Galáxia de Andrômeda

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Galáxia de Andrômeda
Galáxia de Andrômeda
Galáxia de Andrômeda
Dados observacionais (J2000)
Constelação Andrômeda
Tipo SA(s)b[1]
Asc. reta 00h 42m 44,3s[1]
Declinação +41° 16′ 9″[1]
Distância 2,54 ± 0,06 milhões de anos-luz
(778 ± 17 kpc)[2][3][4][5][6]
Redshift −0,001
Magnit. apar. 3,44[7][8]
Dimensões 190′ × 60′[1]
Características físicas
Raio 110 mil anos-luz
Magnit. abs. −20.0
Massa ~1×1012 [3][9]
Número de estrelas 1 trilhão (1012)[10]
Satélites M32, M110
Outras denominações
M31, NGC 224, UGC 454, PGC 2557, 2C 56, LEDA 2557.[7]
Mapa
Galáxia de Andrômeda

A galáxia de Andrômeda (Messier 31, NGC 224), é uma galáxia espiral localizada a cerca de 2,54 milhões de anos-luz de distância da Terra, na direção da constelação de Andrômeda. É a galáxia espiral mais próxima da Via Láctea e seu nome é derivado da constelação onde está situada, que, por sua vez, tem seu nome derivado da princesa mitológica Andrômeda. É a mais larga galáxia do Grupo Local, que também contém nossa Galáxia, a Via Láctea, a galáxia do Triângulo e aproximadamente 30 outras menores. Embora seja mais larga, não é a mais maciça: sua massa de aproximadamente 7.1×1011 é menor do que a da Via Láctea, que contém mais matéria escura. Contudo, contém duas vezes mais estrelas do que a nossa Galáxia, que tem aproximadamente meio trilhão de estrelas.

Com uma magnitude aparente 3,4, é um dos objetos astronômicos mais brilhantes do catálogo de objetos do céu profundo do astrônomo francês Charles Messier, visível a olho nu na ausência da Lua. Possui entre 180 e 220 mil anos-luz de diâmetro e uma magnitude absoluta de -21,4.

Descoberta e visualização

Galáxia de Andrômeda observada em infravermelho

Visível no céu noturno sob razoáveis condições de observação, a galáxia era conhecida como a "Pequena Nuvem" para o astrônomo persa Abd-al-Rahman Al-Sufi, que a descreveu em seu livro Livro de Estrelas Fixas. Deve ter sido observada e conhecida pelos astrônomos persas em Isfahan, mesmo antes do ano de 905. Segundo Richard Hinckley Allen, em seu livro Star Names: Their Lore and Meaning, a galáxia de Andrômeda já havia sido registrada em uma carta estelar holandesa de 1500. O astrônomo francês Charles Messier, que o catalogou em 3 de agosto de 1764 como sua 31ª entrada (Messier 31), atribuiu erroneamente a descoberta da galáxia a Simon Marius, que foi o primeiro a visualizar o objeto por meio de um telescópio em 1612. Giovanni Battista Hodierna, sem conhecer os trabalhos de Al Sufi e Marius, redescobriu independentemente a galáxia antes de 1654. Edmond Halley, no seu Tratado sobre Nebulosas, em 1716, credita a descoberta da galáxia ao francês Ismaël Bullialdus, que havia observado-a em 1661. Contudo, o próprio Bullialdus havia declarado que o objeto havia sido visto havia pelo menos 150 anos antes, por volta de 1500.[11]

História observacional

Galáxia de Andrômeda, observada em ultravioleta

Acreditava-se que a "Grande Nebulosa de Andrômeda" era uma das nebulosas mais próximas da Terra. Segundo William Herschel, descobridor de Urano, sua distância deveria não exceder 2 000 vezes a distância entre a Terra e a estrela Sirius (equivalente a 17 000 anos-luz). Via o objeto como a "ilha universo" mais próxima da Terra, como a própria Via Láctea. Segundo Herschel, a nebulosa seria um disco com um diâmetro cerca de 850 vezes a distância entre a Terra e Sirius e uma espessura equivalente a 150 vezes essa distância.[11]

O primeiro a notar a diferença entre nebulosas gasosas, com suas linhas espectrais definidas, de outras "nebulosas", que exibem espectro contínuo, semelhante a das estrelas, que são conhecidas atualmente como galáxias, foi William Huggins, pioneiro da espectroscopia. Ele havia classificado Messier 31 na segunda classe de nebulosas. As primeiras fotografias que mostram a estrutura espiral da galáxia de Andrômeda foram tiradas por Isaac Roberts, em 1887.[11]

Vesto Slipher, do observatório Lowell, concluiu que Andrômeda tinha a maior velocidade radial entre todas as nebulosas conhecidas, aproximando-se radialmente da terra a uma velocidade de 300 km/s (266 km/s, segundo Robert Burnham, Jr., ou 298 km/s, segundo R. Brent Tully). Este valor alto já apontava para a natureza extragaláctica do objeto.[11]

Edwin Hubble encontrou a primeira variável cefeida na galáxia de Andrômeda. Como existe a possibilidade de estimar com razoável precisão a distância de uma cefeida em relação à Terra, foi possível determinar pela primeira vez a distância de Andrômeda em relação ao Sistema Solar. As primeiras análises estimaram essa distância em mais de um milhão de anos-luz, muito mais longe do que qualquer outro objeto conhecido até então. Hubble não sabia que havia dois tipos de cefeidas e que a estrela que ele analisou pertencia à segunda classe. Este erro não foi percebido até a construção do telescópio de 200 polegadas de abertura no Observatório Palomar. Com isso, sua distância foi recalculada, sendo mais que o dobro do que as primeiras estimativas. Hubble publicou seu estudo histórico sobre a "nebulosa de Andrômeda", apresentando-a como um sistema estelar extragaláctico (galáxia) em 1929.[11]

Características

Galáxia de Andrômeda vista pelo Galaxy Evolution Explorer, NASA

Além da Via Láctea, é a galáxia mais estudada. Possibilita o estudo das características de uma galáxia que também são encontradas na Via Láctea, como a estrutura espiral, aglomerados abertos e globulares, matéria interestelar, nebulosas planetárias, remanescentes de supernova, núcleo galáctico, galáxias satélite, entre outros, mas que não podem ser estudadas devido à grande presença de poeira interestelar em nossa Galáxia.[11]

Suas duas galáxias satélite, Messier 32 e Messier 110, são visíveis em binóculos. Messier foi o primeiro a criar um esboço contendo as três galáxias e estas, além de outras oito galáxias anãs, formam um pequeno e o mais brilhante aglomerado de galáxias do Grupo Local, um grupo de 54 galáxias gravitacionalmente ligadas e independentemente do restante do Universo, ao qual pertence a Via Láctea.[11]

Existe uma notável interação entre Messier 32 e sua galáxia principal, Andrômeda. A galáxia elíptica causa uma grande perturbação na estrutura espiral de Andrômeda. Os braços de hidrogênio não-ionizado estão deslocadas cerca de 4 000 anos-luz dos braços de estrelas e não pode ser seguida continuamente na área mais próxima ao seu braço vizinho menor. Simulações computadorizadas mostram que as perturbações podem ser modelados a partir de um encontro recente com a massa de estrelas de M32. Provavelmente, a galáxia satélite também tem sequelas desse encontro, perdendo muito de suas estrelas que estão agora espalhadas pelo halo galáctico de Andrômeda.[11]

O mais brilhante aglomerado globular de Andrômeda, G1, também é o aglomerado globular mais brilhante de todo o Grupo Local, tendo uma magnitude aparente de 13,72, mais brilhante do que o aglomerado globular mais brilhante de nossa galáxia, Omega Centauri. Pode ser visto com telescópios amadores com aberturas superiores a 10 polegadas. Existem outros aglomerados globulares de Andrômeda que podem ser vistos com grandes telescópios amadores, mas 435 aglomerados globulares podem ser vistos em Andrômeda com telescópios profissionais, segundo Pauline Barmby.[11]

A nuvem estelar mais brilhante de Andrômeda ganhou a sua própria entrada no New General Catalogue, NGC 206. John Herschel catalogou-a em 17 de outubro de 1786.[11]

Galáxia de Andrômeda, 1899

Apesar de ser a galáxia exterior mais estudada, sua distância em relação à Terra ainda não foi bem definida. Embora seja consenso entre os astrônomos que sua distância seja de 15 a 16 vezes a distância entre a Terra e a Grande Nuvem de Magalhães, equivalente a 2,4 a 2,9 milhões de anos-luz, a própria distância da nuvem em relação à Terra também não é bem definida. Esta incerteza atinge não somente a distância até Andrômeda, mas também a distância até todas as outras galáxias conhecidas.[11]

Em um céu noturno sob condições normais, o tamanho aparente da galáxia de Andrômeda a olho nu é cerca de 3 x 1 graus (mais precisamente 178 x 63 minutos de grau). Em binóculos de duas polegadas de abertura, o tamanho aparente da galáxia é ainda maior, cerca de 5,2 x 1,1 graus, segundo Robert Jonckhere, correspondendo a um diâmetro real de 250 000 anos-luz, considerando sua distância de 2,9 milhões de anos-luz em relação à Terra, tendo, portanto, o dobro do tamanho da Via Láctea. Considerando sua parte visível, sua massa corresponde entre 300 a 400 bilhões de massas solares, sendo menos maciço que a Via Láctea. Conclui-se que a Via Láctea é uma galáxia mais densa que Andrômeda. Sua massa total contida no halo galáctico de Andrômeda corresponde a 1,23 x 1012 massas solares, contra 1,9 x 1012 da Via Láctea.[11]

Andrômeda contém um núcleo duplo, evidenciado pelo Telescópio Espacial Hubble. Ainda se discute se o núcleo é realmente duplo, com a absorção violenta de uma galáxia menor por Andrômeda, ou se apenas foi aparentemente dividido em dois pela poeira interestelar.[11]

Até o momento, apenas uma supernova foi registrada em Andrômeda, a supernova de 1885. Foi a primeira supernova registrada fora da Via Láctea, em 20 de agosto de 1885, descoberto por Ernst Hartwig no observatório de Tartu, Estônia. Seu brilho alcançou a magnitude aparente 6 entre 17 e 20 de agosto e foi notado por vários outros observadores astronômicos, sendo fracamente visível a olho nu. Seu brilho enfraqueceu para a magnitude aparente 16 em fevereiro de 1890.[11]

A possível "morte"

Galáxia de Andrômeda, Telescópio Espacial Hubble

Estudiosos e cientistas conseguiram prever, através de uma série de cálculos, que a nossa Via Láctea e Andrômeda estão se aproximando e colidirão. Teoricamente, o encontro aconteceria em cerca de 4 bilhões de anos, que é o período aproximado do fim do nosso Sol, nesta época, talvez, a vida na Terra nem exista mais da forma como a conhecemos.

Embora exista a possibilidade, os danos que tal colisão causaria são mínimos, e isso se deve ao fato dos espaços entre os astros serem muito grandes, reduzindo drasticamente a chance de colisões, o que também explica o fato de o sistema solar raramente entrar em contato com algum outro corpo celeste ao passar pelas nuvens mais densas da Via Láctea.

Galeria

Ver também

Referências

  1. a b c d «Results for Messier 31». NASA/IPAC Extragalactic Database. NASA/IPAC. Consultado em 1 de novembro de 2006 
  2. Karachentsev, I. D.; et al (2004). «A Catalog of Neighboring Galaxies». Astronomical Journal. 127 (4): 2031–2068. Bibcode:2004AJ....127.2031K. doi:10.1086/382905 
  3. a b Karachentsev, I. D.; Kashibadze, O. G (2006). «Masses of the local group and of the M81 group estimated from distortions in the local velocity field». Astrophysics. 49 (1): 3–18. Bibcode:2006Ap.....49....3K. doi:10.1007/s10511-006-0002-6 
  4. Ribas, I.; et al (2005). «First Determination of the Distance and Fundamental Properties of an Eclipsing Binary in the Andromeda Galaxy». Astrophysical Journal Letters. 635 (1): L37–L40. Bibcode:2005ApJ...635L..37R. arXiv:astro-ph/0511045Acessível livremente. doi:10.1086/499161 
  5. McConnachie, A. W.; et al (2005). «Distances and metallicities for 17 Local Group galaxies». Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. 356 (4): 979–997. Bibcode:2005MNRAS.356..979M. arXiv:astro-ph/0410489Acessível livremente. doi:10.1111/j.1365-2966.2004.08514.x 
  6. Jensen, J. B.; et al (2003). «Measuring Distances and Probing the Unresolved Stellar Populations of Galaxies Using Infrared Surface Brightness Fluctuations». Astrophysical Journal. 583 (2): 712–726. Bibcode:2003ApJ...583..712J. arXiv:astro-ph/0210129Acessível livremente. doi:10.1086/345430 
  7. a b «SIMBAD query result: M 31». SIMBAD Astronomical Database. Consultado em 29 de novembro de 2009 
  8. Armando, G. P.; et al (2007). «The GALEX Ultraviolet Atlas of Nearby Galaxies». Astrophysical Journal. 173 (2): 185–255. Bibcode:2007ApJS..173..185G. arXiv:astro-ph/0606440Acessível livremente. doi:10.1086/516636 
  9. Evans, N. W.; Wilkinson, M. I (2000). «The mass of the Andromeda Galaxy». Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. 316 (4): 929–942. Bibcode:2000MNRAS.316..929E. arXiv:astro-ph/0004187Acessível livremente. doi:10.1046/j.1365-8711.2000.03645.x 
  10. The Andromeda Galaxy hosts a trillion stars
  11. a b c d e f g h i j k l m n Hartmut Frommert e Christine Kronberg (21 de agosto de 2007). «Messier Object 31» (em inglês). SEDS. Consultado em 28 de maio de 2012 

Ligações externas

   NGC 222  •  NGC 223  •  NGC 224  •  NGC 225  •  NGC 226