Fitzroya

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Fitzroya cupressoides, cipreste-da-patagónia

Estado de conservação
Espécie em perigo
Em perigo [1]
Classificação científica
Reino: Plantae
(sem classif.) Gymnospermae
Divisão: Pinophyta
Classe: Pinopsida
Ordem: Cupressales
Família: Cupressaceae
Género: Fitzroya
Hook.f. ex Lindl.
Espécie: F. cupressoides
Nome binomial
Fitzroya cupressoides
I.M.Johnst.[2]
Distribuição geográfica
Distribuição natural de F. cupressoides no centro-sul do Chile (vermelho).
Distribuição natural de F. cupressoides no centro-sul do Chile (vermelho).
Sinónimos
Fitzroya cupressoides milenar no Parque Nacional Los Alerces, Argentina. Idade: 2620 anos, Altura: 57,5 metros, Diãmetro: 2,3 metros.
Floresta de Fitzroya no Parque Nacional Alerce Costero, Chile.

Fitzroya é um género monotípico da família Cupressaceae (ciprestes), cuja única espécie extante é Fitzroya cupressoides, o cipreste-da-patagónia ou alerce-da-patagónia, um endemismo da região costeira centro-sul do Chile e dos Andes argentinos.[3][4][5] A espécie é uma conífera alta e de vida longa, um membro importante das florestas temperadas valdivianas. O nome genérico é uma homenagem a Robert FitzRoy.

Descrição[editar | editar código-fonte]

Morfologia[editar | editar código-fonte]

A Fitzroya cupressoides é a maior espécie de árvore da América do Sul, atingindo normalmente 40-60 metros de altura, mas ocasionalmente mais de 70 metros, e até 5 metros de diâmetro de tronco. A sua copa áspera e piramidal fornece cobertura a espécies como o Nothofagus alpina e a Luma apiculata.

O maior exemplar vivo conhecido é o Alerce Milenario no Parque Nacional Alerce Costero, no Chile, com mais de 60 m de altura, com um diâmetro de tronco de 4,26 m. Existiam exemplares muito maiores antes de a espécie ser fortemente desflorestada nos séculos XIX e XX. Charles Darwin relatou ter encontrado um exemplar com um tronco com 12,6 m de diâmetro.

As folhas são inseridas em espirais decussadas de três, com 3-6 mm de comprimento (até 8 mm de comprimento em plântulas) e 2 mm de largura, marcadas com duas linhas brancas de estomas. É uma espécie dioica, com cones masculinos e femininos em árvores separadas.[6]

Os cones são globosos, com 6-8 mm de diâmetro, abrindo de forma plana até 12 mm de diâmetro, com nove escamas em três espirais de três. Apenas o verticilo central de escamas é fértil, com 2-3 sementes em cada escama. Os verticilos inferior e superior são pequenos e estéreis. As sementes têm 2-3 mm de comprimento e são planas, com uma asa de cada lado. As sementes amadurecem 6-8 meses após a polinização.

A casca espessa de F. cupressoides pode ser uma adaptação aos fogos florestais.[7]

Em 1993, um espécime do Chile, que ficou conhecido por "Gran Abuelo" ou "Alerce Milenario", foi encontrado com 3622 anos de idade, tornando-se a segunda árvore mais antiga com idade totalmente verificada por contagem de anéis de crescimento para qualquer espécie de árvore viva, depois do Pinus longaeva.[8] Investigações mais recentes propuseram que este indivíduo corresponde à árvore mais antiga do mundo.[9]

Uma equipa de investigadores da Universidade da Tasmânia encontrou folhagem fossilizada de uma espécie de Fitzroya no rio Lea, no noroeste da Tasmânia.[10] O fóssil de 35 milhões de anos (do Oligoceno) foi denominado F. tasmanensis. A descoberta demonstra as antigas afinidades florísticas entre a Australásia e o sul da América do Sul, que os botânicos identificam como a flora Antárctica.

Há cerca de 40 a 50 mil anos, durante os períodos interstadiais da glaciação de Llanquihue, a distribuição natural do género Fitzroya e de outras coníferas tinha uma extensão geográfica muito maior e contínua do que a atual, incluindo as planícies orientais da ilha de Chiloé e a área a oeste do lago Llanquihue. Atualmente, Fitzroya cresce principalmente a uma alguma altitude acima do nível do mar. Os povoamentos de Fitzroya perto do nível do mar são muito provavelmente relictos.[11]

Sistemática[editar | editar código-fonte]

O botânico chileno Juan Ignacio Molina descreveu esta espécie vegetal em 1782 com o nome de Pinus cupressoides. O botânico norte-americano Ivan Murray Johnston referiu-se a este basónimo, mas colocou esta espécie no seu próprio género sob o nome de Fitzroya cupressoides. A primeira descrição completa foi publicada em 1924.[12]

O nome genérico homenageia o oficial da marinha britânica e meteorologista Robert FitzRoy (1805-1865).[13]

Outros sinónimos taxonómicos são: Abies cupressoides (Molina) Poir., Cupresstellata patagonica (Hook.f.) J.Nelson., Fitzroya patagonica Hook.f. ex Lindl., Libocedrus tetragona (Hook.) Endl., Thuja tetragona Hooker.

História[editar | editar código-fonte]

A madeira de "Fitzroya cupressoides" foi encontrada no sítio do Monte Verde, o que implica que é utilizada desde há pelo menos 13 000 anos. Sabe-se que o povo huilliche utilizava a madeira para fabricar ferramentas e armas.[14]

Aquando da conquista espanhola do arquipélago de Chiloé em 1567, a maior parte das ilhas estava coberta por uma densa floresta onde crescia o F. cupressoides.[15] A madeira tinha importância económica na Chiloé colonial e na colónia de Valdivia, que exportava tabuado para o Peru.[16] Uma única árvore pode render 600 tábuas com largura de pelo menos 0,5 m e comprimento de 5 m.[15] A madeira era muito valorizada no Chile e no Peru por sua elasticidade e leveza.[14] Com a destruição de Valdivia em 1599, Chiloé ganhou maior importância como o único local que podia abastecer o Vice-Reino do Peru com madeira de F. cupressoides, cujo primeiro grande carregamento saiu de Chiloé em 1641.[15]

A madeira de Fitzroya cupressoides era o principal meio de troca no comércio com o Peru, e chegou a ser usada como moeda local, o real de alerce, no Arquipélago de Chiloé.[14] Tem sido argumentado que o exclave espanhol de Chiloé prevaleceu sobre outros assentamentos espanhóis no sul do Chile devido à importância do comércio de alerce.[14][17]

Entre 1750 e 1943, aproximadamente, quando as terras entre o rio Maullín e Valdivia foram colonizadas por Espanha e depois pelo Chile, ocorreram numerosos incêndios de bosques de Fitzroya na Cordilheira Pelada. Estes incêndios foram iniciados por espanhóis, chilenos e europeus. Anteriormente, entre 1397 e 1750, os bosques de Fitzroya da Cordilheira Pelada também sofreram incêndios provocados por trovoadas e por habitantes indígenas.[18]

Nas décadas de 1850 e 1860, Vicente Pérez Rosales queimou enormes extensões de terras florestadas para fornecer terras limpas para a colonização alemã no sul do Chile.[19] A área afetada pelos incêndios de Pérez Rosales estendia-se por uma faixa no sopé dos Andes, desde o rio Bueno até ao Seno de Reloncaví.[19] Um dos incêndios intencionais mais famosos foi o das florestas de Fitzroya entre Puerto Varas e Puerto Montt em 1863. [20] Essa queimada foi feita aproveitando uma seca em 1863.[20] As queimadas de florestas eram, em muitos casos, necessárias para a sobrevivência dos colonos que não tinham outros meios de subsistência além da agricultura.[20]

A exploração madeireira de Fitzroya continuou até 1976[21] quando passou a ser proibido por lei (com exceção das árvores já mortas e com a autorização da CONAF, uma Corporação Nacional), embora o abate florestal ilegal ainda ocorra ocasionalmente.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Premoli, A.; Quiroga, P.; Souto, C.; Gardner, M. (2013). «Fitzroya cupressoides». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2013: e.T30926A2798574. doi:10.2305/IUCN.UK.2013-1.RLTS.T30926A2798574.enAcessível livremente. Consultado em 19 novembro 2021 
  2. IPNI.
  3. «Fitzroya cupressoides» (em inglês). ITIS (www.itis.gov) 
  4. Hechenleitner, Paulina (2005). Plantas amenazadas del Centro-Sur de Chile. Distribución, Conservación y Propagación. Santiago: Universidad Austral de Chile y Real Jardín Botánico de Edimburgo. [S.l.: s.n.] ISBN 1-872291-94-5 .
  5. «Appendices | CITES». cites.org. Consultado em 14 de janeiro de 2022 
  6. Gymnosperm Database – Fitzroya cupressoides
  7. Veblen, Thomas T.; Kitzberger, Thomas; Burns, Bruce R.; Rebertus, Alan J. (1995). «Perturbaciones y dinámica de regeneración en bosques andinos del sur de Chile y Argentina» [Natural disturbance and regeneration dynamics in Andean forests of southern Chile and Argentina]. In: Armesto, Juan J.; Villagrán, Carolina; Arroyo, Mary Kalin. Ecología de los bosques nativos de Chile (em espanhol). Santiago de Chile: Editorial Universitaria. pp. 169–198. ISBN 9561112841 
  8. Lara, A; Villalba, R (1993). «A 3620-Year Temperature Record from Fitzroya cupressoides Tree Rings in Southern South America». Science. 260 (5111): 1104–6. Bibcode:1993Sci...260.1104L. PMID 17806339. doi:10.1126/science.260.5111.1104 
  9. Is the world’s oldest tree growing in a ravine in Chile? (Relatório) (em inglês). 20 de maio de 2022. doi:10.1126/science.add1051 
  10. Hill, R. S.; Whang, S. S. (1996). «A new species of Fitzroya (Cupressaceae) from Oligocene sediments in north-western Tasmania». Australian Systematic Botany. 9 (6). 867 páginas. doi:10.1071/SB9960867 
  11. Villagrán, Carolina; Leon, Ana; Roig, Fidel A. (2004). «Paleodistribution of the alerce and cypres of the Guaitecas during the interstadial stages of the Llanquihue Glaciation: Llanquihue and Chiloé provinces, Los Lagos Region, Chile». Revista Geológica de Chile. 31 (1): 133–151. doi:10.4067/S0716-02082004000100008Acessível livremente. Consultado em 13 novembro 2015 
  12. Contr. Gray Herb. 70:91. 1924; siehe Eintrag bei GRIN Taxonomy for Plants.
  13. Lotte Burkhardt: Verzeichnis eponymischer Pflanzennamen. Botanic Garden and Botanical Museum Berlin, Freie Universität Berlin Berlin 2016, ISBN 978-3-946292-10-4, p. 353, doi:10.3372/epolist2016.
  14. a b c d Urbina, Ximena (2011). «Análisis Histórico-Cultural del alerce en la Patagonia Septentrional Occidental, Chiloé, siglos XVI al XIX» (PDF). Magallania. 39 (2): 57–73. doi:10.4067/S0718-22442011000200005Acessível livremente 
  15. a b c Torrejón g, F.; Cisternas v, M.; Alvial c, I.; Torres r, L. (2011). «Consecuencias de la tala maderera colonial en los bosques de alerce de Chiloé, sur de Chile (Siglos XVI-XIX)». Magallania (Punta Arenas). 39 (2). 75 páginas. doi:10.4067/S0718-22442011000200006Acessível livremente 
  16. Villalobos et al. 1974, p. 225.
  17. Otero 2006, p. 73.
  18. Lara, A.; Fraver, S.; Aravena, J.C.; Wolodarsky-Franke, F. (1999), «Fire and the dynamics of Fitzroya cupressoides (alerce) forests of Chile's Cordillera Pelada», Écoscience, 6 (1): 100–109, doi:10.1080/11956860.1999.11952199, cópia arquivada em 27 de agosto de 2014 
  19. a b Villalobos et al. 1974, p. 457.
  20. a b c Otero 2006, p. 86.
  21. Devall, M. S.; Parresol, B. R.; Armesto, J. J. (1998). «Dendroecological analysis of a Fitzroya cupressoides and a Nothofagus nitida stand in the Cordillera Pelada, Chile». Forest Ecology and Management. 108 (1–2): 135–145. doi:10.1016/S0378-1127(98)00221-7 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Otero, Luis (2006). La huella del fuego: Historia de los bosques nativos. Poblamiento y cambios en el paisaje del sur de Chile. Pehuén Editores. ISBN 956-16-0409-4.
  • Villalobos R., Sergio; Silva G., Osvaldo; Silva V., Fernando; Estelle M., Patricio (1974). Historia de Chile 1995 ed. [S.l.]: Editorial Universitaria. ISBN 956-11-1163-2 
  • T.T. Veblen, B.R. Burns, T. Kitzberger, A. Lara and R. Villalba (1995) The ecology of the conifers of southern South America. Pages 120-155 in: N. Enright and R. Hill (eds.), Ecology of the Southern Conifers. Melbourne University Press.

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