Finanças

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Bolsa de Valores de São Paulo: uma modalidade de aplicação financeira

Finanças (do francês finance) é a ciência e a profissão da gestão do dinheiro.[1] Seu campo de estudo são as instituições financeiras, os mercados financeiros e o funcionamento dos sistemas financeiros, quer dentro de uma nação, quer no mercado internacional. Quanto ao verbo, "financiar" significa fornecer fundos para negócios e projetos.

Na sua acepção moderna, o conceito de "finanças" nasceu nos anos 1950 e sua abordagem característica é normativa, isto é, um decisor, seja um investidor individual ou gerente empresarial, busca maximizar uma função-objetivo, seja em utilidade ou em retorno esperado, ou agregar valor para o acionista, para um dado preço de título obtido no mercado.

No nível microeconômico, as finanças são o estudo do planejamento financeiro, da gestão de ativos e da captação de fundos por empresas e instituições financeiras. O termo "finanças" pode, assim, incorporar o estudo do dinheiro e outros ativos; o gerenciamento e controle desses ativos ou recursos; e a análise e gerenciamento de riscos de projetos.

Contributos das finanças modernas

Problema clássico de finanças

Teoria do portfólio

O artigo de Harry Markowitz de 1952, Portfolio Selection[2] fundou a teoria da seleção de carteira, tendo sido um dos precursores da teoria moderna de finanças.[3][4] Pela primeira vez os conceitos de risco e retorno são apresentados de forma precisa. A descrição do retorno e risco através de indicadores de média e variância, atualmente tão usada por profissionais de finanças, não era tão óbvia naqueles dias. Esta façanha de Markowitz tornou possível a utilização da poderosa álgebra de matemática estatística nos estudos de seleção de carteiras.

O modelo CAPM

Em 1964, William Sharpe desenvolve um modelo imaginando um mundo onde todos os investidores utilizam a teoria da seleção de carteiras de Markowitz através tomando decisões usando a avaliação das médias e variâncias dos ativos.[5] Sharpe supõe que os investidores compartilham dos mesmos retornos esperados, variâncias e covariâncias. Mas ele não assume que os investidores tenham todos o mesmo grau de aversão ao risco. Eles podem reduzir o grau de exposição ao risco tomando parcelas maiores de ativos de menor risco, ou construindo carteiras combinando muitos ativos de risco.

O modelo de precificação de ativos financeiros (CAPM, capital asset princing model em inglês) descreve a relação entre o risco de mercado e as taxas de retorno exigidas.

Tem, como pressupostos, que:

  • existe a possibilidade de se efetuar investimento em ativos sem risco;
  • os investidores são maximizadores da utilidade esperada e escolhem os seus investimentos entre carteiras alternativas com base no seu retorno esperado e respetivo desvio padrão;
  • os investidores podem endividar-se a uma taxa de juro igual à que podem emprestar num montante ilimitado a uma dada taxa de juro isenta de risco (no entanto as taxas de endividamento, em princípio, são maiores que as taxas de empréstimo);
  • todos os investidores têm expectativas homogéneas, quer quanto ao retorno esperado, à variância e covariância do retorno dos ativos;
  • todos os ativos são perfeitamente divisíveis e líquidos, não existindo custos de transação;
  • não há impostos;
  • o cálculo de betas "futuros" parte do pressuposto que os dados históricos irão se repetir (o que sabemos que há incerteza neste princípio);

A linha de mercado de capitais, LMC (capital market line em inglês) descreve a relação risco/retorno para carteiras eficientes; isto é, para carteiras que consistem numa carteira de mercado mais um activo isento de risco.

A linha de mercado de títulos (security market line) descreve a relação risco/retorno para títulos considerados isoladamente. A taxa de retorno exigida para um dado título é igual á taxa de retorno isenta de risco adicionada de um prémio de risco de mercado , multiplicado pelo coeficiente beta do título :

O prémio de risco esperado é o prémio de risco de mercado multiplicado pelo beta:

A linha de mercado de títulos pode não ser estável no tempo, pois quer a inflação quer a aversão ao risco podem alterar-se. Se a inflação aumentar, irá com certeza aumentar a taxa de retorno isenta de risco, pois a inflação acrescenta um prémio à taxa de retorno isenta de risco e de inflação e faz deslocar a SML para cima. Se a aversão ao risco aumentar a inclinação da reta representativa da SML vai inclinar-se mais.

O coeficiente beta do título é a medida do seu risco de mercado. O Beta mede a volatilidade dos retornos de um título relativamente ao retorno do mercado, isto é, de uma carteira constituída por todos os títulos do mercado (devidamente diversificada). O coeficiente Beta é medido pela inclinação da linha característica do título, que é determinada pela reta da regressão entre os retornos históricos do título face aos retornos históricos do mercado (da carteira diversificada). Um título com um Beta elevado (>1) é mais volátil de que um título de risco médio, enquanto que um título com Beta <1 é menos volátil do que a média. Um título de risco igual ao do mercado tem um Beta = 1, por definição. O Beta de uma carteira é a média ponderada dos Betas dos títulos que constituem essa carteira. Embora a taxa de retorno esperada de um título seja, em geral, igual à taxa de retorno exigida, várias coisas podem acontecer para provocar a alteração das taxas de retorno exigidas, como, por exemplo:

  • a taxa de retorno isenta de risco pode alterar-se em consequência de alteração da inflação antecipada;
  • o coeficiente Beta do título pode alterar-se;
  • a aversão ao risco dos investidores também pode alterar-se.

Embora o CAPM seja uma ferramenta conveniente no estudo da relação entre risco e retorno, não pode ser provado empiricamente e os seus parâmetros são difíceis de estimar, pelo que deve ser utilizado com cautela. O modelo CAPM tem algumas limitações:

  • Principal problema empírico: Identificação da carteira de mercado relevante.
  • Eventual instabilidade dos Betas (pressuposto de que os retornos ex-post serão idênticos às expectativas ex-ante dos investidores.
  • Principal problema teórico: será que os investidores diferenciam o risco sistemático do risco não sistemático (risco específico), ou será que os investidores se preocupam é com o risco total.

O CAPM pode ser utilizado:

  1. Para a determinação do custo do capital de uma empresa, na parte que diz respeito ao capital próprio), o que é relevante, para avaliação de empresas e determinação da estrutura óptima de capitais.
  2. Para a determinação do custo do capital próprio de uma divisão de actividades de uma empresa com múltiplos negócios, sendo que cada negócio tem o seu próprio nível de risco e Beta).
  3. Para a determinação, na análise da viabilidade de projectos, da remuneração a exigir para o capital próprio a utilizar no seu financiamento. O Beta da sociedade como um todo só será válido para um projecto isolado se este tiver um nível de risco equivalente ao da empresa.

As deficiências do CAPM motivaram o aparecimento de outras teorias para análise de modelos de equilíbrio entre risco e retorno.

Hipótese da eficiência de mercado

Eugene Fama propõe uma teoria, intimamente ligada ao modelo CAPM, se refere à hipótese do mercado eficiente. Afirma que não há uma simples regra, baseada nos dados e informações publicamente disponíveis, que possa gerar ganhos extraordinários aos investidores;[6][7] e que os preços das ações se comportam aleatoriamente. A chave desse desenvolvimento foi o modelo de passeio aleatório dos preços de ações que, segundo Fama, "diz que o caminho futuro do nível de preço de um título não é mais previsível do que o caminho de uma série acumulada de números aleatórios (...) isto insinua que a série de mudanças de preço não tem memória, (...) o passado não pode ser usado para predizer o futuro de modo significativo".[8]

Proposição de Modigliani e Miller

Outro dos pilares sobre os quais as teorias modernas de finanças se baseiam são as proposições de Modigliani e Miller (M&M)[9] sobre a estrutura de capital, com a publicação do seu primeiro artigo sobre custo do capital, finanças corporativas e teoria de investimentos. Para alguns autores esta proposta de M&M de 1958 terá provocado uma mudança de paradigma no campo acadêmico de Finanças,[4] porque o processo de "simplificação, matematização e o esquema da arbitragem nas suas provas, teve um profundo impacto no modo como os economistas financeiros têm procedido desde então".[3] Tanto as proposições de M&M como o CAPM e a hipótese de eficiência de mercado tratam do equilíbrio no mercado de capitais e de quais forças atuam quando este equilíbrio é perturbado.

Precificação derivativos e opções

Finanças

Mercado financeiro
Ações
ETFs
Títulos e Obrigações
Corretoras de Valores
Forex
Derivativos
Commodity
Direitos de subscrição
Comissão de Valores Mobiliários
Classificação de crédito

Renda fixa
Certificado de depósito bancário (CDB)
CRA
CRI
Debênture
LC
LCA
LCI
Tesouro Direto

Imóveis
FII

Sistema bancário
Banco Central do Brasil
Depósito
Empréstimo

O trabalho sobre precificação de derivativos e opções foi pioneirizado de Merton e Scholes, seguidos de perto por Fischer Black. Um derivativo é um contrato cujo valor deriva do valor de uma taxa de referência, do valor de um título, de uma mercadoria (commodity) ou de um índice. A opção, por sua vez, é um instrumento que dá a seu comprador um direito futuro sobre algo, mas não uma obrigação, e ao seu vendedor uma obrigação futura, caso a opção seja exercida pelo comprador. A fórmula de Black-Scholes-Merton diz que o preço de uma opção é função do valor corrente de mercado do título, do preço futuro, do período até o vencimento e da taxa livre de risco, além da variância dos retornos deste título.[10] Black, Scholes e Merton mostraram que se os retornos do ativo subjacente seguissem um passeio aleatório de tempo contínuo, então o padrão de retornos de uma opção poderia ser reproduzido exatamente por um portfólio continuamente ajustado do ativo e o título do governo ou em dinheiro. Em um mercado eficiente, então, o preço de uma opção teria que ser o custo da replicação do portfólio. Se seus preços divergissem, existiria uma oportunidade de arbitragem, em outras palavras, haveria um lucro sem risco que pode ser feito comprando o mais barato e vendendo o mais valorizado dos dois. Como os arbitradores fazem isto, suas compras aumentariam o preço mais baixo e suas vendas abaixariam o preço mais alto, eliminando qualquer diferença entre o preço de uma opção e o custo de replicação do portfólio.[4]

Finanças comportamentais

As finanças comportamentais têm como principal objetivo identificar e compreender as ilusões cognitivas que fazem com que pessoas cometam erros sistemáticos de avaliação de valores, probabilidades e riscos. Consideram que os indivíduos nem sempre agem racionalmente, pois estão propensos aos efeitos das ilusões cognitivas. A principal temática de pesquisa deste ramo das finanças consiste na investigação de possíveis interferências de fatores comportamentais e psicológicos nos movimentos dos investidores e, consequentemente, do mercado.[11] Segundo Rogers, Ribeiro e Securato (2007)[carece de fontes?], seria possível que erros no processo de tomada de decisão fossem eliminados se os indivíduos pudessem aprender com os erros e, assim, excluí-los de todas as decisões em condições de risco. As finanças comportamentais identificaram que existem características do comportamento humano que limitam o processo de aprendizagem, tais como a dissonância cognitiva, o excesso de confiança, as discrepâncias entre atitude e comportamento, o conservadorismo, o arrependimento, a falácia do apostador e a ilusão do conhecimento.

Ver também

Referências

  1. FERREIRA, A. B .H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 781.
  2. MARKOWITZ, H. Portfolio selection. The Journal of Finance, v. 7, n. 1, p. 77-91, 1952.
  3. a b McGOUN, E. G. On knowledge of finance. International Review of Financial Analysis, v. 1, n. 3, p. 161-177, 1992.
  4. a b c [1]IQUIAPAZA, R.A., AMARAL, H.F.; BRESSAN, A.A. Evolução da Pesquisa em Finanças: Epistemologia, Paradigma e Críticas. Revista O&S: Organizações & Sociedade, 2009.
  5. SHARPE, W. F. Capital asset prices: A theory of market equilibrium under conditions of risk. The Journal of Finance, v. 19, n. 3, p. 425-442, 1964.
  6. FAMA, E. Efficient capital markets: A review of theory and empirical work. The Journal of Finance, v. 25, n. 2, p. 383-417, 1970.
  7. FAMA, E. Efficient Capital Markets: II. The Journal of Finance, v. 46, n. 5, p. 1575–1617, 1991.
  8. FAMA, E. The behavior of stock-market prices. Journal of Business, v. 38, n. 1, p. 34-105, 1965.
  9. MODIGLIANI, F.; MILLER, M. H. The cost of capital, corporation finance and the theory of investment. American Economic Review, v. 48, n. 3, p. 261-297, Jun 1958.
  10. BLACK, F.; SCHOLES, M. The valuation of option contracts and a test of market efficiency. The Journal of Finance, v. 27, n. 2, p. 399-417, 1972.
  11. DA FONTE NETO, J. W.; CARMONA, C.U.M. As Finanças Comportamentais e o Mercado Acionário Brasileiro: Evidências do Efeito Pessimismo em Estudos de Eventos com Regressões EGARCH. In: 30º Encontro do ENANPAD, 2006.

Ligações externas

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