Garnério de São Vítor

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Garnério de São Vítor (em latim: Garnerius S. Victoris; em francês: Gautier de Saint-Victor; m. c. 1180) foi um teólogo, filósofo místico e cônego em Paris. Nada mais se sabe sobre ele, exceto que, por volta de 1175, era o prior da Abadia de São Vítor, que, na época do Terceiro Concílio de Latrão (1179), escreveu a celebrada polêmica "Contra quatuor labyrinthos Franciae" e que morreu por volta de 1180.

Obras[editar | editar código-fonte]

Contra quatuor labyrinthos Franciae[editar | editar código-fonte]

César-Egasse du Boulay[1] foi o primeiro a chamar atenção para o tratado de Garnério, Contra quatuor labyrinthos Franciae ("Contra os quatro labirintos da França") e publicou trechos da obra[a].

Os "Quatro labirintos" contra os quais a obra é dirigida são os quatro grandes mestre do pensamento escolástico primitivo: Pedro Abelardo, Gilberto de la Porrée, Pedro Lombardo e Pedro de Poitiers. O texto é um amargo ataque sobre a utilização do método dialético na teologia e condena a utilização da lógica na elucidação dos mistérios da . Garnério se revolta contra o tratamento dado aos mistérios da Trindade e da Encarnação "com leviandade escolástica". Descartando as melhores tradições da Escola de São Vítor, Garnério descarrega impropérios a filósofos, teólogos e gramáticos ("Que tua gramática fique contigo até a perdição", vocifera ele). Esta violência, porém, acaba atrapalhando e, finalmente, negando seu objetivo, que era desacreditar os dialéticos.

Não apenas ele fracassou em convencer seus contemporâneos, como provavelmente acelerou o triunfo do método que ele detestava. Quatro anos depois que sua polêmica foi publicada, Pedro de Poitiers, um dos "labirintos", foi elevado pelo papa à posição de chanceler da Diocese de Paris e, antes do fim da década, Pedro Lombardo, outro "labirinto", foi reconhecido como autoridade em teologia, com seu método adotado nas escolas e suas famosas "Sentenças" lida e comentada por todos os grandes mestres da época — uma distinção que manteve por todo o século XIII.

Demais obras[editar | editar código-fonte]

Também sobreviveram alguns sermões de Garnério[2].

Finalmente, a Garnério tem sido atribuída a invenção do termo "suicídio" (do latim "suicida")[3];

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. Denifle descreveu o manuscrito e Geyer publicou uma edição crítica do segundo livro, texto que foi em seguida publicado na Patrologia Latina (194) por Migne. O texto latino está reproduzido em Pierre Glorieux, "Le Contra quatuor labyrinthos Franciae de Gauthier de Saint-Victor, Archives d’histoire doctrinale et littéraire du moyen âge 27, (1952), 187-335".

Referências

  1. "Hist. Univ. Paris." (1665)
  2. Jean Châtillon, ed, Galteri a Sancto Victore et quorundam aliorum, Sermones ineditos tringinta sex, (Turnhout: Brepols, 1975)
  3. Alexander Murray, Suicide in the Middle Ages (1998), vol. 1 p.38: "Em certo ponto, fazendo troça com termos latinos, ele compara o que se mata ['suicida'] como pior que o 'fratricida', uma palavra latina já estabelecida. Isto em 'Quatuor labyrinthos', quando criticava o pagão Sêneca".

Ligações externas[editar | editar código-fonte]