Heliconiaceae

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Como ler uma infocaixa de taxonomiaHeliconiaceae
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Subclasse: Zingiberidae
Ordem: Zingiberales
Família: Heliconiaceae
Nakai, 1941

Introdução[editar | editar código-fonte]

É uma família de angiospermas que pertence à ordem Zingiberales e tem como único gênero o grupo Heliconia. As helicônias são popularmente conhecidas por bananeira-de-jardim, bico-de-guaraná, falsa-ave-do-paraíso e paquevira.

Suas folhas parecem as das bananeiras e possui inflorescências terminais com brácteas coloridas, que conferem o caráter decorativo da família. Compreende plantas herbáceas, perenes, monocotiledonares e rizomatosas que apresentam porte médio a grande, podendo formar touceiras ou se alastrar [1]. Esse grupo pode ser distinguido por suas flores invertidas, estaminoide único e frutas que são drupas (uma semente dura cercada por polpa carnuda) [2].

É nativa principalmente de áreas tropicais da América, sendo a maioria encontrada em regiões úmidas, mas também podem aparecer em áreas sazonalmente secas. Geralmente habitam espaços abertos, nas margens de estradas e rios ou clareiras de florestas [3].

Etimologia[editar | editar código-fonte]

Heliconiaceae: O nome da família tem a sua origem no gênero Heliconia L.

Heliconia: O nome do gênero vem do mítico Monte Helicon, a residência das Musas. Ele foi dado por Linnaeus em 1771 [4].

Morfologia[editar | editar código-fonte]

As helicônias são plantas de reduzido porte ou arborescentes. Contam com pseudocaule ereto, aéreo, formado por bainhas de folhas sobrepostas [5].

As folhas são dísticas, grandes (até cinco metros de comprimento), simples e inteiras, apresentando limbo, pecíolo e bainha. São opostas e dispostas em duas fileiras verticais, com altura variando de 0,5 m a 10 m. Quanto à disposição das folhas, as helicônias podem ser classificadas como: musoide, com folhas orientadas verticalmente de pecíolos longos; zingiberoide, com folhas posicionadas horizontalmente de pecíolos curtos; e canoide, com pecíolo de comprimento curto ou médio, com posição oblíqua à haste [2].

Heliconia longiflora com frutos

No ápice do pseudocaule forma-se uma única inflorescência, podendo ser pendente ou ereta. É composta por numerosas brácteas grandes, geralmente de cores fortes, dispostas disticamente ou espiraladas ao longo de um eixo central e encerram de duas até muitas flores. As flores perfeitas são marcadamente zigomorfas subtendidas por uma bráctea. O androceu é formado por cinco estames férteis e um estaminódio. O ovário contém um óvulo sub-basal simples em cada lóculo [1]. Cada flor permanece aberta por apenas um dia. No entanto, a fase de florescimento é prolongada, já que uma única bráctea pode conter inúmeras flores. As flores são hermafroditas e, em sua maioria, são autocompatíveis [6]. O fruto é do tipo drupa, pode ter de uma a três sementes e nas espécies americanas eles adquirem coloração azulada. Já nas espécies do Pacífico Sul os frutos são vermelhos ou alaranjados [2].

Diversidade Taxonômica[editar | editar código-fonte]

Sempre houve divergências e incertezas sobre o número de espécies, principalmente por conta dos caracteres morfológicos serem muito diversos. Assim, estudos moleculares vem auxiliando no entendimento da diversidade taxonômica dessa família [2].

Estima-se que existam 194 espécies reconhecidas de Heliconia [7], e algumas ainda não descritas. Elas estão distribuídas dentro de 5 sub-gêneros definidos pelo hábito das plantas e por características morfológicas como altura, orientação da florescência, orientação e posição das brácteas:

Taeniostrobus (Kuntze) Griggs

Stenochlamys Baker

Heliconiopsis

Heliconia Griggs

Griggsia [2]

Distribuição[editar | editar código-fonte]

São plantas neotropicais que aparecem principalmente na América Central e América do Sul (Colômbia, Equador, Panamá,Costa Rica, Brasil, Peru, Venezuela, Nicarágua, Guatemala, Bolívia, Honduras, México e Suriname), mas cerca de seis espécies são encontradas nas ilhas do Pacífico Sul [2].

No Brasil[editar | editar código-fonte]

O Brasil apresenta 29 espécies:

Heliconia psittacorum

Heliconia acuminata L.C.Rich. (sin. Heliconia timothei L.Andersson)

Heliconia adeliana Emygdio & E.Santos

Heliconia aemygdiana Burle-Marx (sin. Heliconia pseudoaemygdiana Emygdio & E.Santos)

Heliconia angusta Vell.

Heliconia apparicioi Barreiros

Heliconia chartacea Lane ex Barreiros

Heliconia densiflora Vell.

Heliconia episcopalis Vell.

Heliconia farinosa Raddi

Heliconia hirsuta L.f.

Heliconia julianii Barreiros (sin. Heliconia velutina L.Andersson e Heliconia lasiorachis L.Andersson)

Heliconia juruana Loes.

Heliconia kautzkiana Emygdio & E.Santos

Heliconia lasiorachis L.Andersson (sin. het. de Heliconia julianii Barreiros)

Heliconia lourteigiae Emygdio & E.Santos

Heliconia marginata (Griggs) Pittier

Heliconia metallica Planch. & Linden ex Hook.f.

Heliconia pendula Wawra

Heliconia pseudoaemygdiana Emygdio & E.Santos (sin. het. de Heliconia aemygdiana Burle-Marx)

Heliconia psittacorum L.f. (sin. Musa humilis Aubl.)

Heliconia richardiana Miq.

Heliconia rostrata Ruiz & Pav.

Heliconia schumanniana Loes.

Heliconia spathocircinata Aristeg.

Heliconia stricta Huber

Heliconia subulata Ruiz & Pav.

Heliconia tenebrosa J.F.Macbr.

Heliconia timothei L.Andersson ( sin. het. de Heliconia acuminata L.C.Rich.)

Heliconia velutina L.Andersson (sin. het. de Heliconia julianii Barreiros) [8]

Os 5 subgêneros aparecem representados no levantamento das espécies brasileiras, indicando que houve radiação de todas as principais linhagens do gênero no Brasil [3].

Aparecem nas 5 regiões brasileiras: no Norte (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins), Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Sergipe), Centro-Oeste (Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso), Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo) e Sul (Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina); sendo encontradas nos seguintes domínios: Caatinga, Cerrado, Pantanal, Amazônia e Mata Atlântica [8].São as áreas primárias de distribuição dessa família no Brasil: a Bacia Amazônica e a Mata Atlântica, sendo que nesta última há uma forte ocorrência de endemismo [3].

Reprodução[editar | editar código-fonte]

A dureza do endocarpo do fruto das helicônias dificulta sua propagação sexuada pois oferece resistência à germinação[9]. Também são consideradas geófitas, porque além de se dispersarem sexuadamente por meio de sementes, possuem estruturas subterrâneas especializadas para a sua reprodução; são rizomas que fornecem nutrientes e água para que haja o desenvolvimento sazonal e garantia a sobrevivência da planta [10].

Relações filogenéticas[editar | editar código-fonte]

Helicônias, inicialmente, compunham um gênero pertencente à família Musaceae, sendo considerado, porém, um gênero homogêneo e com características próprias. Em 1941, Nakai elevou Heliconia ao nível de família (Heliconiaceae), apresentando como características diagnósticas as flores invertidas e a presença de estigma captado, um óvulo por lóculo e  semente sem arilo [2].

A família Heliconiaceae é composta por um único gênero (Heliconia) e possui como espécie tipo Heliconia bihai (L.) L. Pertence à ordem Zingiberales, a qual é formada por mais sete famílias além de Heliconiaceae: Musaceae (bananeiras), Strelitziaceae (aves-do-paraíso), Lowiaceae, Zingiberaceae (gengibres), Costaceae (costus), Cannaceae (cannas) e Marantaceae (plantas do orador).

Estudos filogenéticos, amparados em dados morfológicos e moleculares, confirmaram as oito famílias da Zingiberales, sendo todas monofiléticas . As famílias Lowiaceae, Strelitziaceae, Musaceae e Heliconiaceae (grupo das bananas) constituem um grupo parafilético basal, irmão do grupo das famílias Zingiberaceae, Costaceae, Cannaceae e Marantaceae (grupo dos gengibres), que formam uma linhagem terminal monofilética. Além disso, Lowiaceae e Strelitziaceae forma um clado que constitui o grupo-irmão de Heliconiaceae [2].

A ordem Zingiberales originou-se há cerca de 124 milhões de anos, tendo ocorrido a sua diversificação há 110 milhões de anos aproximadamente. A família Heliconiaceae divergiu da linhagem ancestral por volta de 109 milhões de anos atrás, juntamente com as famílias Lowiaceae e Strelitziaceae, indicando uma rápida diversificação da linhagem principal. O processo de especificação das helicônias, entretanto, é mais recente, datando dos últimos 32 milhões de anos [2].

Importância Econômica[editar | editar código-fonte]

Essas plantas tem caráter ornamental por conta de sua inflorescência terminal e ereta com brácteas e flores de diferentes cores, sendo muito utilizadas para paisagismo, na composição de  jardins e para ornamentação de ambientes e eventos. Elas geram renda e mão de obra, principalmente para pequenos produtores [10]. Seu destaque se deve à sua inflorescência terminal e ereta com brácteas e flores de diferentes cores. Elas florescem o ano todo, tem alta duração pós-colheita e não são sensíveis ao transporte, o que é interessante para comercialização[11]. Um problema recorrente é a difícil identificação de espécies quando feita considerando apenas sua morfologia e o desconhecimento de sinonímias, o que pode levar a equívocos e complicações comerciais [12].

Importância Ecológica[editar | editar código-fonte]

Fitotelmo em Heliconia sp.

Devido ao seu crescimento rizomatoso são importantes no reflorestamento e proteção dos mananciais, uma vez que diminuem os movimentos de terra sobre as encostas[9]. A helicônia também é parte importante na comunidade do local em que está inserido porque interagem com outros organismos, que se alimentam dela ou vivem nela. As espécies dessa família, por conta de suas brácteas características, podem formar fitotelmas, proporcionando microhabitats que abrigam vários insetos [13].

Também têm importante relação com seus animais polinizadores, como beija-flores, nas áreas neotropicais e morcegos, nas Ilhas do Pacífico[2].

Referências

  1. a b CASTRO, C.E.F.; MAY, André; GONÇALVES, Charleston. Atualização da nomenclatura de espécies do gênero Heliconia (Heliconiaceae).. Ornamental Horticulture, [S.l.], v. 13, n. 1, june 2007. ISSN 2447-536X. Available at: <https://ornamentalhorticulture.emnuvens.com.br/rbho/article/view/204/98>. Acesso em: 05 out. 2018. doi:https://doi.org/10.14295/rbho.v13i1.204.
  2. a b c d e f g h i j MAROUELLI, L.P. Análise filogenética de acessos do gênero Heliconia L. (Heliconiaceae) utilizando marcadores moleculares. 2009. 88 f. Dissertação (Mestrado em Botânica) - Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília/Departamento de Botânica, Brasília, DF, 2009.
  3. a b c KRESS, John. The diversity and distribution of Heliconia (Heliconiaceae) in Brazil. Acta Bot. Bras.,  Feira de Santana ,  v. 4, n. 1, p. 159-167,  July 1990 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-33061990000100011&lng=en&nrm=iso>. access on  05 Oct. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-33061990000100011
  4. SANTOS, Natália Larissa da Silva. Aspectos biológicos de Caligo illioneus em espécies de Heliconia. 2009. Dissertação (Pós-graduação em Agronomia). Universidade Federal de Alagoas, Rio Largo, AL, 2009.
  5. CASTRO, CARLOS EDUARDO FERREIRA DE (3 de maio de 2011). «Helicônias brasileiras: características, ocorrência e usos». Revista Brasileira de Horticultura Ornamental. Consultado em 27 de novembro de 2018 
  6. COSTA, M.G.S. Caracterização citogenética de genótipos de Heliconia L. (Heliconiaceae). 2013. 54 f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) - Departamento de Agronomia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, 2013.
  7. CHRISTENHUSZ, MAARTEN J.M.; BYNG, JAMES W. (20 de maio de 2016). «The number of known plants species in the world and its annual increase». Phytotaxa (em inglês). 261 (3). 201 páginas. ISSN 1179-3163. doi:10.11646/phytotaxa.261.3.1 
  8. a b «Heliconiaceae» 
  9. a b Torres, Antônio Carlos (2005). «Produção de mudas de Heliconia rostrata livres de doenças via cultura de embriões» (PDF). Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento. Consultado em 30 de novembro de 2018 
  10. a b DE SOUZA, Everton Hilo et al. Desenvolvimento e multiplicação in vitro de Heliconia bihai. Ornamental Horticulture, [S.l.], v. 13, p. 798-800, aug. 2018. ISSN 2447-536X. Available at: <https://ornamentalhorticulture.emnuvens.com.br/rbho/article/view/1502/1050>. Date accessed: 05 oct. 2018. doi:https://doi.org/10.14295/oh.v13i0.1502.
  11. DE CASTRO, Ana Cecília Ribeiro et al. Sintomas e efeitos de deficiência de macronutrientes em helicônia ‘Golden Torch. Ornamental Horticulture, [S.l.], v. 13, p. 1715, nov. 2018. ISSN 2447-536X. Available at: <https://ornamentalhorticulture.emnuvens.com.br/rbho/article/view/1845>. Date accessed: 30 nov. 2018. doi:https://doi.org/10.14295/oh.v13i0.1845.
  12. PINHEIRO, Paula Guimarães Lago. Caracterização de Helicônias para o paisagismo. 2010. Dissertação (Mestrado em Melhoramento Genético de plantas) - Universidede Federal de Pernambuco, Recife, PE, 2010.
  13. Oliveira, Thais Ranielle Souza de; Moura, Shayne Rodrigues de; Cruz, Denise Dias da; Loges, Vivian; Martins, Celso Feitosa (jun 2018). «Interaction and Distribution of Beetles (Insecta: Coleoptera) Associated with Heliconia bihai (Heliconiaceae) Inflorescences». Florida Entomologist (em inglês). 101 (2): 160–165. ISSN 0015-4040. doi:10.1653/024.101.0202 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

DENG, J. et al.Phylogenetic and ancestral area reconstruction of Zingiberales from plastid genomes. Biochemical Systematics and Ecology​, v.66, p.123-128, jun. 2016.

Ícone de esboço Este artigo sobre plantas é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.