Júlio Botelho Moniz

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Júlio Botelho Moniz
Júlio Botelho Moniz
Botelho Moniz
Nascimento 12 de outubro de 1900
Distrito de Lisboa
Morte 30 de setembro de 1970 (69 anos)
Lisboa
Cidadania Portugal
Ocupação político, escritor, militar
Prêmios
  • Grande Cruz do Mérito da República Federal da Alemanha
  • Comendador da Ordem Militar de Cristo
  • Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo
  • Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique
  • Grande-Oficial da Ordem Militar de Avis
  • Comendador da Ordem Militar de Avis
  • Oficial da Ordem Militar de Avis
  • Cavaleiro da Ordem Militar de Avis
  • Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada

Júlio Carlos Alves Dias Botelho Moniz ComCGCCCvAOAComAGOAComSEGCIH (Lisboa, 12 de Outubro de 1900Lisboa, 30 de setembro de 1970) foi um militar e político.[1][2] Atingiu o posto de general do Exército Português durante o Estado Novo e foi responsável pelo golpe de estado denominado Golpe Botelho Moniz ou Abrilada de 1961.[3]

Apoiante da Revolução Nacional, foi observador do Exército Português na Alemanha Nazi no princípio da Segunda Guerra Mundial, Ministro do Interior (1944-1947), adido militar em Madrid e Washington (1949-1951), procurador à Câmara Corporativa, 3.º Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Portugal (3 de Março de 1955-13 de Agosto de 1958) e Ministro da Defesa Nacional (1958-1961).

Desencantado com a política de intransigência de António de Oliveira Salazar em relação à autodeterminação dos territórios ultramarinos, nas funções de Ministro da Defesa Nacional liderou em Abril de 1961 uma tentativa fracassada de impor uma mudança reformista a partir do próprio regime, forçando a exoneração do ditador e a reforma do Estado Novo.[4]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Era filho segundo varão de José Carlos Botelho Moniz (Lisboa, 28 de Março de 1869 - Lisboa, 1941), Militar, e de sua mulher Maria Carlota Alves Dias (15 de Maio de 1872 - 28 de Julho de 1977) e irmão de Jorge Augusto Alves Dias Botelho Moniz, também Militar e Deputado em 1918 e de 1945 a 1961.[2]

Frequentou o Colégio Militar.

Casou com Maria Gabriela Rodrigues Deslandes[2] (Lisboa, Carnide, 20 de Janeiro de 1907 - 15 de Outubro de 2003), irmã de Venâncio Augusto Deslandes, da qual teve três filhas e um filho.

Concluiu o curso de Artilharia de Campanha na Escola de Guerra em 1918, e em 1938, depois de terminar o curso do Estado-Maior, ingressa no Corpo do Estado-Maior.[2]

Durante a fase inicial da Segunda Guerra Mundial foi observador do Exército Português na Alemanha e, durante a mesma Guerra, participou numa missão de observação do Exército à Frente Leste e nas negociações que conduziram ao Acordo dos Açores.[2]

Foi Professor dos Cursos do Estado-Maior de 1940 a 1943, e da Escola do Exército de 1940 a 1941.[2]

Em 1944, por indicação do Subsecretário de Estado da Guerra, Fernando dos Santos Costa, do qual Botelho Moniz, à altura Tenente-Coronel, era muito amigo, seria nomeado Ministro do Interior,[1] tendo sido o primeiro militar a ocupar este cargo depois da entrada em vigor da Constituição de 1933,[5] entre 6 de Setembro de 1944 e 4 de Fevereiro de 1947. Foi demitido três anos mais tarde, quer em virtude do descontentamento gerado por ter substituído quase todos os Governadores Civis à revelia dos interesses locais e da União Nacional, quer por ter afirmado que o Regime teria perdido as Eleições Legislativas de 1945 se estas tivessem decorrido sem ilegalidades. Salazar oferece-lhe, em troca, a pasta de Ministro das Colónias, mas Botelho Moniz recusa.[2]

Entre 1947 e 1950 e entre 1950 e 1951 foi adido militar em Madrid e Washington, DC, respectivamente.[1][2][6]

Foi Inspector da 1.ª Inspecção de Artilharia em 1952, Secretário Adjunto da Defesa Nacional em 1953 e Vogal do Conselho Ultramarino em 1953.[2]

A 3 de Fevereiro de 1953[2] foi promovido ao posto de General do Exército, ocupando ainda nesse ano os cargos de Secretário-adjunto da Defesa Nacional e Vogal do Conselho Ultramarino.[1]

Depois de ascender ao posto de General, integra como Procurador a Câmara Corporativa, entre 1953 e 1957, por designação do Conselho Corporativo, durante a VI Legislatura,[1] onde é Membro do Conselho da Presidência, da XII Secção - Interesses de Ordem Administrativa, 2.ª Subsecção - Defesa Nacional, e Assessor da XI Secção - Autarquias Locais. Nesta qualidade, subscreveu o Parecer sobre a jurisdição dos Tribunais Militares (Arquivo da Câmara Corporativa, N.º 38, 28 de Fevereiro de 1955).[2]

A 3 de Março de 1955 foi nomeado 3.º Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas de Portugal, lugar que ocuparia até 13 de Agosto de 1958.[1][2] Neste último ano foi sondado para ser candidato a Presidente da República, em substituição de Francisco Craveiro Lopes. Face à sua recusa, assente em razões de saúde, Botelho Moniz acabaria nomeado, em 1958, Ministro da Defesa,[1] funções que exerceu entre 14 de Agosto de 1958 e 13 de Abril de 1961, substituindo no cargo Fernando dos Santos Costa, sendo responsável pela criação duma nova divisão territorial, pelo restabelecimento do Governo Militar de Lisboa e pela revogação da Lei dos Casamentos dos Oficiais.[2] Teve como Subsecretários de Estado os mais tarde generais Afonso de Magalhães de Almeida Fernandes e Francisco da Costa Gomes. Foi demitido em 1961 por ter ensaiado, sem sucesso, uma tentativa de deposição de Salazar.[2]

Apesar das importantes funções que exercia no seio do Estado Novo, mantinha ligações com elementos da União Liberal Republicana e da oposição ao regime corporativista, entre os quais o tenente Moreira Lopes, Mário Pessoa, David Neto e Carvalho da Silva.

Escreveu:

  • Nação em Guerra, Lisboa, Império, 1939[2]
  • A Vida Heróica do Marechal Gomes da Costa, Vila Nova de Famalicão, 1956[2]
  • Forças Armadas, Lisboa, 1961[2]

Júlio Botelho Moniz morreu a 30 de Setembro de 1970 em Lisboa, a sua cidade natal.[1]

O Golpe Botelho Moniz[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Golpe Botelho Moniz

Em Abril de 1961,[1] Júlio Botelho Moniz liderou uma tentativa de golpe de estado, depois designada por Abrilada de 1961[3] ou golpe Botelho Moniz, no qual conjuntamente com Craveiro Lopes e outras personalidades ligadas aos círculos do poder, intentou forçar a demissão de Salazar no âmbito da legalidade do regime.

Na origem do incidente, na realidade o extremar de uma dissidência interna no seio da elite político-militar do regime, esteve o repúdio sentido por parte da elite governativa, particularmente a mais aberta à influência americana, pela posição de intransigência assumida pelo Governo português em relação à questão da descolonização. A causa próxima da tentativa foram as exigências das potências aliadas, em particular dos Estados Unidos da América, para que Portugal aceitasse o direito à autodeterminação dos seus territórios ultramarinos, no contexto do movimento global de autodeterminação dos povos submetidos a regime colonial que então ganhava ímpeto.

Botelho Moniz, como aliás parte importante da inteligentsia do regime na fase posterior à vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial repudiava a posição oficial sobre a descolonização e a falta de evolução democrática do regime, que contribuíra para as dificuldade de admissão de Portugal na Organização das Nações Unidas, que apenas ocorrera em 1955 e ainda assim ensombrada pela crítica generalizada dos aliados naturais do País e pelo levantamento do veto da URSS apenas conseguido por conveniência conjuntural no âmbito das negociações entre as superpotências. Esta posição de isolamento fora acentuada pelo apoio que desde 1959 o então senador John F. Kennedy publicamente concedera a Holden Roberto, o líder da UPA/FNLA, tornado mais evidente em 1961 quando aquele senador ascendeu à presidência dos Estados Unidos da América.

Obras publicadas[editar | editar código-fonte]

Botelho Moniz foi autor de um conjunto de obras sobre estratégia e questões coloniais, de que são exemplo:[6] [7]

  • Nação em Guerra (1939, Editorial Império)
  • O Serviço de Informações em Campanha (1940)
  • Missão de Oficiais do E. M. E. à Alemanha e à Frente Oriental (1942, Caxias, Inst. de Altos Estudos Militares, com Manuel Gomes de Araújo e José Beleza Tavares)
  • Conduta das Operações Coloniais (1944, prefácio de João de Azevedo Coutinho)
  • Reunir, Assistir, Sanear, (Discursos e Entrevistas), (1946, Lisboa)
  • Forças Armadas Portuguesas (1961, Lisboa, Ministério da Defesa Nacional, traduzido em Inglês e Francês)

Condecorações[editar | editar código-fonte]

Em termos de Ordens portuguesas General Botelho Moniz foi feito:[8]

Em termos de Ordens estrangeiras:[9]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g h i Castilho, J. M. Tavares (2010). «Biografia de Júlio Botelho Moniz.» (PDF). Procuradores da Câmara Corporativa (1935-1974). Assembleia da República Portuguesa. Consultado em 25 de maio de 2014 
  2. a b c d e f g h i j k l m n o p q Manuel Braga da Cruz e António Costa Pinto (2005). Dicionário Biográfico Parlamentar (1935-1974). V. Lisboa: co-edição Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e Assembleia da República. 155 
  3. a b Serra 1982, p. 1167.
  4. Serra 1982.
  5. Serra 1982, p. 1186.
  6. a b c d e f g p. 367 inclui foto. Indica "Conduta das operações coloniais" em 1941. Refere obras até "1942".. «Novos colaboradores da «Gazeta dos Caminhos de Ferro»» (PDF). Disponibilizado pela Hemeroteca Municipal de Lisboa. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 66 (1585): 367, 368. 1 de Janeiro de 1954. Consultado em 23 de Março de 2014 
  7. «Pesquisa : registos para:Moniz, Botelho, 1900-1970». PORBASE - Base Nacional de Dados Bibliográficos. Consultado em 25 de maio de 2014 
  8. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Júlio Botelho Moniz". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 25 de maio de 2014 
  9. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Estrangeiras». Resultado da busca de "Júlio Botelho Moniz". Não cobre a coluna "Notas". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 25 de maio de 2014 
Bibliografia
  • Serra, João B.; Matos, Luís Salgado de (1982). Intervenções militares na vida política. (PDF). Revista Análise Social (n.os 12-13-14). I. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. p. 1165-1195. Consultado em 25 de maio de 2014 
  • Fernando Valença, As Forças Armadas e as Crises Nacionais. A Abrilada em 1961. Lisboa : Europa-América, Colecção Estudos e Documentos, 1978 ISBN 9789721009196.
  • Carlos Henrique Pereira Viana de Lemos, Duas crises: 1961 e 1974. Lisboa : Nova Gente, 1977.
  • Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra; Entrevista de Maria Manuela Cruzeiro (2014). Costa Gomes. O Último Marechal. [S.l.]: D. Quixote. ISBN 9789722055185 
  • Marcelo Caetano, Minhas Memórias de Salazar, Lisboa,, Verbo, 1977
  • Franco Nogueira, Salazar, Volumes III-IV, Porto, Civilização, 1978-1985
  • Pedro de Pezarat Correia, «Moniz, Júlio Carlos Alves Dias Botelho», in Fernando Rosas e José Manuel Brandão de Brito (Directores), Dicionário de História do Estado Novo, Volume 2, Lisboa, Bertrand, 1996, pp. 620–1

Ligações externas[editar | editar código-fonte]


Precedido por
Mário Pais de Sousa
Ministro do Interior
1944-1947
Sucedido por
Augusto Cancela de Abreu
Precedido por
Santos Costa
Ministro da Defesa
1958-1961
Sucedido por
António de Oliveira Salazar

Precedido por
Manuel Ortins Torres de Bettencourt
Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas
3 de Março de 1955 – 13 de Agosto de 1958
Sucedido por
José António da Rocha Beleza Ferraz