Filipe V de França

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Filipe V & II
Filipe V de França
Rei da França e Navarra
Reinado 20 de novembro de 1316
a 3 de janeiro de 1322
Coroação 9 de janeiro de 1317
Antecessor(a) João I
Sucessor(a) Carlos IV & I
Príncipe Regente da França
Período 5 de junho de 1316
a 20 de novembro de 1316
Monarca João I
 
Nascimento c. 1293
  Lyon, França
Morte 3 de janeiro de 1322 (29 anos)
  Paris, França
Sepultado em Basílica de Saint-Denis,
Saint-Denis, França
Esposa Joana II, Condessa da Borgonha
Descendência Joana III, Condessa da Borgonha
Margarida I, Condessa da Borgonha
Isabel de França
Branca de França
Casa Capeto
Pai Filipe IV de França
Mãe Joana I de Navarra
Religião Catolicismo

Filipe V & II (Lyon, c. 1293Paris, 3 de janeiro de 1322), também conhecido como Filipe, o Alto, foi o Rei da França como Filipe V e Rei de Navarra como Filipe II de 1316 até sua morte.

Foi também conde de Poitou de 1311 a 1316 por apanágio do seu pai Filipe IV de França, conde palatino da Borgonha de 1315 a 1322 pelo seu casamento com Joana II da Borgonha

Devido ao processo pelo qual foi escolhido como sucessor do sobrinho João I no trono francês, ficou principalmente conhecido por promulgar a lei sálica na França, impedindo assim que neste reino a coroa pudesse passar para uma mulher.

Primeiros anos e casamento[editar | editar código-fonte]

Segundo filho de Filipe o Belo e Joana I de Navarra, os seus irmãos foram Luís X de França, Carlos IV de França, e Isabel de França, rainha consorte da Inglaterra.

Depois da invasão da Flandres em 1305, o seu pai concedeu Béthune, a primeira cidade a render-se, a Matilde, condessa de Artois e viúva de Otão IV, conde palatino da Borgonha.

Armas do franco condado da Borgonha, adoptadas por Otão IV da Borgonha aquando da sua aproximação ao reino da França

Para garantir a fidelidade desta, foi organizado o casamento das suas duas filhas, Joana e Branca, com os príncipes Filipe e Carlos, respectivamente, filhos do rei francês. O matrimónio de Filipe com Joana ocorreu em Corbeil, em 1307.

Em Abril de 1314, uma visita da sua irmã Isabel de França despoletou o escândalo da Torre de Nesle: Margarida da Borgonha, esposa do seu irmão Luís, e Branca da Borgonha, esposa de Carlos, foram acusadas de adultério.

Joana da Borgonha, irmã de Branca e amiga íntima de Margarida, foi envolvida por ter cohecimento e guardado segredo das infidelidades das outras duas, e encarcerada na fortaleza de Dourdan. No mesmo ano Filipe IV morreu e foi sucedido por Luís X.

Em 1315, por influência da sua mãe, Joana foi libertada e voltou à corte, após ser absolvida pelo parlamento. Pouco depois o seu irmão Roberto, herdeiro de Otão IV e conde da Borgonha, morreu.

O título passou para a irmã, agora intitulada condessa Joana II da Borgonha. Filipe o Alto, como esposo, assumiu esse título jure uxoris (por direito de casamento), depois de já ser conde de Poitou por direito próprio, título oferecido em apanágio pelo seu pai.

Regência e subida ao trono[editar | editar código-fonte]

Quando o rei Luís X morreu, a segunda esposa e viúva deste, Clemência da Hungria, estava grávida. Filipe assumiu a regência, sob alegações de que nessas condições a rainha não podia assumir o governo do país. A sucessão do trono permaneceu uma incógnita, havendo três pretendentes:

  • No caso de um filho varão, este herdaria a coroa da França.
  • Se nascesse outra menina, Joana, filha de Luís X, poderia subir ao trono, apesar de não haver precedentes de uma mulher ter sido coroada rainha governante da França. Ao contrário, Navarra tinha este precedente e no futuro aceitaria esta como soberana.
  • Mas poderia ser decidida a necessidade de descendência varonil, pelo que Filipe o Alto, o irmão sobrevivente mais velho do falecido rei, herdaria a França.
Representação de João I de França, o Póstumo

O assunto parecia resolvido com o nascimento de um filho varão, João I de França, o Póstumo, na noite de 14 para 15 de Novembro de 1316. Mas João viveu apenas durante alguns dias, falecendo a 19 de Novembro de forma misteriosa durante a cerimónia de apresentação aos barões.

Houve algumas suspeitas de envolvimento de Filipe na morte do sobrinho, mas nenhuma informação concreta confimou essa teoria. Apesar de serem lançadas várias teorias de conspiração sobre este óbito que, mesmo fazendo sentido, não estão provadas, não é particularmente extraordinária a morte de um bebé no início do século XIV. Mesmo com as condições privilegiadas de uma das casas reais mais evoluídas da Europa, é necessário ter em conta a taxa de mortalidade infantil da época.

À nobreza do reino foi então posta a questão da legitimidade da princesa Joana, nascida do primeiro matrimónio, à sucessão do trono francês. De facto, era a primeira vez que ocorria a ausência de um herdeiro varão directo. A sucessão que começara por ser electiva no início da dinastia capetiana, passara a dinástica varonil.

Havendo inclusivamente dúvidas sobre a paternidade de Joana, devido ao caso da Torre de Nesle, a nobreza francesa preferiu oferecer, nos Estados gerais de 1317 e alegando a lei sálica, as coroas de ambos os reinos, e o condado de Champagne, ao irmão de Luís X e já regente, Filipe V de França. Foi sagrado e coroado na catedral de Reims pelo arcebispo Roberto de Courtenay, também um capetiano, a 6 de Janeiro.

A 2 de Fevereiro reuniu uma assembleia de nobres, prelados e burgueses de Paris para declarar que pela sua ascendência estava melhor colocado para subir ao trono que a sua sobrinha Joana, uma vez que estava separado de São Luís por duas gerações contra três desta, e afirmando que "nenhuma mulher sucederá no reino da França".

Reinado[editar | editar código-fonte]

Jacques Duèze, o papa João XXII

Durante seu reinado, Filipe retomou a política interrompida do seu pai, retomando assim a ideia da realeza, perdida no reinado anterior. Uma das suas primeiras acções foi ajudar a reunir um conclave de 23 cardeais em Lião, em 1316, para resolver o impasse que há dois anos deixava a Santa Sé em sede vacante e o mundo católico sem papa. Aprisionados por Filipe na igreja até definirem o sucessor de Clemente V, elegeram então Jacques Duèze, que tomou o nome de João XXII. Este teria sido o conclave que criou a regra de a eleição dos papas se realizar atrás de portas trancadas.

Em 1318 renovou a aliança com a Escócia. Depois de uma campanha na Flandres contra Roberto III, este prestou-lhe homenagem a 5 de Maio de 1320. Bom estratega, Filipe o Alto conseguiu vencer as oposições e resolver os problemas com os flamengos pela diplomacia, na paz de 2 de Junho desse mesmo ano.

Na política interna, confirmou as cartas de foral provinciais e centralizou as diferentes instituições para as tornar mais eficazes. Impôs a utilização de uma moeda única no território apesar da oposição dos nobres do sul da França. Tentou também normalizar os pesos e as medidas, encontrando resistência nos Estados gerais, e criou a Câmara de Contas, cuja finalidade primordial, essencial e principal seria o saneamento da administração pública.

Ainda em 1320, juntou a cidade de Tournai aos domínios da coroa. A 29 de Junho, na catedral de Amiens, recebeu do seu cunhado Eduardo II da Inglaterra a homenagem pelo ducado de Guyenne, o condado de Ponthieu e a cidade de Montreuil.

Cruzada dos Pastores, iluminura do século XV

Entretanto, na Normandia iniciou-se um movimento chamado a Cruzada dos Pastores, em Maio de 1320: um pastor adolescente afirmava ter sido visitado pelo Espírito Santo, que o instruíra a lutar contra os mouros na Península Ibérica. Semelhante ao movimento com o mesmo nome no reinado de São Luís, este movimento incluía principalmente jovens, mulheres e crianças. Marcharam sobre Paris para pedir a Filipe V para os liderar, mas o rei recusou-se a encontrar-se com os cruzados.

Assim, estes dirigiram-se para sul até à Aquitânia, no caminho atacando castelos, oficiais do rei, padres e leprosos. No entanto, os alvos principais eram mesmo os judeus, que atacaram em Saintes, Verdun, Cahors, Albi e Toulouse, onde chegaram a 12 de Junho. O papa João XXII, em Avinhão, deu ordens para os parar.

Quando eventualmente entraram na Península Ibérica os seus ataques já eram conhecidos, e Jaime II de Aragão empenhou-se em proteger os seus súbditos. Inicialmente proibiu-os de entrarem no seu reino, mas quando mesmo assim entraram, em Julho, Jaime avisou os seus nobres para garantirem a segurança da comunidade judaica.

Conforme esperado, os pastores atacaram alguns judeus, especialmente na fortaleza de Montclus, onde mais de 300 judeus foram mortos. Afonso de Aragão, filho de Jaime, foi enviado pelo pai para controlar a situação. Os responsáveis pelo massacre de Montclus foram presos e executados, depois não ocorreram mais incidentes incidentes e a cruzada dispersou.

Filipe V de França, o Alto

Esta "cruzada" é vista como uma revolta contra a monarquia francesa, tal como a primeira Cruzada dos Pastores. Os judeus eram vistos como um símbolo do poder real uma vez que, mais do que quaisquer outros súbditos, necessitavam da protecção pessoal do rei, tanto na França como em Aragão.

Estes eram também um símbolo da economia real, odiados pelos pobres e pelos camposeses, que se viam sob pesados impostos. Tinham-se passado poucos anos desde que Filipe IV de França permitira o regresso dos judeus ao seu país, depois de a ter expulsado em 1306. As dívidas à comunidade judaica tinham no entanto sido cobradas para os cofres da monarquia depois dessa expulsão, o que provavelmente também contribuíra para aos olhos de povo, ser feita a ligação entre os judeus e o rei.

Em 1321, Filipe multou as comunidades que tinham assassinado judeus. Isto levou a uma segunda revolta, desta vez entre a população urbana. Apesar de cronistas posteriores terem inventado a ideia de uma "Cruzada dos Vaqueiros", uma segunda vaga desta Cruzada dos Pastores, isto nunca aconteceu, mas ocorreram mais ataques aos judeus em consequência das multas.

Filipe reinou por apenas seis anos. Foi atacado de disenteria e febres a partir de Agosto de 1321, provavelmente envenenado com água contaminada por leprosos em Pontou. Depois de cinco meses de sofrimento, morreu em Longchamp, nos arredores de Paris, na noite de 2 para 3 de Janeiro de 1322.

Foi sepultado na basílica de Saint-Denis onde, como outras no mesmo local, foi profanada durante a revolução francesa em 1793. Não deixou descendentes masculinos, pelo que foi sucedido pelo seu único irmão sobrevivente, Carlos IV de França.

Descendência[editar | editar código-fonte]

Filipe casou-se uma única vez, em 1307, com Joana da Borgonha, filha de Matilde, condessa de Artois, e Otão IV, conde palatino da Borgonha. Desta união nasceram:

Ancestrais[editar | editar código-fonte]

Títulos Nobiliárquicos & Tratamentos[editar | editar código-fonte]

  • 1293-1316: "Sua Excelência, O Príncipe Felipe da França & Navarra"
  • 1316-1322: "Sua Alteza, O Rei"[nota 1]

Representações na cultura[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. Por ser um Rei muito antigo, Felipe, o rei em estudo neste artigo, não era tratado como Sua Majestade Cristianíssima, ou Sua Majestade, mas sim por Alteza; Lembrando que os tratamentos da classe de majestade só apareceram nos séculos seguintes.

Referências

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • The Pastoureaux of 1320, Malcolm Barber, Journal of Ecclesiastical History, 20
  • Communities of Violence: Persecution of Minorities in the Middle Ages., David Nirenberg, Princeton, 1996

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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Precedido por
(criação por apanágio
de Filipe IV & I)
Conde de Poitou
1311 — 1316
Sucedido por
(anexado à coroa)
Precedido por
Roberto
Armas do condado da Borgonha
Conde Palatino da Borgonha
com Joana II, Condessa da Borgonha
(por casamento)

1315 — 1322
Sucedido por
Joana III
Precedido por:
João I
Armas da dinastia capetiana
Rei de França

1316 — 1322
Seguido por:
Carlos IV & I
Armas do reino de Navarra
Rei de Navarra

1316 — 1322
Armas dos condes de Champagne
Conde de Champagne

1316 — 1322