Grande Prêmio da Itália de 1970

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Grande Prêmio da Itália
de Fórmula 1 de 1970

Trigésimo sexto GP da Itália em Monza
Detalhes da corrida
Categoria Fórmula 1
Data 6 de setembro de 1970
Nome oficial XLI Gran Premio d'Italia[1][nota 1]
Local Autódromo Nacional de Monza, Monza, Monza e Brianza, Lombardia, Itália
Percurso 5.750 km
Total 68 voltas / 391.000 km
Condições do tempo Ensolarado, seco
Pole
Piloto
Bélgica Jacky Ickx Ferrari
Tempo 1:24.14
Volta mais rápida
Piloto
Suíça Clay Regazzoni Ferrari
Tempo 1:25.2 (na volta 65)
Pódio
Primeiro
Suíça Clay Regazzoni Ferrari
Segundo
Reino Unido Jackie Stewart March-Ford
Terceiro
França Jean-Pierre Beltoise Matra

Resultados do Grande Prêmio da Itália de Fórmula 1 realizado em Monza em 6 de setembro de 1970.[2][3] Décima etapa da temporada, ficou marcado pelo acidente que ceifou a vida do austríaco Jochen Rindt no sábado.[4] Em sinal de pesar, a Lotus não disputou a corrida. A prova aconteceu no dia seguinte em meio ao luto e o público assistiu a primeira vitória do suíço Clay Regazzoni, da Ferrari,[5][6][7] com Jackie Stewart em segundo lugar representando a March-Ford e Jean-Pierre Beltoise em terceiro pela Matra.[nota 2]

Resumo[editar | editar código-fonte]

O carro próprio da Tyrrell[editar | editar código-fonte]

Tão logo chegou em Monza, a Fórmula 1 estava eufórica com as notícias a respeito do Tyrrell 001, primeiro carro fabricado pela equipe de Ken Tyrrell sob os cuidados do projetista Derek Gardner. A estreia do novo chassis ocorreu em 22 de agosto de 1970, seis dias após o Grande Prêmio da Áustria, durante a International Gold Cup em Oulton Park. Ciente do potencial de sua máquina, Ken Tyrrell convenceu Jackie Stewart a usá-la nos treinos na sexta-feira, mas uma sucessão de problemas mecânicos levou ao resgate do bólido da March utilizado desde o início do campeonato na África do Sul.[8]

Emerson Fittipaldi capotou[editar | editar código-fonte]

Desde sua chegada à Fórmula 1 Emerson Fittipaldi guiou o modelo Lotus 49 (cuja estreia remonta ao Grande Prêmio dos Países Baixos de 1967), porém uma decisão de Colin Chapman permitiu ao brasileiro guiar o Lotus 72 em Monza. Uma atitude tão corriqueira quase resultou em morte quando o piloto chegou na Curva Parabólica e seu bólido perdeu o controle atingindo um barranco a 200 km/h. A força do impacto lançou o carro por cima do alambrado e o mesmo capotou entre duas das árvores que rodeavam o autódromo, mas felizmente seu condutor saiu ileso.[9]

Jochen Rindt (1942-1970)[editar | editar código-fonte]

Por conta do acidente com Emerson Fittipaldi, a Lotus entregou a Jochen Rint um outro carro para que o austríaco participasse do treino oficial naquele sábado e assim ocorreu. Contudo mais uma tragédia enlutou a Fórmula 1 quando o carro de Rindt desviou-se bruscamente para a esquerda na altura da Curva Parabólica a 240 km/h. Tal como ocorrera antes, o bólido chocou-se de forma brutal contra a escarpa, voou sobre a barreira de proteção e capotou quatro vezes.[9] Ao ser resgatado, levaram-no ao centro médico de Monza e a seguir para o Hospital Niguarda em Milão onde constataram sua morte. Quando examinaram seu corpo notaram "a traqueia cortada de lado a lado, o tórax esmagado, além da perna esquerda quebrada", conforme publicou O Globo.[9]

A dinâmica dos fatos sugere uma avaria mecânica (talvez a perda de uma roda) como causa do acidente[10] e as lesões no pescoço de Rindt estão relacionadas ao uso de um cinto de segurança com quatro pontos ao invés de cinco de modo a saltar mais rapidamente em caso de incêndio no seu carro, porém essa modificação fez o corpo do piloto deslocar-se para a dianteira do cockpit, esganando o austríaco.[11] Campeão das 24 Horas de Le Mans de 1965 com uma Ferrari,[12] Jochen Rindt estreou na Fórmula 1 guiando uma Brabham no Grande Prêmio da Áustria de 1964 e venceu sua primeira corrida no Grande Prêmio dos Estados Unidos de 1969 quando já estava na Lotus. Casado com a modelo finlandesa Nina Madeline Lincoln, com quem tem uma filha chamada Natasha, o finado piloto residia na Suíça e pretendia encerrar sua carreira este ano.[9] Sobre isso, declarou: "Há dez anos corro atrás do título mundial e agora estou a ponto de conquistar o que quero. Depois vou largar o automobilismo".[10] Em sinal de luto, Colin Chapman retirou seus carros de Monza e assim a Lotus não disputou a corrida.

Dada a repercussão do caso, a justiça italiana determinou uma investigação a respeito e descobriu uma falha no eixo dianteiro do carro usado por Rindt apontando-a como causa do acidente, conclusão similar a uma declaração de Denny Hulme, pois o neozelandês estava próximo ao bólido do austríaco quando a Lotus guinou para a direita e chicoteou na direção inversa.[4] Curiosamente a morte de Rindt foi atribuída às "barreiras mal instaladas". Colin Chapman foi indiciado por homicídio num processo encerrado apenas em 1976 com a absolvição do dirigente.

A frieza dos números[editar | editar código-fonte]

Embora o sentimento de perda fosse comum a dirigentes, pilotos e fãs da Fórmula 1, a morte de Jochen Rindt suscitou dúvidas quanto ao futuro, pois tomando por base a classificação vigente até o Grande Prêmio da Áustria, nove dos vinte e um pilotos que pontuaram têm chances matemáticas de título, mas nesse quesito os mais bem cotados são os campeões mundiais Jack Brabham, Denny Hulme e Jackie Stewart, além do belga Jacky Ickx, piloto de melhor retrospecto nas últimas etapas do certame.[13] Por outro lado, não existe impedimento legal ou desportivo para que Jochen Rindt seja declarado campeão mundial post-mortem caso os rivais não o superem.

Treinos oficiais[editar | editar código-fonte]

Tonificada pela dobradinha na Áustria, a Ferrari inscreveu três pilotos para correr em Monza, destes o belga Jacky Ickx conquistou a pole position ao superar a BRM de Pedro Rodríguez enquanto Clay Regazzoni pôs a outra Ferrari em terceiro lugar à frente da March de Jackie Stewart enquanto Henri Pescarolo, da Matra, e Jackie Oliver, da BRM, estavam na terceira fila. Enquanto isso Ignazio Giunti colocou a Ferrari restante em décimo quinto lugar na última corrida de Fórmula 1 disputada pelo italiano, enquanto o estreante Nanni Galli foi incapaz de levar sua McLaren-Alfa Romeo ao grid, lembrando que John Miles deixou a categoria mesmo sem ir à pista, afinal a Lotus decidiu partir da Itália após a morte trágica de Jochen Rindt.[3]

Piloto da Rob Walker Racing Team, equipe usufrutuária de um Lotus 72, Graham Hill também não disputou a etapa italiana.

Primeira vitória de Regazzoni[editar | editar código-fonte]

Jacky Ickx fez bom uso de sua pole position e manteve-se à frente dos rivais no momento da largada comandando a prova nas três primeiras voltas[7] sob a mira de Pedro Rodríguez até o mexicano assumir a liderança no quarto giro, mas para o azar do piloto da BRM, a posição de honra foi tomada por Jackie Stewart nas voltas cinco e seis. Inconformado, Rodríguez ponteou os giros oito e nove antes do troco de Stewart na passagem seguinte, a partir da qual Clay Regazzoni e Jackie Stewart alternaram-se na liderança da prova. Na décima segunda volta a corrida de Rodríguez, vice-líder durante a maior parte dessa disputa, terminou por quebra de motor.[14]

A maior parte do percurso entre as voltas treze e trinta a prova foi liderada por Oliver e Stewart exceto pelas curtas intromissões de Jacky Ickx (voltas 19 e 20) e Denny Hulme (volta 29), Nesse interregno o belga saiu da prova devido a um defeito na transmissão de sua Ferrari e Jack Brabham sofreu um acidente, enquanto o neozelandês da McLaren seguiu em uma tocada discreta.[14]

O período de maior estabilidade da prova ocorreu quando Clay Regazzoni saiu da terceira posição na volta trinta e um e superou Jackie Oliver e Jackie Stewart para liderar a corrida italiana no giro seguinte, mantendo-a em suas mãos durante a maior parte do percurso remanescente, a não ser quando o piloto da March retomou o primeiro lugar em momentos efêmeros. Faltando 15 voltas para o fim do grande prêmio, o suíço foi favorecido pelos ataques de Jean-Pierre Beltoise e Denny Hulme visando o segundo lugar de Stewart[14] e pôde estabelecer a diferença necessária para triunfar numa corrida marcada por vinte e oito trocas de liderança.[6] Ao cruzar a linha de chegada, Clay Regazzoni sacramentou a primeira vitória de sua carreira e tornou-se o quinto piloto a vencer o Grande Prêmio da Itália a bordo de uma Ferrari.[nota 3] Jackie Stewart despediu-se da March em segundo lugar enquanto Jean-Pierre Beltoise, da Matra, assegurou o terceiro posto. Também pontuaram neste dia: Denny Hulme (McLaren), Rolf Stommelen (Brabham) e François Cevert (March), este saboreando o primeiro ponto de sua carreira.[3]

Mesmo ausente da prova, a Lotus conservou seus 50 pontos e a liderança no mundial de construtores. Quanto ao mundial de pilotos, Jochen Rindt permanecia em primeiro lugar com 45 pontos enquanto Jackie Stewart e Jack Brabham dividiam a vice-liderança com 25 pontos cada. Finda a prova italiana, Denny Hulme e os contratados da Ferrari (Ickx e Regazzoni) também possuem chances formais de chegar ao título.

Classificação da prova[editar | editar código-fonte]

Pos. Piloto Construtor Voltas Tempo/Diferença Grid Pontos
1 4 Suíça Clay Regazzoni Ferrari 68 1:39:07.1 3 9
2 18 Reino Unido Jackie Stewart March-Ford 68 5.73 4 6
3 40 França Jean-Pierre Beltoise Matra 68 5.8 14 4
4 30 Nova Zelândia Denny Hulme McLaren-Ford 68 6.15 9 3
5 46 Alemanha Rolf Stommelen Brabham-Ford 68 6.41 17 2
6 20 França François Cevert March-Ford 68 + 1:03.46 11 1
7 48 Nova Zelândia Chris Amon March-Ford 67 + 1 volta 18
8 34 Itália Andrea de Adamich McLaren-Alfa Romeo 61 + 7 voltas 12
NC 32 Reino Unido Peter Gethin McLaren-Ford 60 Não classificado 16
Ret 8 Reino Unido Jackie Oliver BRM 36 Motor 6
Ret 52 Suécia Ronnie Peterson March-Ford 35 Motor 13
Ret 44 Austrália Jack Brabham Brabham-Ford 31 Acidente 8
Ret 2 Bélgica Jacky Ickx Ferrari 25 Transmissão 1
Ret 12 Canadá George Eaton BRM 21 Superaquecimento 20
Ret 54 Austrália Tim Schenken De Tomaso-Ford 17 Motor 19
Ret 6 Itália Ignazio Giunti Ferrari 14 Injeção de combustível 15
Ret 42 França Henri Pescarolo Matra 14 Motor 5
Ret 10 México Pedro Rodríguez BRM 12 Motor 2
Ret 50 Suíça Jo Siffert March-Ford 3 Motor 7
Ret 14 Reino Unido John Surtees Surtees-Ford 0 Pane elétrica 10
WD 28 Reino Unido Graham Hill Lotus-Ford Retirou-se
WD 24 Reino Unido John Miles Lotus-Ford Retirou-se
FAT 22 Áustria Jochen Rindt Lotus-Ford Acidente fatal
DNQ 38 Suécia Jo Bonnier McLaren-Ford Não qualificado
WD 26 Brasil Emerson Fittipaldi Lotus-Ford Retirou-se
DNQ 36 Itália Nanni Galli McLaren-Alfa Romeo Não qualificado
DNQ 56 Suíça Silvio Moser Bellasi-Ford Não qualificado
Fonte:[2]

Tabela do campeonato após a corrida[editar | editar código-fonte]

  • Nota: Somente as primeiras cinco posições estão listadas. Em 1970 os pilotos computariam seis resultados nas sete primeiras corridas do ano e cinco nas últimas seis. Neste ponto esclarecemos: na tabela dos construtores figurava somente o melhor colocado dentre os carros de um time.

Notas

  1. Em 1950 seria realizado o vigésimo "Grande Prêmio da Itália", mas o mesmo foi erroneamente creditado como o vigésimo primeiro e por esta razão a numeração oficial do evento contém uma prova a mais que as efetivamente realizadas.
  2. Voltas na liderança: Jacky Ickx 5 voltas (1-3; 19-20), Pedro Rodríguez 3 voltas (4; 7-8), Jackie Stewart 17 voltas (5-6; 9; 11; 14-17; 26-27; 31; 35; 37; 42-43; 51; 53), Clay Regazzoni 33 voltas (10; 12; 32-34; 36; 38-41; 44-50; 52; 54-68), Jackie Oliver 9 voltas (13; 18; 21-25; 28; 30), Denny Hulme 1 volta (29).
  3. Antes de Clay Regazzoni vieram Alberto Ascari (1951, 1952), Phil Hill (1960, 1961), John Surtees (1964) e Ludovico Scarfiotti (1966).

Referências

  1. a b c «1970 Italian GP – championships (em inglês) no Chicane F1». Consultado em 18 de setembro de 2021 
  2. a b «1970 Italian Grand Prix - race result». Consultado em 23 de dezembro de 2018 
  3. a b c «Italian GP, 1970 (em inglês) no grandprix.com». Consultado em 23 de dezembro de 2018 
  4. a b Fred Sabino (5 de setembro de 2020). «Há 50 anos, Jochen Rindt morreu num acidente em Monza; depois, seria campeão póstumo da F1». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 5 de setembro de 2020 
  5. Fred Sabino (5 de setembro de 2019). «Os momentos mais importantes da carreira de Clay Regazzoni, que completaria 80 anos hoje». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 5 de setembro de 2019 
  6. a b Fred Sabino (4 de setembro de 2019). «Ferrari já conquistou 18 vitórias em Monza mas não ganha desde 2010, com Fernando Alonso». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 4 de setembro de 2019 
  7. a b Suíço vence GP de Monza (online). Folha de S.Paulo, São Paulo (SP), 07/09/1970. Página visitada em 30 de dezembro de 2018.
  8. Fred Sabino (3 de maio de 2018). «Ken Tyrrell dominou a F1 e manteve equipe independente por três décadas». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 28 de julho de 2020 
  9. a b c d Morreu Rindt, campeão absoluto de 70 (online). O Globo, Rio de Janeiro (RJ), 07/09/1970. Matutina, Esportes, p. 03. Página visitada em 29 de julho de 2020.
  10. a b Rindt morre em Monza ao soltar roda de sua Lotus (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 06/09/1970. Esporte, p. 40. Página visitada em 29 de julho de 2020.
  11. Fred Sabino (18 de abril de 2018). «Jochen Rindt é até hoje o único campeão póstumo na história da Fórmula 1». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 23 de dezembro de 2018 
  12. Fred Sabino (14 de junho de 2020). «Relembre os pilotos de Fórmula 1 na ativa que venceram as tradicionais 24 Horas de Le Mans». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 29 de julho de 2020 
  13. «1970 Austrian GP – championships (em inglês) no Chicane F1». Consultado em 29 de julho de 2020 
  14. a b c «Italy 1970 – lap by lap (em inglês) no statsf1.com». Consultado em 30 de julho de 2020 

Precedido por
Grande Prêmio da Áustria de 1970
Campeonato Mundial de Fórmula 1 da FIA
Ano de 1970
Sucedido por
Grande Prêmio do Canadá de 1970
Precedido por
Grande Prêmio da Itália de 1969
Grande Prêmio da Itália
40ª edição
Sucedido por
Grande Prêmio da Itália de 1971