Hórreo (Roma Antiga)

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Reconstrução do hórreo de Salburgo, Alemanha

Hórreo[1][2] (em latim: horreum; plural: horrea) foi um tipo de armazém público usado durante a Roma Antiga. Embora o termo latino é frequentemente empregado para referir-se a celeiros, os hórreos romanos eram usados para estocar outros tipos de produtos; os Hórreos de Galba (em latim: Horrea Galbae) em Roma eram usados não apenas para estocar grãos, mas também azeite, vinho, outros gêneros alimentícios, roupas e mesmo mármore.[3] Pelo fim do período imperial, a cidade de Roma tinha em torno de 300 hórreos para suprir suas demandas.[4] Os maiores foram enormes, mesmo para os padrões modernos; os Hórreos de Galba continham 140 salas apenas do térreo, cobrindo uma área de cerca de 21,000 m².[5] A quantidade de espaço de armazenamento disponível nos hórreos públicos pode ser julgada pelo fato de que quando o imperador Septímio Severo (r. 193–211) morreu em 211, diz-se que deixou os hórreos da cidade abastecidos com comida suficiente para suprir os 1 milhão de habitantes de Roma por 7 anos.[6] Hórreos menores (embora similares) foram uma característica padrão das vilas, cidades e fortes por todo o império; exemplos bem preservados de hórreos militares foram escavados no Muralha de Adriano na Inglaterra, notadamente nos fortes de Vercovício, Coria e Arbeia.[7]

Os primeiros hórreos construídos em Roma são datados do final do século II a.C.,[8] com o primeiro hórreo público conhecido sendo construído pelo mal sucedido tribuno Caio Graco em 123 a.C..[6] A palavra veio a ser empregada para qualquer lugar designado para preservação de bens; assim, foi frequente o uso para referir-se a adegas (hórreo subterrâneo), mas podia também ser aplicado para um lugar onde obras de arte foram guardadas,[9] ou mesmo bibliotecas.[10] Alguns hórreos públicos funcionaram um tanto como bancos, onde itens valiosos podiam ser armazenados, mas a mais importante classe de hórreos foram aqueles onde víveres como grãos e azeite foram estocados e distribuídos pelo Estado.[11] A insaciável demanda de Roma por víveres significou que a quantidade de bens que passou através de alguns hórreos da cidade era imensa, mesmo para padrões modernos. Na colina artificial do Monte Testácio em Roma, que localiza-se atrás do sítio dos Hórreos de Galba, estima-se que contêm os restos de ao menos 53 milhões de ânforas de óleo nas quais cerca de 6 bilhões de litros (1.58 bilhão de galões) de óleo foram importados.[12]

Projeto e nome[editar | editar código-fonte]

Denário com efígie de Galba (r. 68–69)
Entrada dos Hórreos Epagatianos e Epafroditianos (Horrea Epagathiana et Epaphroditiana), localizado em Óstia e datado de 145-150.

Os hórreos de Roma e seu porto, Óstia, eram compostos por 2 ou mais andares. Eram construídos com rampas, ao invés de escadas, para fornecer um acesso facilitado aos níveis superiores. Hórreos de grãos tinham seus andares térreos erguidos em pilares para reduzir a probabilidade de ficarem úmidos e estragar os bens. Muitos hórreos parecem ter servido como grandes áreas comerciais com fileiras de pequenas lojas (tabernas) fora dum pátio central; alguns pode ter sido razoavelmente elaborados, talvez servido como um equivalente das modernas galerias comerciais. Outros, como aqueles em Óstia, dispensavam o pátio central e ao invés dele tinham fileiras de tabernas situadas consecutivamente. No Oriente Médio, hórreos tiveram um projeto muito diferente com uma única fileira de tabernas muito profundas, todas abertas para o mesmo lado; isso reflete um estilo arquitetônico que foi amplamente seguido nos complexos palacianos e templos da região, bem antes da chegada dos romanos.[8][13]

Como é natural, a segurança e proteção contra fogo eram preocupações principais. Hórreos foram frequentemente construídos com muros muito espessos (tanto quanto 1 m) para reduzir o perigo de incêndio, e as janelas eram sempre estreitas e localizadas no alto da parede para evitar furtos. Portas eram protegidas com elaborados sistemas de trancas e ferrolhos. Mesmo os maiores hórreos geralmente somente tinham duas ou três portas externas, que frequentemente eram bastante estreitas e não teriam permitido a entrada de carroças. O árduo objetivo de transportar bens para dentro, fora ou em torno dos hórreos era muito provavelmente realizado por apenas trabalho manual; os maiores hórreos assim deveriam ter um enorme equipe de trabalhadores.[5]

Os hórreos romanos eram nomeados individualmente, alguns tendo nomes indicando as mercadorias que estocavam (e provavelmente vendiam), tal como cera (Candelário), papel (Cartário) e pimenta (Piperatário). Outros foram nomeados em honra a imperadores ou outros indivíduos relacionados com a família imperial, como os supracitados Hórreos de Galba, que foram aparentemente nomeados em honra ao imperador do século I Galba (r. 68–69).[13] Um hórreo particularmente bem-preservado em Óstia, os Hórreos Epagatianos e Epafroditianos (em latim: Horrea Epagathiana et Epaphroditiana), teria sido nomeado, segundo uma inscrição, em honra a dois libertos (presumivelmente seus proprietários), Epágato e Epafródito.[14]

Referências

  1. Ocampo 1992, p. 117.
  2. Coelho 1996, p. 504.
  3. Richardson 1992, p. 193.
  4. Lampe 2006, p. 61.
  5. a b Potter 1999, p. 180.
  6. a b Métreaux 1998, p. 14-15.
  7. Soren 1999, p. 209.
  8. a b Patrich 1996, p. 149.
  9. Plínio, o Velho século I, VIII.18.
  10. Sêneca século I, 45.
  11. Smith 1875, p. 618.
  12. Ward-Perkins 2005, p. 91-92.
  13. a b Claridge 1998, p. 55.
  14. «Regio I - Insula VIII - Horrea Epagathiana et Epaphroditiana (I,VIII,3)» (em inglês). Consultado em 12 de janeiro de 2015 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Claridge, Amanda (1998). Rome: An Oxford Archaeological Guide. Oxford, RU: Oxford University Press. ISBN 0-19-288003-9 
  • Coelho, Maria Helena da Cruz; Homem, Armando Luís de Carvalho (1996). Portugal em definição de fronteiras, 1096-1325: do condado portucalense à crise do século XIV, Volume 4. [S.l.]: Editorial Presença 
  • Métreaux, Guy P.R. (1998). «Villa rustica alimentaria et annonaria». The Roman Villa: Villa Urbana. [S.l.]: Museu de Arqueologia da Universidade da Pensilvânia. ISBN 0-924171-59-6 
  • Lampe, Peter (2006). Christians at Rome in the First Two Centuries: From Paul to Valentinus. [S.l.]: Continuum International Publishing Group. ISBN 0-8264-8102-7 
  • Ocampo, Estela (1992). Diccionario de términos artísticos y arqueológicos. [S.l.]: Icaria Editorial. ISBN 8474261910 
  • Patrich, Joseph (1996). «Warehouses and Granaries in Caesarea Maritima». Caesarea Maritima: A Retrospective After Two Millennia. [S.l.]: BRILL. ISBN 90-04-10378-3 
  • Potter, David Stone; D. J. Mattingly (1999). Life and Entertainment in the Roman Empire. [S.l.]: University of Michigan Press. ISBN 0-472-08568-9 
  • Soren, David (1999). A Roman Villa and a Late Roman Infant Cemetery. [S.l.]: L'Erma di Bretschneider. ISBN 88-7062-989-9 
  • Ward-Perkins, Bryan (2005). The Fall of Rome: And the End of Civilization. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 0-19-280728-5 

Ver também[editar | editar código-fonte]