Francisca Júlia da Silva

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Francisca Júlia da Silva
Francisca Júlia da Silva
Nascimento 31 de agosto de 1871
Xiririca, Província de São Paulo[1][2]
Morte 1 de novembro de 1920 (49 anos)
São Paulo, São Paulo[1]
Nacionalidade brasileira
Ocupação poetisa, professora primária, pianista, crítica literária
Escola/tradição parnasianismo, simbolismo

Francisca Julia César da Silva Münster (Xiririca, 31 de agosto de 1871São Paulo, 1 de novembro de 1920) foi uma poetisa brasileira. Nasceu em Xiririca, depois Eldorado Paulista, hoje Eldorado.[3]

Colaborou no Correio Paulistano e no Diário Popular, que lhe abriu as portas para trabalhar em O Álbum, de Artur Azevedo, e A Semana, de Valentim Magalhães, no Rio de Janeiro. Foi lá que lhe ocorreu um fato bastante curioso: ninguém acreditava que aqueles versos fossem de mulher e o crítico literário João Ribeiro, acreditando que Raimundo Correia usava um nome falso, passou a "atacá-lo" sob o pseudônimo de Maria Azevedo. No entanto a verdade foi esclarecida após carta de Júlio César da Silva enviada a Max Fleiuss.

A partir daí João Ribeiro empenha-se para que o primeiro livro da autora seja publicado e, em 1895, Mármores sai pela editora Horácio Belfort Sabino. Já a essa altura era Francisca Júlia considerada grande poetisa nos círculos literários. Olavo Bilac louvou-lhe o culto da forma, a língua, remoçada "por um banho maravilhoso de novidade e frescura", sua arte calma e consoladora. Sua consagração se refletiu nas inúmeras revistas que começaram a estampar-lhe o retrato.

Vida[editar | editar código-fonte]

Capa do Livro da Infância

Em 1899 publica o Livro da Infância destinado às escolas públicas do estado. Sua intenção era começar no Brasil algum tipo de literatura destinada às crianças, algo que até então praticamente não existia. O livro trazia pequenos contos e versos "simples na forma, fluentes na narrativa e escritos no melhor e mais puro vernáculo", conforme acentuou Júlio César da Silva ao prefaciar o livro.

A experiência de Francisca Júlia com os versos infantis transferiu-se, em parte, para a sua terceira obra Esfinges, publicada em 1903. Grosso modo, Esfinges é uma edição ampliada de Mármores, onde excluiu sete composições e acrescentou 20 novas, sendo 14 inéditas.

Em 1904, no primeiro dia do ano, Francisca Júlia é proclamada membro efetivo do comitê central brasileiro da Societá Internazionale Elleno-Latina, de Roma.

Em Cabreúva[editar | editar código-fonte]

Embora vivendo um momento de consagração como grande poetisa até aquele instante, contudo, por razões nunca esclarecidas, Francisca Júlia abandona a vida pública em São Paulo e parte para Cabreúva, em 1906, onde sua mãe exercia o magistério. Passa a dedicar-se aos serviços domésticos e torna-se professora particular das crianças da região, dando aulas de piano, inclusive, a Erotides de Campos, que mais tarde viria a se tornar um famoso compositor paulista.

Foi quando conheceu um farmacêutico recém-formado da capital que lá estava de visita aos parentes. Namoraram. Francisca Júlia confessa em cartas a uma amiga de São Paulo que quase se apaixonou por ele, Mas deu-se conta de que ele era louco, o que era falado por conhecidos e vizinhos. Recebendo a recusa da poetisa, o jovem parte de Cabreúva com o intuito de voltar, o que não acontece: acaba se casando no Rio e todas as cartas de amor são devolvidas, chocantemente, numa caixa de sapatos.

A poetisa, então, decide voltar para São Paulo e aguarda a possibilidade de transferência da mãe para partir com ela, o que aconteceu em outubro de 1908, quando é removida para a escola da estação do Lajeado, atual distrito de Guaianases. Ainda em Cabreúva, já era membro da Academia Paulista de Letras, fundada em 1907, que não vingará. Recusará o convite para participar da segunda Academia Paulista de Letras, fundada em 1909, por razões que ficaram claras, num momento de afastamento da vida literária. Há quem diga que foi por não querer ingressar sem o irmão, Júlio César da Silva, poeta decadendista, de grande prestígio nos meios literários. No mesmo ano faz a sua primeira conferência no salão do edifício da Câmara Municipal, em Itu, sobre o tema "A Feitiçaria Sob o Ponto de Vista Científico".

Casamento e morte[editar | editar código-fonte]

Casa-se, em 22 de fevereiro de 1909, com Philadelpho Edmundo Münster (1865-1920), telegrafista da estação do Lajeado na Estrada de Ferro Central do Brasil. Foi padrinho de seu casamento o poeta e amigo Vicente de Carvalho. Nessa época já estava compenetrada em pensamentos místicos. Isola-se e vive para o lar, recebendo visitas esporádicas de jornalistas que publicam ainda poesias suas. Em 1912 sai seu último livro, Alma Infantil, em parceria com o irmão Júlio César da Silva, que alcança notável repercussão nas escolas do Estado quando grande parte da edição é adquirida pelo secretário do Interior, à época, Altino Arantes.

Passa a explorar temas como a caridade, a , vida após a morte, reencarnação e ideologias orientais diversas (budismo). Descobre, em 1916, a doença do marido (tuberculose) e mergulha numa depressão profunda, diz ter visões, que está para morrer e tem alucinações provenientes da intoxicação do ácido úrico. Com o passar dos anos a situação se agrava, suas poesias - as poucas que ainda escreve - retratam a vontade de uma mulher que almeja a paz espiritual fora do plano terrestre. Diz, em entrevista a Correia Junior, que sua "vida encurta-se hora a hora". Mesmo assim volta a escrever para A Cigarra e promete um livro de poesias chamado Versos Áureos.

Em 1920, Filadelfo, tuberculoso, desenganado pelos médicos, vem a falecer no dia 31 de outubro. Horas depois do cortejo, no dia seguinte, Francisca Júlia vai para o quarto repousar e suicida-se ao ingerir excessiva dose de narcóticos, vindo a falecer na manhã de 1 de novembro de 1920[4].

Estilo literário[editar | editar código-fonte]

Escultura Musa Impassível (Francisca Júlia) de Victor Brecheret, exibida na Pinacoteca do Estado. Créditos: Leandro Lanzoni.
Rua Francisca Júlia no Alto de Santana, na cidade de São Paulo

Francisca Júlia, segundo o historiador João Pacheco, desde cedo mostrou ortodoxamente timbres parnasianos, mas com influência do modernismo, que deixou o poeta Olavo Bilac a inveja de ourives. Sua poesia traz a mais estrita impessoalidade, revelando-se puramente objetiva nas peças que mais célebres ficaram - "Dança de Centauras" e "Os Argonautas", principalmente - em que não palpita nenhum estilo interior, mas em que se modela e se fixa o relevo, a cor, o movimento das formas externas. Em certos momentos, manifesta um raro poder de sonoridade e vigor à língua, imprimindo aos versos uma estrutura que não se apoiava na emoção, mas na própria força e rigor da expressão.

Todavia apresentava uma tendência ao simbolismo já muito antiga, conforme é vista na poesia "De Joelhos", de 1894, cujo pendor pelo gosto nefelibata refletiu-se em admiráveis efeitos de luz, som e movimento. Tais efeitos repercutiram após a publicação de "Esfinges", em 1903, até o fim da vida, nos anos em que sofrera com a doença do esposo.

Seu simbolismo, segundo Péricles Eugênio, foi uma das manifestações da moralização de sua arte, que adquiriu um caráter místico e filosófico cada vez mais pronunciado. Pode-se dizer que sua poesia evoluiu de plástica a filosófica, guardando sempre a mesma tranquilidade superior de expressão e revelando o mesmo domínio interior da alma.

Homenagem[editar | editar código-fonte]

Foi homenageada com o nome de uma importante rua no alto do bairro de Santana, na cidade de São Paulo. Curiosamente outros autores simbolistas foram homenageados também com ruas do Alto de Santana, existindo os cruzamentos Rua Francisca Júlia x Rua Alphonsus de Guimarães e Rua Francisca Júlia x Rua Paulo Gonçalves.

Em 1933 o Senado aprovou a implantação da estátua "Musa Impassível" sobre o seu túmulo no Cemitério do Araçá, esculpida em granito carrara por Victor Brecheret. Em dezembro de 2006, após 15 anos de acordo entre a Prefeitura e o Estado para o translado, a estátua foi removida para a Pinacoteca de São Paulo, onde passou por um delicado processo de restauração antes de ser liberada para exposição pública.

Criada com o nome de Clínica de Repouso Francisca Júlia em 1972, em São José dos Campos, SP, a instituição foi idealizada pela Diretoria e de Voluntários do Programa CVV indignados ao tipo de tratamento dispensado aos doentes psiquiátricos àquela época. A ideia se tornou realidade quando se constatou que 10% das pessoas que procuravam ajuda no CVV com tendências suicidas apresentavam transtornos mentais.[1]

Lista de obras[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b «Francisca Júlia». Enciclopédia Itaú Cultural. São Paulo: Itaú Cultural. Consultado em 22 de julho de 2020 
  2. Marmores (1895)/Prologo no Wikisource.
  3. Série Histórias Não Contadas - "As Mensageiras" - Primeiras Escritoras do Brasil Câmara dos Deputados - acessado em 6 de março de 2021
  4. Martins, José de Souza (2022). As duas mortes de Francisca Júlia. a semana antes da Semana. São Paulo: Unesp. 303 páginas. ISBN 9786557111444 
  5. Silva, Francisca Júlia da (1895). Mármores. Rio de Janeiro: Horacio Belfort Sabino. 104 páginas 
  6. Silva, Francisca Júlia da (2020). Mármores. Col: Coleção escritoras do Brasil. 4. Brasília: Senado Federal. 110 páginas. ISBN 9788552800729 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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