História dos Bretões

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História dos Bretões (em latim: Historia Brittonum) é um tratado medieval sobre a história dos povos britânicos até o século VII. A obra teve muita influência na escritura de crónicas históricas subsequentes e é famosa por conter muitas referências ao lendário rei Artur. Sua autoria, incerta, é atribuída ao monge galês Nênio.

Fontes e influência[editar | editar código-fonte]

Historia Brittonum é uma compilação de dados relativos à Grã-Bretanha retirados de várias obras anteriores, muitas das quais atualmente perdidas. A Historia é, assim, uma fonte importante para o estudo dos eventos ocorridos entre os séculos V e VII nas Ilhas Britânicas, período para o qual há grande escassez de informação. Por outro lado, abundam na obra elementos fantásticos e mitológicos, o que a faz ser vista por muitos historiadores mais como uma obra de história lendária que de história factual.

Entre as fontes utilizadas contam-se a Bíblia, obras de Gildas (Da destruição e conquista da Britânia), Paulo Orósio (História contra os pagãos) e Virgílio (Eneida), além de obras hagiográficas e genealógicas, lendas, mitos, e outras obras históricas sobre a Grã-Bretanha já perdidas. A Historia Brittonum, por sua vez, foi a base de obras posteriores como a Historia Regum Britanniae (séc. XII), de Godofredo de Monmouth. A seção da Historia Brittonum sobre as batalhas travadas por Artur teve muita importância na formação das lendas e literatura sobre o mítico rei que floresceram na Idade Média.

Manuscritos e autoria[editar | editar código-fonte]

Muitos manuscritos sobrevivem da Historia, classificados em 8 recensões (famílias de manuscritos) que diferem entre si em vários aspectos. Alguns manuscritos incluem uma menção ao quarto ano do reinado de Merfino de Venedócia (r. 825–844), o que indicaria que o texto foi escrito entre os anos 829 e 830. Porém, como os eventos históricos tratados na obra terminam no século VII, alguns pesquisadores acreditam que o texto atual da Historia pode estar baseado numa versão ainda mais antiga. De fato alguns manuscritos atribuem a obra ao filho de Urien de Rheged, um líder militar que viveu no século VI.

Há um grupo de manuscritos que possui um prólogo elaborado, escrito em primeira pessoa, que atribui a um tal Nênio a autoria da obra. Este Nênio é identificado como um monge galês que viveu no século IX, mas é incerto se este personagem foi realmente o autor ou se o prólogo é uma interpolação posterior. Outra possibilidade é que Nênio tenha sido um editor de uma versão mais antiga da Historia.

O manuscrito mais completo conservado atualmente, que porém não inclui o prólogo, é o chamado Harleian 3859, datado de c. 1100 e conservado hoje na Biblioteca Britânica. Além das versões em latim, há vários manuscritos com uma versão livre da Historia em irlandês médio (Lebor Bretnach) realizada no século XI.

Texto[editar | editar código-fonte]

Seguindo o manuscrito Harleian 3859, a Historia Brittonum começa com um esquema das Idades do Mundo de acordo com a Bíblia, seguido de uma descrição da Grã-Bretanha baseada em Gildas mas que incorpora elementos lendários inspirados pela Eneida de Virgílio, incluindo uma origem dos bretões a partir de um mítico cônsul romano, descendente do herói Eneias, chamado Brutus, de cujo nome derivaria o nome da ilha ("Britânia"). É descrita também a origem dos pictos e dos escotos, além da história da colonização da Britânia pelos romanos.

Segue-se o relato do reinado de Vortigerno e de como este rei britânico permitiu a chegada à ilha dos anglo-saxões liderados por Hengest, o que eventualmente levou à conquista quase total da Britânia por este povo. Essa parte está mesclada com lendas sobre a vida de São Germano, retiradas de uma Vida de São Germano, obra atualmente perdida. Também em relação a Vortigerno é narrada uma lenda sobre uma criança chamada Aurélio Ambrósio.

A obra continua com uma biografia de São Patrício e um relato das doze batalhas travadas por Artur, descrito como "dux bellorum" (líder militar) e não rei. Estas batalhas foram travadas entre bretões e anglo-saxões, e Artur aparece como um líder britânico (celta bretão) que participou da resistência à invasão da Grã-Bretanha pelos povos germânicos do continente, ocorrida a partir do século V. Algumas destas batalhas aparecem em outras fontes e podem ter ocorrido de verdade, como a Batalha do Monte Badon, que também é mencionada por Gildas. Toda essa parte da Historia, apesar de ser de duvidoso valor histórico, foi muito importante no desenvolvimento das lendas arturianas na Idade Média.

Segue-se uma relação sobre a história da Grã-Bretanha com genealogias de várias casas reais anglo-saxãs, incluindo informações sobre alguns reis dos bretões, seguida de uma nota sobre antigos poetas galeses como Taliesin e Aneirin. A obra finaliza com uma lista de cidades britânicas e várias lendas fantasiosas (mirabilia) oriundas da Britânia e Irlanda.

Referências[editar | editar código-fonte]

  • Historia Brittonum na Celtic culture: a historical encyclopedia (editor John Thomas Koch). ABC-CLIO, 2006. ISBN 1851094407 [1] (em inglês)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

  • Historia Brittonum traduzida ao inglês no Mediaeval Sourcebook [2] (em inglês)
  • Historia Brittonum em The Latin Library [3] (em latim)