Línguas tucanas

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Família tucano)
Línguas tucanas
Distribuição
geográfica
 Brasil
 Colômbia
 Peru
Equador
Classificação linguística Possivelmente uma das famílias linguísticas primárias
Subdivisões
  • Oriental
  • Oeste
  • Central
Glottolog tuca1253[1]
Línguas tucanas: tucano oriental (verde-claro), tucano central (verde) e tucano ocidental (verde-escuro). Os pontos indicam posições documentadas das línguas e as zonas coloridas, as áreas prováveis de extensão antes do século XX.
  1. default=

A família linguística tucana é composta por um conjunto de línguas ameríndias faladas no norte da América do Sul. Não faz parte de nenhum tronco linguístico.

Línguas[editar | editar código-fonte]

Ramirez (2019)[editar | editar código-fonte]

Conforme Henri Ramirez (2019), a família tucano possui 3 subgrupos com 11 línguas (9 vivas e 2 extintas).[2]:6

(† = extinta)

O léxico sugere fortemente que as línguas tanimuka e kueretú poderiam formar um subgrupo.[2]

Todas as línguas tukano foram influenciadas pelas línguas Japurá-Colômbia.[2]

Ethnologue[editar | editar código-fonte]

Conforme o Ethnologue, a família tucano possui 25 línguas distribuídas por toda Amazônia[3].

Comparação lexical[editar | editar código-fonte]

Comparação lexical interna (Rodrigues 1986):[4]

Português Tukáno Barasána Yebamasã Wanána Desána Kubéwa
capim ta ta ta ta tana kõria
peixe wai wai wai wai wai moã
cobra pirõ pinõ hinõ pinõno pirõ aĩky
rabo pikõno pikõ hikõ pitxono pingono pikomo
cabelo poari hoa hoari poari poari pora
olho kahpea kahea kahea parieke kuiru diakory
barriga paa paga hera para poaru iapipy
osso o’ãri oãri ngoã koã ngo’ã koãro
flor ori ori ngo ko’oro ngori kowya
fogo pehkame pehkame heame pitxaka peame toabo
água ahko ohko ide ko dehko oko
pele kahsero kahero wiro kasero ga’siro kahe
homem ymã ymã ymã muinõ ymã ymã
mulher numiõ numiõ numiõ numinõ nomeõ numiõ
pai pahky ka’ky haky pahkyra pagy paky
mãe pahko ka’ko hako pahkoro pago pako

Reconstrução[editar | editar código-fonte]

Algumas reconstruções do proto-tucano, de nomes de plantas e animais (Chacon 2013):[5]

Português Inglês Proto-Tucano
cutia agouti *wuɨ
formiga (esp.) ant sp. *meka
tatu armadillo *pãmu
morcego bat *ojo
jenipapo black ink (jenipapo) *weʔe
buriti buriti palm *neʔe
capivara capybara *kuetju
cará cara (Dioscorea alata) *japi
lacraia centipede; boa *jãk’i
jiboia boa *jãk’i
pimenta chili *p’ia
samaúma kapok *jɨi
juriti dove *ƭʃɨ-
peixe fish; fish sp. (?) *waʔi
ingá Inga (fruit sp.) *p’ene
uva-do-mato? grape *ɨʔje
garça heron *jahi
beija-flor hummingbird *mimi
onça-preta jaguar *jai
martim-pescador kingfisher *tjãsa
coró larva *p’ekko
arara macaw *maha
mandioca manioc *kɨi
macaco monkey *takke
quati; macaco (esp.) monkey sp. / coati *sisi
mosquito mosquito *mɨte
paca paca *seme
pacu pacu fish *uhu
coró palm weevil *pĩko
papagaio parrot *wekko
caititu, queixada peccary *tjẽse
pupunha pupunha palm *ɨne
aranha spider *p’ɨpɨ
anta tapir *wekkɨ
cupim termite *p’utu
sapo (esp.) toad sp. *p’opa
tocandira tocandira ant *piata
tartaruga tortoise; turtle *k’oɨ
tucano toucan *tj’ase (?)
traíra traira fish *t’oje
urucum urucum (achiote) *p’õsa
pica-pau woodpecker *kone
cará, inhame yam *jãp’o

Comparações com o proto-pano[editar | editar código-fonte]

Alguns semelhanças lexicais entre o que poderia ser o proto-pano (Shell 1975[6]) e o proto-tukano:[2]:13

Português Proto-Tukano Proto-Pano
eu *jɨʔɨ *ʔɨ
tu *mɨʔɨ *mi
nós (exclusivo) *ɨ̃sa *eseja
vocês *mɨsa *mikwana
negativo *ma *ma
barriga *paa(-ga) *poko
beber *sɨ̃ʔ- *ʂɨʔa-
ir *waʔa *kwa
estar de pé *nɨʔka *nii
cabelo *poa *βoo
caminho *maʔa *baʔi
comer *baʔa *aβa
dia, sol *boʔre *βari
folha *pũu *pɨʔi
gordura *ɨʔse *ʂɨni
homem *ɨmɨ *βɨnɨ
filho *makɨ *βakɨ
nariz *ɨ̃ʔke- *kini
noite/preto *jami *jamɨ
peito *koti *ʂoʃtsi
peixe *waʔi *βawi
piolho *giʔa *ʔia
quente *asi *itsis
roça *weʔse *wai

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Estudos diacrônicos[editar | editar código-fonte]

  • BARNES, Janet 1980 "La reconstrucción de algunas formas del proto tucano-barasano-tuyuca". Artículos en Lingüística e Campos Afines, 8: 37-66. Bogotá: Instituto Lingüístico de Verão.
  • CHACON, Thiago Costa. 2014. "A revised proposal of Proto-Tukanoan consonants and Tukanoan Family classification". International Journal of American Linguistics, 80(3): 275-322.
  • LEVINSOHN, Stephen H. 1992. Estudios comparativos: Proto-Tucano. Bogotá: Instituto Lingüístico de Verão.
  • MALONE, Terrell. 1987. Proto-Tucanoan and Tucanoan genetic relationship (manuscrito).
  • SHELL, Olive A. 1975. Estudios Panos III: las lenguas pano y su reconstrucción. Serie Linguistica Peruana, n°12. Yarinacocha: Instituto Lingüístico de Verão.
  • WALTZ, Nathan E. & Alva WHEELER. 1972. "Proto Tucanoan". In eds. Esther MATTESON et al., Comparative Studies in Amerindian Languages, 119-149. The Hague: Mouton.

Línguas extintas[editar | editar código-fonte]

Os dados sobre as línguas extintas (kueretú, yupúa, arapásu, koewána) foram documentados nas listas lexicais elaboradas por Theodor Koch-Grünberg (1913, 1914), Constant Tastevin (1920, 1921), von Martius (1863), Alfred Russel Wallace (1853) e Johann Natterer (1831).[2]

  • KOCH-GRÜNBERG, Theodor. 1913. Betóya-Sprachen Nordwestbrasiliens und der angrenzenden Gebiete. Anthropos 8.
  • KOCH-GRÜNBERG, Theodor. 1914. Betóya-Sprachen Nordwestbrasiliens und der angrenzenden Gebiete. Anthropos 9.
  • MARTIUS, Karl Friedrich Philipp von. 1863. Glossaria linguarum Brasiliensium: glosarios de diversas lingoas e dialetos, que fallao os indios no Imperio do Brazil. Erlangen: Druck von Jange.
  • NATTERER, Johann. 1831. Wortlisten von Indianersprachen in Brasilien (1817-1835) (manuscritos, pp. 222-227, 266-271).
  • TASTEVIN, Constant. s.d. Curetú (manuscrito nos arquivos do professor Paul Rivet, Paris).
  • TASTEVIN, Constant. 1920. Witót, Karihona, Tanimbuka, Kueretú, Kokámu (manuscrito nos arquivos do professor Paul Rivet, Paris).
  • TASTEVIN, Constant. 1921 Jucuna, Durina ou Soko, Tukuna (manuscrito nos arquivos do professor Paul Rivet, Paris).
  • WALLACE, Alfred Russel. 1853. A narrative of travels on the Amazon and Rio Negro (1848-1852). Londres; Nova Iorque.

Referências

  1. Hammarström, Harald; Forkel, Robert; Haspelmath, Martin, eds. (2017). http://glottolog.org/resource/languoid/id/tuca1253 |urlcapitulo= missing title (ajuda). Glottolog 3.0 (em inglês). Jena, Alemanha: Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana 
  2. a b c d e Ramirez, Henri (2019). A Fala Tukano dos Ye’pâ-Masa, Tomo I: Gramática (versão atualizada, 2019). Manaus: Inspetoria Salesiana Missionária da Amazônia, CEDEM. Consultado em 22 de agosto de 2021 .
  3. Tronco da família Tucano em Ethnologue.
  4. Rodrigues, Aryon Dall'Igna. 1986. Línguas brasileiras: Para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Loyola. (PDF)
  5. Chacon, Thiago (2013). On Proto-Languages and Archaeological Cultures: pre-history and material culture in the Tukanoan Family. In Revista Brasileira de Linguística Antropológica. Vol. 5, No. 1, pp. 217-245.
  6. SHELL, Olive A. 1975. Estudios Panos III: las lenguas pano y su reconstrucción. Serie Linguistica Peruana, n°12. Yarinacocha: Instituto Lingüístico de Verão.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

  • Macro-Tucano (vocabulários organizados por Victor A. Petrucci)