Transtorno de ansiedade social

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O transtorno de ansiedade social, vulgarmente chamado de fobia social ou sociofobia, é um transtorno ansioso descrito no DSM-IV, caracterizado por manifestações de alarme, tensão nervosa, medo e desconforto desencadeadas pela exposição à avaliação social — o que ocorre quando o portador precisa interagir com outras pessoas, realizar desempenhos sob observação ou participar de atividades sociais. Tudo isso ocorre até o ponto de interferir na maneira de viver de quem a sofre.

As pessoas afetadas por essa patologia compreendem que seus medos são excessivos e irracionais, no entanto experimentam uma enorme ansiedade e apreensão ao confrontarem situações socialmente temidas e não raramente fazem de tudo para evitá-las. Durante as situações temidas, é frequentemente presente nessas pessoas a sensação de que os outros estão as julgando e, enfim, tais sujeitos não raramente temem ser reputados muito ansiosos, fracos ou estúpidos. Por conta disso, tendem a se isolar frequentemente.

As pessoas com ansiedade social são pessoas excessivamente preocupadas com o julgamento alheio, com a opinião dos outros a seu respeito, são perfeccionistas e determinadas. Com essas características, os portadores da fobia costumam ter alto senso de responsabilidade, bom desempenho profissional e avidez pelos desafios da vida social. A preocupação excessiva com as situações sociais onde estará sob apreciação alheia desperta intensa ansiedade antecipatória.

Esta "timidez" torna-se patológica a partir do momento em que a pessoa sofre algum prejuízo pessoal, como deixar de concluir um curso, uma faculdade ou uma entrevista por causa de um exame final que exige uma apresentação pública diante de um avaliador.

A doença começa a se manifestar na infância e início da adolescência e segue um curso crônico com alta proporção de comorbidades, o que faz com que seja considerado um importante problema de saúde pública. A fobia social é frequentemente confundida com excesso de timidez e traços de personalidade. Com isso, muitos sofrem a vida inteira sem saber que sofrem de um transtorno de ansiedade social. Quando o paciente não é diagnosticado precocemente, as consequências são traumatizantes como pedidos de demissão, afastamento do trabalho, absenteísmo, etc.

Estudos apontam fatores sociais, estilos de vida e formas de convívio entre as pessoas que podem causar a fobia social. Parece haver um padrão associado a um papel familiar como modelo de resposta às situações sociais: educação autoritária, superprotetora e pais inseguros predispõe a fobia social, mas também há fatores genéticos: o córtex singulado anterior e a amídala cerebral. Gêmeos, particularmente os univitelinos (idênticos), têm maior incidência da doença do que a população em geral. Estudos apontam diferenças entre os fóbicos e não-fóbicos na forma de se autoavaliarem. Os fóbicos pensam que não vão dar conta e que todos estão observando-os.

Parece haver uma associação estatisticamente significativa entre a fobia social e o ambiente familiar: quanto maiores os níveis de proteção e autoritarismo exercidos pelos pais, maiores os índices de fobia social, e, quanto maiores os níveis de carinho e autonomia dada pelo pais, menores são os índices de fobia social. Os fóbicos frequentemente são jovens e vivem em grandes cidades, onde o contato social é teoricamente maior. Estudos apontam que esse transtorno é mais vulnerável às mulheres do que aos homens.

Pode existir, na história do desenvolvimento da fobia social, alguma experiência social traumática, geralmente na infância, que tenha se abatido sobre uma pessoa psicologicamente vulnerável ou afetivamente mais sensível, com consequências negativas, contaminando novas relações sociais. De modo geral, esses pacientes com ansiedade social começam a evitar situações sociais que provocam respostas ansiosas desagradáveis e, por trás dessa evitação, surgirá uma sensação de alivio, juntamente com sentimentos de culpa por não estar conseguindo enfrentar o problema. Cada conduta de evitação reforça a fobia e promove sua manutenção, de tal forma que, se não tratada, a fobia social tende a ser crônica e incapacitante. Isso é observado na psicologia quando o fóbico é estimulado a enfrentar o problema, e que resulta na piora do estado mental, se isolando ainda mais após a experiência. A frequência da fobia social é o segundo entre os transtornos fóbicos (25%), sendo superado apenas pela agorafobia (medo apresentado diante de uma multidão e em lugares abertos).

A fobia social não deve ser considerada uma forma exagerada de timidez, uma vez que os prejuízos incapacitantes que causam essa patologia são atenuados sem auxílio ou tratamento médico. Um estudo (com base nos anos de 2008 e 2009) mostrou que possivelmente de 5% a 13% dos brasileiros (entre 8 e 22 milhões) sofrem deste transtorno.[1][2] E apenas 1% as sabe ou tem conhecimento do problema.[1]

Sintomas

Motivados por um trauma psicológico adquirido no passado, o individuo cria um devaneio, acreditando que todos são algozes até que se prove o contrário, e desenvolverá metodologias racionalizadas para se proteger até que consiga confiar novamente em alguém e assim proteger-se contra ameaças sofridas no passado e que foram traumáticas, porém tal racionalização cria uma metodologia de procedimentos com alto grau de perfeccionismo quase impossíveis de serem alcançados, gerando angustia e desencadeiando os seguintes sintomas da fobia social em situações sociais, são, dos muitos, os seguintes:

  • Medo de ser julgado. (isso o deixa inseguro, pois o coloca em situação de submissão, então ao invés de estar sendo julgado sente-se mais seguro estar julgando a ser julgado)
  • Medo de sentir vergonha, sentir-se ridículo ou ter atitudes constrangedoras em público. (isso o enfraquece e o deixa vulnerável gerando instabilidade emocional)
  • Ansiedade crônica, às vezes associada também aos ataques de pânico em casos de picos de ansiedade.
  • Ansiedade antecipatória, isto é, aquela que surge antes de se expor socialmente, só de se pensar na situação temida. (pessoas associadas em grupos torna-se mais perversas o tornando uma vitima mais vulnerável)
  • Reações decorrentes de alterações fisiológicas, como: tensão muscular, sudorese, rubor facial, dificuldade para falar (voz trêmula e voz presa), mal-estar abdominal, mãos e corpo trêmulos, falta de ar e sensação de frio no peito, boca seca, palpitações, vontade frequente de urinar, perda de assuntos sociais devido à preocupação excessiva, entre outros. (o subconsciente preparando o corpo pra luta, pois reage como se o ataque estivesse prestes a acontecer)
  • Desejo intenso de esquivar-se de situações que serão enfrentadas, ou de fugir de situações que estão já sendo enfrentadas. O desejo de esquiva e fuga costumam ser realizados em grande parte das vezes, na intenção do fóbico se proteger destas situações que para ele são aversivas.
  • Angústia e turvação do pensamento.
  • Medo de desconhecer o protocolo social do ambiente e comportar-se de modo inadequado em situações sociais.(isso o deixaria em foco perante possíveis algozes presentes no local)
  • Falta de habilidade social pra interagir com pessoas diferentes em termos de hábitos culturais, classes sociais, grau intelectual, ideologias de vida, e qualquer fator que gere distanciamento social e colocando-o como inferior no grupo. (isso evidenciaria sua fraqueza emocional, intelectual, cultural ou sócio-econômica o tornando vitima fácil contra ataques)
  • Pensamentos negativos em relação à situação e à própria conduta, que consequentemente leva a um aumento ainda maior da ansiedade. (quanto mais se erra mais demonstrará fraqueza e os algozes poderão aproveitar-se)
  • Medo de enrubescer-se ou balbuciar. (numa analogia biológica tais sinais o colocaria como preza)
  • Isolamento social. (quanto mais se expor maiores serão os perigos de tornar-se vitima novamente da situação que o causou o trauma psicológico, mesmo que o trauma tenha sido causado pelos seus familiares)
  • Choro devido a constrangimentos. (principalmente em mulheres, devido à dificuldades de integrar-se e manter relações sociais duradouras, fato importante pra fortalecer auto estima e tornar-se mais forte, e um grupo a protegeria perante situações de perigo)

Situações temidas

As situações sociais temidas e a intensidade da reação fóbica para estas situações variam notavelmente de indivíduo para indivíduo. Existem casos de fobia social específica, onde envolve uma única situação ou um grupo restrito de situações relacionadas, ou generalizada, envolvendo diversas situações não específicas. As situações mais comuns em que pessoas acometidas pelo transtorno apresentam reações fóbicas são:

  • Encontrar-se ou/e desenvolver um diálogo com pessoas desconhecidas.
  • Fazer amizades.
  • Flertar ou demonstrar interesses amorosos ou sexuais a alguém que esteja interessado.
  • Falar em público ou para um pequeno grupo.
  • Ir a uma entrevista.
  • Escrever, dirigir ou praticar esportes enquanto é observado.
  • Trabalhar enquanto é observado.
  • Cantar ou tocar um instrumento musical em público.
  • Ser fotografado ou filmado.
  • Andar na rua, ser observado e julgado pelas pessoas.
  • Viajar de ônibus, metrô ou outro meio de transporte público.
  • Comer ou beber em público.
  • Demonstrar seus sentimentos.
  • Receber ou dar presentes.
  • Participar de eventos sociais e festas.
  • Comemorar aniversário, ser o centro das atenções.
  • Estar em espaço fechado onde há gente desconhecida.
  • Iniciar uma conversa com alguém.
  • Ser apresentado a outras pessoas.
  • Assinar perante outras pessoas.
  • Dar ou aceitar cumprimentos para pessoas desconhecidas.
  • Fazer ou receber chamadas telefônicas.
  • Atender pessoas no portão.
  • Comprar novas roupas.
  • Tomar iniciativas.
  • Ir à casa de amigos ou outras pessoas.
  • Ir ao médico, dentista, cabeleireiro ou a outros profissionais de necessidade rotineira.

Características e exemplos

As pessoas com fobia social generalizada ficam pensando que as pessoas das casas, dos carros, das lojas, da rua, etc, estão olhando para ela de maneira diferente ou percebendo algo anormal nela (principalmente no rosto, comportamento ou aparência) e por isso as pessoas que sofrem de ansiedade social tentam evitar o contato visual e andam de cabeça baixa. Mesmo nos casos em que os fóbicos tem total consciência de que as pessoas não estão os olhando ou os julgando, as reações fóbicas continuam ocorrendo, pois são embasadas num medo irracional. Algumas pessoas fazem de tudo para não sair de casa, ou, quando saem, sentem-se totalmente aliviadas quando voltam, pois é o único lugar onde elas se sentem seguras. Enquanto se encontra numa situação de exposição social, estas pessoas sentem um alto incômodo, não só psicológico como físico. O grau de incômodo é proporcional à situação a que está exposto. Para muitos, a presença de pessoas desconhecidas ou de pouca intimidade pode gerar um alto incômodo mesmo dentro de suas próprias casas. Se mora com outras pessoas, como seus pais e irmãos, podem se sentir coagidos na presença dos amigos de seus familiares, ou até mesmo com a visita de outras pessoas da família, que não fazem parte do seu circulo familiar restrito.

Dependendo de como é o movimento de pessoas em sua casa, podem restringir ainda mais sua zona de conforto, passando a ficar a maior parte do dia em seus quartos. É muito comum que os fóbicos não atendam a porta, o telefone, e se tranquem em seus quartos quando há visitas em casa, saindo apenas quando o visitante for embora. A interação social básica com o desconhecido ou alguém de pouca intimidade, que para as outras pessoas é algo normal, deixa o fóbico muito desconfortável e ansioso. O fóbico social frequentemente "marca" as pessoas que lhe trouxeram mais ansiedade e sofrimento (mesmo que estas não tenham feito nada de errado) e tenta evitar ao máximo seu contato com estas pessoas novamente. Além de evitá-las, tendem a rotulá-las através de criticas negativas, racionalizações e antipatizando com elas, quando na realidade a evitação não está tão depositada nas características da pessoa, mas na própria reação fóbica que experimentou no contato com ela, baseado no seu próprio medo irracional.

O fóbico social frequentemente tem uma autoimagem negativa (independente da atratividade física). Pensa que todos são melhores do que ele, adota uma personalidade muito pensativa a pequenos pormenores e acha que faz tudo mal feito, até quando é o melhor. Apesar destes sentimentos serem muito característicos (ou até obrigatórios) da fobia social, muitos portadores do transtorno não os experimentam conscientemente. Alguns experimentam um sentimento oposto em forma de defesa, se julgando superiores (principalmente em questões intelectuais e/ou morais) em relação a grande maioria das pessoas, apesar dos pensamentos inconscientes pulsantes de inferioridade que eles próprios carregam. Por vezes, o sentimento de inferioridade perante os outros é facilmente notado, e consciente para o próprio fóbico, demonstrados por pensamentos e falas autoderrotistas. Em outros casos, o fóbico dificilmente apresenta alguma demonstração clara de pensamentos de inferioridade, e nunca ou quase nunca demonstra isso em suas falas, normalmente assumindo uma posição de superioridade no plano intelectual, ético, moral, ou, em alguns casos, financeiro. Nesse último caso, a ideia de sentir-se inferior pode parecer incoerente e inaceitável para o fóbico.

As características que revelam o sentimento de inferioridade (conscientes ou inconscientes), e que os dois tipos compartilham, são principalmente as reações de fuga e esquiva, os pensamentos automáticos negativos e os comportamentos autoderrotistas. Por mais que o fóbico inconsciente de suas crenças de inferioridade racionalize as explicações para suas características pessoais e para o seu problema, ele apresenta reações automáticas e inconscientes típicas de crenças de inferioridade. É importante ressaltar também que assim como o medo que o fóbico sente, estas crenças também são irracionais, e de maneira alguma significa que o indivíduo é realmente inferior aos demais. É uma crença irracional, mas que o portador crê de maneira irracional e inquestionável (esteja consciente ou não). Um dos pontos importantes do tratamento para a fobia é conscientizar o fóbico de suas crenças, conscientizar do valor irracional e infantil delas, e trabalhar uma maneira de enfraquecê-las e substituí-las por crenças mais saudáveis, adultas e condizentes com a realidade.

Frequentemente são indivíduos que vivem em grandes cidades, onde o contato social teoricamente é maior. Apesar disso, é importante salientar que, nas cidades pequenas, o hábito de conversar sobre a vida alheia e o maior contato com pessoas conhecidas pode ser pior para o transtorno, pois implica numa maior exposição e vulnerabilidade ao julgamento. Alguns se sentem melhores com uma mudança para cidades grandes, mas esse sentimento pode ser interpretado como uma fuga do problema, nunca uma solução. Pode ocorrer um alívio imediato, mas em pouco tempo o transtorno vai novamente tomar forças quando o indivíduo se adaptar à nova cidade e à nova rotina, tornando-se o mesmo transtorno de sempre, mas moldado à nova imposição ambiental.

No geral, são tímidos e educados, e estas características podem ser confundidas como uma característica normal e benéfica, principalmente por desconhecidos, e assim serem reforçadas indevidamente. O comportamento tímido e educado do fóbico foge aos limites saudáveis, e costumam ser assim pela dificuldade que o portador da fobia sente em se expor emocionalmente, tomar decisões, exigir seus direitos ou mesmo enfrentar naturalmente as mais diversas interações sociais. Estes comportamentos nem sempre são verdadeiros, mas são utilizados (na maioria das vezes de forma automática) para evitar a exposição, o julgamento e a reprovação alheia. Muitas pessoas acabam tendo uma imagem errônea de que o fóbico é extremamente "bonzinho", educado, meigo e tranquilo; e que não sente aversão, raiva ou outros sentimentos turbulentos.

É muito comum que estas pessoas acabem se aproveitando do fóbico, pedindo favores de maneira indiscriminada, tendo comportamentos indiscretos e inconvenientes, não respeitando seus sentimentos, pois percebem que ele nunca expõe sua desaprovação, seu descontentamento, sua irritação, frequentemente cede aos desejos dos outros e não consegue estabelecer limites nas suas relações. As relações que surgem através disto são extremamente desconfortáveis aos portadores de fobia social, que não suportam tal convivência, mas se sentem impotentes em estabelecer limites ou desfazer a relação. Acabam se limitando a se esquivar e fugir o máximo que puderem, e sofrerem em silêncio com o problema.

Geralmente são mais inteligentes (ou possuem mais conhecimento) do que a maioria das pessoas. O isolamento social e a consequente diminuição da atividade mental voltada para o externo (ambiente, sociedade) leva os portadores a uma maior atividade mental voltada para o interno. Com isto, eles acabam se auto-estimulando mais que a maioria das pessoas, o que leva a um desenvolvimento intelectual maior. Este caso é mais notado quando a fobia se desenvolve na infância ou adolescência, em comparado com quando surge durante a vida adulta.

Esta auto-estimulação excessiva e outros fatores importantes que também estão envolvidos, durante estes períodos que o cérebro ainda se encontra numa importante fase de desenvolvimento, acaba muitas vezes levando a uma inteligencia acima da média quando o indivíduo atinge o início da vida adulta, e também tem grande importância no desenvolvimento intelectual a partir daí. Este fenômeno é mais observado nos dias atuais, onde os fóbicos sociais possui um intenso contato com a internet e consequentemente podem buscar e adquirir informações de uma maneira muito mais rápida e eficiente do que se comparado há uma ou duas décadas atrás.

A fobia social é frequentemente confundida com excesso de timidez e traços de personalidade do indivíduo e muitos sofrem a vida inteira sem saber que sofre de um transtorno de ansiedade social. A timidez é uma característica da personalidade comum e normal, que não impede o indivíduo de conquistar o que é necessário ao seu desenvolvimento saudável. A fobia social, apesar de muito confundida com a timidez, não é comparável a ela, e também é incorreto dizer que é uma timidez em excesso. Fobia social é um transtorno de personalidade, caracterizada por um medo irracional de situações sociais, relacionada a reações de luta ou fuga.

A fobia social é comparada a reação de exposição de um indivíduo normal a um animal feroz, como por exemplo uma cobra ou um tigre, sendo apresentadas reações fisiológicas praticamente idênticas em ambos os casos. Para o fóbico social, é como se as situações sociais se assemelhassem a um tigre, ou outra ameaça em potencial, para o ser humano no geral. São disparadas reações fisiológicas de ansiedade extrema, os músculos dos membros superiores e/ou inferiores são irrigados, a liberação de glicose é aumentada, a frequência respiratória aumenta, o batimento cardíaco se acelera. São todas reações reflexo de enfrentamento, a fim de proteger a própria integridade física. No caso do tigre, é perfeitamente previsível e normal, já que o estímulo (tigre) é extremamente aversivo e perigoso, e a resposta fisiológica deve ocorrer para preservar a integridade física do indivíduo. Já na fobia social, o indivíduo tem as mesmas reações (variando na intensidade) para se proteger de algo que não lhe traz perigo algum, muito menos risco de morte.

Os estímulos (situações sociais) são interpretados de uma maneira totalmente disfuncional, desadaptativa e prejudicial, através de crenças ilógicas e irracionais, distorções cognitivas, etc. Através destas interpretações errôneas da realidade, o fóbico sente sua integridade moral e psicológica (e por vezes, também física) ameaçada por um perigo iminente que não existe, e tem reações automáticas para protegê-la. Por isso, fobia social é muito diferente de timidez.

Diagnóstico

Não há exame capaz de detectar o transtorno. O diagnóstico é totalmente clínico (ansiedade antecipatória, os sintomas físicos, a esquiva e fuga, a baixa autoestima, etc) e com base em métodos de avaliação por questionários feitas por um psicólogo ou um psiquiatra. O diagnóstico da fobia social é relativamente simples de ser feito, e os próprios portadores, ao ler informações confiáveis sobre o transtorno, acabam percebendo que possuem o transtorno, e assim já buscam ajuda profissional.

Características associadas

O uso de bebida alcoólica é frequente e um bom indicativo de que o paciente pode responder bem à medicação. Há o perigo do desenvolvimento de alcoolismo, o que pode ser revertido com o tratamento adequado da fobia social. O alcoolismo surge mais como uma tentativa equivocada de automedicação. Também pode surgir o abuso de drogas ilícitas, assim como o de medicamentos ansiolíticos. Apesar de algumas drogas lícitas ou ilícitas provocarem uma melhora momentânea da fobia, estão relacionadas a uma piora significativa do transtorno a médio e longo prazo.

Nas relações conjugais observa-se que quando o tratamento é iniciado após o casamento, podem surgir conflitos conjugais. Isso acontece porque o cônjuge saudável estava acostumado à dominação e o fóbico à submissão. Quando o tratamento permite que a submissão se desfaça, surgem naturalmente os conflitos, que podem ser superados com a cooperação e compreensão do cônjuge saudável. Pode ser necessária a complementação do tratamento da fobia social com uma psicoterapia de casais para superar essa fase.

Enfrentamento

Um dos grandes problemas da fobia social é que os fóbicos reconhecem que os seus medos e ansiedades são exagerados e irracionais, têm consciência de que seus sentimentos são inadequados e não correspondem à realidade, mas são incapazes de lidar com a situação. Na fobia social, o consciente e o bom senso não são suficientes para superar a ansiedade, sendo esta patologia de caráter orgânico/cognitivo e fora do alcance de uma decisão racional do paciente.

Essa intensa batalha mental traz um grande desgaste emocional para o fóbico. A situação é ainda mais agravada quando outras pessoas confrontam sua falta de atitude. Isso é observado na psicologia quando o fóbico é estimulado a enfrentar prontamente o problema, o que resulta na piora do estado mental, isolando-se ainda mais após a experiência. Experiências confrontantes resultam, na totalidade, em esgotamento físico e mental do indivíduo. Com isso, os portadores de fobia social tendem a se esquivar e fugir cada vez mais de exposições sociais.

Porém, essa atitude aumenta cada vez mais a intensidade da fobia, pois o alívio experimentado após se livrar dessas situações acaba reforçando os comportamentos envolvidos no isolamento social. A melhor estratégia de enfrentamento direto das situações é aquela em que se confronta gradualmente as situações temidas, sempre partindo da situação que provoca menor desconforto para a de maior. Além das técnicas de enfrentamento, devem ser trabalhadas outras técnicas antes e depois de enfrentar as situações, e por isso o enfrentamento deve ser sempre orientado por um psicólogo adequado à esse tipo de problema.

Incapacitação

A fobia social incapacita a pessoa para o estudo, trabalho e demais atividades sociais, privando o indivíduo de conquistas elementares na vida como amizades, relacionamentos amorosos, formação de uma família e crescimento profissional. Comumente, os portadores de fobia social abandonam a escola e os estudos. Os que conseguem trabalhar ou estudar, buscam profissões onde a exposição social é mínima ou em períodos noturnos. Com tanto esforço psicológico e sacrifício emocional de suportarem a sua própria exposição, com o tempo, eles mentalizam que não precisam das outras pessoas, e começam a evitar todas as situações sociais. Isolam-se de toda a sociedade, ganham uma personalidade muito depressiva e tornam-se desiludidos com a vida, com a culpa do seu ser ou culpando os outros (ou até mesmo os dois) na consciência.

Tratamento

O tratamento de um fóbico social de primeira escolha é a terapia cognitivo-comportamental. O uso de fármacos, como os ansiolíticos benzodiazepínicos, buspirona e antidepressivos podem ser bons coadjuvantes da terapia, porém não devem ser utilizados isoladamente, pois apenas mascaram as reações desagradáveis do transtorno, tendo a recidiva da fobia quando são tirados. O sucesso do tratamento depende de muitos fatores, como a aceitação do paciente ao tratamento psicoterapêutico, a relação entre terapeuta e paciente, o ambiente social e familiar em que o paciente está inserido, entre outros.

Terapia

Dentro da Psicologia, as abordagens terapêuticas mais indicadas para o tratamento da fobia social são as terapias comportamentais, a terapia cognitiva e a terapia cognitivo-comportamental, pois são os modelos com a maior quantidade de estudos e comprovação científica[3][4][5][6]. Outras abordagens terapêuticas, como, por exemplo, a psicanálise, são menos indicadas. Dentro desta abordagem terapêutica, destaca-se uma vertente que se mostra bastante eficaz para o tratamento da fobia social, chamada terapia do esquema, que tem como principal objetivo o chamado "enfraquecimento dos esquemas disfuncionais".[7] Seguem alguns dos aspectos trabalhados na terapia cognitivo-comportamental, mais especificamente na terapia focada no esquema:[8][9][10]

  • Tornar o fóbico consciente da irracionalidade do seu medo, caso ainda não tenha esta consciência.
  • Identificar os chamados "esquemas iniciais desadaptativos" (ou "esquemas disfuncionais"), núcleos formados na psiqué durante a infância e adolescência, geradores e perpetuadores das reações fóbicas e de padrões comportamentais auto-derrotistas encontrados no fóbico social.
  • Identificar, se possível, as situações geradoras dos esquemas disfuncionais.
  • Estabelecer uma boa relação terapêutica, onde o paciente se sinta confiante e à vontade para se expor e buscar pela solução de seus problemas, e também ter algumas necessidades emocionais que não foram atendidas na infância supridas pelo terapeuta.
  • Identificar os chamados "pensamentos automáticos negativos" gerados pelo esquema, que passam desapercebidos para o fóbico, mas influenciam fortemente suas reações e comportamentos. Por exemplo, um pensamento automático negativo muito comum para quem sofre de fobia social é o "eu sou fraco", ou "eu sou inferior". Apesar de alguns fóbicos sociais terem consciência destes pensamentos autoderrotistas, a maioria deles são influenciados num plano fora da consciência por esses pensamentos.
  • Alertar ao paciente sobre a existência e funcionamento destes esquemas, explicando a ele os mecanismos inconscientes (círculos viciosos) que estes esquemas se utilizam para se autopreservarem e se fortalecerem, como por exemplo através dos pensamentos automáticos negativos, distorções cognitivas, desencadeamento de reações fisiológicas desagradáveis e comportamentos autoderrotistas.
  • Trabalhar com o paciente o desenvolvimento de uma percepção mais realista do mundo e de si mesmo. Os portadores de ansiedade social tem a percepção sobre diversas situações desfiguradas através do mecanismo da "distorção cognitiva" do esquema. Estas distorções fazem ele perceber determinados aspectos de uma situação de uma maneira muito exagerada e outros de uma forma negligenciada.
  • Corrigir determinadas crenças e distorções que se tornaram hábitos de pensar nas situações sociais, como a autoexigência de um comportamento perfeito em todas as situações sociais e querer sempre a aprovação de todos.
  • Fazer o paciente ter uma capacidade melhor de observar a maneira como as outras pessoas agem e percebem o mundo, sem a interferência de sua autocentralização e de suas distorções cognitivas. Os fóbicos sociais tendem a observar demasiadamente o comportamento das pessoas ao seu redor, porém de uma maneira intrínseca e não extrínseca, ou seja, de forma autocentralizada. Com isso acabam tendo percepções falhas da realidade, que não se baseiam verdadeiramente no que as pessoas estão pensando, mas sim como ele próprio pensa de si mesmo e dos outros, criando assim interpretações negativas da realidade.
  • Pedir ao paciente que liste pontos positivos e pontos negativos da sua vida, sua personalidade e suas capacidades. Os fóbicos sociais tendem a listar muitos pontos negativos de si e ter dificuldade em enxergar os pontos positivos, acreditando que eles não existem, são muito poucos ou são insignificantes, quando na realidade existem muitos pontos positivos que ele negligencia. Cabe ao terapeuta promover essa percepção real dos pontos benéficos e maléficos do paciente.
  • Aprender a relaxar para diminuir sua ansiedade, primeiramente longe de situações sociais, depois em momentos precedentes a exposições sociais, e quando mais capacitados, na própria situação. Alguns exemplos interessantes de treinos de relaxamento são o treinamento autógeno de J. H. Schultz e o relaxamento muscular progressivo de E. Jacobson.
  • Enfrentar as situações temidas, sempre gradualmente, iniciando com situações que provocam menor ansiedade e ir avançando para outras de maior ansiedade à medida que for superando as anteriores. Alguns psicólogos utilizam esta técnica na presença do paciente, acompanhando-o durante estas situações. Os comportamentos do paciente que reforçam o isolamento social e mantém a fobia (comportamentos envolvidos na fuga e na esquiva) vão sendo gradualmente interrompidos e modificados para comportamentos de enfrentamento.
  • Aprender técnicas de assertividade, de expressão social, posicionamento e autoafirmação.
  • Orientar o paciente a manter em suas vidas tudo o que foi aprendido, pois os esquemas disfuncionais, depois de criados, jamais deixam de existir. Por isso a terapia de "enfraquecimento dos esquemas". Todas as técnicas utilizadas servem para enfraquecer ao máximo possível o esquema, fazendo ele agir de uma forma bastante branda. Isto significa que o fóbico ainda poderá experimentar reações desagradáveis perante determinadas situações sociais, principalmente àquelas que eram mais temidas, mas estas reações serão muito baixas e não o incapacitarão, como antes acontecia. Isso significa que a fobia social nunca acabará. Ter consciência disso é fundamental para o fóbico não se descuidar e consequentemente fortalecer novamente sua fobia. A reação natural do esquema é de se autofortalecer e por isso o fóbico tem que aprender a sempre lidar com ele utilizando-se do que aprendeu na terapia, pois caso haja descuido, ele pode novamente cair nos mecanismos de perpetuação do esquema e fortalecer o transtorno novamente através de um circulo vicioso.

A terapia deve ser feita com um psicólogo cognitivo-comportamental. Pode ser empregado também um tratamento medicamentoso orientado por um psiquiatra como auxiliar da terapia, mas é importante salientar que estes medicamentos não tratam a fobia, mas apenas mascaram as manifestações ansiosas decorrentes do transtorno e por isso nunca devem ser utilizados isoladamente ou como primeira escolha de tratamento.

Ver também

Referências

Ligações externas

Bibliografia

  • NAVEGANTE, Henriques Joaquim, A fobia como elemento principal de incapacidade escolar. 2ª Edição, 2013, Angola.