Forte de Santa Cruz (Velas)

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Forte de Santa Cruz, Velas.

O Forte de Santa Cruz, também referido como Castelo de Santa Cruz, Reduto de Santa Cruz e Forte das Velas, localiza-se na freguesia das Velas, concelho de mesmo nome, na costa sul da ilha de São Jorge, nos Açores.

Em posição dominante sobre a baía das Velas, constituiu-se em uma fortificação destinada à defesa deste ancoradouro contra os ataques de piratas e corsários, outrora frequentes nesta região do oceano Atlântico. Cruzava fogos, a oeste, com o Forte de Nossa Senhora da Conceição.

História[editar | editar código-fonte]

Por Provisão Régia datada de 4 de junho de 1572, Sebastião I de Portugal determinou fossem executadas obras de fortificação nas ilhas do Faial e de São Jorge.[1]

Desse modo, e em resultado de uma inspeção às ilhas efetuada pelo Desembargador Fernão de Pina Marecos[2] foi enviado a São Jorge o encarregado das fortificações do Reino, Álvaro Fernandes, com a missão elaborar projetos e executá-los. Para garantir os recursos necessários, aplicou-se um imposto de 2% para a construção das fortificações e muralhas ao longo da orla das vilas.[3] Consigo, trazia já alguns estudos de Fernão de Pina Marecos e Tommaso Benedetto, pelo que este último poderá ter tido alguma influência na traça do principal forte da ilha, este Forte de Santa Cruz.[4]

As obras terão arrancado efetivamente no contexto da Dinastia Filipina, como reduto integrante da fortificação do cais principal das Velas.[5] A sua traça dever-se-á ao capitão Marcos Fernandes de Teive oficial que, por ordem régia, visitou todas as ilhas do arquipélago na Primavera e Verão de 1618 para projetar e ativar todas as fortificações necessárias, assim como para reorganizar as milícias.[6]

No contexto da Guerra da Sucessão Espanhola (1702-1714) terá sido insuficiente defesa quando do assalto do corsário francês René Duguay-Trouin em 20 de setembro de 1708. Na ocasião, uma força de 200 homens desembarcou e invadiu a vila das Velas onde, diante da deserção dos moradores, reabasteceu-se dos víveres de que necessitava.[7]

Encontra-se referido como "O Reduto de Santa Cruz sobre o Porto." na relação "Fortificações nos Açores existentes em 1710".[8]

Devido ao abandono caiu em ruínas, vindo a ser reconstruído no século XIX.[9]

SOUSA (1995), em 1822, ao descrever o porto de Velas refere: "(...) o castelo de Santa Cruz de 26 peças, (...).".[10]

A "Relação" do marechal de campo Barão de Bastos em 1862 informa que se encontra em bom estado, e observa:

"Por officio do Ministro da Guerra de 4 de Fevereiro de 1859 forão mandados conservar devidamente guardados. Defendem bem o porto que é o principal da Ilha, e contribuem para lhe certo respeito e importância; com tudo não há forma militar para os guarnecer, e somente ali existe um Official de Veteranos, e duas praças que vegião pela sua conservação."[11]

Foi arrendado em 1899 e, em 1900 cedido à Guarda Fiscal.[1]

Em 1911 foi dada autorização para que a Câmara ali estabelecesse um posto de desinfeção.[12]

Em 1924 principiou a perder faixas de terreno, entretanto arrendadas para diversas finalidades, diversos fins como por exemplo para a indústria baleeira.[12]

No contexto da Segunda Guerra Mundial, em 1941 mantinha uma guarnição da Guarda Fiscal.[12]

Em 1965, quando da construção do Cais das Velas, uma cortina das antigas muralhas do forte foi demolido para dar acesso às infraestruturas portuárias.[13]

Atualmente subsistem apenas restos das muralhas do lado oeste da primitiva estrutura, visível a partir da rua Dr. Miguel Bombarda.[9]

Características[editar | editar código-fonte]

Fortificação do tipo abaluartado, apresentava planta no formato de um retângulo irregular, em alvenaria de pedra de basalto e tufo vulcânico. Dispunha de duas guaritas, das quais apenas uma subsiste. Em seus muros rasgavam-se nove canhoneiras ou, eventualmente, doze.

Referências

  1. a b REZENDES, 2010(a).[ligação inativa] Consultado em 20 dez 2011.
  2. "Veio a estas ilhas dos Açores, por mandado de el-rei Dom Sebastião, que estê em glória, por presidente do desembargo e com outros cárregos supremos, que executou como estremado senador, zeloso da honra de Deus, serviço de el-rei e bem dos povos." (FRUTUOSO, Gaspar. Saudades da Terra, Livro VI, Capítulo XII: Dos Corregedores, Desembargadores e Provedores da Fazenda e alguns outros cargos de Justiça que houve nestas ilhas dos Açores. Consultado em 22 dez 2011.)
  3. AVELLAR, 1902:238.
  4. REZENDES, 2010(b):12. Consultado em 20 dez 2011.
  5. PEREIRA, 1987:131.
  6. Op. cit., p. 129.
  7. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. "Manuscritos da Livraria", nº 2641, fls. 11-12, relação das "ilhas debaixo", elaborada pelo emissário-régio António do Couto de Castelo Branco, Horta, 1710. in MENESES, Avelino de Freitas de. Estudos de História dos Açores (vol. II). Ponta Delgada (Açores): Jornal de Cultura, 1995. p. 38.
  8. "Fortificações nos Açores existentes em 1710" in Arquivo dos Açores, p. 180. Consultado em 8 dez 2011.
  9. a b S. Jorge/Açores: Guia do Património Cultural. s.l.: Atlantic View - Actividades Turísticas, Lda, 2003. ISBN 972-96057-2-6. p. 67.
  10. Op. cit., p. 103.
  11. BASTOS, 1997:273.
  12. a b c REZENDES, 2009. Consultado em 20 dez 2011.
  13. CYMBRON, 1991:533

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • AVELLAR, José Cândido da Silveira. Ilha de São Jorge (Açores): Apontamentos para a sua História. Horta (Açores): Tipografia Minerva Insulana, 1902.
  • BASTOS, Barão de. "Relação dos fortes, Castellos e outros pontos fortificados que devem ser conservados para defeza permanente." in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LV, 1997. p. 272-274.
  • CASTELO BRANCO, António do Couto de; FERRÃO, António de Novais. "Memorias militares, pertencentes ao serviço da guerra assim terrestre como maritima, em que se contém as obrigações dos officiaes de infantaria, cavallaria, artilharia e engenheiros; insignias que lhe tocam trazer; a fórma de compôr e conservar o campo; o modo de expugnar e defender as praças, etc.". Amesterdão, 1719. 358 p. (tomo I p. 300-306) in Arquivo dos Açores, vol. IV (ed. fac-similada de 1882). Ponta Delgada (Açores): Universidade dos Açores, 1981. p. 178-181.
  • CYMBRON, José Carlos M., "A situação actual do património histórico-militar dos Açores", in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLIX, 1991, p. 529-536.
  • NEVES, Carlos; CARVALHO, Filipe; MATOS, Artur Teodoro de (coord.). Documentação sobre as Fortificações dos Açores existentes nos Arquivos de Lisboa – Catálogo. in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. L, 1992.
  • PEGO, Damião. "Tombos dos Fortes das Ilhas do Faial, São Jorge e Graciosa (Direcção dos Serviços de Engenharia do Exército)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LVI, 1998.
  • PEREIRA, António dos Santos. A Ilha de São Jorge (séculos XV-XVIII): contribuição para o seu estudo. Ponta Delgada (Açores): Universidade dos Açores, 1987. 628p. mapas, tabelas, gráficos.
  • SOUSA, João Soares de Albergaria de. Corografia Açórica: Descrição Física, Política e Histórica dos Açores. Ponta Delgada (Açores): Jornal de Cultura, 1995. 142p. ISBN 972-755-013-4
  • VIEIRA, Alberto. Da poliorcética à fortificação nos Açores: introdução ao estudo do sistema defensivo nos Açores nos séculos XVI-XIX. in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo II, 1987.
  • São Jorge, Açores: Guia do Património Cultural. Edição Atlantic View – Actividades Turísticas, Lda., 2003. ISBN 972-96057-2-6

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]