Hemoglobina glicada (HbA1c)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Hemoglobina glicosilada)

Hemoglobina glicada, também abreviada como HbA1c, é uma forma de hemoglobina presente naturalmente nos eritrócitos humanos que é útil na identificação de altos níveis de glicemia durante períodos prolongados. Este tipo de hemoglobina é formada a partir de reações não enzimáticas entre a hemoglobina e a glucose. Quanto maior a exposição da hemoglobina a concentrações elevadas de glucose no sangue, maior é a formação da hemoglobina glicada. Os processos de reação entre a glicose e a hemoglobina que se dão facilitados por enzimas é chamado de glicosilação. A glicosilação é um processo enzimático, responsável pela ligação de açúcares a proteínas, lipídeos e outras moléculas orgânicas, produzindo diversos importantes biopolímeros, enquanto a glicação é um processo espontâneo, não-enzimático e não controlado em que ocorre alteração de moléculas como proteínas em consequência de exposição a açúcares, como em casos de hiperglicemia.

Princípio[editar | editar código-fonte]

Em casos normais, o tempo médio de vida de um glóbulo vermelho é de cerca 120 dias. Durante este período, a hemoglobina presente dentro dos glóbulos vermelhos fica exposta a certos elementos como a glicose plasmática. Desta forma e dependendo da concentração de glucose plasmática, a glucose vai reagir com a hemoglobina de forma espontânea e não enzimática, formando-se assim a hemoglobina glicada. Esta reacção é irreversível. Este fenómeno é mais marcante em indivíduos com diabetes não controlados, pois os seus níveis de glucose plasmática são mais elevados que o normal.

Bioquimicamente, a glucose reage com as cadeias β da hemoglobina do tipo A (α2β2). Este tipo de hemoglobina é, de longe, a que se encontra em maiores concentrações em indivíduos adultos normais (mais de 95%). Da designação de hemoglobina A1c, o "c" representa a fracção de hemoglobina glicada separada da restante hemoglobina não glicada.

Utilidade clínica[editar | editar código-fonte]

Como esta reacção é irreversível, a hemoglobina glicada permite identificar a concentração média de glicose no sangue durante períodos longos de tempo, ignorando alterações de concentração episódicas. Isto é útil no diagnóstico de diabetes, mesmo que o doente se abstenha de consumir produtos com glucose dias antes da consulta, de forma a esconder a sua situação ou a incorrecta ingestão de alimentos, tendo em conta a sua condição. Também se evita assim que certos factores que alteram a concentração de glucose do sangue por curtos períodos (como por exemplo, o stress) possam indicar um falso diagnóstico.

Importância do controle no diabetes[editar | editar código-fonte]

Um abrangente estudo observacional sueco, publicado em 2012[1], demonstrou que a diminuição de 1% nos valores de hemoglobina glicada em pacientes diabéticos idosos pode representar até 50% a mais de tempo de vida. A pesquisa acompanhou mais de 12 mil pessoas ao longo de quatro anos e positivamente correlacionou taxas 50% menores de mortes devidas à doenças cardiovasculares à diminuição nos valores de HbA1c.

Interpretação dos resultados[editar | editar código-fonte]

A partir da comparação dos valores de hemoglobina glicada com os valores médios de glucose plasmáticas em humanos, foi possível a construção da seguinte tabela:


HbA1c (%) Glicemia média (mmol/L) Glicemia média (mg/dL)
5 4.5 80
6 6.7 120
7 8.3 150
8 10.0 180
9 11.6 210
10 13.3 240
11 15.0 270
12 16.7 300

Veja também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. K. Eeg-Olofsson, B. Eliasson, B. Zethelius, A.-M. Svensson, S. Gudbjörnsdottir, J. Cederholm. Glycaemic treatment responders in real life have lower risk of cardiovascular disease and total mortality - an observational study from the Swedish NDR. Annals of 2012 EASD - Berlin.