janeiro de 2023 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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