Idade do Bronze

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Difusão da metalurgia na Europa e Anatólia. As regiões mais escuras são mais antigas.
História
Pré-história Idade da Pedra

Paleolítico

Paleolítico Inferior c. 2,5 milhões - c. 300.000 a.C.
Paleolítico Médio c. 300.000 - c. 30.000 a.C.
Paleolítico Superior c. 30.000 - c. 10.000 a.C.
Mesolítico c. 13.000 - c. 9.000 a.C.

Neolítico

c. 10.000 - c. 3.000 a.C.
Idade dos Metais Idade do Cobre c. 3.300 - c. 1.200 a.C.
Idade do Bronze c. 3.300 - c. 700 a.C.
Idade do Ferro c. 1.200 a.C. - c. 1.000 d.C.
Idade Antiga Antiguidade Oriental c. 4.000 - c. 500 a.C.
Antiguidade Clássica c. 800 a.C. - 476 d.C.
Antiguidade Tardia c. 284 d.C. - c. 750
Idade Média Alta Idade Média 476 - c. 1000
Baixa Idade Média Idade Média Plena c. 1000 - c. 1300
Idade Média Tardia c. 1300 - 1453
Idade Moderna 1453 - 1789
Idade Contemporânea 1789 - hoje
Imagem de Bronze

A Idade do Bronze é um período da civilização no qual ocorreu o desenvolvimento desta liga metálica, resultante da mistura de cobre com estanho. Iniciou-se no Oriente Médio em torno de 3300 a.C. substituindo o Calcolítico, embora noutras regiões esta última idade seja desconhecida e a do bronze tenha substituído diretamente o período neolítico (popularmente conhecida como Idade da Pedra). Na África subsaariana, o neolítico é seguido da idade do ferro.

História

O termo "Idade do Bronze" é, em última análise, derivada das "Idades do Homem", as fases da existência humana na Terra segundo a mitologia grega. Destes, a Idade de Ouro e a Idade da Prata são classificadas pelos historiadores modernos como míticas, mas a Idade do Bronze, bem como a Idade do Ferro são concebidos como tendo um núcleo de grande valor historial. Todo o período é caracterizado pela adoção plena do bronze em muitas regiões, embora o local e a hora da introdução e desenvolvimento da tecnologia do bronze não é universalmente síncrona. Tecnologia de estanho e bronze feita pelo homem requerem um conjunto de técnicas de produção. O estanho deve ser extraído (principalmente como o minério de estanho cassiterita) e fundido separadamente, em seguida, adicionado ao cobre derretido para fazer a liga de bronze. A Idade do Bronze foi um período de uso intenso de metais e de redes de desenvolvimento do comércio (Veja fontes de estanho e o comércio nos tempos antigos).

Oriente Próximo

Sudeste da Ásia / Oriente Médio

Ver artigo principal: Antigo Oriente Próximo

A Idade do Bronze no antigo Oriente Próximo começou com a ascensão da Suméria no quarto milênio a.C. O Antigo Oriente Próximo é considerado por alguns como o berço da civilização e praticavam a agricultura intensiva durante todo o ano, desenvolveram um sistema de escrita, inventaram a roda do oleiro, criou um governo centralizado, códigos de leis e impérios, e introduziram a estratificação social, a escravidão e a guerra organizada. Sociedades na região estabeleceram as bases para a astronomia e matemática.

Antigo Egito

Ver artigo principal: Antigo Egito
Dinastias na Idade de Bronze Inicial

No Antigo Egito, a Idade de Bronze começa no período protodinástico, c. 3150 a.C. A Idade do bronze arcaica do Egito, conhecida como a época Tinita,[1][2] segue imediatamente a unificação do Baixo e Alto Egito, c. 3100 a.C. É geralmente considerado abrangendo as primeira e Segunda dinastias, com duração a partir do período protodinástico do Egito até cerca de 2686 a.C., ou o início do Império Antigo.

Com a primeira dinastia, a capital mudou-se de Abidos para Mênfis com um Egito unificado governado por um rei-deus. Abidos permaneceu como a maior terra santa no sul. As marcas da antiga civilização egípcia, como arte, arquitetura e muitos aspectos da religião, tomaram forma durante o período protodinástico. Mênfis no início da Idade de Bronze era a maior cidade da época.

O Império Antigo da Idade do Bronze regional[1] é o nome dado ao período no terceiro milênio a.C. quando o Egito atingiu seu primeiro pico contínuo de civilização em complexidade e realizações - o primeiro de três períodos "imperiais", que marca os pontos altos da civilização no baixo Vale do Nilo (sendo os outros o Império Médio e o Império Novo).

O Primeiro Período Intermediário,[3] descrito frequentemente como um "período negro" na história do antigo Egito, durou até cerca de 100 anos após o fim do Império Antigo, em torno de 2181-2055 a.C. Muito poucas evidências monumentais sobrevivem deste período, especialmente da parte inicial do mesmo. O Primeiro Período Intermediário foi um período agitado, quando o governo do Egito foi dividido entre duas bases de poder concorrentes: Heracleópolis, no Baixo Egito, e Tebas, no Alto Egito. Estes dois reinos acabariam por entrar em conflito, com os reis de Tebas conquistando o norte, resultando na reunificação do Egito sob um único governante durante a segunda parte da décima primeira dinastia.

Dinastias da Idade de Bronze Média

O Império Médio durou de 2055-1650 a.C. Durante este período, a culto fúnebre a Osíris ascendeu para dominar a religião popular egípcia. O período compreende duas fases: a 11ª Dinastia, que governou de Tebas, e a 12ª[4] e 13ª dinastias que foram centradas em torno de el-Lisht. O império unificado já foi considerado como compreendendo as 11ª e 12ª dinastias, mas historiadores atuais pelo menos parcialmente consideraram a 13ª dinastia como pertencente ao Império Médio.

Durante o Segundo Período Intermediário,[5] o Antigo Egito caiu em desordem pela segunda vez, entre o final do Império Médio e do início da Império Novo. É mais conhecido pelos Hicsos, cujo reinado compreendeu as 15ª e 16ª dinastias. Os hicsos apareceram pela primeira vez no Egito durante a 11ª dinastia, começaram sua escalada rumo ao poder na 13ª dinastia, e surgiram a partir do Segundo Período Intermediário no controle de Aváris e do Delta. Pela 15ª dinastia, governaram o Baixo Egito, tendo sido expulsos no final da 17ª dinastia.

Idade do Bronze Tardio no Egito[6][7][8]

[Raphael Freire. O Novo Império no Antigo Egito. São Paulo: Raphael Freire Santos, 2012.)][8]

Conforme estudos de Cardoso (2000) existiu uma fase no Oriente Próximo denominada Idade do Bronze Tardio, durante o Novo Império no antigo Egito, que demonstra os aspectos econômicos, políticos e militares do país. Considera-se importante tal estudo, pois como pode-se verificar, a mudança da Idade do Bronze Tardio para a Idade do Ferro marcou significativas mudanças no Egito, principalmente no fim do da 19ª dinastia. Também pode-se perceber um declínio econômico no fim do reinado de Ramsés II, quando povos estrangeiros começam a ascender na política exterior.

O início do Novo Império passa pela Idade do Bronze Tardio. Frizzo (2010) estuda o fim do Segundo Período Intermediário do Egito, quando da invasão e expulsão dos hicsos. O período pesquisado demonstra as bases para o início da Idade do Bronze Tardio no país. O pensamento dos egípcios baseia-se na dualidade criada a partir do mito da criação. “No princípio de tudo fez-se a ordem. Da colina primordial, cercada das águas de Nun, criou-se o demiurgo4.” (FRIZZO, 2010:25) Vê-se dualidade em vários aspectos, como masculino e feminino, ordem e caos etc., mas a principal estava na própria geografia do Egito, a saber, as duas terras. Também percebe-se a simetria existente entre a terra negra (kemet), ou seja, os solos aluviais das inundações anuais do Nilo, e a terra vermelha (desheret), que era o deserto. O sistema geológico das inundações que trazia fertilidade fazia do Egito um país praticamente autossuficiente.

“A experiência singular dos egípcios de autosuficiência [sic] levou-os à associação de kemet ao universo organizado, que, como no mito, erguia-se no mar de caos de desheret. Se a topografia isolou-os geograficamente, a natureza proporcionou, outrossim, uma economia que não necessitava de contatos exteriores para a manutenção da população ou mesmo de um desenvolvimento apurado dos meios de produção.” (FRIZZO, 2010:26)

O herdeiro da totalidade do território egípcio do demiurgo é o faraó. Os povos estrangeiros eram, nesse sentido, vistos como agentes do caos, pois somente os habitantes do kemet foram agraciados a viver no mundo organizado. Para Frizzo (2010), no Novo Império a ideologia muda, e o demiurgo teria concordado em deixá-los viver no mundo, mas dependentes do sopro de vida do faraó. Na época, uma parte do território já era ocupada pelos povos do exterior, algo que não acontecera até o Médio Império. Segundo o autor, três processos caracterizaram o fim do início do Segundo Período Intermediário devido a perda de território:

  • Perda da Núbia: os egípcios pensavam a Núbia dualística – Wawat, ou Baixa Núbia, e Kush, ou Alta Núbia;
  • Divisão do Delta em reinos e invasão dos hicsos: a divisão do Delta resultou na invasão dos hicsos devido à desfragmentação do poder, além do fato de possuírem maior tecnologia (o autor pontua que a palavra “hicsos” provém da versão grega, pois os egípcio os conhecia por hekaw khaswt, que significa príncipes das terras estrangeiras);
  • Ascensão do poder tebano da 17ª dinastia: o Alto Egito era controlado por Tebas que, por sua vez, viu a terra negra ser controlada pelos estrangeiros. Frizzo (2010, apud SPALINGER, 2005) classifica as relações tensas entre asiáticos e tebanos semelhantes à guerra fria.

De um lado, Seqenenrá II era faraó e, do outro, Apophis, rei em Avaris, asiático e igualmente exercia poder no Egito. Seqenenrá II lança mão de um conflito para retirar o poder de Apophis, sem sucesso. A guerra é retomada por seu sucessor. Enquanto Alto e o Baixo Egito estão em conflito, o país permanece fragmentado. Duas estelas relatam a guerra entre Kamés5 e Apophis, com uma grande insatisfação do primeiro em dividir o poder, demonstrando nacionalismo e xenofobia (FRIZZO, 2010, apud SPALINGER, 1982 e BUSBY, 2002).

Frizzo (2010), citando Newby (1980), acredita na possibilidade de as cidades do Médio Egito ter se divido entre os apoiadores dos egípcios e apoiadores dos hicsos, inclusive de grandes proprietários de terras que tinham interesse na pastagem do gado. Kamés vence o confronto, mas volta para Tebas sem literalmente derrotar o exército inimigo asiático de Apophis. O último teria ainda tentado uma aliança com o rei de Kush, uma tentativa de pedido de auxílio desesperado diante do saque inimigo. A demonstração de fraqueza por parte dos hicsos foi o necessário para que Ahmés6, sucessor de Kamés, derrotasse o povo estrangeiro e iniciasse um novo tempo para o Egito. As ações militares de Ahmés foram escritas pelos oficiais, não diretamente pelo próprio rei. Em uma de suas campanhas, ele apodera-se da cidade de Avaris. Em seguida, o alvo do faraó é Sharuhen, ao sul palestino, ponto de apoio para Avaris. O objetivo das ações seria, conforme o próprio rei, evitar que os asiáticos realizassem algum contra-ataque contra seu território (kemet). Posteriormente, outras ações em território asiático serviram para enfraquecer os inimigos. Frizzo (2010) acredita que isso deva-se à invasão estrangeira, ou seja, uma nova percepção dos egípcios sobre a segurança do país. Frizzo (2010, apud NEWBY, 1989) considera que a própria ideologia de superioridade inata (herança do demiurgo) trouxe um sentimento de patriotismo para a expulsão dos povos estrangeiros, consolidando o poder do próprio rei com fortes alianças com famílias importantes.

Mais tarde, duas rebeliões núbias levaram os navios do faraó para o Alto Egito: Aata, núbio invasor do território sul do Egito, e Tetian, um egípcio revoltoso. Para Frizzo (2010), as revoltas núbias não eram novidade para os egípcios. Inclusive, eles fizeram parte do exército do Egito.


“Os núbios serviram desde o princípio do período faraônico como força militar, formando as tropas de elite do Exército do faraó. Eram conhecidos como medjayw e tinham grande habilidade com os arcos. Outro papel desempenhado pelos núbios era o de forças policiais. Em geral, eles eram alistados a partir das revoltas, como fica claro a partir do texto conhecido como Admoestações de Ipu-ur, única descrição de uma revolta social durante o Egito faraônico.” (FRIZZO, 2010:31)

Segundo Frizzo (2010), há três especulações a respeito dos motivos que levou os egípcios a incluir soldados estrangeiros em seu exército. O primeiro, de pouca consistência, baseia-se na ideia de que eles eram mais bem treinados com maior habilidade marcial. A segunda considera insuficiência do número de pessoas nativas no corpo militar, levando a contratação de mercenários, núbios ou asiáticos em sua composição. A última hipótese diz que tropas estrangeiras serviam para “manter o controle da coerção nas mãos da classe dominante ligada ao Estado.” (FRIZZO, 2010:32) Frizzo (2010) não considera somente as modificações na sociedade e a centralização do poder nas bases do império que viria a levantar-se no Egito, mas também as mudanças na forma de recompensas aos militares. A 18ª dinastia foi marcada, dentre outras, pela caracterização do militar como servidor importante do faraó, dando lugar ao sistema de meritocracia. Frizzo (2010, apud LORTON, 1974) atesta, por exemplo, a lógica do inimigo derrotado que, consequentemente, perde a posse de seus bens e família para o vencedor. Nesse sentido, o autor lembra que tudo que era conquistado estava nas mãos do faraó, pois ele seria responsável pelas vitórias e, portanto, tudo estaria em sua posse, centralizando os ganhos e distribuindo aos soldados que destacaram-se nas batalhas. Os capturados, da mesma forma, poderiam ser presenteados como escravos aos vencedores. Já as mortes seriam provadas quando um guerreiro levasse uma mão cortada do inimigo ao rei. O ouro, conforme inscrições do soldado Ahmés, filho de Ebana, servia como título honorífico e como valor pago em recompensa por capturas e mortes. A expansão do império egípcio iniciada pelo faraó contra os hicsos começa a mostrar resultados quando outros povos começam a enviar tributos para a cidade de Tebas. Apoiando-se em Redford (1993), Frizzo (2010) enuncia que a organização social no antigo Oriente Médio começa a modificar-se. O Chipre e o Levante fortalecem as rotas de comércio de ópio, cobre e cerâmica. A Babilônia não consegue sustentar seu poder no império da Mesopotâmia, pois havia sido invadida pelos kassitas após o reinado de Hammurabi. Não obstante, dois grupos étnicos ameaçam o equilíbrio do Levante e influenciam a história do Egito e de sua relação com o Oriente Próximo: os hititas e os hurritas (estes últimos ganharam força no cenário político, influenciados pelos indo-arianos caracterizados pela utilização do cavalo e do carro de guerra, cremação e da aristocracia jovem – maryannu). Esses dois povos são importantes para a história egípcia, pois, segundo Frizzo (2010), eles cresceram e enfrentaram-se para conquistar o norte da Síria e o alto Eufrates e, unindo-se famílias com características de ambas as partes, geram um só povo, chamado kharu pelos egípcios7. “A pressão dos hurritas e seus líderes indo-arianos deu origem a um Estado territorial chamado Mitanni (...) e exerceu influência sobre cidades diretamente ligadas ao processo de expansão egípcia.” (FRIZZO, 2010:35) Megido e Kadesh (este último centro de poder do alto Orontes e Galiléia), da Síria-Palestina, eram dois exemplos de cidades influenciadas. Ahmés estabelece um governo de dominação e intimidação dos povos estrangeiros. As cidades sírio-palestinas deveriam ser servas do Egito, sendo que os reis dos territórios passariam a ser representantes do faraó com o jugo do juramento e da fidelidade ao rei. Assim, ele estendia suas fronteiras. O sucessor de Ahmés, Amenhotep I8, segue a política de dominação do pai em direção à Núbia, promovendo uma ação militar por volta do oitavo ano de reinado. Frizzo (2010), baseando-se em Galán (2002), dá especial atenção ao termo utilizado nos documentos dos militares que registraram as guerras de Amenhotep I, a saber, “estender as fronteiras”, que carrega algo além das delimitações geográficas para as relações do faraó com povos estrangeiros. Destarte, quando o faraó estendia suas fronteiras pode-se entender, de acordo com o contexto, fronteiras geográficas ou relações internacionais. A invasão da Baixa Núbia relaciona-se com as rotas comerciais de minérios e produtos de luxo. Também está ligada pela importância sagrada da terra negra. “Era necessário limpar o vale do Nilo de qualquer ameaça séria à hegemonia egípcia.” (FRIZZO, 2010:37) Amenhotep I teria expandido mais suas fronteiras ao sul, na segunda Catarata, pela segurança desse território, onde teria construído fortes que incumbiam-se do comércio e das ações de repressão contra rebeldes kushitas. A região de Wawat era tributada conforme Frizzo (2010, apud BRYAN, 2000) cita uma estela do forte de Aniba.

“Com a expansão do império para o sul e a tributação de Wawat, a economia egípcia continuou sua linha de desenvolvimento iniciada com as inovações nas forças produtivas relativas às trocas de experiências com os hicsos. A conquista da Baixa Núbia fornecera um fluxo constante de ouro e outros minérios. Nos 12 anos de paz do reinado de Amenhotep I, abriram-se minas de turquesa no Sinai; iniciou-se a extração de alabastro em Bosra e em Hatnub; e foram abertos os trabalhos nas minas de arenito Gebel el-Silsila.” (FRIZZO, 2010:37)

Frizzo (2010) estabelece dois pontos para a importância do produto da mineração no Egito:

  • Usada para construção de templos e monumentos em geral. O culto de Amon foi fortalecido, por exemplo, pelos investimentos dados ao templo de Karnak;
  • Deslocamento militar para proteção dos trabalhadores e dos produtos.

Houve um aumento, segundo o autor, de construções na margem oriental do Nilo, visto que havia subsídio provindo de Wawat e da intensificação da mineração. Amenhotep I foi adorado postumamente, e muitos pontos sobre seu reinado:

  • Fortalecimento do culto de Amon devido aos investimentos ao templo de Karnak;
  • Expansão do território para o sul;
  • Fortalecimento da família real contra reivindicações políticas ou econômicas, o que também centralizava os ganhos da guerra com famílias diretamente associadas à realeza e fortalecia as posições políticas;
  • Desenvolvimento da administração com importantes famílias das cidades centrais do Egito (Elkab, Edfu e Tebas, por exemplo).

Assim, Frizzo (2010) demonstra os aspectos principais das bases para a construção da Idade do Bronze Tardio no Egito entre o reino de Kamés e Amenhotep I.

  • Expansão do império egípcio – dominação no Oriente Próximo;
  • Guerra com caráter defensivo e identitário – expulsão de povos do exterior do território considerado sagrado, o que consolida o poder político;
  • Desenvolvimento de forças produtivas – novas técnicas e tecnologias na agricultura, metalurgia e manutenção do conflito, trazendo modificações na sociedade (o autor cita a fração da classe dominante que administrava as regiões dominadas);
  • Técnicas para integrar e governar o império;
  • Saques periódicos e dominação através de juramentos de fidelidades entre príncipes locais.

Cardoso (2000) realiza uma análise das relações que o antigo Egito mantinha com o Oriente Próximo, em especial durante a época tardia da Idade do Bronze até aproximadamente 1200 a.C., época de colapso segundo o autor. Ele baseou-se em documentos de Amarna escritos em acadiano (tabuinhas de argila inscritas em cuneiforme) que abarcam do fim do reinado de Amenhotep III até, provavelmente, início do reinado de Tutankhamon. Seus estudos contam a história do Oriente Próximo em geral, além de fazer referência ao Egito. O ponto mais alto da Idade do Bronze Tardio apresentou países muito fortes que, no entanto, não tinham como enfrentar-se, salvo o Mitanni que perdeu importância perante os demais. Muitos tratados foram realizados em períodos de vários reis. Cardoso (2000), baseando-se em uma relação de correspondência entre as nações descrita por Zaccagnini (1987), demonstra que cada reino descrevia-se como uma casa, sendo o governante o chefe de família que, por sua vez, tratava os demais como irmãos que trocam presentes (dons ou contra-dons) que podiam ser matérias-primas ou artigos luxuosos. Moran (1992, apud CARDOSO, 2000) traz a tradução de uma das cartas entre Amenhotep III e Kadashmanenlil I, rei da Babilônia, no qual o faraó diz que está tudo muito bem com sua família (o reino) e pergunta como está a família do irmão (reino babilônico). Outro rei babilônico, Burraburiash, em contato com o rei assírio, escreve em uma carta que as saudações (presentes de saudação) não deveriam ter conotação comercial, pois seu reino de nada necessitava, servindo apenas como garantia de boas relações. O dom/contradom davam-se pela relação de utilidade dos materiais enviados de rei para rei. O autor exemplifica com a carta de Ashshuruballit I, rei da Assíria, quando solicita ouro a Amenhotep III para a construção de uma obra. Ele oferece a filha em matrimônio como troca, mas não a enviaria se o faraó enviasse o solicitado quando a obra já estivesse terminada, pois de nada serviria, devolvendo o ouro. Vê-se, também, que mulheres de famílias reais poderiam ser enviadas para casamento em troca de vários presentes, salvo o Egito que não enviava suas princesas, mas recebia-as de seus irmãos. Outra característica é a depreciação dos presentes enviados entre os irmãos, que poderia ocorrer caso o reino não recebesse algo não correspondente ao prometido ou o tivesse em abundância. O rei assírio, ao solicitar ouro, percebe que o mesmo foi enviado em menor quantidade se comparado a presentes enviados a seus ancestrais e, por isso, reclama a Amenhotep III que ele não é suficiente para cobrir despesas de viagens dos seus mensageiros, visto que o ouro na sua “casa” é comparado a pó devido a sua abundância. Ressalte-se que o Egito era grande detentor de ouro e possuía extrações muito produtivas pelo Oriente Próximo e por suas rotas.

“De certo modo, entravam na mesma lógica os pedidos de envio de mão-de-obra (serviçais) e especialistas: médicos, mágicos, escultores, etc. Neste caso, tratava-se de um empréstimo: passada a necessidade alegada (sempre de acordo com a lógica do “valor de uso”, portanto), o membro do pessoal de outro palácio emprestado seria devolvido. Em forma análoga, estátuas divinas a que se atribuíam poderes curativos podiam circular entre as cortes.” (CARDOSO, 2000:21)

Caso um súdito solicitasse uma reclamação a seu rei, o último deveria contatar seu irmão para passar a mensagem ao seu vassalo responsável pelo território onde ocorrera o incidente. Poderia o vassalo responsabilizar a aldeia mais próxima. Esse trâmite decidiria quem compensaria a reclamação inicial. Resumidamente, o vassalo reclamava a se governante que, por sua vez, passava a reclamação ao rei do reino reclamado que transmitiria a mensagem ao vassalo responsável. Sobre o sistema de trocas no período estudado, Cardoso (2000) recorreu a Liverani (1987), que elenca suas características sinteticamente. Considerando principalmente o caso da Síria, o autor elenca que o palácio, de nível político alto, realizava as trocas, pois despachava outros interessados de outros níveis. A regra dizia que um rei não poderia entrar em contato com um vassalo de outro rei, salvo seu próprio vassalo. Como cada reino era diferente estruturalmente, as atividades mercantis ficavam prejudicadas devido a cada sistema hierárquico. As rotas marítimas e terrestres tinham que enfrentar, além disso, os problemas técnicos. Tais rotas encontravam-se fragmentadas entre frotas de vários reinados e estava sob o jugo dos limites tecnológicos. “A ideia do comércio e a do lucro abriam caminho em certas áreas.” (CARDOSO, 2000:22) Cartas do rei de Chipre ao Egito demonstram que cobrava-se pagamento por material enviado (madeira) ou prometia-se pagar o dobro por presentes de saudação. Em outro exemplo do autor, o rei de Chipre solicitava que o faraó deixasse seus mercadores saírem em segurança de volta à sua terra. Cardoso (2000) considera que nesta última o pedido era a isenção de impostos para o comércio e salvo-conduto37. O autor dispõe as principais produções dos reinos do Oriente Próximo:

“Assim, a Síria-Palestina se especializava em azeite de oliva, madeira e tecidos tingidos de púrpura; o cobre tinha duas zonas referenciais de maior peso: a ilha de Chipre a oeste e, a leste, a região do Golfo Pérsico (Omã-Magan); o caso do estanho é menos claro, mas pareceria que o Irã em certos períodos era a zona de referência; o Egito controlava as rotas do ouro, bem com as do incenso e da mirra do país de Punt (nesta época proavelmente [sic] a Somália e talvez também o sul da Arábia) por sua navegação no mar Vermelho; por fim, o lápis-lazúli vinha do atual Afeganistão (Liverani,1987: 68). Um de tais circuitos comerciais, dentro do que já vimos acerca da fragmentação dos contactos a longa distância, é representado pelas rotas (fluviais e marítimas) controladas pelo Egito no tocante ao comércio de ouro e incenso.” (CARDOSO, 2000, apud LIVERANI, 1987)

Houve vários confrontos na Síria quando o Egito perdia o controle sobre a situação. A presença de tropas egípcias estava associada, conforme analisa Cardoso (2000), à prevenção de criação de grupos hegemônicos que pudessem confrontar o dominador. Destarte, compreende-se que muitas das campanhas egípcias na região eram empreendidas justamente para interromper a ascensão de tais hegemonias. Amarru é um exemplo, com Labayu e seus filhos ou Aziru, considerados por outras cidades como rebeldes e traidores. Cardoso (2000) acredita que a política era de mínima intervenção, um protetorado frouxo fiscal e militarmente, pois o país dominador não possuía estrutura para controlar efetivamente o território dominado. A Síria possuía densa população, sistemas palaciais próprios e um sistema de troca firmado nos portos e nas rotas terrestres com o Oriente Próximo. Para Valbelle (1990, apud CARDOSO, 2000), o regime da 18ª dinastia estava assentado num interesse muito maior em explorar novos recursos e exportar sua cultura através da integração de tropas e materiais militares dos inimigos em seu exército e de fortificações que pudessem administrar melhor as ocupações. Os príncipes asiáticos poderiam continuar no poder, mas seus descendentes deveriam ser educados e treinados no Egito para conferir lealdade. Canaã, Upe e Amurru eram províncias que continham pequenas guarnições egípcias, sendo Gaza, Kumidi e Sumur os principais centros de gestão. Mensageiros e comissários residentes eram responsáveis pela correspondência no regime egípcio salvo em ocasiões de grandes campanhas. A suserania egípcia e o fluxo de tributos estavam nas mãos dos príncipes, mas estavam isentos do oferecimento de tropas ao Egito. Eles comportavam-se como vassalos, e a regra de que o faraó não contatava o vassalo do outro reino vigorava, visto que o príncipe ligado ao Egito responsabilizava-se com a correspondência. O poder dos príncipes estava nas mãos de seu dominador até no caso de desobediência de um campesinato. Outro fenômeno que Cardoso (2000) destaca é a concentração da população sedentária e a urbanização da costa. Abandonaram-se zonas agrícolas ao pastoreio seminômade, levando ao empobrecimento e à marginalização. Nesse momento surgem os apiru, um grupo de pessoas que abandona o sedentarismo e começa a viver saqueando cidades e zonas agrícolas numa espécie de seminomadismo secundário. Eles também estavam dispostos a ser mercenários dos príncipes das cidades mais importantes. “Se os apiru representavam um elemento móvel e instável, a sociedade organizada centrava-se em cada caso uma cidade fortificada com seu sistema palacial.” (CARDOSO, 2000:27) Os príncipes locais possuíam à favor combatentes, carros, artesãos e comerciantes. Contudo, os camponeses eram muito explorados e hostis à dominação do palácio. O regime, segundo o autor, enfrentou desafeto mesmo dos maryannu39 e dos comerciantes e enfraqueceu até seu desaparecimento com a invasão dos povos do mar. Diferentemente dos faraós, os príncipes vassalos deveriam dirigir-se ao seu rei superior, demonstrando sua subordinação. Cardoso (2000) exemplifica com o trecho de uma carta de Rib-Hadda (Biblos) ao faraó, que cai aos pés de seu senhor como subordinação. O Egito mantém relações estratégicas com Ugarit e seu porto através de presentes, visto que era um importante centro comercial e de aspecto político-militar.

Mitologia

Na mitologia grega, houve cinco idades dos homens: a Idade do Ouro, que viveu na época que Cronos era rei ,[9] a Idade da Prata, criada pelos deuses do Olimpo e destruída por Zeus porque eles não queriam adorar os deuses,[10] a Idade do Bronze, criada por Zeus, quando usavam-se instrumentos de bronze e não se conhecia o ferro,[11] a Idade dos Herois, de homens chamados de semi-deuses,[12] e a quinta, a Idade do Ferro, que continuava até os dias de Hesíodo.[13]

Foi durante a Idade do Bronze que ocorreu o Dilúvio de Deucalião.[14]

Segundo Pausânias, durante a era dos herois, todas as armas eram de bronze; ele se baseou nos escritos de Homero e em relíquias preservadas até os seus dias, como a lança de Aquiles no santuário de Atena em Phaselis e a espada de Memnon no templo de Asclépio em Nicomedes.[15]

Datação

A data de adoção do bronze variou segundo as diferentes culturas:

  • Na Ásia central (Afeganistão, Irã, etc) o bronze chega por volta de 2000 a.C.
  • Na China, foi adotado na Dinastia Shang[16] (segundo a tradição chinesa, começou em 1766 e acabou em 1122 a.C).
  • No mar Egeu estabeleceu-se uma área de intenso comércio do metal , principalmente em Chipre onde existiam minas de cobre, vindo o estanho das ilhas britânicas. Com isso, iniciou-se o desenvolvimento da navegação. O império minoico, substituído mais tarde pelo grego micénico, surgiu graças a este grande comércio.
  • Na Europa central, este período iniciou a partir de 1800-1600 a.C., seguido do período 1600-1200 a.C., caracterizado pelo enterramento de cadáveres em túmulos, prática que demonstrava um alto grau de estratificação social.
  • No Norte da Europa, a idade do bronze inicia-se entre 2000-1700 a.C., nesse período surgiu o comércio de âmbar, muitos petróglifos representando divindades e vida cotidiana, além de armas e jóias.
Armas e ornamentos da Idade do Bronze

O final da Idade do Bronze ocorreu entre 1300-700 a.C., caracterizado pela incineração dos cadáveres, prática que continuou na Polónia até aos anos 500 a.C., já em plena Idade do Ferro, no período cultural Hallstatt (700-450 a.C.).

Referências

  1. a b Karin Sowada and Peter Grave. Egypt in the Eastern Mediterranean during the Old Kingdom.
  2. Lukas de Blois and R. J. van der Spek. An Introduction to the Ancient World. Página 14.
  3. Hansen, M. H. (2000). A comparative study of thirty city-state cultures: An investigation conducted by the Copenhagen Polis Centre. Copenhagen: Det Kongelike Danske Videnskabernes Selskab. Página 68.
  4. Othmar Keel and Christoph Uehlinger. Gods, goddesses, and images of God in ancient Israel, 1998. Página 17 (cf. "The first phase (Middle Bronze Age IIA) runs roughly parallel to the Egyptian Twelfth Dynasty")
  5. Bruce G. Trigger. Ancient Egypt: a social history. 1983. Página 137. (cf. ... "for the Middle Kingdom and Second Intermediate Period it is the Middle Bronze Age".)
  6. Raphael Freire Santos (1 de janeiro de 2012). «O Novo Império no Antigo EGito». Raphael Freire Santos. Consultado em 15 de julho de 2015 
  7. SANTOS, Raphael Freire. O Novo Império no Antigo Egito. São Paulo: Raphael Freire Santos, 2012.
  8. a b SANTOS, Raphael Freire (2012). O Novo Império no Antigo Egito. [S.l.: s.n.] ISBN 978-85-914307-0-3 
  9. Hesíodo, Os Trabalhos e os Dias, Idades dos Homens, 109-120 [em linha]
  10. Hesíodo, Os Trabalhos e os Dias, Idades dos Homens, 121-139
  11. Hesíodo, Os Trabalhos e os Dias, Idades dos Homens, 140-155
  12. Hesíodo, Os Trabalhos e os Dias, Idades dos Homens, 156-169
  13. Hesíodo, Os Trabalhos e os Dias, Idades dos Homens, 170-201
  14. Pseudo-Apolodoro, Biblioteca, 1.7.2 [em linha]
  15. Pausânias (geógrafo), Descrição da Grécia, 3.3.8 [http://www.theoi.com/Text/Pausanias3A.html [em linha]]
  16. Série de autores e consultores, Dorling Kindersley, History (título original), 2007, ISBN 978-989-550-607-1, pág 60

Ver também