Ganoderma lucidum

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Classificação científica
Reino: Fungi
Filo: Basidiomycota
Classe: Agaricomycetes
Ordem: Polyporales
Família: Ganodermataceae
Género: Ganoderma
Espécie: G. lucidum
Nome binomial
Ganoderma lucidum
(Curtis) P. Karst.

Ganoderma lucidum (em chinês Língzhī, em japonês reishi; em coreano: yeongji) é uma espécie de cogumelo muito apreciado na Ásia, onde é utilizado como cogumelo medicinal na medicina tradicional chinesa há mais de 4 000 anos[1], tornando-o um dos cogumelos há mais tempo utilizados com fins medicinais.

A palavra lingzhi, em chinês, significa "erva de potência espiritual", tendo sido também descrito como o "cogumelo da imortalidade".[2] Devido aos seus presumíveis benefícios para a saúde e aparente ausência de efeitos colaterais, obteve uma grande reputação no Oriente.[nota 1]

Taxonomia e nomenclatura[editar | editar código-fonte]

O nome Ganoderma deriva do grego ganos/γανος "brilho", donde "brilhante" e derma/δερμα "pele",[3] enquanto o epíteto específico do latim lucidum, "brilhante". Uma outra designação japonesa é mannentake (万年茸), que significa "cogumelo dos 10 000 anos".

Existem múltiplas espécies de lingzhi, cientificamente conhecidas como fazendo parte do complexo de espécies Ganoderma lucidum e os micologistas investigam ainda as diferenças entre as espécies deste complexo de espécies.[4]

Descrição[editar | editar código-fonte]

Trata-se de um cogumelo tenro (quando fresco), suberoso e achatado, com chapéu conspícuo de cor avermelhada e em forma de rim e, dependendo da idade do espécime, com poros brancos a acastanhados na sua parte inferior.[2] Carece de lamelas na face inferior e liberta os seus esporos através de finos poros, sendo classificado como um poliporo.

Variedades[editar | editar código-fonte]

Ganoderma lucidum ocorre geralmente em duas formas de desenvolvimento. Uma, encontrada na América do Norte, é séssil, relativamente grande com pé pequeno ou inexistente, enquanto uma outra é menor e com pé longo e delgado, sendo encontrada sobretudo nos trópicos. Contudo, muitas formas de crescimento são intermédias entre os dois tipos, ou exibem mesmo morfologias muito pouco usuais,[2] levantando a possibilidade de que se trate de espécies distintas. As condições ambientais têm também um papel substancial nas diferentes características morfológicas que este fungo pode exibir. Por exemplo, concentrações elevadas de dióxido de carbono resultam na elongação do pé. Outras formas apresentam "antenas", sem chapéu e estas podem ser igualmente afectadas pelas concentrações de dióxido de carbono.

Segundo o Bencao Gangmu, estes fungos podem ser classificados em seis categorias segundo as suas formas e cores, crendo-se que cada uma delas pode cuidar de uma parte diferente do corpo.

Bioquímica[editar | editar código-fonte]

Ácido ganodérico A, um composto isolado do lingzhi.

Ganoderma lucidum produz um grupo de triterpenos, chamados ácidos ganodéricos, os quais têm uma estrutura molecular semelhante à das hormonas esteróides.[5] Contém também outros compostos, muitos dos quais são tipicamente encontrados em materiais fúngicos, incluindo polissacarídeos como betaglucano, cumarina, manitol e alcaloides.[5]

Habitat[editar | editar código-fonte]

Ganoderma lucidum, e o seu parente próximo Ganoderma tsugae, crescem nas florestas setentrionais de Tsuga canadensis. Estas duas espécies de fungos prateleira têm uma distribuição global quer em regiões tropicais quer temperadas, incluindo América do Norte e Sul, África, Europa e Ásia, crescendo como parasitas ou saprótrofos numa grande variedade de árvores.[2] Espécies similares de Ganoderma foram encontradas crescendo na Amazónia.[6] Na natureza, estes fungos crescem na base e nos tocos de árvores decíduas, sobretudo bordo.[7] Apenas duas ou três dentre cada tais 10 000 árvores idosas apresentam lingzhi, pelo que a sua forma silvestre é geralmente rara. Actualmente, o lingzhi é cultivado em condições estéreis e ao ar livre quer em troncos quer em leitos de lascas de madeira.

História[editar | editar código-fonte]

Shen Nong no seu Pen Ts’ao Jing, um antigo texto medicinal chinês com 2000 anos diz que "o sabor é amargo, a sua energia neutra, não tem toxicidade. Cura a acumulação de factores patogénicos no peito. É bom para o qi da cabeça, incluindo actividades mentais... O consumo a longo prazo deixa o corpo mais leve; nunca envelhecerás. Prolonga os anos."[8]

O Bencao Gangmu, um livro médico chinês publicado no século XVI, mostra também uma possível ligação entre a pesquisa moderna e o conhecimento popular ao descrever este cogumelo: "Afecta positivamente o Qi do coração, reparando a zona peitoral e beneficiando aqueles que têm um peito congestionado. Tomado ao longo de um grande período de tempo mantém a agilidade do corpo, e os anos são prolongados..."[8]

As descrições deste cogumelo como símbolo de saúde estão presentes em muitos locais das residências imperiais da Cidade Proibida bem como no Palácio de Verão.[8] A deusa chinesa da cura Guan Yin é por vezes representada segurando um cogumelo lingzhi.[carece de fontes?]

Pesquisa sobre o lingzhi e usos terapêuticos[editar | editar código-fonte]

O lingzhi pode possuir actividades antitumorais, imunomoduladoras e imunoterapêuticas, tendo em conta estudos sobre polissacarídeos, terpenos e outros compostos bioactivos isolados dos corpos frutíferos e micélios deste fungo (revisto por R. R. Paterson[5] e Lindequist et al.[9]). DEscobriu-se também que inibe a agregação de plaquetas, e baixa a pressão arterial (por inibição da enzima conversora da angiotensina,[10]), colesterol, e glicemia.[11]

Estudos laboratoriais demonstraram efeitos antineoplásicos de extractos ou compostos isolados de fungos contra alguns tipos de cancro. Num modelo animal, relatou-se que Ganoderma preveniu a formação de metástases,[12] com potência comparável à do lentinano dos cogumelos shiitake.[13]

Os mecanismos pelos quais o G. lucidum pode afectar o cancro são desconhecidos e podem afectar diferentes estádios de desenvolvimento do cancro: inibição da angiogénese (formação de novos vasos sanguíneos induzida pelo tumor com o objectivo de fornecer este com nutrientes) mediada por citocinas, citotoxicidade, inibindo a migração de células cancerosas e metástases, e induzindo e aumentando a apoptose de células tumorais.[5] Seja como for, estão já a ser usados fármacos comerciais com extractos de G. lucidum tal como MC-S para a supressão da proliferação e migração de células cancerosas.

Estudos adicionais indicam que o ácido ganodérico pode ajudar a fortalecer o fígado contra danos provocados por vírus e outros agentes tóxicos em ratos, sugerindo um benefício potencial deste composto na prevenção doenças do fígado em humanos,[14] e esterois obtidos de Ganoderma inibem a actividade da lanosterol 14α-demetilase na biossíntese do colesterol.[15] Compostos de Ganoderma inibem a actividade da 5-alfa redutase na biossíntese de di-hidrotestosterona.[10]

Além dos efeitos na fisiologia dos mamíferos, foram também reportadas actividades antibacteriana e antiviral de Ganoderma.[16][17] Os vírus directamente atingidos são: HSV-1, HSV-2, influenzavirus, estomatite vesicular. Outros micro-organismos sensíveis a Ganoderma': Aspergillus niger, Bacillus cereus, Candida albicans, e Escherichia coli.

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Ganoderma lucidum

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. O termo lingzhi abrange também um outro cogumelo deste género, Ganoderma tsugae.

Referências

  1. http://www.drugs.com/npp/reishi-mushroom.html
  2. a b c d David Arora (1986). Mushrooms demystified, 2nd edition. [S.l.]: Ten Speed Press. ISBN 0-89815-169-4 
  3. Liddell, Henry George and Robert Scott (1980). A Greek-English Lexicon (Abridged Edition). United Kingdom: Oxford University Press. ISBN 0-19-910207-4 
  4. R. S. Hseu, H. H. Wang, H. F. Wang and J. M. Moncalvo (1 de abril de 1996). «Differentiation and grouping of isolates of the Ganoderma lucidum complex by random amplified polymorphic DNA-PCR compared with grouping on the basis of internal transcribed spacer sequences» (Abstract). Appl. Environ. Microbiol. 62 (4): 1354–1363. PMID 8919797 
  5. a b c d Paterson RR (2006). «Ganoderma - a therapeutic fungal biofactory». Phytochemistry. 67: 1985–2001. doi:10.1002/chin.200650268 )
  6. Medicinal Mushrooms: An Exploration of Tradition, Healing, & Culture (Herbs and Health Series)by Christopher Hobbs (Author), Harriet Beinfield
  7. (National Audubon Society; Field guide to Mushrooms,1993)
  8. a b c mushrooms: their therapeutic properties and current medical usage with special emphasis on cancer treatments.[ligação inativa]
  9. Lindequist U, Niedermeyer THJ, Jülich WD. (2005). «The pharmacological potential of mushrooms». Evidence-based Complementary and Alternative Medicine. 2 (3): 285–299. doi:10.1093/ecam/neh107. Consultado em 15 de agosto de 2010. Arquivado do original em 27 de abril de 2009 
  10. a b Liu J, Kurashiki K, Shimizu K, Kondo R (2006). Structure-activity relationship for inhibition of 5alpha-reductase by triterpenoids isolated from Ganoderma lucidum. Bioorg. Med. Chem. 14. [S.l.: s.n.] pp. 8654–60. PMID 16962782. doi:10.1016/j.bmc.2006.08.018 
  11. Chinese Herbal Medicine: Materia Medica, Third Edition by Dan Bensky, Steven Clavey, Erich Stoger, and Andrew Gamble (2004)
  12. Lee, SS., Chen, FD., Chang, SC., et al. (1984). In vivo anti-tumor effects of crude extracts from the mycelium of Ganoderma lucidum. J. of Chinese Oncology Society 5(3): 22-28.
  13. Suga, T., Shiio, T., Maeda, YY., Chihara, G. (1994). Anti tumor activity of lenytinan in murine syngeneic and autochthonous hosts and its suppressive effect on 3 methylcholanthrene induced carcinogenesis. Cancer Res. 44:5132-
  14. Li YQ, Wang SF (2006). «Anti-hepatitis B activities of ganoderic acid from Ganoderma lucidum». Biotechnol. Lett. 28: 837–841. doi:10.1007/s10529-006-9007-9 
  15. Hajjaj H, Macé C, Roberts M, Niederberger P, Fay LB (2005). «Effect of 26-oxygenosterols from Ganoderma lucidum and their activity as cholesterol synthesis inhibitors». Appl. Environ. Microbiol. 71 (7): 3653–8. PMC 1168986Acessível livremente. PMID 16000773. doi:10.1128/AEM.71.7.3653-3658.2005 
  16. Wang H, Ng TB (2006). «Ganodermin, an antifungal protein from fruiting bodies of the medicinal mushroom Ganoderma lucidum». Peptides. 27 (1): 27–30. PMID 16039755. doi:10.1016/j.peptides.2005.06.009 
  17. Moradali MF, Mostafavi H, Hejaroude GA, Tehrani AS, Abbasi M, Ghods S (2006). «Investigation of potential antibacterial properties of methanol extracts from fungus Ganoderma applanatum». Chemotherapy. 52 (5): 241–4. PMID 16899973. doi:10.1159/000094866 

Leitura adicional[editar | editar código-fonte]