Hyam Maccoby

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Hyam Maccoby
Hyam Maccoby
Nascimento 20 de março de 1924
Sunderland
Morte 2 de maio de 2004 (80 anos)
Cidadania Reino Unido
Alma mater
Ocupação especialista em estudos judaicos, historiador, professor universitário, escritor, bibliotecário, teólogo
Empregador(a) Universidade de Leeds

Hyam Maccoby (1924 – 2004) foi um bibliotecário, acadêmico e dramaturgo britânico, judeu, especialista no estudo da tradição religiosa judaica e cristã.

Maccoby também escreveu sobre o fenômeno do anti-semitismo, antigo e moderno. Ele considerava as tradições evangélicas acusando os judeus pela morte de Jesus e especialmente sobre Judas Iscariotes (que ele acreditava ser uma fabricação da igreja gentia paulina) como sendo as raízes do anti-semitismo cristão. Outros tópicos de estudo de Maccoby incluem a tradição talmúdicas e a história da religião judaica.

Vida[editar | editar código-fonte]

Maccoby cursou Estudos clássicos no Balliol College, na Universidade de Oxford. Durante a Segunda Guerra Mundial serviu no Royal Signals. Durante sua vida profissional foi professor secundarista de inglês e depois Bibliotecário da faculdade judaica Leo Baeck College em Londres. Quando se aposentou se mudou para Leeds, onde foi colaborador no Centro de Estudos Judaicos da Universidade de Leeds. [1]

Seu avô e homônimo foi o rabino Hyam (ou "Chaim") Maccoby (1858 - 1916), um pregador itinerante (maggid) de Kamenets, na Polônia. Seu avô foi um apaixonado sionista religioso e um defensor do vegetarianismo e dos direitos dos animais. Seu pai foi um professor de matemática em Sunderland, onde Hyam nasceu. [2]

As teorias de Maccoby sobre o Jesus histórico[editar | editar código-fonte]

Maccoby considerava que o retrato de Jesus apresentado nos evangelhos canônicos e a história da igreja antiga nos Atos dos Apóstolos como sendo fortemente distorcido e cheio de tradições míticas, apesar de afirmar que um retrato bastante acurado do relato da vida de Jesus podia ser inferido dali mesmo assim.

Ele argumentava que o Jesus real não era um rebelde contra a Lei Mosaica e sim um pretendente messiânico cuja vida e os ensinamentos estavam dentro do mainstream do judaísmo do século I d.C. Ele acreditava que Jesus foi executado como um rebelde contra a ocupação romana da Judeia. Porém, ele não chegou a afirmar que Jesus seria o líder de uma verdadeira rebelião armada. Ao invés disso, Jesus e seus seguidores, inspirados pela Bíblia hebraica ou os escritos proféticos do Antigo Testamento, estaria esperando uma intervenção divina sobrenatural que terminaria o jugo romano, restauraria o reino de Deus com Jesus ungido como o monarca divino e inauguraria uma era messiânica de paz e prosperidade para todo o mundo. Estas expectativas não foram realizadas e Jesus foi preso e executado pelos romanos.

De acordo com Maccoby, Barrabás, do aramaico Bar Abba, "Filho do Pai", originalmente se referia ao próprio Jesus, que era chamado assim por seu costume de chamar Deus de Abba (pai) em suas orações.

Muitos do discípulos de Jesus não perderam as esperanças, acreditando que Jesus iria ser prontamente ressuscitado por Deus e continuaram a viver na expectativa da sua segunda vinda. Este grupo continuou a existir em Jerusalém como uma seita judaica estritamente ortodoxa, sob a liderança de Tiago, o Justo.

As teorias de Maccoby sobre Paulo[editar | editar código-fonte]

De acordo com Maccoby, o fundador do cristianismo como uma religião separada do judaísmo foi uma obra inteiramente de Paulo de Tarso[3]. Nisto, o ponto de vista de Maccoby é fortemente baseado no de Heinrich Graetz[4][5].

Maccoby alega que Paulo era um judeu helenizado convertido ou até mesmo um gentio, advindo de um contexto exposto à influência do gnosticismo e as religiões de mistério pagãs, como o culto a Attis, um mito envolvendo uma divindade que nasce, morre e renasce. As religiões de mistério, segundo Maccoby, eram as formas religiosas dominantes no mundo helenizado da época e, assim, teriam influenciado fortemente a psicologia mitológica de Paulo.

Maccoby considerava as alegações de Paulo sobre uma educação farisaica ortodoxa como falsas, afirmando que enquanto muitos dos escritos de Paulo soavam autênticos aos iniciados, eles de fato traem uma ignorância das escrituras hebraicas e das sutilezas da Lei judaica.[6]. Maccoby alegava que um exame do Novo Testamento é suficiente para comprovar que Paulo não conhecia nada de hebraico e que ele se baseou inteiramente em textos gregos que nenhum fariseu de verdade jamais usaria por não terem sido apropriadamente traduzidos.

Teorias sobre a Torá[editar | editar código-fonte]

Menos conhecida na academia, as teorias de Maccoby sobre a Torá causava incômodo mesmo entre rabinos progressistas. Para Maccoby, a Torá era um conjunto de mitos para justificar práticas cúlticas sem fundamentos éticos, inclusive sacrifícios de animais. [7] Maccoby concebia a existência de dois sistemas separados no judaísmo rabínico e na religião do Antigo Israel, um valorizando a moralidade e outro os rituais. [8] Maccoby considerava esse aspecto ritual como proveniente de fenômenos antropológicos movidos pelo desejo de sacrifícios e rituais e os considerava inferior ao sistema ético. [9]

The Disputation[editar | editar código-fonte]

A peça de Maccoby The Disputation (A Disputa ou o Debate), é uma reconstituição da Disputa de Barcelona, um confronto dramático entre o rabino espanhol Moshe ben Nachman (Nachmanides) e um espanhol convertido do judaísmo ao cristianismo, Pablo Christiani, diante do rei Jaime I de Aragão em 1263. Grande parte da peça é extraída do relato de Nachmanides sobre a disputa. A peça foi amplamente apresentada e foi transmitida pelo Canal 4, estrelada por Christopher Lee e Toyah Willcox.

Recepção das teorias de Maccoby[editar | editar código-fonte]

A recepção acadêmica das opiniões de Maccoby sobre Paulo e o cristianismo geralmente negativa. [10] John Gager, da Universidade de Princeton, revisou The Mythmaker (1986) na Jewish Quarterly Review (1988) descrevendo parte da tese de Maccoby como "leitura perversa e errada" e concluiu "Portanto, devo concluir que o livro de Maccoby não é uma boa história, nem mesmo história. " [11] Skarsaune (2002), referenciando o trabalho de Maccoby e a teoria de que Paulo representa um Cristianismo totalmente diferente daquele da comunidade primitiva em Jerusalém, escreve que" Atos não fornece nenhuma evidência para substanciar esta teoria. " [12] James DG Dunn (2006) descreve o renascimento das acusações de Graetz por Maccoby de que Paulo era um gentio como "uma lamentável reversão a polêmicas mais antigas". [13] A continuidade das acusações de Graetz também é observada por Langton (2009), que contrasta a abordagem de Maccoby com adeptos de uma visão de "construir pontes", como Isaac Mayer Wise, Joseph Krauskopf e Claude Montefiore, mesmo que compartilhem alguns detalhes da crítica polêmica acerca de Paulo.[14] Apesar dessa rejeição acadêmica, os escritos de Maccoby encontrou aceitação em círculos anti-religiosos e teóricos da conspiração.[15]

Livros[editar | editar código-fonte]

  • The Day God Laughed: Sayings, Fables and Entertainments of the Jewish Sages (com Wolf Mankowitz, 1973)
  • Revolution in Judea: Jesus and the Jewish Resistance (1973)
  • Judaism on Trial: Jewish-Christian Disputations in the Middle Ages (1981)
  • The Sacred Executioner: Human Sacrifice and the Legacy of Guilt (1983)
  • The Mythmaker: Paul and the Invention of Christianity (1986)
  • Early rabbinic writings (1988)
  • Judaism in the First Century (1989)
  • Paul and Hellenism (1991)
  • Judas Iscariot and the Myth of Jewish Evil (1992)
  • A Pariah People: Anthropology of Anti-Semitism (1996)
  • Ritual and morality: the ritual purity system and its place in Judaism (1999)[16]
  • The Philosophy of the Talmud (2002)
  • Jesus the Pharisee London, SCM, (2003)[17]
  • Maccoby contribuiu com um ensaio em The Jewish World: Revelation, Prophecy, And History editado por Elie Kedourie (2003)
  • Antisemitism and modernity: innovation and continuity (2004)

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Friedlander, Albert H. "Hyam Maccoby". European Judaism: A Journal for the New Europe Vol. 37, No. 2 (Autumn 2004), pp. 123-126
  2. Joffe, Lawrence "Obituary: Hyam Maccoby", The Guardian, 31 July 2004.
  3. Calvin J. Roetzel Paul: the man and the myth 1999 p9 "In 1986 Hyam Maccoby's The Mythmaker - Paul and the Invention of Christianity presents Paul as a Gentile who was frustrated in his attempt to become a Jew. He set out to invent a new religion, and the religion he founded incorporated all of the animus that a rejected Paul felt toward Judaism. From Gnosticism Paul borrowed a world-weariness that promised salvation without requiring him to assume any responsibility for making the world a better place and also a bitter anti-Semitism.... Thus for Maccoby Paul was a tormented, confused, vindictive Gentile who lied about his Pharisaism and left a legacy of anti-Semitism."
  4. Daniel R. Langton The Apostle Paul in the Jewish Imagination p116-118
  5. J. Louis Martyn Theological issues in the letters of Paul Appendix to Chapter 4 A Review of The Mythmaker: Paul and the Invention of Christianity by Hyam Maccoby (New York: Harper & Row, 1986) p72-73
  6. excerpt from Hyam Maccoby The Mythmaker: Paul and the Invention of Christianity entitled "Paul's Bungling Attempt At Sounding Pharisaic" by www.positiveatheism.org website owner. Arquivado em 10 de dezembro de 2004, no Wayback Machine.
  7. Maccoby, The Philosophy of the Talmud. London: Routledge Curzon, 2002 pp. 49, 51.
  8. Hyam Maccoby. Ritual and Morality: The Ritual Purity System and its Place in Judaism. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.
  9. Hyam Maccoby. The Sacred Executioner: Human Sacrifice and the Legacy of Guilt. Thames and Hudson, 1982.
  10. Steven T. Katz The Holocaust in Historical Context: The holocaust and mass death before the modern age 1994 "Maccoby's last work has been devastatingly reviewed, and quite properly so, by John Gager, "Maccoby's The Mythmaker", JQR 79.2–3 (October–January 1989), 248–250; to which Maccoby replied, "Paul and Circumcision: A Rejoinder", JQR
  11. Page, John. Review of the Mythmaker. Jewish Quarterly Review. 1988. pp248-250 ; p249 "Could Paul possibly have read The Mythmaker in proofs and written these lines in anticipation of Maccoby's perverse misreading? Of course, it is always possible to argue that words do not mean what they appear to say, but such a claim requires at least some form of argumentation. When arguments do appear in the book, they generally take the form of assertions" p250 "As such it is but the mirror image of traditional Christian apologetic treatments of Paul, couched in a polemic against the Pharisees. Both are unacceptable as good history. Thus I must conclude that Maccoby's book is not good history, not even history at all."
  12. Oskar Skarsaune In the shadow of the temple: Jewish influences on early Christianity "Some scholars speak of Paul as the second, or sometimes even the only, founder of Christianity. 3 They imply that Paul represents a Christianity totally different from that of the early community in Jerusalem. Paul is said to be a product of Hellenistic Judaism and Hellenistic Christianity, having minimal contact with the Aramaic-speaking community in Jerusalem and disregarding its theology and authority.4 | 4 A recent statement of this view is Hyam Maccoby, The Mythmaker: Paul and the Invention of Christianity.| Acts provides no evidence to substantiate this theory"
  13. The Theology of Paul the Apostle p6 James D. G. Dunn – 2006 "In contrast, H. Maccoby's The Mythmaker: Paul and the Invention of Christianity (London: Weidenfeld & Nicolson/New York: Harper and Row, 1986) is a regrettable reversion to older polemics."
  14. Daniel R. Langton The Apostle Paul in the Jewish Imagination: A Study in Modern Jewish-Christian Relations. 2009 pp76-79
  15. Por exemplo; Atheist View: Bibliography e Christopher Butler. The Early Church and the Creedal Affirmation of Paul
  16. RBL review by Michael Satlow, published 7/20/2000
  17. RBL review by Michele Murray, 7/10/2004

Ligações externas[editar | editar código-fonte]