Ilha do Coral

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Ilha do Coral
Ilha do Coral está localizado em: Santa Catarina
Ilha do Coral
Localização no estado de Santa Catarina
Coordenadas: 27° 56' 17" S 48° 32' 35" O
27° 56′ 17″ S, 48° 32′ 35″ O
Geografia física
País  Brasil
Localização Palhoça
 Santa Catarina
Área 0,0325[1]  km²
Geografia humana
População 0

A Ilha do Coral[nota 1] é uma ilha localizada no litoral do estado de Santa Catarina, Brasil, a 45 minutos de barco da praia de Garopaba, ao sul de Florianópolis. Nela há um velho farol e um paredão com inscrições rupestres, provavelmente com mais de dois mil anos.[1] Durante muito tempo, a ilha ficou conhecida em virtude de ter um velho morador que lá habitava sozinho junto com algumas cabras.[2]

Pertencente à Marinha do Brasil, a ilha situa-se a uma hora e meia de barco ao sul de Florianópolis, nos arredores da Guarda do Embaú. Em determinadas temporadas há serviços de transporte que levam até a ilha, com saídas a partir da enseada de Garopaba.[3]

História[editar | editar código-fonte]

Morador eremita[editar | editar código-fonte]

Por trinta e seis anos, João Manoel Borges (12 de julho de 1918 — 29 de maio de 2000), popularmente conhecido como «Zé d'Angerca» ou «Zé das Cabras»,[2][nota 2] viveu sozinho na ilha, sem amigos nem família, que moravam no continente.[4][nota 3] Borges foi para a ilha após a morte da esposa no parto da filha caçula, em 1962, e entregou a filha recém-nascida a uma irmã, além de ter deixado o único filho homem também aos cuidados de parentes.[4] As outras três filhas pré-adolescentes, com quem foi pra ilha, o abandonam assim que encontraram quem as tirasse de lá por casamento.[4][2]

Durante tal degredo voluntário, esse eremita construiu um casebre de três cômodos e fez picadas e roçados em terrenos íngremes por toda a ilha do Coral.[4] Analfabeto e com dificuldades de se expressar, ia uma ou duas vezes por ano ao continente, sobretudo para visitar as filhas e ir ao banco.[4] Na ilha criava galinhas e cabras e cultivava sobretudo feijão, abóbora e mandioca.[4] Além da aposentadoria como agricultor, uma de suas fontes de renda era o peixe seco, o qual ele salgava com o sal recolhido nas rochas da ilha e vendia a comerciantes no litoral catarinense.[2][nota 4] Conta-se que ele havia vendido a ilha — que é patrimônio da União[2] — três vezes, uma das quais a um estrangeiro. Relata-se que um conhecido comerciante da região a teria comprado do Sr. João, mas tal transação foi denunciada à Marinha, que de imediato tomou providências e reassumiu a sua propriedade, e que, por isso, a Marinha determinou algumas normas para quem chegava à ilha, descartando assim os poderes que o ermitão imaginava ter.[2]

João d'Angerca teria ficado magoado e resolveu de uma vez por todas abandonar aquele seu pedaço de terra perdido no oceano, que foi «dele» durante mais de três décadas. Em 1999, com 80 anos e já doente após sofrer um derrame cerebral um ano antes, foi obrigado a mudar-se para o continente.[4] O ermitão tinha pouco mais de um metro e meio e fumava há sessenta anos cachimbo e cigarro. Morreu no município de Paulo Lopes, litoral catarinense, de causas não explicadas, aparentemente suicídio, já que nunca se acostumou ao retorno para o continente.[2] Antes de deixar a ilha definitivamente, ele havia sentenciado: «Sei que na terra não vou me acostumar mais, mas daí morro logo. Em terra firme não vou viver.»[2]

Afundamentos[editar | editar código-fonte]

Em 6 de agosto de 1944, os navios Chuilóide e Tietê afundaram nas águas ao redor da ilha depois de colidir. Ambas as tripulações foram salvas pela embarcação Taquari.[5]

Características[editar | editar código-fonte]

Com vegetação nativa formada por árvores de médio porte, assim como algumas árvores frutíferas introduzidas, como bananeiras e ameixeiras, a ilha é escarpada, cercada de costões rochosos, sem praias naturais (de areia) e tem como ponto mais alto uma elevação de 64 metros de altura.[1] As águas ao largo, são de tom azul-cobalto e até o presente momento não há nenhum levantamento relevante sobre a fauna e a flora insular.

Notas

  1. Também conhecida e citada como ilha dos Corais.
  2. Corruptela de «João de Angélica», sua mãe.
  3. Um irmão seu, Simião Manoel Borges, falecido há dois anos, também se instalou com a mulher na distante praia do Saquinho na década de 60, no sul da ilha de Santa Catarina. Era conhecido como «prefeito do Saquinho» e tocava gaita para alegrar os raríssimos visitantes que venciam o íngreme e tortuoso caminho sobre o costão.[2]
  4. Durante muitos anos ele desenvolveu uma bebida destilada com gengibre, cachaça, açúcar e groselha, à qual apelidou de «campá», e tinha gosto semelhante ao Campari.[2]

Referências

  1. a b c COMERLATO, Fabiana (2005). «As representações rupestres do litoral de Santa Catarina» (PDF). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Consultado em 21 de agosto de 2014 
  2. a b c d e f g h i j Aldírio Simões (20 de Junho de 2000). «Triste fim: o lendário ermitão da ilha dos Corais». Jornal «A Notícia». Consultado em 21 de agosto de 2014 
  3. Adm. do sítio web (2012). «Perfil de Garopaba». Guia de Santa Catarina. Consultado em 21 de agosto de 2014 
  4. a b c d e f g Da redação (1999). Revista Trip nº 71. [S.l.]: Trip Ed. e Propaganda S.A. 108 páginas. ISSN 1414-350X 
  5. CAMPBELL, Herbert (1993). A marinha mercante na Segunda Guerra. [S.l.]: Editora Record. 127 páginas. ISBN 9788501903013