Datura stramonium

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Datura stramonium
Datura stramonium
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Solanales
Família: Solanaceae
Género: Datura
Espécie: D. stramonium
Nome binomial
Datura stramonium
L.

Datura stramonium, comummente conhecida como castanheiro-do-diabo[1][2], é uma erva herbácea, ereta anual, pertencente à família das Solanáceas e ao tipo fisionómico dos terófitos.[2][1]

Nomes comuns[editar | editar código-fonte]

Além de trombeta, dá ainda pelos seguintes nomes comuns: pomo-espinhoso[1], trombeta, trombeteira, estramónio[3], figueira-do-demo, figueira-do-diabo,[4] figueira-do-inferno (não confundir com a espécie Euphorbia mellifera , com a qual partilha este nome comum),[5] figueira-brava[6], erva-dos-feitiços[7] e zabumba,[8]

Descrição[editar | editar código-fonte]

Trata-se de uma espécie herbácea erecta e anual, pautada pelo caule cilíndrico que pode ascender aos 190 centímetros de altura.[9] Geralmente, os caules são falsamente dicotómicos, tanto podendo ser glabros como hirsutos, sendo que, quando jovens, os espécimes exibem algumas glândulas amareladas.[9]

Conta com folhas grandes, de formato que alterna entre o ovado, ovado-lanceolado, oblanceolado ou rombóides.[9] Do que toca ao pecíolo costuma medir entre 10 e 90 milímetros, amiúde exornado na face superior, com algunas glândulas amareladas, quando a planta ainda é jovem.[9] O limbo das folhas tem um formato cuneado, amiúde assimétrico na base, com os nervos principais proeminentes.[9]

Do que toca às inflorescências reduzem-se a uma só flor de posicionamento axilar.[9] As flores, por seu turno, são actinomorfas, hermafroditas, dotadas de brácteas e de pedicelos curtos.[9] Exibem uma coloração que vai de branco ao roxo, com tamanhos de de 5 a 17,5 cm.[9]

Os pedicelos medem entre 4 e 10 mm na altura da floração e até 16 mm na da fructificação, são erectos e pubescentes.[9]

O cálice é tubular e, pelo menos enquanto a planta é jovem, pubescente.[9] A corola é infundibuliforme (forma de trombeta), contando com 5 pequenos lóbulos que se prolongam num apéndice triangular lanceolado, de coloração que se matiza entre o branca e azul-arroxeado, normalmente com 15 nervos.[9]

Os estames encontram-se inseridos mais ou menos à mesma altura, na metade inferior da corola.[9]

Os frutos desta planta têm um formato que pode alternar entre o ovóide, elipsóide ou mais ou menos esférico,são espinhosos e contam com mais de 35 espinhos.[9] Dividem-se internamente em quatro câmaras, cada qual com dúzias de sementes de cor negra e pequenas no seu interior. [9]

Todas as partes da planta emitem um odor fétido, quando esmagadas ou apertadas.

Distribuição[editar | editar código-fonte]

Originária do Norte do continente americano, conspecta-se hoje em dia como uma espécie cosmopolita.[1]

Portugal[editar | editar código-fonte]

Trata-se de uma espécie exótica invasora, presente em território português, designadamente nos Arquipélagos dos Açores e da Madeira e em Portugal Continental.[2]

Com efeito, do que toca a Portugal Continental, esta espécie já marca presença em todas as zonas do território.[1]

Ecologia[editar | editar código-fonte]

Trata-se de uma espécie ruderal[1] e nitrófila[2], que tanto medra em baldios sáfaros, como em courelas cultivadas, podendo inclusive surgir nas cercanias de entulhos, aterros de obras e bermas de estradas.[2]

Estatuto legal[editar | editar código-fonte]

Encontra-se classificada enquanto espécie invasora em Portugal Continental, desde 1999, por efeito do Decreto-Lei n.º 565/99 de 21 de Dezembro.[10]

Uso tradicional[editar | editar código-fonte]

Essa planta e outras variedades das Datura fazem parte das farmacopéias tradicionais de diversos povos euro-asiáticos e ameríndios.[11] Seus princípios ativos são os alcalóides tropânicos atropina, hiosciamina e escopolamina, que são classificados como anticolinérgicos.

Recentemente pesquisas na Colômbia com a administração da escopolamina, extraídos de plantas pertencentes ao gêneros Datura e Brugmansia, têm fornecido um importante modelo toxicológico do fenômeno neurológico da memória. Extratos da planta, popularmente conhecida como "burundanga", capazes de causar uma intoxicação por escopolamina,[12] são descritos como causadores de uma amnésia anterógrada transitória e de comportamento submisso e apático,[13] induzindo em maior dose delírios e perda da consciência e amnésia por ação no sistema nervoso central.[14] Devido ao elevado risco de overdose em usuários desinformados, muitas internações e algumas mortes são relatados com seu uso recreativo.[15]

Entre os antigos índios Chumash habitantes do litoral da Califórnia, segundo relatos do explorador português João Rodrigues Cabrilho a datura ou "Erva de Jimson" era utilizada para ajudar a produzir visões. "Especialistas" preparavam uma infusão da raiz da planta, que deixava o indivíduo num estado letárgico por 18-24 horas, após o que suas visões ou sonhos eram relatados e interpretados por anciões da aldeia. Além do uso religioso, também foi usada como anestesia, auxiliar na fixação ossos e tratamento de contusões e feridas, entre outros usos clínicos. [16]

Don Juan, no livro "A Erva do Diabo" de Carlos Castañeda (1931-1998) [17] refere-se nestes termos a esta espécie de Datura:

"A erva-do-diabo tem quatro cabeças; a raiz, a haste e as folhas, as flores e as sementes. Cada qual é diferente, e quem a tornar sua aliada tem de aprender a respeito delas nessa ordem. A cabeça mais importante está nas raízes. O poder da erva-do-diabo é conquistado por meio de suas raízes. A haste e as folhas são a cabeça que cura as moléstias; usada direito, essa cabeça é uma dádiva para a humanidade. A terceira cabeça fica nas flores, e é usada para tornar as pessoas malucas ou para fazê-las obedientes, ou para matá-las. O homem que tem a erva por aliada nunca absorve as flores, nem mesmo a haste e as folhas, a não ser no caso de ele mesmo estar doente; mas as raízes e as sementes são sempre absorvidas; especialmente as sementes, que são a quarta cabeça da erva-do-diabo e a mais poderosa das quatro".

Observe-se que entendimento de concepções não ocidentais do efeito dessa planta, no caso as crenças de descendentes da etnia dos Yaquis, no norte do Mexico, nas quais o referido livro acima citado afirma que se baseou, requer a análise do contexto de seu uso e dos conceitos empregados. O principal conceito nesse caso é que que essa planta corresponde a um "aliado" descrito também como um veículo, uma qualidade e algo que pode ser domesticado. Em relação a outros aliados (associados à substancias psicoativas também empregadas por esse povo) a datura é um aliado imprevisível, possessivo e violento, capaz de matar quem a procura, e de muito difícil domesticação, Castañeda, (o.c.) É possível que essa "domesticação" seja uma possibilidade de manter a consciência e/ou a memória (do acontecido) sob seu efeito, contudo é essa capacidade de perda de consciência o que pode despertar interesse médico, numa perspectiva ocidental, como auxiliar do controle da dor, por exemplo ou do desenvolvimento de aspectos específicos de personalidade ou emoção na perspectiva etnomédica.

Galeria[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Estrutura química do tropano

Referências

  1. a b c d e f «Jardim Botânico UTAD | Espécie Datura stramonium». Jardim Botânico UTAD. Consultado em 27 de março de 2023 
  2. a b c d e «Datura stramonium | Flora-On | Flora de Portugal». flora-on.pt. Consultado em 27 de março de 2023 
  3. Infopédia. «estramónio | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 15 de outubro de 2022 
  4. Infopédia. «figueira-do-diabo | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 15 de outubro de 2022 
  5. Infopédia. «figueira-do-inferno | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 15 de outubro de 2022 
  6. Infopédia. «figueira-brava | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 15 de outubro de 2022 
  7. Infopédia. «erva-dos-feitiços | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 15 de outubro de 2022 
  8. FERREIRA. Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (Edição eletrônica). SP, Editora Positivo Informática LTDA, 2004
  9. a b c d e f g h i j k l m n «Datura Stramonium | Flora Vascular - Toda la información detallada sobre la Flora Vascular | - Especie: Datura stramonium | BioScripts.net». www.floravascular.com. Consultado em 27 de março de 2023 
  10. «Regulamento da introdução na natureza de espécies não-indígenas da flora e da fauna». dre.pt. Consultado em 27 de março de 2023 
  11. Pascual, Marcos S.; Lorenzo, M Teresa, C. Notas históricas y estudio de algunas plantas mesoamericanas en Canarias: piteras, tuneras y estramonios Vegueta: Anuário, (255-263) , Universidad de Las Palmas Grand Canaria, 2003 PDF Maio 2011
  12. Scopolamine Erowid vault Maio 2011
  13. Ardila A., Moreno C. Scopolamine intoxication as a model of transient global amnesia. Brain and Cognition, 15 (2), pp. 236-245. USA, 1991
  14. Bustamante SE, Morales MA, Farmacología de los antagonistas muscarínicos. Apuntes Docentes Enfermería 2002; 1-9 PDF Maio 2011
  15. AJ Giannini,Drugs of Abuse--Second Edition. Los Angeles, Practice Management Information Corporation, pp.48-51.
  16. Ojibwa. Spiritual and Medicinal Plants Used by the Chumash Indians. Native American Netroots, March, 2015 http://nativeamericannetroots.net/diary/1880 Aces. Dez., 2015
  17. Castaneda, Carlos. A erva do diabo, os ensinamentos de dom Juan. RJ, Nova Era, 2009

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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