Fortaleza de Belixe

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Fortaleza de Beliche
Fortaleza de Beliche, Portugal.
Construção D. Manuel
(Século XVI)
Estilo Maneirismo
Conservação Bom
Homologação
(IGESPAR)
IIP
(DL 41:191 de 18 de Julho de 1957)
Aberto ao público Sim
Site IHRU, SIPA2892
Site IGESPAR73829

A Fortaleza de Belixe, igualmente conhecida como Fortaleza de Beliche, e oficialmente denominada de Forte de Santo António de Belixe, é um monumento militar no Cabo de São Vicente, junto à aldeia de Sagres, no município de Vila do Bispo, na região do Algarve, em Portugal.[1]

Foi construída em data desconhecida, embora já existisse no século XVI.[1] Foi parcialmente destruída pela armada do corsário Francis Drake em 1587, reconstruído no século XVII, e muito danificado pelo Sismo de 1755.[1] Na década de 1960, foi restaurada e convertido numa pousada.[1]

A Fortaleza do Belixe está classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1957.[1]

Descrição[editar | editar código-fonte]

O forte está implantado no topo de uma falésia, a cerca de 86 m de altura em relação ao nível médio do oceano, num local que permite dominar a baía de Belixe.[2] Este ponto era considerado de grande importância militar, por estar situado junto aos promontórios que dividem as costas Sul e Oeste de Portugal.[3] Apresenta uma arquitectura militar típica do seu presumível período de construção, no estilo maneirista, tendo uma planta em forma de polígono estrelado,[1] formado por um baluarte angulado no centro, de onde saem dois panos de muralhas, possuindo duas baterias viradas para o oceano.[4] Tem uma segunda cortina no seu interior, que servia para defender uma escadaria até à praia, que era utilizada para transportar os mantimentos e outras mercadorias, caso a fortaleza fosse cercada por terra.[3] A entrada, situada junto ao baluarte central, tem um arco de volta perfeita,[4] e no topo está uma pedra esculpida, apresentando as armas do segundo Conde do Prado, e a inscrição «Reedificou esta fortaleza, dedicada a Santo António, Dom Luís de Sousa, Conde de Prado, governando este Reino. Ano de 1632».[1] No interior, tinha originalmente vários compartimentos anexos à muralha, formando desta forma um espaço aberto no centro, que podia ser utilizado em manobras militares.[3] Estes espaços incluíam arrecadações, camaratas,[3] um paiol e outras funções.[1] Posteriormente foi construído um restaurante, também adossado à muralha.[5]

Interior da fortaleza, em 2004.

No interior destaca-se a capela, originalmente estava dedicada a Santa Catarina mas que depois foi reconsagrada a Santo António.[3] O edifício está situado num dos pontos extremos do forte, adossado à muralha,[6] e tem uma planta centralizada, com uma nave quadrangular rematada por cúpula, e uma pequena capela-mor.[3] A capela tinha originalmente um retábulo barroco em talha dourada, que foi transladado para a Igreja de Nossa Senhora da Graça, na Fortaleza de Sagres.[7] As suas fachadas não possuem embasamento, e no lado principal situa-se a única abertura, correspondendo à porta.[6] É um dos principais elementos da fortaleza a sofrerem os efeitos da erosão do solo, tendo algumas partes estremas chegado a ficar suspensas devido à derrocada da falésia onde se inseriam.[6]

História[editar | editar código-fonte]

Antecedentes e construção[editar | editar código-fonte]

De acordo com a obra Relação da derrota naval, façanhas, e successos dos cruzados que partirão do Escalda para a Terra Santa no anno de 1189, publicada em 1844 pelo historiador Silva Lopes, a ocupação humana no cabo de Belixe poderá ser anterior à construção da fortaleza.[8] Segundo um manuscrito sobre a primeira conquista de Silves, em 1189, nessa altura várias outras fortificações na região também passaram para a coroa portuguesa, incluindo uma denominada de Carphanabal.[8] Silva Lopes chamou a atenção para a similitude entre este termo e a palavra terçanabal, que surge numa carta escrita pelo Infante Dom Henrique, datada de 19 de Setembro de 1460, onde este declara que tinha fundado a sua villa «no outro cabo que antes do dito cabo de Sagres está aos que vem do ponente para levante, que se chama terça naball».[8] Silva Lopes interpretou esta descrição como pertencendo ao promontório de Belixe, avançando desta forma a teoria de que no local poderia ter estado situada a antiga fortificação referida no documento sobre a conquista de Silves.[8] Referiu ainda que na enseada a Este de Belixe tinham sido encontrados restos de dois fornos de telha e de vários edifícios, podendo um destes ter sido uma igreja dedicada a Santa Catarina, nome pelo qual era conhecido o local.[8] Segundo a tradição popular, a imagem que se situava na capela da Fortaleza de Belixe tinha sido colocada ali pelos marítimos, pelo que poderá ter estado originalmente no suposto templo arruinado.[8]

Pormenor da capela.

A fortaleza foi construída em data desconhecida, embora já existisse no século XVI, uma vez que possuía um escudo de armas do rei D. Sebastião.[3] Avançou-se a teoria de que foi edificado por ordem do rei D. João III[9] ou D. Manuel, tendo este último passado pelo Cabo de São Vicente na transição para o século XVI.[3] Existem registos da presença de uma armação de atum na zona, também conhecida como Beliche, em 1529 e 1531, sendo a sua defesa a principal função do forte, uma vez que os pescadores que ali operavam estavam expostos aos ataques de piratas, oriundos principalmente do Norte de África.[10] Servia igualmente como apoio do sistema defensivo costeiro, principalmente a Fortaleza de Sagres, e para controlar aquela faixa da costa, que era um importante ancoradouro.[9] Com efeito, a baía de Belixe tinha três locais para desembarque: as praias de Belixe e do Tonel, e o sítio da Polé, situado por debaixo da fortaleza.[2] Nos princípios da centúria, o Bispo do Algarve, D. Fernando Coutinho, que foi um dos principais impulsionares do convento no cabo de São Vicente, teria ordenado a construção de um muro para proteger aquele edifício, que se iniciava na Fortaleza de Belixe e terminava um local na costa a Norte conhecido como Armação Nova.[11]

Em 1587 o forte ficou muito danificado durante um ataque da frota do corsário britânico Francis Drake,[1] mas só foi reconstruída na década de 1630, já durante o domínio filipino, no âmbito de um programa de reforço defensivo da costa Sudoeste, que era frequentemente atacada por piratas e corsários.[3] Sobre a porta de entrada foi esculpida a data de 1632, que provavelmente deve ser uma referência ao ano em que foram terminados os trabalhos de reconstrução, durante o mandato de D. Luís de Sousa como governador do Algarve.[3]

Séculos XVIII e XIX[editar | editar código-fonte]

O forte foi muito atingido pelo Sismo de 1755, tendo Silva Lopes referido na sua obra Corografia do Algarve que «A fortaleza da Baleeira ficou raza, e na de Beliche, que fica ¼ de leg. a O., abrio a ermida e os quarteis, padecendo menos os muros».[12] Após aquela data, foi progressivamente deixada ao abandono,[10] embora em 1797 ainda tivesse uma guarnição composta por doze soldados, comandados por um cabo.[4] A partir de 1821 começou-se a acentuar a sua situação de ruína, passando a ser utilizado como alojamento pelos pescadores da armação.[10] Voltou a ter funções militares durante a Guerra Civil Portuguesa, entre 1832 e 1834, e em 1849 foi vendido a particulares.[10]

Séculos XX e XXI[editar | editar código-fonte]

Em 1940 passou a ser propriedade do Ministério das Finanças,[10] e em 1957 foi classificada como Imóvel de Interesse Público, pelo decreto n.º 41:191, de 18 de Julho, com o nome de Fortaleza de Belixe (ruínas).[13] Por volta de 1960 foi transformada numa pousada, com a instalação de várias estruturas de apoio às novas funções, incluindo o restaurante e uma casa de chá.[4] Foram igualmente implantados espaços verdes no seu interior, e feitas obras de reconstrução, que incidiram sobre as muralhas[3] e a capela.[14] Nos princípios da década de 1960, a casa de chá funcionava durante a época estival.[14] Segundo a tradição popular, era local de repouso habitual por parte do ditador António de Oliveira Salazar.[9] Sofreu alguns danos com o Sismo de 1969.[1] Em 1980, a pousada passou a fazer parte da ENATUR.[15]

Devido à sua situação na beira da falésia, o imóvel apresenta um risco elevado aos efeitos da erosão marítima, principalmente o edifício da capela, situação que tem sido acompanhada desde a década de 1990, com a elaboração de estudos por parte da Universidade do Algarve e do Laboratório Nacional de Engenharia Civil.[3] Uma das opções apontadas foi a relocalização da capela.[9] Em 1988, o Instituto Português do Património Arquitectónico determinou que o retábulo da capela deveria ser transportado para a Igreja de Nossa Senhora da Graça, na Fortaleza de Sagres,[15] processo que foi feito em 1997.[7] Uma das soluções que foram propostas para a conservação da capela foi a sua relocalização.[9] Por volta de 2000, o IPPAR, a ENATUR e o Instituto de Conservação da Natureza assinaram um acordo de cooperação para o restauro da fortaleza.[15] Chegou a ser feito um plano de obras, dirigido pelo IPPAR, que apontava várias soluções, uma das quais era a consolidação do topo da arriba, num valor aproximado de 280 mil Euros, mas caso fosse aplicado o betão, o investimento subiria para os 1,6 milhões de Euros.[15] Porém, os especialistas alertaram que mesmo a estrutura do betão não iria ser suficientemente forte para aguentar a força das ondas, tendo igualmente avisado que a fortaleza só iria durar mais cerca de quinze anos.[15] Devido aos elevados custos envolvidos, não se chegaram a fazer quaisquer obras, tendo continuado a deterioração das falésias por debaixo do monumento.[15] Devido ao elevado risco de derrocada, a capela e a pousada foram encerrados, mas a escadaria que dava acesso à beira-mar continuou aberta ao público, apesar das deficientes condições de segurança, e a falta de sinalização que alertava para o perigo de queda.[15] Com efeito, em Fevereiro de 2008 um casal de nacionalidade alemã caiu ao oceano quando estavam a tirar fotografias nesta escadaria, provocando a morte de ambos.[15] Este acidente chamou a atenção para a falta de condições de segurança nas falésias, não só no Forte do Belixe mas também noutros pontos da costa algarvia.[15]

Em 2011, a Câmara Municipal de Vila do Bispo assinou um acordo com o governo para que passasse a ser responsável pela gestão da Fortaleza de Belixe, durante um período de vinte anos.[10] A autarquia tomou posse do imóvel no ano seguinte, tendo pago quatro mil Euros pelo processo.[9] Em Agosto de 2013, foram feitas obras de beneficiação no forte.[10] Devido ao perigo de derrocada, o forte foi encerrado ao público, embora ainda se tenham feito alguns eventos no seu interior.[16] Um dos principais acontecimentos é o Festival de Observação de Aves e Atividades de Natureza de Sagres, que é organizado anualmente em Outubro.[17] Em 2021, a escritora Isabel Ricardo apresentou a sua obra Os Aventureiros e os Piratas da Falésia, que envolve um grupo de jovens alojados na Fortaleza de Belixe para um festival de natureza.[18] Em Agosto desse ano, a fortaleza albergou a exposição de artes plásticas Criações do Vento e um espectáculo audiovisual sobre arte algarvia, tendo ambos os eventos sido organizados no âmbito do programa Bezaranha.[19]

Pedra de armas na entrada da fortaleza.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g h i j «Fortaleza do Belixe / Fortaleza de Santo António do Beliche». Sistema de Informação para o Património Arquitectónico. Direcção-Geral do Património Cultural. Consultado em 24 de Novembro de 2021 
  2. a b PEREIRA, 2016:102
  3. a b c d e f g h i j k l «Fortaleza de Belixe (ruínas)». Património Cultural. Direcção-Geral do Património Cultural. Consultado em 23 de Novembro de 2021 
  4. a b c d PEREIRA, 2016:107
  5. FERNANDES e JANEIRO, 2005:38
  6. a b c PEREIRA, 2016:109
  7. a b «Igreja de Nossa Senhora da Graça - Sagres». Visit Portugal. Turismo de Portugal. Consultado em 23 de Novembro de 2021 
  8. a b c d e f LOPES, 1844:100-101
  9. a b c d e f SANTOS, Ramiro (19 de Dezembro de 2020). «BELICHE: um forte à beira do abismo e da derrocada». Postal do Algarve. Consultado em 25 de Novembro de 2021 
  10. a b c d e f g PEREIRA, 2016:104
  11. «Respingando na Historia» (PDF). O Algarve. Ano 7 (363). Faro. 7 de Fevereiro de 1915. p. 2. Consultado em 27 de Novembro de 2021 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  12. LOPES, 1841:216
  13. PORTUGAL. Decreto n.º 41:191, de 18 de Julho de 1957. Ministério da Educação Nacional - Direcção-Geral do Ensino Superior e Belas-Artes. Publicado no Diário do Governo n.º 162, Série I, de 18 de Julho de 1957.
  14. a b ROSÁRIO, António Simões do (16 de Abril de 1963). «Terras da nossa terra: Sagres» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 76 (1808). Lisboa. p. 60. Consultado em 26 de Novembro de 2021 – via Hemeroteca Digital de Lisboa 
  15. a b c d e f g h i REVEZ, Idálio (2 de Março de 2008). «Forte do Belixe, em Sagres, tem os dias contados». Público. Consultado em 27 de Novembro de 2021 
  16. PEREIRA, 2016:85
  17. «Forte do Beliche - Cabo de S. Vicente, Sagres». Património Militar. Câmara Municipal de Vila do Bispo. Consultado em 26 de Novembro de 2021 
  18. «Vila do Bispo: Isabel Ricardo apresentou "Os Aventureiros e os Piratas da Falésia" no âmbito da Semana do Livro». Correio de Lagos. 13 de Maio de 2021. Consultado em 25 de Novembro de 2021 
  19. TPN / LUSA (18 de Agosto de 2021). «Bezaranha Project to liven up summer in the Algarve». The Portugal News (em inglês). Consultado em 25 de Novembro de 2021 
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Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]


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