Hans Staden
Hans Staden | |
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Retrato de Hans Staden feito por H. J. Winkelmann, em 1664. | |
Nascimento | 1525 Homberg (Efze) |
Morte | 1579 (54 anos) Wolfhagen |
Nacionalidade | alemã |
Ocupação | Marinheiro, aventureiro, mercenário e cronista. |
Hans Staden (Homberg (Efze), c. 1525 — Wolfhagen, c. 1579) foi um aventureiro mercenário alemão do século XVI. Por duas vezes, Staden esteve no Brasil, onde participou de combates nas capitanias de Pernambuco e de São Vicente contra navegadores franceses e seus aliados indígenas e onde passou nove meses refém dos índios tupinambás. De volta à Alemanha, Staden escreveu "História verdadeira e descrição..." (Marburgo, 1557): um relato de suas viagens ao Brasil que se tornou um grande sucesso editorial da época.
A primeira viagem ao Brasil
Partindo de Bremen, na atual Alemanha, Hans Staden passou pelos Países Baixos e chegou a Portugal. De Portugal, partiu para a capitania de Pernambuco, onde chegou em 28 de Janeiro de 1548. A embarcação portuguesa em que estava tinha o objetivo principal de recolher pau-brasil (Caesalpinia echinata), mas também deveria combater quaisquer navios franceses que estivessem a negociar com os nativos, bem como deveria também transportar degredados portugueses remetidos para povoar a colônia.
O governador de Pernambuco, Duarte da Costa, que enfrentava uma revolta indígena na ocasião, pediu ajuda aos recém-chegados. Hans Staden e os demais rumaram para Igaraçu, próximo a Olinda, em um navio para auxiliar na luta. Igaraçu era, então, defendida por aproximadamente 120 pessoas, às quais se uniram os cerca de quarenta recém-chegados, incluindo Hans Staden. Enfrentaram 8 000 indígenas. Depois de uma renhida luta e de um cerco prolongado no qual vieram a faltar provisões, os defensores conseguiram, afinal, vencer os indígenas.
Dias depois, enfrentaram um navio francês e, logo depois, retornaram à Europa, aportando em Lisboa no dia 8 de Outubro.
A Segunda Viagem ao Brasil
Em sua segunda viagem, Staden partiu de Sevilha rumo ao Rio da Prata em um navio espanhol em 1549, mas o navio veio a naufragar no ano seguinte, no litoral do atual estado brasileiro de Santa Catarina. Os integrantes da expedição, depois de passarem dois anos na região, decidiram rumar para a cidade de Assunção: uma parte deles iria por terra e outra parte, por navio. Staden se juntou ao segundo grupo e rumou para a cidade de São Vicente, onde tentaria fretar um navio capaz de chegar a Assunção.
Antes de chegar a São Vicente, porém, o navio de Staden naufragou próximo a Itanhaém. Seus ocupantes conseguiram nadar até a praia. De lá, foram a pé até São Vicente, onde Staden foi contratado como artilheiro pelos colonos portugueses para defender o Forte de São Filipe da Bertioga, que se localizava nas proximidades da cidade. Enquanto caçava sozinho fora dos limites do forte, Staden foi feito prisioneiro por uma tribo tupinambá que o conduziu à aldeia de Ubatuba (Uwattibi, no texto original do relato de Staden[1]), que ficaria localizada em algum ponto entre Bertioga e Rio de Janeiro.[2]
Desde o início, ficou claro que a intenção dos seus captores era devorá-lo. Pouco tempo depois, os tupiniquins, aliados dos portugueses, atacaram a aldeia onde ele era mantido prisioneiro. Obrigado pelos tupinambás, Staden lutou ao lado destes contra os tupiniquins. Seu desejo era tentar fugir para unir-se aos atacantes. Mas, estes, vendo que a resistência dos defensores era muito forte, desistiram da luta e se retiraram. Era tratado como um troféu de guerra pelos tupinambás[3].
Pediu ajuda a um navio português e a outro francês. Ambos recusaram-se a ajudá-lo por não desejarem entrar em conflito com os índios. Foi, enfim, resgatado pelo navio corsário francês Catherine de Vatteville, comandado por Guillaume Moner, depois de mais de nove meses aprisionado.
Obra
De volta à Europa, redigiu um relato sobre as peripécias em suas viagens e aventuras no Novo Mundo, uma das primeiras descrições para o grande público acerca dos costumes dos indígenas sul-americanos.
O livro, intitulado "História Verdadeira e Descrição de uma Terra de Selvagens, Nus e Cruéis Comedores de Seres Humanos, Situada no Novo Mundo da América, Desconhecida antes e depois de Jesus Cristo nas Terras de Hessen até os Dois Últimos Anos, Visto que Hans Staden, de Homberg, em Hessen, a Conheceu por Experiência Própria e agora a Traz a Público com essa Impressão"[4], também conhecido pelo nome "Duas Viagens ao Brasil", foi publicado em Marburgo, na Alemanha, por Andres Colben em 1557.
Tal livro conheceu sucessivas edições, constituindo-se num sucesso editorial devido às suas ilustrações de animais e plantas, além de descrições de rituais antropofágicos e costumes exóticos.
“ | A sua influência no meio culto da época ajudou a criar, no imaginário europeu quinhentista, a ideia da terra brasílica como o país dos canibais, devido às ilustrações com cenas de antropofagia.[5] | ” |
Para os estudiosos, a obra contém informações de interesse antropológico, sociológico, linguístico e cultural sobre a vida, os costumes e as crenças dos indígenas do litoral brasileiro na primeira metade do século XVI.
Imagens
Trechos de Duas viagens ao Brasil
A partida para o novo mundo
“ | Eu, Hans Staden de Homberg-em-Hessen, resolvi visitar a Índia. Saí de Bremem para os Países Baixos e achei, em Campon, navios que pretendiam tomar carga de sal em Portugal. Embarquei e, a 29 de Abril de 1547, chegávamos a Setúbal. | ” |
Costumes indígenas
“ | Formaram um círculo ao redor de mim, ficando eu no centro com duas mulheres. Amarraram-me numa perna um chocalho e, na nuca, penas de pássaros. Depois, começaram as mulheres a cantar e, conforme um som dado, tinha eu de bater no chão o pé onde estavam atados os chocalhos. | ” |
“ | As mulheres fazem bebidas. Tomam as raízes de mandioca, que deixam ferver em grandes potes. Quando bem fervidas tiram-nas (...) e deixam-nas esfriar (...) Então, as moças assentam-se ao pé e mastigam as raízes e o que fica mastigado é posto numa vasilha à parte. | ” |
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A antropofagia
“ | Voltando da guerra, trouxeram prisioneiros. Levaram-nos para sua cabana: mas a muitos feridos desembarcaram e os mataram logo, cortaram-nos em pedaços e assaram a carne (...) Um era português (...) O outro chamava-se Hyeronimus; este foi assado de noite. | ” |
Ver também
- Forte de Inbiassape
- Forte de São Filipe da Bertioga
- Hans Staden (filme)
- André Thevet
- Jean de Léry
- Ulrich Schmidl
Referências
- ↑ STADEN, H. Duas viagens ao Brasil. Porto Alegre: L&PM, 2010. p.162
- ↑ NAVARRO, E. A. Brasil - um História. Segunda edição. São Paulo: Ática, 2003. p. 46
- ↑ «Educaterra: HISTÓRIA - por Voltaire Schilling - As aventuras de Hans Staden» (em Portugués). Dezembro de 2008. Consultado em 18 de Dezembro de 2008
- ↑ STADEN, H. Duas Viagens ao Brasil. Porto Alegre: L&PM, 2010. p. 9
- ↑ Brasiliana da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, 2001.
Bibliografia
- STADEN, Hans. Duas viagens ao Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1974. 218 p. il.
- Véritable histoire et description d'un pays habité par des hommes sauvages, nus, féroces et anthropophages: situé dans le Nouveau monde nommé Amérique, avant et depuis la naissance de Jésus-Christ, jusqu'à l'année dernière; Por Hans Staden, Johann von Staden; Publicado por A. Bertrand, 1837; 335 páginas
- Viagem ao Brasil - Rio de Janeiro : Academia Brasileira, 1930. - 186 p. http://purl.pt/151
- William Arens, The Man-Eating Myth: Anthropology & Anthropophagy (Oxford University Press, 1979), 22-31; Michaela Schmolz-Haberlein and Mark Haberlein, “Hans Staden, Neil L. Whitehead, and the Cultural Politics of Scholarly Publishing,” Hispanic American Historical Review 81, no. 3-4 (2001): 745-751.
Ligações externas
- (em português) Viagem ao Brasil na Biblioteca Nacional Digital