Gérard Lebrun

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Gérard Lebrun
Nascimento 7 de fevereiro de 1930
Paris
Morte 10 de dezembro de 1999 (69 anos)
Paris
Sepultamento Cemitério de Montmartre
Cidadania Brasil, França
Irmão(ã)(s) Danièle Lebrun
Alma mater
Ocupação filósofo, historiador da filosofia, professor universitário
Empregador(a) Universidade de São Paulo, Universidade da Provença

Gérard Lebrun (Paris, 7 de fevereiro de 1930Paris, 10 de dezembro de 1999) foi um filósofo, professor universitário e historiador da filosofia francês.[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nasceu em Paris em 1930 e formou-se em filosofia pela Sorbonne, começando sua carreira como professor no liceu franco-muçulmano de Argel (1955-1959) e posteriormente lecionando no liceu de Rennes (1959-1960). Com a saída de Gilles-Gaston Granger da cátedra de filosofia mantida pelo governo francês no Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo em 1960, Lebrun foi convidado a ocupar o cargo até 1966. Após esse período, retorna à França para terminar seus estudos e assumir o posto de professor no Departamento de Filosofia da Universidade de Provence Aix-Marseille I. Defendeu seu doutorado sob orientação de Georges Canguilhem em 1970, tendo por tese principal Kant e o fim da metafísica, em que trata da Crítica da faculdade de julgar, de Kant. Como tese secundária, produz A paciência do conceito, ensaio sobre a filosofia de Hegel. Retomou o vínculo com o Brasil em 1973, lecionando durante seis anos na USP e alternando, a partir de 1980, os semestres letivos entre Aix-en-Provence e São Paulo, até a década de 1990.[2][3][4][5][6]

A propósito de sua ligação com a cidade de São Paulo, além de ter recebido o título de cidadão paulistano pela Câmara Municipal de São Paulo,[6] diz no livro Passeios ao Léu:

Cada vez que regresso da Europa, que troco de avião no Rio e, meia hora depois vejo aparecerem os edifícios de São Paulo, vem-me a convicção de que Aristóteles, com a noção de 'lugar natural', forjou um conceito essencial a mais.[7]

Nos períodos em que esteve em São Paulo, ajudou a formar e manteve contato com figuras proeminentes da filosofia uspiana, como José Arthur Giannotti, Bento Prado Jr., Marilena Chauí, Renato Janine Ribeiro, dentre outros, deixando um grande legado e influência na filosofia paulista e na formação do Departamento de Filosofia da USP.[5][8][9] Bento Prado Jr, em avaliação da formação do Departamento de Filosofia da USP e do impacto da chegada de Lebrun em São Paulo diz:

Sem mudar de imaginação, mudei de estilo. No que vim a ser auxiliado, ao retornar ao Brasil em 63, por Gérard Lebrun, que pouco tinha de sartriano. Mas que parecia reunir tudo o que havia de melhor em meus mestres de alguns anos atrás: a ironia de Cruz Costa e sua irreverência em relação ao establishment filosófico, com sua ponta de ceticismo ou de nihilismo; o estilo filológico de Lívio Teixeira ou sua cultura historiográfica; a elegância da escrita ensaística de Gilda de Mello e Souza e sua familiaridade com a cultura viva; a atenção voltada à epistemologia das ciências humanas e ao pensamento político, de José Arthur Giannotti e Ruy Fausto. As filosofias da Maria Antônia começaram a passar, em 1960, por um novo filtro. Com Gérard Lebrun iniciava-se uma nova era na filosofia em São Paulo.[10]

Além dessa importância no Brasil, também obteve reconhecimento na França por ter sido parte de uma geração de filósofos franceses que consolidou a pesquisa em história da filosofia. Faleceu em 10 de dezembro de 1999, possivelmente vítima de um aneurisma cerebral. Sua irmã Danièle Lebrun é uma atriz francesa.[11][12][13][14]

Envolvimento com pedofilia[editar | editar código-fonte]

Em 1996, apenas três anos antes de sua morte, pesava contra Lebrun uma acusação de pedofilia. A polícia prendera um gari desempregado que possuía fotos ensaiadas de duas meninas de 7 e 9 anos nuas. Segundo o gari, as fotos foram encomendadas por Lebrun. Em apoio à sua versão, o gari tinha uma carta de Lebrun enviada da França, na qual concordava que era uma má ideia enviar as fotos pelo correio. Afirmava Lebrun: "Concordo 100% com a não expedição; seria burrice. [...] A gente pensa numa versão fim de século de Chapeuzinho Vermelho, desta vez com pressa de atender ao lobo e deixando o bicho estudar o cardápio." [15]

Bibliografia selecionada[editar | editar código-fonte]

Em português[editar | editar código-fonte]

  • Passeios ao Léu. Brasiliense. (1983).
  • Blaise Pascal. Brasiliense. (1983).
  • O que é Poder. Brasiliense. Coleção Primeiros passos. (1984). ISBN 8511010246
  • O avesso da dialética: Hegel à luz de Nietzsche, São Paulo, Companhia das Letras, 1988. ISBN 85-7164-007-6
  • Sobre Kant. Iluminuras (2001). ISBN 8585219521
  • Kant e o Fim da Metafísica. Martins Fontes. (2002). ISBN 8533616317
  • A Filosofia e sua História. Cosac Naify. (2006) . ISBN 8575035045
  • A Paciência do Conceito: Ensaio Sobre o Discurso Hegeliano. Editora UNESP (2006). ISBN 8571396485

Em francês[editar | editar código-fonte]

  • Kant et la fin de la métaphysique: essai sur la "Critique de la faculté de juger". Armand Colin. (1970). Reedição de Librairie générale française. (2003). ISBN 2-253-90598-4
  • La Patience du concept : essai sur le discours hégélien. Gallimard. (1972). ISBN 2-07-028109-4
  • L'envers de la dialectique: Hegel à la lumière de Nietzsche, com apresentação e anotações de Paul Clavins du Seuil. (2004). ISBN 2-02-057797-6

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Notice de personne - Gérard Lebrun». Bibliothèque nationale de France 
  2. Granger, Gilles-Gaston (16 de dezembro de 1999). «Gérard Lebrun». Le Monde. Consultado em 31 de janeiro de 2020 
  3. LEBRUN, Gérard (2006). A filosofia e sua história. São Paulo: Cosac Naify. 599 páginas. ISBN 8575035045 
  4. Prado Jr., Bento (30 de janeiro de 2000). «Erro e Alienação». Folha de S.Paulo. Consultado em 31 de janeiro de 2020 
  5. a b Prado Jr., Bento. «Gérard Lebrun et le devenir de la philosophie». Europhilosophie. Consultado em 31 de janeiro de 2020 
  6. a b Prado Jr., Bento (30 de outubro de 2000). «Notas - Erro e Alienação». Folha de S.Paulo. Consultado em 31 de janeiro de 2020 
  7. LEBRUN, Gérard (1983). Passeios ao Léu. São Paulo: Brasiliense. p. 11. Consultado em 31 de janeiro de 2020 
  8. NOBRE, Marcos; REGO, José Márcio (2000). Conversas com filósofos brasileiros. São Paulo: Editora 34. ISBN 8573261900. Consultado em 31 de janeiro de 2020 
  9. Giannotti, José Arthur (março 2012). «Lebrun, o único em suas propriedades». Novos estudos CEBRAP (nº 92). Consultado em 31 de janeiro de 2020 
  10. PRADO JR., Bento (1988). «As filosofias da Maria Antônia (1956-1959) na memória de um ex aluno.». Maria Antônia: uma rua na contramão. São Paulo: Nobel. p. 81. Consultado em 6 de fevereiro de 2020 
  11. Granger, Gilles-Gaston (abril 2000). «Nécrologie - Gérard Lebrun». Revue Philosophique de la France et de l'Étranger. ISSN 0035-3833. Consultado em 31 de janeiro de 2020 
  12. Barros e Silva, Fernando de (23 de dezembro de 1999). «Morre o filósofo Gérard Lebrun, 69, em Paris». Folha de S.Paulo. Consultado em 31 de janeiro de 2020 
  13. Gigliotti, Fátima (23 de dezembro de 1999). «Gérard Lebrun é enterrado em Paris». Folha de S.Paulo. Consultado em 31 de janeiro de 2020 
  14. Schwartsman, Hélio (26 de dezembro de 1999). «Gérard Lebrun, um filósofo sem aspas». Folha de S.Paulo. Consultado em 31 de janeiro de 2020 
  15. Folha de Londrina (Estadão Conteúdo), 19 de dezembro de 1996. "Filósofo francês é envolvido em caso de pedofilia".