Igreja Ortodoxa

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Não confundir com Ortodoxia Oriental.

A Igreja Ortodoxa (do grego όρθος, transl. órthos: reto, correto, e δόξα, transl. dóxa: doutrina, opinião; literalmente, "igreja da opinião correta") ou Igreja Católica Ortodoxa[1][2] é uma comunhão de igrejas cristãs autocéfalas, herdeiras da cristandade do Império Bizantino, que reconhece o primado de honra do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla desde que a sede de Roma deixou de comungar com a ortodoxia. Reivindica ser a continuidade da Igreja fundada por Jesus, considerando seus líderes como sucessores dos apóstolos.

A Igreja Ortodoxa tem aproximadamente dois mil anos, contando-se a partir da Igreja Primitiva, e aproximadamente mil anos, contando-se a partir do Cisma do Oriente ou Grande Cisma, em 1054.[3] Desde então, os ortodoxos não reconhecem a primazia papal, a cláusula Filioque, não aceitam os dogmas proclamados pela Igreja Católica Romana em séculos recentes, tais como a Imaculada Conceição e a infalibilidade papal. Também não consideram válidos os sacramentos ministrados por outras confissões cristãs.

Apesar de católicos romanos e ortodoxos terem uma história comum, que começa com a fundação da Igreja e com a difusão do cristianismo pelos apóstolos, uma série de dificuldades ocasionou o progressivo distanciamento entre Roma e os Patriarcas. Primeiro veio a quebra da unidade politica. Com a divisão do Império Romano em 395, a queda do Império Romano do Ocidente em 476 e o fracasso da tentativa de Justiniano I de reunificar o império a partir de 535, o Oriente e o Ocidente deixaram de ter o mesmo governo. Tempos mais tarde [quando?], com a ascensão do Islã, as trocas econômicas e os contatos por via marítima entre o Império Bizantino, de língua grega, e o Ocidente, de língua latina, tornaram-se mais difíceis, e a unidade cultural deixou de existir.

Em que pesem diferenças teológicas, organizativas e de espiritualidade não desprezáveis, a Igreja Ortodoxa é, em muitos aspectos, semelhante à Igreja Católica: preserva os sete sacramentos, o respeito a ícones e o uso de vestes litúrgicas nos seus cultos (denominados de divina liturgia). Seus fiéis são chamados de cristãos ortodoxos.

No seu conjunto, a Igreja Ortodoxa é a terceira maior confissão cristã, contando, em todo o mundo, com aproximadamente 250 milhões de fiéis, concentrados sobretudo nos países da Europa Oriental. As igrejas ortodoxas mais importantes são a Igreja Ortodoxa Grega e a Igreja Ortodoxa Russa.

Em inglês empregam-se dois sinônimos, cada um dos quais corresponde à palavra portuguesa "oriental", para distinguir as Igrejas que aceitam o Concílio de Calcedónia e a sua doutrina do diofisismo das que os rejeitam. As primeiras são chamadas de "Eastern Orthodox" e as outras, "Oriental Orthodox"[4]. Os correspondentes nomes em alemão são "östlich-orthodoxe" e "orientalisch-orthodoxe"[5]. Em línguas que não dispõem deste par de sinônimos (como o espanhol e o francês), segundo o Conselho Mundial de Igrejas, o termo "ortodoxas orientais" é geralmente reservado às igrejas que rejeitam o concílio[6][7], enquanto que as que o aceitam são chamadas de "ortodoxas bizantinas"[8] ou "ortodoxas calcedonianas"[9].

História

Primeiro milênio e Grande Cisma

Ver artigo principal: Grande Cisma do Oriente
Emblema na sede do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, em Istambul

Até o século XI, católicos romanos e ortodoxos têm uma história comum, que começa com a instituição da Igreja por Jesus Cristo e sua difusão pelos apóstolos. O Primeiro Concílio de Niceia, em 325, estabeleceu que em cada província civil do Império Romano o corpo dos bispos deveria ser encabeçado pelo bispo da capital provincial (o bispo metropolita), mas reconheceu a autoridade super-metropolitana já exercida pelos bispos de Roma, Alexandria e Antioquia. Além disso, decretou que o bispo de Jerusalém tivesse direito a honra especial, embora não a autoridade sobre outros bispos.[10][11] Quando a residência do imperador romano e o senado foram transferidos para Constantinopla, em 330 d.C, o Bispo de Roma perdeu influência nas igrejas orientais, em benefício do Bispo de Constantinopla. Ainda assim, Roma continuou a ter uma autoridade especial devido à sua ligação com São Pedro.[12]

Uma série de dificuldades complexas ocasionou um progressivo distanciamento entre Roma e os demais patriarcados. Primeiramente, a quebra da unidade política. Com a divisão do Império Romano (em 395), a queda do Império Romano do Ocidente (em 476) e o fracasso da tentativa de Justiniano I de reunificar o império (a partir de 535), Oriente e Ocidente deixaram de estar sob o mesmo governo. Mais tarde, com a ascensão do Islã, as trocas econômicas e os contatos por via marítima entre o Império Bizantino, de língua grega, e o Ocidente, de língua latina, se tornaram mais difíceis, e a unidade cultural entre os dois mundos deixou paulatinamente de existir. No século VIII, Roma colocou-se sob a proteção do Império Carolíngio. Criou-se assim uma situação em que as Igrejas em Roma e em Constantinopla estavam no seio de dois impérios distintos, fortes e autossuficientes, cada qual com sua própria tradição e cultura.

Essa situação ensejou uma escalada de divergências doutrinárias entre Oriente e Ocidente (em particular, a inclusão, pela Igreja Latina, da cláusula Filioque, no Credo niceno-constantinopolitano, considerada herética pelos ortodoxos) e a adoção gradativa de rituais diferentes entre si. Ao mesmo tempo, acentuou-se a pretensão, por parte de Roma, de exercer uma autoridade inconteste sobre todo o mundo cristão, enquanto que Constantinopla aceitava somente que Roma tivesse uma posição de honra. eles praticavam para meu pai, tais disputas levaram à ruptura, em 1054, com a excomunhão mútua entre autoridades da Igreja Católica no Ocidente e da Igreja Ortodoxa no Leste (Grécia, Rússia e outras terras eslavas, além de Anatólia, Síria, Egito, etc., onde a maioria dos cristãos já pertencia a Igrejas Ortodoxos Orientais). A essa divisão a historiografia ocidental chama Cisma do Oriente ou Cisma do Oriente e do Ocidente, e a oriental, Grande Cisma.

Segundo milênio

A relação entre a Igreja Romana e a Oriental fica ainda pior em decorrência da Quarta Cruzada, que sela a divisão entre as igrejas. O saque da Basílica de Santa Sofia e o estabelecimento do Império Latino são até hoje mal vistos. O primeiro foi repudiado pelo Papa Inocêncio II à época, mas só foram emitidas desculpas oficiais por João Paulo II em 2004, estas aceitas por Bartolomeu I de Constantinopla. Tentou-se reestabelecer união no Segundo Concílio de Lyon (em 1274) e o Concílio de Florença (em 1439). Conseguiu-se brevemente uma recomunhão neste segundo, mas esta acabou se desfazendo com a Queda de Constantinopla. Algumas igrejas orientais fatalmente entrariam em recomunhão, e juntas formam a Igreja Católica Oriental.

Em 1453, Constantinopla cai para o Império Otomano, que fatalmente toma quase todos os Balcãs. O Egito era tomado pelo islamismo desde o século VIII, mas a Ortodoxia ainda era forte na Rússia, que passa a ser referida como Terceira Roma.[13] O Patriarca de Constantinopla tem autoridade administrativa sobre os rumes do Império Otomano, que permite certa liberdade de culto no Império.

No Império Russo, a Igreja Ortodoxa Russa era uma instituição desconectada do Estado até 1666, com a deposição do Patriarca Nikon (conhecido pelas reformas que levaram ao cisma dos velhos crentes), influenciada por Aleixo I. Em 1721, Pedro I abole o Patriarcado e transforma a Igreja em uma instituição estatal, o que só é interrompido com a Revolução de Outubro. O ressurgimento, no entanto, não duraria muito, com o Patriarcado sendo extinto pelo governo comunista após a morte do Patriarca Tikhon. Em 1943, no entanto, o Patriarcado foi reinstituído por Stalin. Ainda haveria perseguições sob Khrushchev, que chegou a fechar 12 mil igrejas. Menos de 7 mil permaneciam ativas à altura de 1982. [14]

Como ateísmo de Estado das nações comunistas, a Igreja Ortodoxa sofreu fortemente com perseguição e censura, notavelmente na Albânia de Hoxha, declarada oficialmente ateia.[15] Em outros países, no entanto, como na Romênia, a Igreja teve relativa liberdade, apesar do forte controle por parte da polícia e de experiências como as tentativas de lavagem cerebral de crentes na prisão de Piteşti, o que por fim seria rigorosamente punido pelo Estado.

Colegialidade

A Igreja Ortodoxa é formada pela comunhão plena de catorze jurisdições eclesiásticas autocéfalas (mais a Igreja Ortodoxa na América, apenas parcialmente reconhecida) que professam a mesma fé e, com algumas variantes culturais, praticam basicamente os mesmos ritos. O chefe espiritual das Igrejas Ortodoxas é o Patriarca de Constantinopla, embora este seja um título mais honorífico, uma vez que os patriarcas de cada uma dessas igrejas são independentes. Desta forma, diz-se que o Patriarca de Constantinopla é o primeiro entre iguais. A maior parte das igrejas ortodoxas usa o rito bizantino.

Para os ortodoxos, o chefe único da Igreja, e sem intermediários, representantes ou legatários, é o próprio Jesus Cristo. A autoridade suprema na Igreja Ortodoxa é o Santo Sínodo, que se compõe de todos os patriarcas chefes das igrejas autocéfalas e dos arcebispos primazes das igrejas autônomas, que se reúnem por chamada do Patriarca Ecumênico de Constantinopla.

A autoridade suprema regional em todos os patriarcados autocéfalos e igrejas ortodoxas autônomas é da competência do Santo Sínodo local. Uma igreja autocéfala possui o direito a resolver todos os seus problemas internos com base na sua própria autoridade, tendo também o direito de remover qualquer dos seus bispos, incluindo o próprio patriarca, arcebispo ou metropolita que presida esta Igreja.

A Igreja Ortodoxa reconhece sete Concílios Ecumênicos: Niceia, Constantinopla, Éfeso, Calcedônia, Constantinopla II, Constantinopla III e Niceia II.

Jurisdições

Igreja Ortodoxa Russa de Santa Maria Madalena em Jerusalém
Catedral de Nossa Senhora de Kazan, em São Petersburgo, na Rússia
A catedral de San Sava da Igreja Ortodoxa Sérvia em Belgrado

Abaixo, a lista das jurisdições que formam a Igreja Ortodoxa, com algumas das respectivas igrejas autônomas e exarcados. Os quatro primeiros são os antigos patriarcas, que carregam a tradição da pentarquia. Os cinco seguintes são os pequenos patriarcas, posteriormente reconhecidos pelo Patriarca de Constantinopla. As seis últimas igrejas são autocéfalas, mas não têm seus líderes reconhecidos como patriarcas. As que não têm notas referentes a seu reconhecimento estão em plena comunhão.[16][17][18][19][20]

Entre as igrejas semi-autônomas temos a Igreja Ortodoxa Cretense e a Igreja Ortodoxa Russa no Exterior.

Entre as igrejas não reconhecidas, seja por cisma ou por não reconhecimento de seu auto-governo por nenhuma instituição senão elas mesmas, temos:

Ver também

Referências

  1. Encyclopaedia Britannica. "Eastern Orthodoxy". Encyclopaedia Britannica. "Eastern Orthodoxy, official name, used in British English as well, is Orthodox Catholic Church, one of the three major doctrinal and jurisdictional groups of Christianity. [...] The official designations of the church in its liturgical or canonical texts are either “the Orthodox Catholic Church” or the "Greek Catholic Church" only. Because of the use of the name "Greek Catholics" by the Eastern churches of the Catholic Church and the historical links of the Orthodox Catholic church with the Eastern Roman Empire and Byzantium (Constantinople), however, the exonyms in American English usage referred to it as the “Eastern” or “Greek Orthodox” Church. These terms are sometimes misleading, especially when applied to Russian or Slavic churches and to the Orthodox communities in western Europe and America."
  2. Wendy Doninger (1999). Merriam-Webster's encyclopedia of world religions. Merriam-Webster. p. 309. ISBN 978-0-87779-044-0. Retrieved 2 April 2013. "The official designation of the church in Eastern Orthodox liturgical or canonical texts is "the Orthodox Catholic Church.""
  3. Gilberto Cotrim. História Global Brasil e Geral. Pág.: 157. Volume único. ISBN 978-85-02-05256-7.
  4. World Council of Churches, "Orthodox churches (Eastern)" e World Council of Church, "Orthodox churches (Oriental)"
  5. Ökumenischer Rat der Kirchen, "Östlich-orthodoxe Kirchen" e Ökumenischer Rat der Kirchen, "Orientalisch-orthodoxe Kirchen"
  6. Consejo Mundial de Iglesias, "Iglesias ortodoxas (orientales)"
  7. Conseil œcuménique des Églises, "Églises orthodoxes orientales"
  8. Consejo Mundial de Iglesias, "Iglesias ortodoxas (bizantinas)"
  9. Conseil œcuménique des Églises, "Églises orthodoxes (chalcédoniennes)"
  10. Decisiões do Concílio de Niceia em italiano
  11. Decisões do Concílio de Niceia em inglês
  12. Radeck, Francisco; Dominic Radecki (2004). Tumultuous Times - Twenty General Councils Of The Catholic Church & Vatican II And Its Aftermath.] St. Joseph's Media, p. 79. ISBN 978-0-9715061-0-7.
  13. Parry, Ken; David Melling (editors) (1999). The Blackwell Dictionary of Eastern Christianity. Malden, MA.: Blackwell Publishing. p. 490. ISBN 0-631-23203-6 
  14. Ostling, Richard. "Cross meets Kremlin", TIME Magazine, 24 June 2001. Retrieved 7 April 2008. Arquivado julho 22, 2007 no WebCite
  15. Van Christo. Albania and the Albanians. no Wayback Machine (arquivado em 8 de dezembro de 2007)
  16. Orthodox Wiki
  17. `World Churches
  18. World Council of Churches, "Eastern Orthodoxy"
  19. Consejo Mundial de Iglesias, "Iglesias ortodoxas (bizantinas)"
  20. BBC, "Eastern Orthodox Church"
  21. http://www.orthodox.cn/index_en.html

Ligações externas