Heraclião

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Grécia Heraclião

Ηράκλειο

Heraklion, Iráclio

 
  Município  
Porto e fortaleza venezianas de Heraclião
Porto e fortaleza venezianas de Heraclião
Porto e fortaleza venezianas de Heraclião
Localização
Localização da unidade municipal de Heraclião (vermelho) no município homónimo (rosa) e na unidade regional homónima
Localização da unidade municipal de Heraclião (vermelho) no município homónimo (rosa) e na unidade regional homónima
Localização da unidade municipal de Heraclião (vermelho) no município homónimo (rosa) e na unidade regional homónima
Heraclião está localizado em: Grécia
Heraclião
Localização de Heraclião na Grécia
Coordenadas 35° 19' 30" N 25° 7' 50" E
País Grécia
Região Creta
Unidade regional Heraclião
Administração
Prefeito Vasilis Lambrinos
Características geográficas
Área total 120 km²
População total (2011) [1] 173 993 hab.
 • População metropolitana 211 370
Densidade 1 449,9 hab./km²
Altitude máxima 40 m
Altitude mínima 0 m
Código postal 70xxx, 71xxx, 720xx
Prefixo telefónico 2810
Outras informações
Unidades municipais Gorgolainis • Heraclião • Néa AlicarnassósPalianiTémenos.

Heraclião ou Heraklion (do grego antigo Ἡράκλειον; romaniz.: Herácleion), Iráclio (do grego moderno Ηράκλειο; Erákleio), chamada no passado el Khandak (الخندق) pelos árabes, Cândia, Chandax (Χάνδαξ) ou Megalo Cástro (Μεγάλο Κάστρο"grande castelo"), é uma cidade grega, capital da ilha e região de Creta e da unidade regional de Heraclião. Situa-se sensivelmente no centro da costa norte daquela ilha, à beira do mar Egeu.

O município atual resultou da união de cinco municípios existentes antes da reforma administrativa de 2011: Gorgolainis, Heraclião, Néa Alicarnassós, Paliani e Témenos, os quais passaram a ser unidades municipais.[2] Tem 120 km² de área e em 2011 tinha 173 993 habitantes (densidade: 1 449,9 hab./km²). A área metropolitana, que inclui parte das unidades municipais de Néa Alicarnassós e Gazi (apesar desta fazer parte do município de Malevizi), tinha nesse ano 192 215 habitantes.[1]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

A cidade atual foi fundada pelos árabes que criaram o Emirado de Creta, que moveram a capital da ilha de Gortina para uma nova fortaleza, a que chamaram rabḍ al-ḫandaq ("castelo do fosso"), na década de 820. Este nome árabe foi helenizado como Χάνδαξ (Handax) ou Χάνδακας e latinizado como Cândia, nome que foi usado durante o período em que a cidade esteve sob o domínio veneziano (ver Ducado de Cândia) e que foi adotado por outras línguas europeias, como Candie em francês, Candy em inglês, etc. Todas essas variantes de Cândia tanto eram aplicadas a cidade em particular como a toda a ilha de Creta. Os otomanos usaram o nome Kandiye.

Quando os bizantinos acabaram com o Emirado de Creta e reconquistaram a ilha, a cidade passou a ser conhecida localmente como Megalo Castro ("grande castelo" em grego) e os seus habitantes eram chamados castrinoi ou castrini ("habitantes do castelo"). O antigo nome Ηράκλειον ("cidade de Héracles) foi recuperado no século XIX e tem origem no vizinho porto romano de Heracleu (Heracleum), cuja localização exata se desconhece.

História[editar | editar código-fonte]

Heraclião fica perto das ruínas de Cnossos, o maior centro populacional de Creta na época minoica. Embora não haja provas arqueológicas que o comprovem, pensa-se que o porto de Cnossos se situasse onde é hoje Heraclião, que podia já existir em 2 000 a.C. Ali teria existido um local de culto a Herácles — daí o nome de Heraclião — que ainda não foi encontrado, mas sabe-se, por diversas escavações, que a povoação da época arcaica não era muito grande. Foram descobertos vestígios da época minoica na zona do Museu Arqueológico. São poucos os textos antigos que mencionam Heraclião:

  • Estrabão (Geografia X, 476, 7) diz que «Cnossos tem por porto Heraclião».
  • Plínio, o Velho (História Natural IV, 12, 59) também evoca a cidade como uma extensão marítima de Cnossos.
  • Ptolemeu (Geografia III, 15, 4, 5) fala de Heraclião quando enumera as cidades do norte de Creta.
  • Durante o reinado de Décio (r. 249–251), um dos santos mártires da Igreja de Creta, de nome Euarestos, tinha nascido na cidade de Heraclião.

A área da cidade parece ter evoluído pouco durante as épocas clássica, helenística e romana. Cnossos continuou a ser a maior cidade do centro-norte de Creta até ao fim do período romano. Apesar de não ter havido descontinuidade política entre o Império Romano e o império dito bizantino, é comum chamar-se ao período que vai de 395 a 824 de primeiro período bizantinos. É nesta época que se conclui a cristianização da ilha. Heraclião, então chamada Castro ("castelo"), tem neste período um papel muito secundário, já que os verdadeiros centros políticos e religiosos são, como na época romana, Cnossos e Gortina. Igualmente durante este período, como outras cidades de Creta, Heraclião é regularmente pilhada por piratas.

Pode dizer-se que a cidade atual surgiu em 824, quando os sarracenos que tinham sido expulsos do Alandalus (Península Ibérica) pelo emir de Córdova Aláqueme I, conquistaram Creta aos bizantinos e instalam a sua capital em Heraclião, a que eles chamam el Khandak. Até 961, a cidade desenvolveu-se em grande medida devido à pirataria. Dado que os árabes que a governavam não dependiam de nenhuma fação do mundo muçulmano, a não ser talvez e apenas formalmente, não se preocupavam com diplomacia. O porto de el Khandar como serviu de reduto a piratas que operavam contra os navios bizantinos e faziam raides contra os territórios imperiais em redor do Egeu.

Esta atividade esteve na origem da perda da independência da ilha e consequente desparecimento do emirado. Em 961, após onze meses de cerco, o general bizantino Nicéforo Focas (futuro imperador Nicéforo II Focas), reconquista Heraclião, saqueia-a, massacra os árabes e reduz a cidade a cinzas. A cidade não tardou a ser reconstruída e permaneceu em poder dos bizantinos durante 243 anos.

Em 1204, os venezianos compraram Creta a Bonifácio de Montferrat como parte de um complicado acordo que envolvia, entre outras coisas, os cruzados da Quarta Cruzada reporem no trono o imperador bizantino Isaac II Ângelo. Os venezianos modificam o nome árabe Khandak (ou Chandax) para Cândia, que se mantém na diplomacia europeia até 1898. Os novos senhores fazem grandes obras nas defesas, melhorando o fosso e construindo enormes fortificações, grande parte das quais ainda de pé, que em alguns locais chegam a ter 40 metros de espessura, com sete bastiões e uma fortaleza na entrada do porto. A cidade passou a ser a capital do Duque de Cândia e a área administrativa veneziana de Creta passou a ser conhecido como Reino de Cândia (Regno di Candia). Para assegurarem o seu domínio, os venezianos começaram a fixar famílias de Veneza em Creta a partir de 1212. A coexistência de duas culturas diferentes e o estímulo da Renascença italiana levou a um florescimento das letras e artes em Cândia e Creta em geral, que hoje se conhece como Renascença cretense.

Depois dos venezianos seguiram-se os otomanos (ver Creta otomana). Durante a Guerra de Cândia, estes cercaram a cidade durante mais de 21 anos, de 1648 a 1669, possivelmente o cerco mais longo da história. Durante a fase final, que durou 22 meses, morreram 70 000 otomanos, 38 000 cretenses e escravos, além de mais 29 088 defensores cristãos da cidade de outras origens. O exército otomano comandado pelo grão-vizir albanês Köprülü Fazıl Ahmed Paxá conquistou finalmente a cidade em 27 de setembro de 1669, quando o almirante veneziano Francesco Morosini se rendeu ao comandante dos sitiantes. Durante a era otomana, o nome da cidade — Kandiye — aplicou-se também a toda a ilha, mas informalmente o nome grego era Megalo Castro (Μεγάλο Κάστρο; "Grande Castelo"). Durante a ocupação otomana, o porto ficou assoreado, pelo que muito do transporte marítimo passou a fazer-se em Chania, na parte ocidental da ilha.

Em 1898 foi criado o Estado Autónomo de Creta, sob suserania otomana, com o príncipe Jorge da Grécia como alto comissário e sob supervisão internacional. Durante o período de ocupação direta da ilha pelas "Grandes Potências" (1898–1908), Cândia fez parte da zona britânica. Foi nesta altura que a cidade foi rebatizada Heraclião. Em 1913, a cidade, como o resto de Creta foi incorporada no Reino da Grécia.

Em 1913 a população cretense era composta principalmente de gregos e turcos, situação que se manteve sem grandes alterações até 1922, até à troca de populações entre a Grécia e a Turquia (a que os gregos chamam "Grande Catástrofe"), que envolveu a evacuação dos cristãos (na sua maioria gregos) da Anatólia e dos muçulmanos (maioritariamente turcos) da Grécia (grande parte destes eram de Creta). A população muçulmana da ilha foi forçada a sair, o que implicou a perda de cerca de metade da população de Heraclião e da região circundante. A instalação de gregos da Anatólia em Creta colocou vários problemas de integração. Os cretenses de cepa aceitaram mal a chegada dessa gente com hábitos diferentes dos seus. Segundo os registos da cidade, foram ali registados 17 463 refugiados da Ásia Menor entre dezembro de 1922 e 31 de outubro de 1923. A estes juntaram-se gregos pônticos, vindos do Ponto, cujo número o município estimou em 2 550 pessoas.

Em maio de 1941 Heraclião foi um dos pontos do ataque paraquedista a Creta que terminaria com a conquista da ilha pela Alemanha.

Clima[editar | editar código-fonte]

Dados climatológicos para Heraclião
Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Ano
Temperatura máxima recorde (°C) 24,8 26,2 29,4 34,5 39,0 41,3 41,0 42,0 39,6 35,7 31,2 28,5 42,0
Temperatura máxima média (°C) 15,2 15,5 16,8 20,2 23,5 27,3 28,6 28,4 26,4 23,1 20,1 17,0 21,9
Temperatura mínima média (°C) 9,0 9,0 9,8 12,0 14,9 19,0 21,7 21,7 19,3 16,5 13,4 10,9 15,8
Temperatura mínima recorde (°C) 1,2 1,4 3,3 6,4 8,0 13,2 16,2 16,6 13,5 9,7 6,4 3,4 1,2
Chuva (mm) 91,5 77,4 57,4 30,0 15,2 3,2 1,0 0,7 19,5 68,8 58,8 77,1 500,6
Dias com chuva 10,1 9,1 6,9 3,4 1,9 0,5 0,1 0,1 1,3 4,9 6,0 8,9 53,2
Humidade relativa (%) 68 67 66 62 61 57 57 58 61 66 67 68 63,2
Horas de sol 117,8 124,7 176,7 228,0 300,7 351,0 372,0 347,2 282,0 198,4 150,0 120,9 2 769,4

Demografia[editar | editar código-fonte]

População de Heraclião (1951 – 2011)
1951 196119711981199120012011
55 373 64 33778 209102 398116 178137 766176 000
  Aumento 16,2% Aumento 21,6% Aumento 30,9% Aumento 13,5% Aumento 18,6% Aumento 27,8%


Infra-estruturas e museus[editar | editar código-fonte]

Transporte

Heraclião dispõe de um importante porto de mercadorias e de ferry boats. Há várias ligações marítimas diariamente para o continente grego (Pireu, o porto de Atenas), além de outras ligações com várias ilhas, como Santorini, Ios, Paros, Míconos, Rodes, etc.

O Aeroporto Internacional de Heraclião-Níkos Kazantzákis (IATA: HER, ICAO: LGIR) situa-se cerca de cinco km a leste da cidade, à beira-mar. Foi batizado em honra de Níkos Kazantzákis, um escrito e filósofo natural da cidade. É o segundo aeroporto mais movimentado da Grécia a seguir ao de Atenas, devido a Creta ser um destino de férias importante. A pista é partilhada com o 126º Grupo de Combate da Força Aérea Grega.

Educação e ciência

A Universidade de Creta, criada em 1973 e com sede em Retimno, tem um dos seus dois polos em Heraclião. Com pouco menos de 17 000 alunos, 900 docentes, assistentes de laboratório e investigadores e 380 funcionários administrativos,[3] em 2011-2012 era a universidade grega mais bem classificada no Times Higher Education World University Rankings, figurando no top 300.[4]

A sede da "Fundação para Investigação e Tecnologia - Hellas" (Foundation for Research & Technology - Hellas, FORTH), uma instituição de investigação científica e tecnológica que dispõe de sete centros em Creta, tem a sua sede em Heraclião.

Museus
  • Museu Arqueológico de Heraclião — É um dos principais museus arqueológicos da Grécia, e por vezes é considerado o segundo maior museu do país. Tem a maior coleção de arte minoica do mundo. Situa-se no centro da cidade.
  • Cretaquarium — Também conhecido como Thalassocosmos, foi inaugurado em 2005. É um grande aquário com mais de 60 tanques que expõe a fauna do Mediterrâneo. Está instalado em Gournes, na unidade municipal de Gúves, perto de Hersonissos, 15 km a leste de Heraclião, nas instalações da Iraklion Air Station, da Força Aérea dos Estados Unidos, que foram abandonadas em 1993.
  • Museu Histórico de Creta — Fundado em 1953, ocupa um edifício neoclássico de 1903, a Casa Kalokairinos. Tem várias coleções representativas da arte, história e etnografia de Creta, abrangendo um período que vai do século IV d.C. até à Segunda Guerra Mundial. Além dos diversos objetos etnográficos e de arte, que incluem cerâmicas, esculturas, tecidos, ícones, joias, etc., destacam-se dois quadros de El Greco (nome pelo qual é conhecido Doménikos Theotokópoulos, nascido a poucos quilómetros de Heraclião), uma grande maquete reconstituindo Cândia no século XVII, no seu auge sob o domínio veneziano, a reconstituição de uma casa rural tradicional, parte do espólio de Nikos Kazantzakis vindo da sua casa em Antibes, França.
  • Museu de História Natural — Instalado numa antiga central elétrica situada à beira-mar, no centro da cidade, foi fundado em 1981 e está ligado à Universidade de Creta.
  • Museu Municipal da Batalha de Creta e da Resistência Nacional — Criado na sequência da organização de uma exposição comemorativa do 50.º aniversário da batalha de Creta (invasão da ilha por forças alemãs), tem no seu acervo milhares de fotografias, pinturas e desenhos da batalha e da resistência, além 200 livros, vários recortes de jornais e objetos relacionados com o período 1941-1945 (armas, acessórios, uniformes, objetos do dia-a-dia, etc.).

Personalidades[editar | editar código-fonte]

Notas e referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b «Resultados do censo de 2011» (XLS). www.statistics.gr (em grego). Serviço Estatístico Nacional da Grécia 
  2. «Lei "Kallikratis" (reforma administrativa)» (PDF). www.kedke.gr (em grego). Ministério do Interior da Grécia. 11 de agosto de 2010 
  3. «Facts & Figures». www.en.uoc.gr (em inglês). Universidade de Creta. Consultado em 1 de agosto de 2013 
  4. «Times Higher Education World University Rankings 2011-2012». www.timeshighereducation.co.uk (em inglês). Consultado em 1 de agosto de 2013 
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