Atótis

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Hor-Aha)
Atótis
Hórus Aha, Aha, Hor-Aha
Fragmento de vaso de faiança inscrito com o nome de Hórus Aha, em exposição no Museu Britânico
Fragmento de vaso de faiança inscrito com o nome de Hórus Aha, em exposição no Museu Britânico
Faraó do Egito
Predecessor Narmer/Menés
Sucessor Quenquenés
Esposa(s) Rainhas Beneribe e Quentape[1]
Filhos Quenquenés[2]
Mãe provavelmente Neitotepe
Tumba Tumba B10/B15/B19, Umel Caabe, Abidos[3]
Monumentos Templo de Neite e Saís[4]

Atótis (Hórus Aha, Hor-Aha ou Aha) foi um faraó do início da Primeira dinastia do Antigo Egito. Embora haja pouca dúvida de que tenha sido filho e sucessor de Narmer, podendo assim ser considerado o segundo faraó da Primeira dinastia, a possível identificação com Menés, a quem posteriormente se atribui a identidade de primeiro faraó do Egito, o colocaria na posição de primeiro faraó da Primeira dinastia. Ele reinou por volta de 3 080 a.C.[5]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nome e identidade[editar | editar código-fonte]

Hórus Aha ou Hor-Aha é a leitura de seu nome de Hórus, forma mais antiga de nomear o faraó, que o associa ao deus Hórus. Essa nomeação é composta de um painel retangular, chamado sereque, que simboliza o palácio real, encimado pelo falcão, que representa o deus Hórus. Em seu interior são dispostos os hieróglifos que compõem foneticamente o nome do faraó. Hórus Aha seria a leitura completa do nome, com o sereque encimado pelo falcão.

Os registros arqueológicos da Época Tinita referem-se aos faraós por seus nomes de Hórus, enquanto registros posteriores, como as listas reais de Turim e Abidos, usam uma titulatura real alternativa, o nome de nebty.[6][7] Os diferentes elementos titulares do nome do faraó foram muitas vezes usados isoladamente, para abreviação, embora a escolha tenha variado de acordo com a circunstância ou o período.[7]

O nome Atótis provém da obra de Mâneto, da qual algumas citações são encontradas em autores posteriores. Jorge Sincelo, um eclesiástico bizantino que viveu entre o final do século VIII e início do ÌX, em sua obra Eklogué Cronografias, compara duas cronologias do Egito: o Fr. 6 corresponde à cronologia fornecida por Sexto Júlio Africano (século II-III d.C.) e o Fr. 7 corresponde à cronologia de Eusébio de Cesareia (século III-IV d.C.). Ambos teriam se baseado na obra de Mâneto.[8]

Os Fr. 6, 7(a) e 7(b) colocam Atótis como filho e sucessor de Menés, que teria sido o primeiro faraó, segundo os mesmos fragmentos. De acordo com o Fr. 6, citado de Africano por Sincelo, Atótis teria governado por 57 anos, construído um palácio em Mênfis e escrito extensas obras de anatomia, pois era médico.[9] O Fr. 7(a), citado de Eusébio de Cesareia, reduz o tempo de seu reinado para 27 anos, mas também atribui a Atótis a construção do palácio em Mênfis e a prática de medicina, tendo escrito livros de anatomia.[10] O Fr. 7(b), que provém da versão em armênio da obra de Eusébio, apresenta as mesmas informações que o Fr. 7(a) com pequenas alterações: mantém os 27 anos para seu reinado, menciona que ele construiu para si um palácio real em Mênfis e que ele também praticava a arte da medicina, tendo escrito livros sobre o método da anatomia.[11]

O consenso geral dos egiptólogos seguiu os achados de Petrie em conciliar os registros e conectá-los: Hórus Aha (arqueológico) com o nome nebty Ity (histórico).[6][7][12]

O mesmo processo levou a identificação de Menés (um nome nebty) com Narmer (um nome de Hórus), evidenciado nos registros arqueológicos (ambas figuras que foram creditadas com a unificação do Egito e como o primeiro faraó da I dinastia) como o predecessor de Hórus Aha (o segundo faraó).[6][7][12]

Reinado[editar | editar código-fonte]

Tumba atribuída a Neithhotep, que teria sido construída por Hor-Aha, descoberta por Jaques de Morgan no final do século XIX.

Em torno do século XXXI a.C., seu pai, Narmer, uniu o Baixo e Alto Egito. Atótis tornou-se faraó aos trinta anos e governou até seus sessenta e dois anos. Durante seu reinado empreendeu campanhas contra núbios e líbios, manteve relações comerciais com o corredor Sírio-Palestino, fornecedor de madeira de cedro e ordenou a edificação de um templo à Neite em Saís.[4]

Em 1897, Jaques de Morgan, ao escavar nos arredores da vila de Nacada, revelou uma tumba de grandes dimensões (54 x 27 m), contendo uma série de itens de toalete, recipientes de pedra e vedações de argila com os nomes de Narmer, Hor-Aha e de Neithhotep.[13] Por ter sofrido erosão após a escavação, a tumba desapareceu pouco tempo depois do trabalho de re-escavação de John Garstang em 1904. Embora tenha sido primeiramente identificada como a tumba de Menés, sendo a primeira grande estrutura da Primeira Dinastia a ser escavada no Egito,[14] atualmente se acredita que tenha sido a tumba de Neithhotep, possivelmente a esposa de Narmer e mãe de Hor-Aha. A presença na tumba de vários rótulos e selos de Hor-Aha pode indicar que ele tenha supervisionado o funeral de Neithhotep, que teria sobrevivido à morte do marido, Narmer. O tamanho excepcional da tumba já foi considerada evidência de que Neithhotep teria reinado em nome de seu filho Hor-Aha até que ele assumisse a posição de faraó.

A lenda dizia que ele foi transportado no Nilo por um hipopótamo, a encarnação da divindade Seti. Desde que Atótis foi creditado como o legendário Menés, outra história conta que Atótis foi morto por um hipopótamo enquanto caçava.

Tumba[editar | editar código-fonte]

As câmeras B10, B15 e B19 compõem o túmulo de Hor-Aha. B17 foi identificada como a tumba de Narmer, seu antecessor e possivelmente seu pai. B14 pode ter sido a tumba de sua esposa Beneribe.

A tumba de Hor-Aha encontra-se em Umel Caabe, no Cemitério B da necrópole de Abidos, no Alto Egito, tendo sido construída ao lado da tumba que se acredita ser de Narmer. Sua tumba é significativamente maior do que a de Narmer, consistindo de 3 grandes câmaras alinhadas, atualmente numeradas como B10, B15 e B19. As câmaras são revestidas por paredes com espessura que varia entre 1.5m e 2.1m. Embora não haja conexão entre as câmaras, é possível que elas tenham compartilhado uma estrutura que as cobrisse.

A câmara B14, adjacente à sua tumba, pode ter sido de sua esposa, Benerib, pois foram encontradas nela inscrições de seu nome ao lado do nome Hórus-Aha.[15][16][17]

Enquanto as tumbas de seus predecessores Iri-Hor, Ka e Narmer consistem de duas câmaras cada uma, o complexo tumular de Hor-Aha é composto por uma série de câmaras, com 33 sepultamentos subsidiários, contendo os restos mortais de jovens rapazes entre 20 e 25 anos, provavelmente mortos quando o faraó foi sepultado.[18] É o primeiro complexo tumular a apresentar tal característica.

Teorias[editar | editar código-fonte]

Há algumas controvérsias sobre Atótis. Alguns[19] acreditam que ele um individual como legendário faraó Menés e que ele foi o fundador do Egito Antigo. Outros afirmam que ele foi o filho de Narmer, o faraó que unificou o Egito. Independentemente, consideráveis riquezas históricas identificam Narmer como o unificador do Egito e Atótis como seu filho e sucessor.

Rótulo com o nome de Hor-Aha e uma segunda palavra, interpretada como Bernerib. Museu Britânico.

Esposas[editar | editar código-fonte]

Benerib, cujo nome aparece escrito ao lado do nome de Hor-Aha em inscrições provenientes da câmara B14, adjacente à tumba de Hor-Aha,[20] foi possivelmente a principal esposa de Hor-Aha. Ele teve também outra esposa, Quentape, com quem ele tornou-se pai de Quenquenés. Ela é mencionada como a mãe de Quenquenés nos Anais da Pedra do Cairo.[2]

Galeria[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Queens of Egypt, informations based on the book The Complete Royal Families of Ancient Egypt
  2. a b Dodson & Hilton, p.48
  3. Hórus Aha
  4. a b Coleção grande civilizações: Egito 1 ed. Rio de Janeiro: Minuano Cultural. 2010. 10 páginas 
  5. Morris L. Bierbrier (2008). Historical Dictionary of Ancient Egypt. Scarecrow Press. p. 6. ISBN 978-0-8108-6250-0.
  6. a b c Edwards 1971: 13
  7. a b c d Lloyd 1994: 7
  8. Manetho (1940). Manetho. W. G. Waddell. Cambridge, Mass.,: Harvard University Press. OCLC 690604
  9. Manetho (1940). Manetho. W. G. Waddell. Cambridge, Mass.,: Harvard University Press. p. 26-29. OCLC 690604
  10. Manetho (1940). Manetho. W. G. Waddell. Cambridge, Mass.,: Harvard University Press. p. 30-31. OCLC 690604
  11. Manetho (1940). Manetho. W. G. Waddell. Cambridge, Mass.,: Harvard University Press. p. 32-33. OCLC 690604
  12. a b Cervelló-Autuori 2003: 174
  13. Tyldesley, J. (2006). Chronicle of the Queens of Egypt. Thames & Hudson. p. 28.
  14. Wilkinson, Toby (1999). Early Dynastic Egypt: Strategy, Society and Security. London: Routledge. p. 5. ISBN 0-415-18633-1
  15. Aidan Dodson & Dyan Hilton (2004).The Complete Royal Families of Ancient Egypt. Thames & Hudson. p. 46
  16. Toby A. H. Wilkinson, Early Dynastic Egypt, Routledge, Londres/Nova Iorque 1999, ISBN 0-415-18633-1, 70-71
  17. Dodson & Hilton, p.46
  18. Shaw, Ian (2004). Ancient Egypt: a very short introduction. Oxford University Press. p. 114
  19. Stephan Seidlmayer, The Rise of the State to the Second Dynasty, quoted in Egypt: The World of the Pharaohs, 2004 (translated from German, 2010), ISBN 978-3-8331-6000-4
  20. Aidan Dodson & Dyan Hilton, The Complete Royal Families of Ancient Egypt, Thames & Hudson (2004), p.46

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Precedido por
Menés
Dinastia I Faraó
Atótis
Sucedido por
Neitotepe